Ilva Niño

A atriz Ilva Niño nasceu em Floresta, Pernambuco, em 1933. O primeiro trabalho na Globo foi em 1969. Brilhou em 'Roque Santeiro' (1985), quando interpretou a Mina, a empregada doméstica e confidente da viúva Porcina (Regina Duarte). Ela morreu em junho de 2024.

Por Memória Globo


A iniciação de Ilva Niño na vida artística se deu ainda na Escola Normal, quando participou de um curso de teatro grego, ministrado por Ariano Suassuna, e acabou atuando na montagem amadora que o autor fez para 'Antígona', de Sófocles. A partir daí, decidiu estudar artes cênicas seriamente e iniciou sua carreira, marcada, mais tarde, pela entrada no Movimento de Cultura Popular, ainda em Pernambuco, onde vivia. Com o regime militar, mudou-se com o marido para o Rio de Janeiro, onde ambos faziam um trabalho artístico de conscientização política na porta de uma fábrica. Assim, chamaram a atenção de Dias Gomes, que os convidou para atuar em peças suas e, depois, na televisão.

O teatro e a política

A atriz Ilva Niño Mendonça é filha de Elvécio de Carvalho Niño, ex-seminarista e operário do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, e da professora Maria Carlinda de Carvalho. Sua iniciação na vida artística se deu ainda na Escola Normal, quando participou de um curso de teatro grego ministrado por Ariano Suassuna e acabou atuando na montagem amadora que o autor fez para 'Antígona', de Sófocles.

A partir daí, decidiu estudar artes cênicas seriamente e iniciou sua carreira, marcada, mais tarde, pela entrada no Movimento de Cultura Popular, ainda em Pernambuco, durante o governo de Miguel Arraes, no início da década de 1960. “A gente fazia um trabalho maravilhoso dentro dos engenhos. Íamos preparando os camponeses para receber o trabalho de alfabetização que vinha de Paulo Freire. O teatro abre essa facilidade de comunicação”, acredita.

Com o golpe de 1964, o pai de seu marido, o também ator Luiz Mendonça, tornou-se secretário de Segurança, o que permitiu ao casal sair a salvo do Recife, onde havia risco de prisão. A viagem para o Rio de Janeiro, destino escolhido em função de uma pessoa da família morar na cidade, levou 18 dias, por evitar os caminhos convencionais. Ela e o marido já conheciam o Rio, pois haviam se apresentado em um festival de teatro na então capital do país com 'O Auto da Compadecida', em 1957, peça que deu o prêmio de melhor autor a Ariano Suassuna.

Mesmo com o início do regime militar, foi possível manter o trabalho de conscientização que era feito em Pernambuco, em uma fábrica chamada Flecha Carioca, que produzia utensílios de plástico. Por conta das encenações na porta da empresa, Dias Gomes convidou Ilva Niño e Luiz Mendonça para atuar em sua peça 'O Berço do Herói', em 1965, com o objetivo de ajudá-los a sobreviver na cidade. Pouco tempo depois, quando a peça foi proibida, o autor os chamou para participar de 'O Pagador de Promessas', em que a atriz interpretou a Rosa, mulher de Zé do Burro, papel de Leonardo Villar.

Mina!!!

Com a contratação de Dias Gomes pela Globo, a atriz seguiu com ele para a emissora, onde fez primeiro 'Verão Vermelho', em 1969, e depois outras novelas de sua autoria, como 'Bandeira 2' (1971), onde Ilva interpretou Santa, integrante de uma família de retirantes nordestinos. “O ponto forte da novela foi mostrar as comunidades, as discussões entre as escolas de samba, o dinheiro da corrupção que corria solto, o tráfico que dominava. E essa família pobre do nordeste que pensa que o sul é uma maravilha”.

Ilva Niño e Paulo Gonçalves em Verão Vermelho, 1969 — Foto: Acervo/Globo

Em 'Roque Santeiro' (1985), fez a Mina, emprega doméstica e confidente da viúva Porcina (Regina Duarte). “Uma pontinha de nada em 'Roque Santeiro', e a Mina não morreu nunca, até hoje todo mundo grita pela Mina na rua. Foi um grande sucesso, merecidamente um grande sucesso. Dias fez uma parte, depois Aguinaldo Silva pegou a outra parte e continuou o grande sucesso”, relembra.

Ilva Niño em Roque Santeiro, 1985 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Entre 'Verão Vermelho' e 'Roque Santeiro', Ilva Niño participou de várias novelas de outros autores, como 'A Patota' (1972), de Maria Clara Machado; 'Gabriela' (1975), de Walter George Durst; e 'Sem Lenço, Sem Documento', de Mário Prata, em 1977, quando fez o primeiro papel de empregada doméstica. Cotinha, sua personagem, trabalhava em um prédio em Ipanema, bairro nobre da orla carioca, e acabou se tornando preconceituosa, tanto que teve dificuldade para assumir um namoro com o personagem de Milton Gonçalves, negro e pobre.

