Ao completar 18 anos, Luiz Fernando Guimarães não queria servir o Exército, nem estudar em uma universidade. Desenhava bem e Arquitetura até despertava certo interesse, mas preferiu não prestar vestibular e foi trabalhar. Filho de um pai bancário e de uma mãe funcionária da Caixa Econômica Federal, conseguiu um emprego como escriturário em um banco. Tímido, com dificuldade de se relacionar e socializar, resolveu fazer análise de grupo. Foi lá que sugeriram que ele entrasse para o teatro e, assim, conheceu o Tablado, de Maria Clara Machado. Seu primeiro papel numa peça foi um dos três Reis Magos. Carioca de Laranjeiras, ficou sabendo de um grupo de teatro que estava se formando na Zona Sul do Rio de Janeiro. Era o Asdrúbal Trouxe o Trombone. A 20 dias de estrearem a primeira peça, um dos atores teve hepatite. O grupo buscou, então, um substituto. Luiz Fernando se apresentou e concorreu a vaga com mais uma pessoa. O teste? Interpretar uma arara. E ele pensou: “Como seria esta arara se fosse uma pessoa?” Ficou com o papel.
A primeira peça que Luiz Fernando Guimarães interpretou com o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone foi a comédia O Inspetor Geral, do russo Nikolai Gogol, dirigida por Hamilton Vaz Pereira, em 1974. Como atuava de máscara, isso o ajudou a vencer a timidez. “No Asdrúbal ficamos uns 20 anos juntos, fizemos cinco espetáculos. Era um grupo-cooperativa, que se produzia com o que tinha, pedia emprestado, não tinha dinheiro”, conta o ator.
Ali nasceu a parceria com a atriz Regina Casé. E foi esta parceria que o levou para a televisão. O primeiro trabalho foi no Sítio do Picapau Amarelo. O grupo todo foi convidado por Geraldo Casé a participar. O segundo foi Plunct Plact Zuuum novamente ao lado de Regina Casé. A dupla dividiu a cena com outro casal, formado por Marília Pêra e Marco Nanini. “A Regina diz que ela é fria e eu sou quente. Quando a conheci, era muito medrosa, e eu dei a mão para ela atravessar a rua. Passávamos a vida juntos. Éramos irmãos e somos até hoje, quando a gente se encontra. Foi aquela química que deu certo. Bota os dois ali que eles vão dar uma boa dupla. E a minha vida na Globo foi, praticamente, de duplas”, conta.
Sua primeira novela foi Vereda Tropical, em 1984. Luiz Fernando era amigo de Jorge Fernando e Guel Arraes e os dois diretores queriam pessoas novas no elenco. Mesmo sem saber dirigir, Luiz Fernando encarou o papel do motorista Miro. Depois viveu o Jean Pierre em Cambalacho, em 1986, mesma novela em que Regina Casé interpretava Tina Pepper. Mas os programas – principalmente de humor – despertavam mais interesse no ator.
Em 1988 surgiu TV Pirata. Inspirado no formato dos seriados americanos, o humorístico contava com o elenco na criação dos roteiros. A maioria dos atores vinha do teatro. “Era uma paródia da própria televisão. Era muito gostoso, porque nós gravávamos segunda e terça no estúdio Renato Aragão. Ficávamos lá o dia inteiro e aprendemos a mudar de personagem com muita rapidez. Além disso, participávamos na construção daquilo que estávamos representando. Isso foi importantíssimo na carreira de todos nós na televisão”, ressalta.
O trabalho durou até 1990, quando Luiz Fernando e Regina Casé saíram do TV Pirata para fazer o Programa Legal (1992). Eles queriam ir para rua, sair do estúdio. “O Daniel Filho deu uma câmera e falou assim: ‘Vão à luta.’ Então foi aquele programa que nasceu com pouca coisa, com uma estrutura pequena”. Depois vieram Brasil Legal (1995-1997), A Comédia da Vida Privada (1995-1997) e Vida ao Vivo Show (1998) com Pedro Cardoso. Também fez uma minissérie, Decadência (1995), de Dias Gomes – a única que fez até hoje –, além da novela Uga Uga (2000) e do programa Brava Gente (2000).
