Marcelo Moreira

O jornalista Marcelo Moreira entrou na Globo em 1999, como chefe de reportagem da Editoria Rio. A partir de 2019, foi diretor de Jornalismo da Globo em Belo Horizonte. Deixou a empresa em 2023.

Por Memória Globo


O jornalista Marcelo Moreira já tinha uma trajetória de destaque, com coberturas marcantes e furos de reportagem na mídia impressa, quando foi contratado pela Globo para ser chefe de produção da Editoria Rio, em 1999. No início, estranhou o universo da televisão, mas logo se familiarizou e passou a contribuir para que o jornalismo local se aproximasse mais dos telespectadores e se aprofundasse em temas de interesse da população. Promovido a editor-chefe em 2009, esteve à frente de coberturas importantes, como a que deu à Globo o Emmy Internacional na categoria Notícia: a tomada do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro por militares e policiais, em 2010. Coordenou, no Rio de Janeiro, o núcleo de reportagens especiais responsável por organizar as coberturas do carnaval, eventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, o Rock in Rio, entre outros eventos e datas comemorativas da cidade. Em 2019, depois de uma rápida passagem como coordenador de Integração e Projetos do G1, tornou-se diretor de Jornalismo da Globo em Minas Gerais.

Cada jornal tem seu formato, seu tamanho, mas todos têm o hardnews: as notícias do dia resumidas ali. E, de tempos em tempos, a gente tem que descobrir quais são os temas da cidade que mais afligem o telespectador e, de uma forma mais profunda, dedicar um tempo maior àquilo”.
Marcelo Moreira em entrevista ao Memória Globo, 2015 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

O jornalista carioca Marcelo Moreira nasceu em 18 de outubro de 1969. Filho da dona de casa Neide do Nascimento Moreira e do tabelião Pedro Lemos Moreira, ele deve o interesse pela leitura de documentos, muito útil para sua carreira no futuro, ao pai. Seu Pedro o levava ao cartório, ainda jovem, para que ele tivesse seu primeiro contato com o universo profissional. Formado em 1991 em jornalismo pela Universidade Gama Filho, Marcelo começou a trabalhar como estagiário na 'Folha Dirigida'. Depois de passagens pelos jornais 'O Dia' e 'A Notícia' – onde, durante todo o ano de 1991, acompanhou de perto o universo da criminalidade fazendo plantões de madrugada – foi para o 'Jornal do Brasil'.

No Jornal do Brasil

Em sua primeira pauta do 'Jornal do Brasil', Marcelo Moreira foi escalado para seguir a movimentação, na porta do hotel, de chefes de Estado importantes que discursariam na conferência ambiental Rio-92. Aproximando-se de grupos de estrangeiros que apreciavam a madrugada carioca, conseguiu falar com o ministro do Meio Ambiente da Groenlândia e escreveu uma matéria saborosa sobre a noite dos delegados da conferência, em Copacabana. O texto foi publicado na íntegra no dia seguinte.

Quatro anos depois, o jornalista vivia uma das passagens mais marcantes de sua carreira: conseguiu entrar, como se fosse morador, no morro Dona Marta, onde Michael Jackson gravaria um clipe que ficaria famoso. Na véspera da gravação, os traficantes quiseram expulsá-lo, junto com dois jornalistas de outros jornais, pois haviam feito um acordo com a produção do cantor para evitar a presença da imprensa no local. Mas Marcelo Moreira convenceu o líder dos traficantes, Marcinho VP, a conceder uma entrevista. A reportagem acabou gerando grande repercussão, mobilizando a polícia e desagradando o entrevistado, algo que poderia ter colocado em risco a vida do repórter. “Não sei se teve relação ou não, mas logo depois da prisão do Marcinho VP, passou um carro no viaduto da perimetral e deu tiros na redação do 'Jornal do Brasil'. Furou uma janela! A gente achava que podia ser uma represália do traficante”, lembra.

