Jorge Bastos Moreno viveu em Mato Grosso até 1972, quando se mudou para Brasília, onde terminou o antigo segundo grau. Completou seus estudos em 1978, formando-se em Comunicação pela Universidade de Brasília, UNB.
Desde 1975, antes de obter o diploma de jornalista, Moreno já trabalhava como repórter no Jornal de Brasília, onde permaneceu até 1982. Neste mesmo ano, passou a trabalhar no jornal O Globo, também como repórter. Durante o ano de 1984, Jorge Bastos Moreno desligou-se do jornal para trabalhar na sucursal da revista Veja, da Editora Abril, retornando no ano seguinte. Em 1989, deixou O Globo novamente, também pelo período de um ano, para trabalhar na campanha de Ulysses Guimarães à presidência da República. Voltou ao jornal O Globo em 1990.
Até aí, já tinha deixado suas fortes marcas no jornalismo político. Cobriu a formulação de uma nova constituinte, a eleição e morte de Tancredo Neves, o impeachment de Fernando Collor de Melo, entre outros acontecimentos.
Entrevista exclusiva do jornalista Jorge Bastos Moreno ao Memória Globo em 28/07/2000, sobre seu início de carreira como jornalista.
Moreno tornou-se um dos mais respeitados repórteres de política do Brasil e um colecionador de furos. Entre suas principais matérias, destacou-se uma entrevista com o general João Batista de Figueiredo, realizada em 1978, quando ainda trabalhava no Jornal de Brasília, com a inédita declaração de que ele seria o próximo a ocupar o cargo da presidência. O antecessor era o general Ernesto Geisel. Em entrevista ao Memória Globo, Moreno contou: “Eu estava cobrindo o MDB. Um belo dia, falei para o Paulo Rédi, editor do Jornal de Brasília, que gostaria de fazer uma matéria diferente. Ele disse: ‘Começa’. Comecei pelo General Figueiredo, que era o chefe do SNI. Fui ao Centro de Cavalaria na Guarda Presidencial, onde ele praticava equitação. Acabou, e ele me chamou para tomar um café. Eu, todo tímido diante dele, nunca tinha ficado diante de um militar, muito menos diante de um general. Ele perguntou o que eu estava fazendo ali. Aí eu falei que eu estava ali para conversar com ele. ‘Conversar sobre o quê?’, ele me perguntou. Estão dizendo que o senhor pode ser o futuro presidente da República. Ele disse: ‘Quem te falou?’ Eu falei: ‘As fontes, general, as fontes é que falam as coisas, informam’. Aí ele: ‘Eu fui escolhido para ser o futuro Presidente da República’. Nisso, o Orlando Brito, de O Globo, passou e disse: ‘Você está com furo! Você está com furo!’”.
Ainda sobre o caso, Moreno conta que ficou nervoso. O General percebeu e explicou que tivera que aceitar essa missão passada pelo presidente Geisel, mas que essa informação não poderia aparecer no jornal saindo da boca dele. Sugeriu que revelasse em off. Moreno saiu correndo para a redação e ligou para o editor, comentando do grande furo que tinha em mãos. Criou coragem e decidiu publicar o diálogo: o Jornal de Brasília saiu em edição extra naquela tarde, com a manchete do ano.
Na década de 1970, Jorge Bastos Moreno também fez duas grandes entrevistas, fora da área de política, que lhe deram prazer e prestígio. Uma com a cantora Elza Soares, quando ela ainda vivia com Garrincha, e outra com Jorge Benjor, que assumiu sua admiração pelo general Figueiredo. Nos anos 1980, Moreno escreveu uma reportagem descrevendo uma longa conversa com Ulysses Guimarães em Manaus, onde o político dizia que sua maior frustração era nunca ter comprado uma bicicleta. Essa matéria serviu de referência biográfica para diversos jornais após a morte do político no acidente em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro, em outubro de 1992.
