Helio de la Peña

Helio de la Peña nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1959. Ingressou na Globo em 1988. Durante quase 20 anos foi um dos integrantes do 'Casseta & Planeta, Urgente'.


Ele nasceu Helio Antonio do Couto Filho, na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. Mas ficou conhecido mesmo como Helio de La Peña. “Resolvi homenagear o meu bairro, meu local de origem. E aí tem uma brincadeira também do "de La Peña" com til, porque apesar de eu ser da Vila da Penha, na época, o meu sonho era morar na Praça Saens Peña”. Foi na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se formou em Engenharia de Produção, que nasceu o jornalzinho 'Casseta Popular', dando origem anos mais tarde ao grupo Casseta & Planeta.

Helio durante depoimento ao Memória Globo, em 2013 — Foto: Frame de vídeo

Helio ingressou em 1978 na faculdade e na mesma turma também estavam Beto Silva e Marcelo Madureira. “No primeiro ano, a gente já estava envolvido com política estudantil e achava aquilo tudo muito sisudo, os caras muito sérios. Então, a gente resolveu fazer um jornalzinho, mas zoando com o movimento estudantil, uma brincadeira porque a gente tinha uma luta por melhores condições de ensino, mas resolvemos fazer uma luta por mais mulheres na engenharia, que era o nosso maior problema”.

Filho de um escriturário e de uma professora primária, Helio conta que a primeira edição do jornal, com quatro páginas e tiragem de 50 exemplares, foi feita com o mimeógrafo à álcool da mãe. “Aí a gente viu que agradou e foi fazendo mais. No outro já procuramos a gráfica do Centro Acadêmico da Engenharia e começamos a atingir a outros campi da UFRJ”.

Em 1980, eles convidaram Bussunda e Claudio Manoel para integrar o time e começaram a fazer um jornalzinho com um interesse mais abrangente, falando já de questões de comportamento e política. Nesta época também ampliaram as vendas para praia e bares. “E quando tinha algum festival ou encontro de estudantes, a gente ia lá tentar vender o nosso peixe, né?”

Quando, em 1984, Hubert, Reinaldo e Cláudio Paiva saíram do 'Pasquim' e lançaram o jornal 'Planeta Diário' pela Editora Núcleo-3, o grupo passou a colaborar também para a publicação. Em 1986, é a vez de Helio, Beto Silva, Marcelo Madureira, Bussunda e Claudio Manoel apresentarem uma proposta para a mesma editora, mas, desta vez, para fazer uma revista de humor. “O Claudio Manoel e o Bussunda passavam o dia na redação, dedicados à revista. Eu, Beto e Marcelo já trabalhávamos como engenheiros, cada um numa empresa. A gente trabalhava na pauta, escrevia, mas não tinha condição de passar o dia lá. Até tinha uma inveja danada dos dois, gostaria muito de estar ali”.

'TV Pirata'

Deste período, nasceu a ideia de fazer também shows. “A gente se apresentava nos barezinhos e o repertório era de músicas de comerciais, jingles antigos, música de desenho animado, nunca paródia, era sempre a música original mesmo que estava na nossa memória. E aquele resgate foi agradando a galera.”

Em paralelo, Helio estava se formando em engenharia e começou a trabalhar na área, até que, em 1988, ele e os outros ‘cassetas’ foram contratados pela TV Globo para serem redatores da 'TV Pirata', a convite de Cláudio Paiva, que havia entrado na emissora como redator.

“A 'TV Pirata' causou um impacto muito forte na época porque surgiu como o primeiro programa de humor que não tinha claque, aquilo que marcava onde as pessoas tinham que rir. A gente apostava no timing da piada. Além disso, tinha o tempo dos quadros, que eram bem longos. Acho que o programa fez sucesso porque era diferente, inovador, trazia justamente essa linguagem nova. Era um programa que não tinha um similar, não só na emissora, como nos outros canais.”

Dos quadros que os ‘cassetas’ escreveram, Helio destaca o 'TV Macho', com Guilherme Karan e 'As Presidiárias', que consagrou Claudia Raia no papel de Tonhão. “Tinha a repórter que a Debora Bloch fazia, que era um caco de reportagem de rua e que a gente aproveitou bastante”, relembra.

'Doris Para Maiores'

Com o fim da 'TV Pirata', em 1990, o grupo apresentou a ideia de um programa mais jornalístico, que era menos em cima de esquete, mais focado na notícia, onde o assunto era a estrela da história e não a interpretação. “Como a gente não tinha “cancha” de ator, o fato de fazer um repórter colocava o texto na frente da interpretação”.

O primeiro programa feito somente pelo grupo foi o 'Doris Para Maiores', em 1991.

Helio de La Peña e Doris Giesse em 'Dóris para Maiores' — Foto: Bazilio Calazans/ TV Globo
“A ideia era jornalismo mentira, humorismo verdade. Depois virou esse mote para o Casseta & Planeta. Durante um bom tempo a gente perseguiu essa ideia.”

'Casseta & Planeta, Urgente!'

O programa ficou apenas um ano no ar, até estrear o 'Casseta & Planeta, Urgente!', em 1992, tendo a jornalista Kátia Maranhão como apresentadora. “Foi o mesmo ano do impeachment do Collor, o que foi um grande impulso para gente. Porque o nosso forte era a piada em cima da notícia e você tinha uma notícia muito pesada, muito forte, muito marcante para brincar em cima”.

