Marco Nanini

O ator Marco Nanini nasceu em Recife, Pernambuco em 31 de maio de 1948. Estreou na Globo em 1969. Protagonizou inúmeras novelas e minisséries de sucesso, além de programas humorísticos.

Por Memória Globo, Memória Globo


Quem diria que Marco Nanini, mais conhecido pelos personagens tímidos que interpretou, ou pelo pacato Lineu, do seriado 'A Grande Família', abriu à espada o seu caminho na televisão? Em 'A Ponte dos Suspiros', novela de aventura escrita por Dias Gomes (sob o pseudônimo de Stela Calderón) e exibida pela Globo em 1969, o ator atuava como figurante nas lutas de esgrima. “Nossa função era botar uma peruca e lutar um pouco de espada, matar, morrer; depois, mudava a peruca, matava, morria de novo”, conta.

Mas ele devia ser um bom espadachim, pois chamou tanto a atenção do diretor Marlos Andreucci, que lhe ofereceu um papel maior no folhetim, quanto a do ator Dary Reis, que o convidou para entrar na companhia de teatro de Dercy Gonçalves. A paixão pelos palcos falou mais alto, mas ele voltaria à TV pouco depois, para não mais sair. Para ele, a televisão propicia uma experiência de coletividade muito forte, essencial para o trabalho do ator. “O melhor trabalho que tem é o trabalho em equipe, principalmente na dramaturgia. O mais bonito é podermos encontrar com outros artistas, trocar opinião e emoção com outras pessoas”, diz.

Na dramaturgia, o melhor trabalho é o de equipe. O mais bonito é podermos encontrar com outros artistas, trocar com eles opinião e emoção.
Marco Nanini em 'Andando nas Nuvens', 1999. — Foto: Acervo/Globo

Início da carreira

O pai de Marco Antônio Barroso Nanini era hoteleiro e morou em várias cidades na infância. Estreou no teatro em 1965, ao lado de Pedro Paulo Rangel, na peça infantil 'O Bruxo e a Rainha', montada na igreja Santa Teresinha, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, os dois entraram para o Conservatório Nacional de Teatro, hoje Escola de Teatro da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). “Eu não sabia que existia uma escola de teatro. Até hoje eu não sei direito: eu digo para o Pepê (Pedro Paulo Rangel) que soube da existência através dele, mas ele diz que soube por mim”, conta.

Contracenou com Dercy Gonçalves em 'A Viúva Recauchutada', de Somerset Maugham, fez teatro itinerante com comediantes como Amândio e Milton Carneiro e algumas pontas na TV, até ser convidado para trabalhar em 'A Vida Escrachada' de Joana Martini e Baby Stompanato', em que atuou ao lado de Marília Pêra. Foi o início de uma longa e bem-sucedida parceria: “Na época, ela era uma atriz que estava surgindo, com muito talento, de muita força, muito carismática, moderna. Comecei a me ligar nela justamente porque via que sua interpretação era muito nova, muito viva”.

A peça, escrita por Bráulio Pedroso, foi o caminho para o seu primeiro papel de destaque na Globo: o cineasta Julinho, de 'O Cafona', em 1971: “Eu nunca tinha trabalhado num papel com a importância que o Julinho teve. Durante muito tempo, fiquei intimidado pelas câmeras. Meu habitat era mais o teatro”.

Universo televisivo

Ainda que intimidado pelo novo ambiente, o ator emendou duas telenovelas no ano seguinte: 'O Primeiro Amor', de Walther Negrão, e 'A Patota', a única escrita por Maria Clara Machado. A primeira foi marcada por um fato trágico: a morte do protagonista, Sérgio Cardoso. “Eu lembro que foi comigo e com Rosamaria Murtinho a última cena que ele gravou. Depois, tivemos que regravar aquela última cena com o Leonardo Villar, que o substituiu. Foi muito complicada essa regravação, errávamos muito", revela.