Nos bastidores da notícia
Jorge Bastos Moreno também teve uma participação decisiva no processo de impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. Sua manchete em O Globo, do dia 23 de julho, seria conclusiva: "Fantasma de PC pagou carro de Collor". A CPI do PC Farias ainda procurava uma prova que ligasse o presidente aos cheques de “fantasmas” que vinham do esquema PC, quando Moreno revelou que um Fiat Elba de propriedade do presidente tinha sido comprado pelo “fantasma” José Carlos Bonfim. O furo do repórter saiu na capa de O Globo em letras garrafais, pegou jornalistas e políticos de surpresa.
“Eu tinha descido para tomar um café na barbearia do Senado. Encontrei com uma pessoa amiga que trabalhava no Banco Central e que levava os cheques para lá. Eu sabia que não conseguiria nenhuma informação com essa pessoa; nunca fui repórter de dar murro em ponta de faca. Mas comentei: ‘Pois é, esse negócio aí está cada vez mais complicando’. E essa pessoa amiga: ‘Pois é, esse negócio aí do cheque do Bonfim…’. Quando eu descubro alguma coisa assim, eu procuro mostrar desinteresse para não assustar. Mudei de assunto. Depois, chamei essa pessoa para um drinque: ‘Olha, é o seguinte, eu tinha uma informação que esse cheque era do Bonfim’, que era um fantasma até então já conhecido do PC, ‘e você fez aquele comentário ali no Senado, e eu queria que você me dissesse se o cheque é mesmo do Bonfim’. Aí a pessoa então descobriu que o que ela tinha dito pra mim não era uma coisa pública. E começou a chorar”.
Também foi significativa a sua participação na CPI do Orçamento, quando descobriu um cheque relacionando Ibsen Pinheiro – presidente da Câmara dos Deputados durante o processo de impeachment de Collor – aos “anões do orçamento” – esquema de corrupção que desviava recursos do Orçamento da União, destinados a obras de assistência social, para entidades fantasmas controladas por parlamentares.
Durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, no auge do plano Real, Moreno escreveu uma reportagem revelando a indisposição das pessoas convidadas para almoçar no Palácio da Alvorada, enfastiadas de tanto comer frango. A polêmica em torno desta matéria lhe valeu um convite do próprio presidente para almoçar no Palácio, preocupado em desfazer todos os boatos gastronômicos.
NhémNhémNhém
Em 20 de julho de 1996, Moreno estreou no Globo a coluna 'NhémNhémNhém'. Publicada aos sábados, revelava os bastidores da política. Moreno escrevia também, desde março de 2017, o 'Cantinho do Moreno' na coluna 'Poder em Jogo', de Lydia Medeiros.
Em 1999, o jornalista recebeu o Prêmio Icatu e o Prêmio Esso de Jornalismo pela reportagem econômica revelando a substituição de Gustavo Franco no Banco Central e a desvalorização do Real.
Dos 40 anos de carreira, 35 foram dedicados ao jornal O Globo. Além do blog do Moreno, o jornalista participava de programas de entrevistas na GloboNews e, desde março de 2017, comandava o talk show 'Moreno no Rádio', na CBN, às sextas-feiras. Jorge Bastos Moreno foi autor dos livros 'A História de Mora – a Saga de Ulysses Guimarães', lançado em 2013, e 'Ascensão e Queda de Dilma Rousseff', lançado em março de 2017.
O colunista de O Globo morreu aos 63 anos, no dia 14 de junho de 2017, no Rio de Janeiro, de edema agudo de pulmão, em decorrência de complicações cardiovasculares.
Entrevista exclusiva do jornalista Jorge Bastos Moreno ao Memória Globo em 28/07/2000, sobre sua vida na infância até seu ingresso na faculdade.
Entrevista exclusiva do jornalista Jorge Bastos Moreno ao Memória Globo em 28/07/2000, sobre algumas práticas da profissão como a setorização nas áreas de atuação.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Jorge Bastos Moreno em 28/07/2000. |