ABRAJI

O temor do jornalista e de seus colegas se mostrou pertinente mais de uma década após a entrevista no Dona Marta, quando o repórter Tim Lopes foi assassinado, em 2002, em uma comunidade do Rio de Janeiro. Devido à tragédia, Marcelo Moreira, que já estava na Globo e era colega de Tim, ajudou a criar a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), entidade que ele presidiria no futuro e foi fundada para proteger os profissionais de imprensa. Uma reportagem da qual Tim Lopes participou, sobre o Feirão das Drogas que funcionava em favelas e bairros cariocas, havia vencido, em 2001, o Prêmio Esso, na categoria telejornalismo. Nunca antes uma matéria de TV tinha recebido a premiação.

Na Globo

Marcelo Moreira ficou no 'Jornal do Brasil' até 1999, período em que produziu matérias importantes, como a denúncia sobre o poder do cartel das empresas de ônibus no Rio de Janeiro. Naquele ano, a convite do então diretor de Jornalismo e Esporte da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder, ele foi contratado como chefe de produção da editoria Rio. “Uma pessoa criada em jornal impresso, quando entra no mundo de televisão, se assusta muito com estúdio, câmera, luz”, afirma. Em seis meses, foi promovido a chefe de reportagem. O jornalista teve oportunidade de trabalhar em projetos importantes, como a cobertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007, um evento fundamental para preparar a cidade para sediar os grandes eventos que viriam depois, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. “O nosso grande desafio como cidade era a mobilidade urbana. Então, a gente desenvolveu um produto que até hoje está no ar, chamado 'Radar RJ'. O Radar nasce nos Jogos Pan-Americanos, para mostrar se a cidade ia funcionar bem ou não”, lembra. Em 2010, foi convocado por Schroder para ser o chefe de reportagem do time de repórteres responsável por cobrir a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da África do Sul.

A estreia do quadro 'Radar RJ', no 'RJ TV - 1ª edição', em 2007

Antes de tornar-se editor-chefe, em 2009, Marcelo Moreira foi coordenador dos telejornais locais em um período de mudanças para aproximar a cobertura local dos telespectadores. No cargo, criou uma base de jornalismo na Baixada Fluminense. “A partir do escritório de Duque de Caxias, a gente cobria toda a Baixada Fluminense, uma região grande, de 12 municípios. A gente procurou estagiários e produtores que fossem da região e contratou uma jornalista que também era da Baixada para reforçar o time”, conta. A base funcionou por cerca de três anos, até 2008, quando o Jornalismo da Globo instituiu o 'RJ Móvel', um equipamento itinerante, que permitia o deslocamento dos jornalistas de maneira mais fácil.

Estreia do 'RJ Móvel' no 'RJTV 1ª Edição' (2007)

Nesse período, houve coberturas importantes na área de atuação da editoria Rio. Na capital, a ocupação do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro por militares e policiais, em 2010, exigiu a dedicação de toda a equipe e deu à Globo o Prêmio Emmy de jornalismo. “A gente conseguiu saber a hora em que ia acontecer o primeiro ataque aos traficantes, e isso ajudou no planejamento. Do sábado para domingo, já estávamos praticamente posicionados: colocamos na rua pelo menos cem pessoas. Passei a noite na emissora, e fizemos uma cobertura maravilhosa, que culminou com a repórter Bette Lucchese entrando ao vivo com um equipamento novo na época, o LiveU, com link pela internet”, detalha.

Em 2013, investigando a morte do pedreiro Amarildo, na Rocinha, repórteres da editoria Rio desmontaram a primeira versão oficial do governo, provando que ele havia desaparecido depois de ter sido levado pela polícia. Dois anos depois, quando um ciclista foi morto a facadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, a equipe da editoria novamente conseguiu desconstruir a versão da polícia, que apontava um adolescente como culpado pelo crime. O jornalismo da Globo comprovou ser praticamente impossível a identificação, pela testemunha apresentada pelos policiais, do adolescente apontado como o autor das facadas.

Reportagem sobre o Caso Amarildo (2013)

Reportagem sobre o Caso Amarildo (2013)

Especialistas questionam depoimento de testemunha de assassinato na Lagoa

INSI

Indicado por Ali Kamel, então diretor-executivo de Jornalismo, e Carlos Henrique Schroder, na época diretor da Central Globo de Jornalismo, Marcelo Moreira tornou-se, em 2006, membro do board do INSI (International News Safety Institute). A instituição desenvolve políticas de proteção a jornalistas em áreas de risco.