De 1992 até 1998, o programa foi mensal. Em 1998 passou a ser semanal. Para dar conta do recado, eles tinham reunião com todos juntos e depois se dividiam em duplas ou trios para escrever os quadros. “A gravação era uma brincadeira, uma festa. A trabalheira mesmo era na hora da criação do programa, da redação. Quem decidia quem ia fazer o quê era o nosso diretor. Achamos que era mais saudável para o grupo, para evitar uma briga interna. Acho que um dos segredos da longevidade do Casseta & Planeta, Urgente! foi essa relação da gente com o Zé Lavigne”.

Glória Maria encontra Hélio de La Peña caracterizado de Chicória Maria, 2010 — Foto: Márcio-de-Souza/Globo

Para Helio, as paródias eram um ponto alto do programa. Das que fez, destaca a Chicória Maria em alusão a jornalista Glória Maria, além do Mister PM referente ao mágico Mister M, o Michael Jackson todo pintado de branco e também Chocolate Cumprimenta, que era paródia da novela 'Chocolate com Pimenta', que ele fazia um chocolate que saía cumprimentando as pessoas.

Casseta & Planeta, Urgente!: Mister PM, com Helio de La Peña

“Para mim marcou muito 'Paraíso Tropical', que eu fazia a Mamila Peitanga, paródia da Camila Pitanga. Era muito engraçado, porque a Camila fazia aquela prostituta apaixonada pelo Wagner Moura e uma vez eu fui fazer uma gravação na Avenida Atlântica, vestido de garota de programa e comecei a ser abordado pelos turistas perguntando quanto que era o meu programa. Mas o meu programa era só o 'Casseta & Planeta'”.

Casseta & Planeta, Urgente!: "Galocha para Natação", Organizações Tabajara. Em cena, Helio de La Peña

As coberturas de Copa do Mundo foram outro ponto alto nos 20 anos em que o programa ficou no ar. Helio relembra a de 2002, em que todos ficaram no Rio e não acompanharam de perto a cobertura. Na final, o jogo acabou cedo por conta do fuso-horário e eles foram para orla de Ipanema-Leblon para gravar no caminhão do Corpo de Bombeiros. Helio estava caracterizado de Ronaldinho Gaúcho, Bussunda de Fenômeno, Reinaldo de Zagallo e o Beto de Felipão. “Quando a gente saiu pra gravar com o carro caracterizados de jogador de futebol, a gente virou a seleção que chegou e as pessoas podiam comemorar com seus ídolos. Foi bem legal essa sensação de que você era um craque que ganhou a Copa”.

Bussunda, Beto Silva e Helio de La Peña no 'Casseta & Planeta, Urgente!' — Foto: João Miguel Júnior/Globo

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc humor - Casseta & Planeta, Urgente!: Composição de Personagens (1992)

Webdoc sobre o programa Casseta & Planeta Urgente! na cobertura da conquista brasileira do tetracampeonato na Copa dos EUA (1994), com entrevistas exclusivas dos humoristas Beto Silva, Helio De La Peña e Claudio Manoel ao Memória Globo.

Morte de Bussunda

O Mundial seguinte, em 2006, foi marcado pela tristeza da morte do Bussunda. “Foi avassalador em termos pessoais porque mais do que o profissional, o comediante Bussunda, ele era um grande amigo de todos. Éramos sete, número ímpar, a votação nunca empatava, então toda essa harmonia se quebrou. Foi um cristal que se partiu ali. Ele era o que representava a cara do escracho do Casseta”.

Para o humorista, a importância do 'Casseta & Planeta, Urgente!' está no formato. “Acho que o fato de você misturar humor com realidade, humor com atualidade, com jornalismo, com notícia, é uma coisa que foi a gente que trouxe. E a paródia, de novela, sobretudo, de brincar com aqueles personagens e levar adiante a cultura novelística do brasileiro para um programa de humor foi também uma coisa bem bacana”, afirma Helio, que nesse período também se aventurou no cinema com a 'A Taça do Mundo é Nossa' (2003) e 'Seus Problemas Acabaram' (2006).

Além dos dois filmes, a primeira década de 2000 também marca a estreia de Helio de La Peña na literatura. Ele escreveu três livros: 'O Livro do Papai' (2003), 'Vai na bola, Glanderson!' (2006) e 'Meu Pequeno Botafoguense' (2010). O primeiro fez tanto sucesso, que ele adaptou para televisão, numa série de quatro episódios para o GNT chamada 'Paidecendo no Paraíso' (2007). Depois, chegou a fazer ainda uns quadros para o Fantástico chamado 'É Pai, É Pedra', com atuação do Bruno Mazzeo como pai, Gabriela Duarte como a mãe. Sergio Loroza fazia papel de ginecologista.

“São voos solo que nada tinham a ver com o grupo. O 'Livro do Papai' escrevi quando estava tendo meu segundo filho. Quando o João nasceu, minha atual mulher, Ana Quintela, estava tendo seu primeiro filho, mas eu estava relax porque já tinha passado por aquilo com o Joaquim, então tinha tranquilidade para ver tudo de uma forma engraçada e consegui criar uma caricatura daquela situação. Já 'Vai na Bola, Glanderson!' é um livro que fala de um brasileiro que sonha em ser um empresário de jogador de futebol, uma comédia que também agora eu estou num processo de transpô-la para o cinema. E no 'Meu Pequeno Botafoguense' conto a história do Botafogo, minha paixão”.

Depois das duas décadas que o 'Casseta&Planeta' ficou no ar, Helio afirma que o que mais mudou nesses 20 anos de programa foi o contexto. “Acho que mudou o Brasil. Quando a gente começou, eram poucas emissoras, poucos programas de humor, uma outra realidade de comunicação. A televisão era bastante unilateral”, conclui Helio que em 2014 estreou em outro longa brasileiro, 'Muita Calma Nessa Hora 2'.

FONTE:

Depoimento de Helio de La Peña ao Memória Globo em 15/05/2013.