Ilva Niño em Gabriela, 1975 — Foto: Acervo/Globo

Atuação na primeira minissérie da TV

A atriz trabalhou também em 'Pecado Capital' (1975), de Janete Clair, como mãe das personagens de Betty Faria e Elizangela, e em 'Feijão Maravilha' (1979), de Bráulio Pedroso. Na década de 1980, após atuar em 'Água Viva' (1980), de Gilberto Braga e Manoel Carlos, Ilva Niño participou da primeira minissérie da Globo, 'Lampião e Maria Bonita' (1982), de Aguinaldo Silva e Doc Comparato, como Odete, a mãe de Maria Bonita. “Nelson Xavier fazia um Lampião maravilhoso, divino, fantástico. Ele escreveu muito bem, o Doc Comparato, sobre o encanto da mocinha pelo bandido. Lampião era diferente, era hippie, com aquele chapéu cheio de espelhos, de fitas penduradas”, conta.

Trabalhos frequentes em novelas

Em seguida, Ilva fez 'Partido Alto' (1984), novela que projetou a autora Gloria Perez; 'O Outro' (1987), de Aguinaldo Silva; e 'Bebê a Bordo' (1988), de Carlos Lombardi. “Era uma comédia maravilhosa, Tony Ramos fazia lindamente bem, eu ria do Tony o tempo todo. Acho que foi a última novela de Dina Sfat, ela era mãe verdadeira da menina, eu era a mãe de criação”, explica. Depois vieram 'Sexo dos Anjos' (1989), de Ivani Ribeiro, 'Pedra sobre Pedra' (1992), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, 'Tropicaliente' (1994), de Walther Negrão, e 'História de Amor' (1995), de Manoel Carlos. Com o autor, voltaria a trabalhar em 'Por Amor', dois anos depois, já gravando nos Estúdios Globo.

Ilva Niño em Bebê a Bordo, de Carlos Lombardi, 1989 — Foto: Nelson Di Rago/Globo
O Projac, que hoje se chama Estúdios Globo, veio para mostrar ao mundo o que a gente faz em termos de TV e comunicação. Veio para engrandecer e valorizar muito o ator.

Entre o fim dos anos 1990 e toda a década iniciada em 2000, Ilva Niño seguiu trabalhando em novelas de forma contínua: foi a Zezé de 'Suave Veneno' (1999) e a Dona Bil de 'Senhora do Destino' (2004), ambas de autoria de Aguinaldo Silva; a Irmã Tereza de 'Terra Nostra' (1999), de Benedito Ruy Barbosa; a Valderice de 'Porto dos Milagres' (2001), de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares; a Almerinda de 'Alma Gêmea' (2005) e a Marli de 'Sete Pecados' (2007), duas novelas de Walcyr Carrasco.

Ilva Niño em Terra Nostra, 1999 — Foto: Jorge Baumann/Globo

Mãe de cangaceiro

Em 2009, integrou o elenco da primeira novela de Duca Rachid e Thelma Guedes, 'Cama de Gato', e em 2011, foi Cândida Araújo, mãe do cangaceiro vivido por Domingos Montagner, em 'Cordel Encantado', das mesmas autoras. “Foi encantado mesmo, é outra relação do cangaço, não era aquela relação do Lampião, era mais fantasia, mais cordel mesmo. Você assiste à novela inteira e os cangaceiros não matam uma pessoa, não dão tiro em ninguém, não usam a arma para nada”, enfatiza. A atriz também participou de 'Cheias de Charme' (2012), de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, da segunda versão de 'Saramandaia' (2013), escrita por Ricardo Linhares a partir do texto de Dias Gomes, e de 'Malhação' (2015).

Ilva Niño em Cordel Encantado, 2011 — Foto: Alex Carvalho/Globo

Carreira extensa

Ao longo da carreira, Ilva Niño teve também três participações em 'Caso Verdade' , programa criado por Walter Avancini, e foi passageira do táxi de Vladimir Brichta, em um episódio de 'Faça a sua História' (2008), além de ter integrado o elenco de 'Chico City', exibido entre 1973 e 1980. No programa, ela foi Sidônio, um personagem masculino que trabalhava na Sudene, e a mãe de Meinha, um jogador de futebol.

Ilva Niño no episódio 'Disque CVV para Viver' de Caso Verdade , 1982 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Em sua trajetória, Ilva Niño interpretou várias empregadas domésticas. Ela acha que os autores vêm humanizando a profissão de forma gradativa. “Ela não entra mais em cena apenas para servir a mesa ou mexer panela na cozinha. Ela agora está inclusa na comunidade familiar da casa. Trabalha na sua casa porque você precisa dela e ela precisa do emprego, então existe uma troca, uma necessidade”.

Ilva Niño em depoimento ao Memória Globo, 16/02/2017 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Ela avalia: “Sou uma pessoa feliz. Escolhi uma profissão que leva alegria para todo mundo. Dá condição de trabalhar o social, de passar adiante o que eu sei, estar diante do experimentar”.

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Ilva Niño morreu em 12 de junho de 2024.

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