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre o programa TV Pirata com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Webdoc sobre o Programa Legal com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Em 2001, estreou Os Normais. Luiz Fernando, que acabava de voltar de uma viagem pela África com Fernanda Torres, sugeriu o nome da atriz para ser seu par no seriado. A escolha não poderia ter sido mais acertada: o casal Rui e Vani conquistou o público e o programa se alongou até 2003. “Nós tínhamos uma energia muito agitada e estávamos muito integrados. Havia entre a gente o desrespeito cênico: eu não espero você acabar o seu texto, nem você espera eu acabar o meu texto, porque na vida não é assim. Então a gente fala em cima um do outro. Entendeu? Isso foi um formato bom que deu para aquele casal uma credibilidade de casal de verdade.”, explica.
Os Normais: Rui e Vani conhecem um casal
Quando Os Normais saiu do ar, Luiz Fernando se aventurou em novos desafios. Primeiro foi O Super Sincero (2006), quadro do Fantástico escrito por Alexandre Machado e Fernanda Young e dirigido por José Alvarenga Jr – o mesmo trio responsável pelo programa anterior. Nele, o ator viveu Salgado Franco, um homem que só dizia a verdade criando situações constrangedoras. “A maior preocupação era fazer um personagem que fosse legal, divertido, que as pessoas se identificassem, mas que não fosse mal educado, nem grosseiro”, observa.
Trabalhar em dupla sempre foi uma marca na trajetória profissional de Luiz Fernando Guimarães. Uma marca de sucesso. Depois de Regina Casé, Pedro Cardoso e Fernanda Torres, houve também a parceria com o ator-mirim David Lucas, em Minha Nada Mole Vida (2006). No programa, mais uma vez escrito por Machado e Young e dirigido por Alvarenga, Luiz Fernando interpretou Jorge Horácio, um jornalista social que precisa aprender a conviver com o filho Hélio (David). A dobradinha deu tão certo que os dois se reencontraram em cena no humorístico Divertics (2013).
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Vídeo produzido pelo Memória Globo com entrevista exclusiva do ator Luiz Fernando Guimarães, sobre o quadro “O Super Sincero”, do Fantástico.
Outro programa de destaque na carreira do ator foi Dicas de um Sedutor (2007). Exibido primeiro como um especial de fim de ano e, depois, como um seriado semanal, o programa trouxe Luiz Fernando no papel de um consultor sentimental.
A volta às novelas aconteceu em 2011, com um convite do diretor Ricardo Waddington para interpretar o mordomo Nicolau, em Cordel Encantado. “Eu me sentia muito solitário fazendo esses programas. Os atores que eu contracenava eram atores que convidava para participar e depois iam embora e vinham outros. Não tinha um convívio. Já com a novela eu podia até chamar a equipe para fazer churrasco no meu sítio. A televisão foi um aprendizado, demorou, mas hoje eu me sinto em casa para falar as coisas do meu jeito, discutir, dizer não, dizer sim”, pontua Luiz Fernando.
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No cinema, participou de mais de 15 produções. O primeiro trabalho foi O Ibrahim do Subúrbio (1976). Luiz Fernando foi dirigido entre outros, por Arnaldo Jabor (Tudo Bem, 1978), Domingos Oliveira (Teu Tua, 1979) e Hugo Carvana (Bar Esperança, 1983). Fez papéis que o distanciaram da comédia como o Marcão, em O Que É Isso, Companheiro? (1997), longa que chegou a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. No entanto, a produção que ele tem um carinho especial é Os Normais – O Filme. “Uma chanchada brasileira dos tempos modernos”, como define o ator.
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