Giuliana Morrone

A jornalista nasceu em Brasília. Estreou na Globo em 1989 e se destaca em coberturas do noticiário político. De 2008 a 2012, foi correspondente em Nova York. Deixou a empresa em 2023.

Por Memória Globo


Giuliana Morrone entrou na Globo em 1989, por meio de um teste. A indicação veio de uma professora que era editora do 'Jornal Hoje' na capital federal. Alguns dos primeiros plantões da repórter novata foram na porta da residência do então presidente eleito Fernando Collor de Mello, que tinha acabado de ser eleito. A primeira passagem pela emissora foi rápida. Em 1990, candidatou-se a uma bolsa de estudos na Itália. De volta ao Brasil, passou pelas redações das TV Bandeirantes e SBT até voltar à Globo, em Brasília, inicialmente para cobrir uma licença maternidade. Da cobertura política, foi convidada, em 2007, para ser correspondente da emissora em Nova York, de onde voltou em 2012. Durante oito anos, foi apresentadora do 'Bom Dia Brasil' na capital federal. Em julho de 2021, trocou a manhã pela noite: passou a ser responsável pelo noticiário político no 'Jornal da Globo'. A jornalista também começou a participações no 'Jornal das Dez', da GloboNews, dando furos e reportando os bastidores do dia.

Vejo alguns repórteres que buscam intimidade com os políticos. Não acho que seja necessário. É um trabalho de bastidor, tem que conversar com as pessoas, tomar muito café, sair para almoçar. É um trabalho de formiguinha, uma relação que tem que ser cultivada. Tem que conquistar a confiança da fonte. Não é só chegar lá na hora com o microfone na mão e gravar a entrevista.
Giuliana Morrone no programa Altas Horas, 2017 — Foto: Ramón Vasconcelos/Globo

Início da carreira

Ainda garota, aluna do Colégio Marista de Brasília, Giuliana Morrone exercia seus dotes de repórter. Escrevia no jornalzinho da escola e chegou a entrevistar a poetisa Cora Coralina. Nascida em 30 de março de 1967, no Distrito Federal, era ainda adolescente quando, aos 17 anos, ingressou no curso de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB), onde se formou em 1988.

Sua estreia na carreira foi como estagiária da Radiobras, em 1986. O primeiro trabalho profissional foi na Globo, onde entrou por meio de teste. A indicação veio de uma professora que era editora do 'Jornal Hoje' na capital federal. “Eu era crua, ainda não estava formada como indivíduo mesmo, e com o jornalismo fui crescendo, amadurecendo,” lembra.

Era o ano de 1989. Com a volta das eleições diretas para a Presidência da República, alguns dos primeiros plantões da repórter novata foram na porta da residência do então presidente eleito Fernando Collor de Mello: “A Casa da Dinda ficava muito longe. A gente levava marmita, aquela de alumínio mesmo, e ficava lá o dia todo. Porque, se o Collor resolvia sair para correr, a gente ia atrás.”

Mas não foi o glamour da cobertura política que consolidou a paixão de Giuliana pelo jornalismo. Ela lembra da primeira matéria exibida no 'Jornal Hoje': o acidente com um caminhão que carregava boias-frias para trabalhar em Brasília. “Fiquei impactada. Fomos um dos primeiros a chegar ao local. Eram corpos carbonizados, um cheiro horroroso, e a cada hora chegavam os parentes, que vinham pegar informação com a Globo. Eu vi que estava ajudando, e aquilo me deu uma satisfação muito grande”.

A primeira passagem pela emissora foi rápida. Em 1990, Giuliana resolveu se candidatar a uma bolsa de estudos na Itália. “Pensei assim: ‘Vou ser uma velha de 40 anos – imagina, 40 anos! – provavelmente fazendo o mesmo trabalho que faço hoje. Preciso de novas experiências’. E fui morar durante um ano em Roma.”

Mas o confisco da poupança, no começo do Governo Collor, fez com que a instituição que daria a bolsa de estudos ficasse com sua verba retida. Como o dinheiro para estudar e fazer o mestrado em jornalismo não saiu, Morrone foi dar aula de ginástica para ajudar nas despesas. “Decidi me virar por lá. Fiquei um ano e conheci a Europa toda, incluindo o Leste Europeu”.

A volta ao Brasil foi em dezembro de 1991. Passou três meses na sucursal de Brasília da Rede Bandeirantes e depois seguiu para o SBT, para o telejornal noturno de Lillian Witte Fibe. Em seguida, passou a atuar como repórter no 'TJ Brasil', comandado por Boris Casoy na emissora paulista. Foi lá que cobriu o processo que levou ao impeachment de Collor, em 1992. “Tenho até hoje todo o material, as denúncias, o processo. Eu era novinha. Todo mundo era. Os procuradores que tinham oferecido a denúncia haviam estudado comigo. Tinham a minha idade”.