Apesar disso, ele guarda uma boa recordação de 'O Primeiro Amor': seu personagem, Rui, caiu no gosto dos espectadores: “E comecei a fazer personagens muito simpáticos, e muito tímidos. Eu fiz um tempão esse tipo de papel”.

O ator trabalhou em mais 11 novelas da emissora, além de ter feito uma na Tupi ('Um Sol Maior', de Teixeira Filho, em 1977) e uma na Bandeirantes ('O Todo-Poderoso', de Clóvis Levy, José Saffioti Filho, Edy Lima, Ney Marcondes e Carlos Lombardi, em 1979).

Em 1973, participou de Carinhoso, de Lauro César Muniz, como o jardineiro Faísca, outro papel pequeno que lhe rendeu o carinho do público. Depois, em 1975, atuou em 'Gabriela', adaptação de Walter George Durst do romance de Jorge Amado: “Meu papel era muito gostoso: professor Josué, um personagem calmo, acomodado, também tímido, que se apaixonava por uma mulata gloriosa e acabava expondo isso, tomando coragem”.

No mesmo ano, fez 'A Moreninha', de Marcos Rey, baseada no livro de Joaquim Manuel de Macedo. Em seguida, atuou em mais uma adaptação literária: 'O Feijão e o Sonho', de Benedito Ruy Barbosa, a partir do romance de Orígenes Lessa.

Em 'Um Sonho a Mais' (1985), escrita por Daniel Más e Lauro César Muniz, o ator viveu Mosca, fiel escudeiro do rei dos disfarces Volpone, interpretado por Ney Latorraca. Na novela, travestiu-se de Florisbela, irmã de Anabela, um dos vários papéis assumidos pelo chefe: “Foi ótimo, porque Ney fazia um personagem que se desdobrava em outros, e eu era o assistente. Um dos tais personagens dele era uma mulher, a Anabela. Depois, Lauro César inventou mais duas irmãs da Anabela: a Florisbela, que eu fazia, e a Clarabela, que Antônio Pedro fazia. Era divertido mudar de personagem.”

Ele e Latorraca gostaram tanto da brincadeira que, no ano seguinte, estrelaram 'O Mistério de Irma Vap', de Charles Ludlam, na qual se desdobravam em oito papéis. Dirigida por Marília Pêra, a peça ficou dez anos em cartaz e virou filme de Carla Camuratti, em 2006. Da mesma diretora, fez também 'Carlota Joaquina, Princesa do Brasil' (1995), em que encarnou Dom João VI, e 'Copacabana' (2001).

Humor com Guel Arraes

Em 1987, Nanini contracenou com Marília Pêra em 'Brega & Chique', de Cassiano Gabus Mendes, em que foi o secretário Montenegro. “Algumas vezes, durante a gravação, tínhamos acessos de riso, e muitas dessas cenas foram ao ar assim mesmo. Isso passou a ser mais um charme”, conta.

No ano seguinte, participou da primeira temporada do humorístico 'TV Pirata': “O programa tinha uma proposta completamente diferente do que vinha acontecendo com o humor, eram quadros mais longos. Às vezes, demorávamos três, quatro horas fazendo um quadro. Eu me lembro de que era muito puxado. Por isso, no segundo ano, eu pedi para sair”.

Apesar de sua passagem pelo 'TV Pirata' ter sido curta, ela marcou o início de sua produtiva parceria com Guel Arraes. Nanini trabalhou em vários projetos do diretor, em séries como 'Terça Nobre' (1993-1994) e 'A Comédia da Vida Privada' (1995-1997) e especiais como 'Brava Gente' (2000-2001).

Esse encontro com Guel Arraes talvez seja a coisa mais rica que me aconteceu na televisão. Eu tive a oportunidade de receber uma gama de personagens que jamais poderia fazer. Até então, eu ficava meio intimidado com a câmera. A partir desses especiais, eu perdi essa timidez: a câmera estava em todos os lugares, não dava tempo de me preocupar, por causa da edição e do corte cinematográfico do Guel.