Manifestações

Em 2013, manifestações populares rapidamente se espalharam pelas principais capitais do país. Com o tempo, o que começou como apelo contra o aumento das passagens de ônibus, acabou se transformando em quebra-quebra, com episódios de vandalismo e violência, inclusive contra profissionais da imprensa. “Era uma cobertura que envolvia um risco para as nossas equipes, então, a gente teve que treinar os nossos repórteres para aprender a se comportar em manifestações. A cada movimento, a gente tinha que planejar onde posicionar nossas equipes. Foi quando a gente começou a não poder ter mais os nossos repórteres, os que aparecem no vídeo, no meio dos manifestantes, porque eles estavam correndo risco de serem agredidos”, lembra Marcelo, à frente das equipes de cobertura do Rio de Janeiro. Além da preocupação com a segurança, as manifestações trouxeram desafios de ordem técnica e estética ao jornalismo. Ao lado de novos equipamentos, menores e mais leves, o jornalismo passou a incorporar o uso de imagens de celulares em seus telejornais.

Núcleo de reportagens especiais

Por sua experiência em grandes coberturas, Marcelo Moreira passou a coordenar também, em 2013, o Núcleo de Reportagens Especiais da editoria Rio. À frente de uma pequena equipe, ele liderava jornalistas que produziam séries e reportagens especiais para os jornais locais e para a rede, tratando de temas como a Copa do Mundo, o carnaval, o Rock in Rio e as Olimpíadas. Entre as séries produzidas pelo núcleo, está a que retratou, no aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro, em 2015, o olhar estrangeiro sobre a cidade ao longo dos cem anos anteriores. Além de ser exibido em telejornais, o trabalho acabou entrando para a grade de programação.

No que diz respeito ao carnaval, o esforço de produção é contínuo e começa meses antes do evento, envolvendo a preparação para a cobertura dos blocos pela cidade e do desfile das escolas de samba, com a contratação de produtores específicos para a festa. Mas mesmo com toda essa organização, às vezes o evento traz surpresas. Em 2009, Marcelo Moreira foi encarregado de convencer a Liga das Escolas de Samba a fazer um intervalo durante o desfile, para que Neguinho da Beija-Flor pudesse se casar em plena Marquês de Sapucaí. Mais tarde, no mesmo dia, o jornalista foi o único profissional a registrar o encontro do cantor com o ex-presidente Lula, no camarote presidencial. “Eles se abraçaram, eu fiz fotos com meu celular e passei para o G1. Talvez tenha sido o momento mais atípico da história do carnaval que eu já tenha participado”, acredita.

Globo BH

Em 2019, depois de uma passagem de quatro meses como coordenador de Integração e Projetos do G1, Marcelo Moreira tornou-se diretor de Jornalismo na Globo em Minas Gerais. Assumiu com o desafio de aproximar o jornalismo local do público, regionalizando os telejornais locais. Criou o programa 'Rolê nas Gerais', exibido aos sábados à tarde, com meia hora de duração, dedicado a mostrar a diversidade e a vida dos moradores da periferia da Grande BH. Com apenas um ano no ar, o programa ganhou o prêmio Vladimir Herzog, por uma edição dedicada ao tema do racismo. O jornalista também liderou coberturas de peso, que ganharam destaque no noticiário nacional, como a tragédia de Brumadinho, as enchentes que mataram 14 pessoas em Belo Horizonte, em 2019, e o caso do envenenamento da cervejaria Backer, em 2020.

O jornalista deixou a emissora em abril de 2023.

O 'Rolê nas Gerais' visitou moradores da Vila da Paz, da Barragem Santa Lúcia e do Alto Vera Cruz, de Belo Horizonte, em 20/09/2019

O 'Rolê das Gerais' aborda as faces do racismo, em 26/06/2020

FONTES:

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Marcelo Moreira em 10/08/2015 e 17/08/2015; “Novo diretor de jornalismo da Globo, Marcelo Moreira conta planos do canal” in O Tempo, 22/07/19.