Isabela Scalabrini

Nascida no Rio de Janeiro, foi uma das primeiras jornalistas a cobrir esportes na televisão brasileira. Entrou na Globo em 1979. Na editoria Rio se destacou em coberturas sobre a violência urbana. Foi repórter e apresentadora do 'MGTV' 1ª edição. Deixou a Globo em 2023.

Por Memória Globo


Isabela foi uma das primeiras jornalistas a cobrir esportes e a fazer matérias sobre futebol na televisão brasileira. Foi repórter da editoria Rio da Globo durante sete anos. Mais tarde, tornou-se editora e apresentadora do MGTV, telejornal local produzido pela Globo Minas.

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EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Depoimento de Isabela Scalabrini sobre a Olimpíada de Seul (1988)

Depoimento de Isabela Scalabrini para o Memória Globo, 2007 — Foto: Fernando Lemos/Memória Globo

Início da carreira

Isabela Scalabrini Matte nasceu em 1957 no Rio de Janeiro. Seu pai foi locutor da Rádio Globo e a mãe, professora e cantora, fez parte da dupla Neide e Nanci em Belo Horizonte e cantou na Radio Nacional na época áurea de Marlene e Emilinha Borba. E como filho de peixe é peixinho, a moça deixou-se fascinar pelo universo do jornalismo e cursou a faculdade Helio Alonso, formando-se em comunicação.

Em 1979, eram mais de mil candidatos a entrar para a Globo. Entre eles foram escolhidas apenas dez mulheres, e Isabela estava entre elas. A seleção foi feita pelos próprios editores do 'Jornal Nacional'. No estágio, aprendeu a apurar, filmar e editar. “Me lembro que fui fazer uma reportagem com um finzinho de filme”, conta ela. “A gente tinha 400 pés de filme, dava mais ou menos uns dez minutos de imagens, e não podia errar. Falei meu texto, fiz as perguntas, ouvi as pessoas, voltei e encerrei. Aquilo impressionou o pessoal na TV. Foi muito bom esse dia”.

Cobertura de esportes

Isabela gostava de esportes, jogava vôlei e chegou a ser cortadora no time do América. Ir para a editoria de Esportes foi, pois, uma solução natural. Fez parte da primeira equipe do programa 'Globo Esporte', onde trabalhou com os editores Hedyl Valle Jr. , Luiz Nascimento e Michel Laurence, e cobriu o Pan-Americano de Caracas de 1983, acompanhando a conquista da medalha de ouro no remo pelos irmãos Ricardo e Ronaldo Carvalho. Neste período, a jornalista cobriu, nas ruas do Rio de Janeiro, o segundo título de Nelson Piquet.

No início de sua carreira como repórter de esportes, teve de enfrentar preconceito. As perguntas que mais ouvia eram: “O que você veio fazer aqui? Entende de futebol?”. Ela mostrou que entendia, sim, e só respeitou um tabu: nunca entrou no vestiário dos jogadores. Também fez várias reportagens para o 'Jornal Nacional' sobre a chamada geração de prata do vôlei, com Renan, Montanaro, Bernard e Bernardinho: “Na década de 80, o vôlei chegava a lotar o Maracanãzinho. Era uma seleção de homens bonitos, as fãs ficavam loucas. Eles jogavam bem, e Bernard inventou o saque Jornada nas Estrelas, em que a bola batia no teto do estádio. E assim começou a crescer a audiência de outros esportes que não o futebol”.

Esporte Espetacular: Estreia de Isabela Scalabrini, 14/05/1989

No início da cobertura esportiva esses outros esportes eram chamados de amadores, e o futebol ficava com o espaço mais nobre. Mas, segundo Isabela, esse panorama foi se modificando: “No Globo Esporte, podia tudo, a gente podia ousar. Começamos a fazer clipe, imagens exclusivas com os jogadores, tinha música, efeitos especiais, brincadeiras, edições clipadas. Da década de 1980 para a de 90, o programa mudou muito. Ele se modernizou, e os editores gostavam de ousar”.

A repórter se lembra também de que a tão falada diferença entre os corredores Ayrton Senna e Nelson Piquet realmente existiu. “Se Senna acordasse com dor de cabeça ou se Piquet brigasse com o porteiro do hotel, tudo era informação nova. Os dois tinham uma rivalidade. Senna era encantador, educadíssimo, super-reservado; Piquet, não – “eu sou o melhor”, ele dizia. E assim ganhou várias vezes o Troféu Limão”.