TV Pirata: Marco Nanini no futuro

Com o diretor, fez também teatro e os filmes 'O Auto da Compadecida' (2000), 'Lisbela e o Prisioneiro' (2003), 'Romance' (2008) e 'O Bem-Amado' (2010). No último, recriou o corrupto prefeito Odorico Paraguassu, personagem imortalizado na televisão por Paulo Gracindo.

Na minissérie 'Dona Flor e Seus Dois Maridos' (1998), adaptação da obra de Jorge Amado feita por Dias Gomes e Ferreira Gullar, foi Teodoro, o marido vivo da protagonista. “Eu optei por não fazer muita comédia explícita, porque achei que a comédia estava mais nos personagem do Edson Celulari, o Vadinho, e da Giulia Gam, que fazia a Dona Flor. A comédia do Teodoro viria pelo contraste, por ter uma mãe possessiva, ser todo certinho”, explica.

Depois de sete anos afastado das novelas, protagonizou 'Andando nas Nuvens' (1999), de Euclydes Marinho, interpretando o protagonista Otávio, escrito especialmente para ele: “Aconteceu da forma que acho mais gostosa: o autor querendo muito que eu fizesse um personagem que ele criou para mim. Isso facilitou tudo”.

''A Grande Família

Entre 2001 e 2014, o ator viveu o personagem Lineu no remake do seriado 'A Grande Família', com episódios escritos originalmente por Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa, em 1972. “Eu sofri bastante para compor o Lineu, porque nunca tinha feito uma sitcom. Eu preferi fazê-lo mais discreto nos primeiros tempos, para que o espectador se acostumasse com aquele personagem, e, também, para que eu fosse descobrindo as maneiras dele de reagir”, conta. Com o passar das temporadas, Lineu montou até uma banda de rock.

“Depois que acabaram os textos do Vianinha, os novos autores começaram a criar situações próprias, que deram resultados muito bons. 'A Grande Família' começou muito discretamente, não teve grande repercussão. Mas fomos devagarzinho conquistando espaço e os espectadores”, reflete.

Além dele, estiveram no elenco fixo, desde a primeira temporada, Marieta Severo, Pedro Cardoso, Guta Stresser e Lúcio Mauro Filho. O seriado virou filme em 2007, com direção de Maurício Farias. Em setembro de 2014, 'A Grande Família' saiu do ar.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre o seriado “A Grande Família – 2ª versão” com entrevistas exclusivas de Marieta Severo, Marco Nanini e Guel Arraes ao Memória Globo.

Odorico Paraguaçu

Em 2011, Nanini aceitou o desafio de protagonizar a minissérie 'O Bem-Amado', inspirado no seriado homônimo escrito por Dias Gomes e exibido na Globo entre 1980 e 1984. Nesta trama roteirizada por Claudio Paiva e Guel Arraes, Marco Nanini viveu o oportunista Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia cidade de Sucupira que, após se eleger com a promessa de construção de um cemitério municipal, recorre a métodos escusos para finalizar a obra. O problema é que não morre ninguém para inaugurar o cemitério e, assim, justificar os gastos.

A minissérie inicialmente foi exibida nos cinemas como um longa-metragem e, depois, foi reeditada por Guel Arraes para estrear na televisão com cenas extras.

Teatro

Nanini atuou em mais de 30 peças, entre elas 'As Desgraças de Uma Criança' (1973), de Martins Pena; 'Doce Deleite' (de 1981 a 1984), ao lado de Marília Pêra; 'Mão na Luva' (1984), de Oduvaldo Vianna Filho, com direção de Aderbal Freire-Filho, que lhe deu o Troféu Mambembe; 'O Burguês Ridículo' (1996), de Moliére, dirigida por Guel Arraes; 'Uma Noite na Lua' (1998), monólogo de João Falcão pelo qual recebeu outro prêmio Mambembe; 'Um Circo de Rins e Fígados' (2005), de Gerald Thomas, 'Pterodátilos', de Nicky Silver, com direção de Felipe Hirsch, que lhe deu o Prêmio Shell.

Fontes