Isabela também acompanhou um momento histórico dos Jogos Olímpicos, em Los Angeles (1984). Conforme texto de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, distribuído internamente em 2023, quando Isabela se aposentou, "na Olimpíada de Los Angeles, [Isabela] acompanhou a chegada da maratona feminina. Fez a reportagem sobre o esforço da suíça Gabrielle Andersen para completar a prova: contorcendo-se em câimbras, não permitiu que ninguém a tocasse até cruzar a linha de chegada (para somente então cair ao solo e ser atendida). A imagem é considerada uma das mais importantes do esporte mundial".

'Esporte Espetacular': Olimpíada de Los Angeles (1984), em programa especial exibido em 20/04/2003

Editoria Rio

Em 1992, Isabela deixou a divisão de Esporte e foi para a editoria Rio, onde fez várias matérias sobre a violência na cidade. Cobriu casos como a chacina de Vigário Geral, em que um grupo de extermínio invadiu uma favela na Zona Norte e matou 21 pessoas. E também a da Candelária, em que policiais militares mataram moradores de rua, inclusive menores, que se abrigavam perto da igreja no Centro do Rio. “A maior dificuldade de cobrir violência no Rio de Janeiro é fugir dos tiros. Hoje em dia, os repórteres são bem cuidadosos e estamos sob orientação da polícia para fazer determinadas reportagens. Mas, na época, ficávamos escondidos atrás do carro e os tiros passavam para lá e para cá”, conta ela.

A jornalista acompanhou a implantação do Plano Real, em 1994. Ela foi uma das repórteres que produziram matérias explicativas para população sobre as novas medidas econômicas. A transição entre as duas moedas era de difícil compreensão, e o desafio do jornalismo era informar os telespectadores da maneira mais simples possível.

Entre as contribuições positivas à sua trajetória jornalística Isabela destaca as de Hedyl Valle Jr., de Alice-Maria, diretora de telejornais da Globo entre 1973 e 1990, e de Evandro Carlos de Andrade, diretor da Central Globo de Jornalismo entre 1995 e 2001. “Alice-Maria era uma mãe, cuidava desde a cor do nosso esmalte até do que a gente falava. Evandro era uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Gostava de precisão, isenção, respeito ao direito. Tínhamos de ouvir todas as partes envolvidas e escrever certo. O telespectador não vê o que a gente escreve, mas Evandro não admitia que escrevêssemos errado. No Bom dia Rio, às 6h, ele entrava no computador e dizia: ‘Vamos mudar’”.

Mudança para Belo Horizonte

Em 1997, quando o marido de Isabela, o também jornalista Marcelo Matte, foi indicado para diretor regional da Globo em Belo Horizonte, Evandro aconselhou-a a segui-lo. E assim, a jornalista se estabeleceu na capital mineira como repórter e apresentadora do 'MGTV – 1ª Edição'.

Em 2005, na cobertura do Mensalão, Isabela Scalabrini entrevistou o publicitário Marcos Valério, que falou pela primeira vez desde que teve seu nome envolvido nas acusações do então deputado Roberto Jefferson. Na conversa exclusiva, o publicitário reconheceu que era amigo do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e admitiu que usou laranjas para abrir empresas.

Em Belo Horizonte, Isabela mediou o debate eleitoral para governador do Estado de Minas Gerais, em 2010. No ano seguinte, Scalabrini e o apresentador Artur Almeida cobriram pelo 'MGTV-1ª Edição' o velório do ex-vice-presidente da república José Alencar. Os jornalistas fizeram diversas imagens e apresentaram o jornal dentro do Globocop, helicóptero da TV Globo. O 'MGTV' mostrou também imagens de políticos passando pelo tapete vermelho que havia sido estendido na porta do Palácio da Liberdade.

Isabela Scalabrini esteve presente na cobertura das manifestações de junho de 2013 contra o aumento das tarifas dos transportes, a favor de melhorias nos serviços públicos e mais investimentos em saúde e educação. Ela e o repórter Ricardo Soares produziram reportagens para o 'Jornal Nacional'.

Apaixonada por esportes, Isabela voltou a participar de uma cobertura de Copa do Mundo, no Mundial de 2014, realizado no Brasil. Ela cobriu os jogos no Estádio do Mineirão, como a vitória da Colômbia sobre a Grécia, no dia 14 de junho, e a derrota do Brasil por 7 a 1 contra a Alemanha, no dia 8 de julho.

Isabela Scalabrini na cobertura do carnaval de 2017 no Rio de Janeiro — Foto: Cicero Rodrigues/Memória Globo

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Isabela Scalabrini deixou a emissora no final de janeiro de 2023.

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