Ainda contratada pelo SBT, Giuliana se casou e se transferiu para a sucursal do Rio de Janeiro. Nesta época, participou de coberturas como a da queda do edifício Palace II. Ficou na capital fluminense por três anos, até 1995, quando o departamento de jornalismo carioca da emissora fechou. Sem conseguir outras oportunidades na cidade, voltou à terra natal.

Em Brasília, resolveu telefonar para o chefe de redação da Globo local, Marcelo Netto. “Ele me falou: ‘Giuliana, vai aparecer uma vaga aqui e não vou me lembrar de você, vou chamar a pessoa que estiver me ligando no presente. Então, tem que ficar me ligando. E tem uma coisa, eu não vou atender’. Eu ligava sempre e ficava arrasada quando ele não podia falar. Até que um dia Marcelo me chamou para cobrir uma licença-maternidade. Eu conto essa história para todos os estagiários,” diz.

No início dos anos 2000, na Globo Brasília, havia uma estrutura diferente da que a jornalista conhecia, inclusive com a presença de muitos colegas oriundos do jornalismo impresso. Alocada na equipe do 'Jornal Hoje', Giuliana não cobria muito o Congresso. Eram pautas sobre economia popular, seca e até uma famosa marmelada de Luziânia. Com o filho pequeno nesta época, foi uma volta perfeita.

Embora estivesse afastada da área política, a repórter também esteve na cobertura da eleição presidencial de 2002, que levou Luiz Inácio Lula da Silva ao poder. “A Globo fez um esquema gigantesco para cobrir todos os ângulos. Eu registrei a emoção da população ali, ao vivo, da Esplanada dos Ministérios. Mal comparando, me lembrou a posse de Barack Obama. Tinha um clamor popular muito grande”, recorda ela.

No começo do governo Lula, fez importantes reportagens sobre a implantação do programa Fome Zero, o regime de cotas nas universidades e também sobre denúncias de corrupção, como os casos Jader Barbalho, Luiz Estevão e Waldomiro Diniz e também o Mensalão. “Fiz uma das primeiras entrevistas com o Carlinhos Cachoeira (empresário que gravou Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedindo de propina)”. Sobre a proximidade com o poder, Giuliana tem os pés no chão.

Reportagem de Giuliana Morrone sobre a instalação da CPI do mensalão, Jornal Nacional, 20/07/2005.

Reportagem de Giuliana Morrone sobre a abertura de ação pelo STF contra os 40 acusados de envolvimento com o mensalão, Jornal Nacional, 28/08/2007.

Temporada nos Estados Unidos

Em 2007, Giuliana recebeu de Carlos Henrique Schroder e Ali Kamel o convite para ser correspondente da Globo em Nova York. Era o fim da Era Bush. “Topei na hora. Sabia que era um momento muito especial no jornalismo mundial. Fui em dezembro de 2007 e acompanhei tudo do começo. Não se sabia se o candidato democrata ia ser Obama ou Hillary Clinton”, conta.

Nos Estados Unidos, ela se juntou à equipe comandada por Cesar Seabra, que contava ainda com os correspondentes Roberto Kovalick, Lilia Telles e Jorge Pontual (como ela, em Nova York), Luís Fernando da Silva Pinto (de Washington) e Rodrigo Alvarez (exclusivo do 'Fantástico'). Lembra também de cinegrafistas como Orlando Moreira. “É um profissional brilhante, conhece tudo.”

Se no começo Giuliana sofreu por não saber se vestir para temperaturas tão baixas – “Nunca passei tanto frio na minha vida” –, depois passou a viver com desenvoltura pela cidade. A pé, de metrô ou a bordo de uma de suas três bicicletas, andava pelas ruas observando a arquitetura e as curiosidades de Nova York. Foi daí que teve a ideia da coluna 'Crônicas de Nova York', quadro que apresentava aos sábados no 'Jornal Hoje'.

A convivência da redação era em clima de “A grande família”, segundo Giuliana: “A vida girava em torno da cozinha. Alguém fazia o café e começávamos a ver as notícias do dia. E, quando íamos para a rua, era o casamento repórter-cinegrafista. Não tem auxiliar na Globo de Nova York. O repórter ajuda a levar o equipamento, o pau de luz”. Das coberturas internacionais feitas de Nova York, a repórter destaca a prisão de Dominique Strauss-kahn, a morte de Osama Bin Laden e, claro, a eleição de Obama – na cobertura, ela ficou responsável por acompanhar o republicano John McCain. Quando ele admitiu a derrota ela estava na base eleitoral do candidato, em Phoenix. E, na posse de Obama, seu trabalho foi acompanhar a multidão marchando rumo a Washington.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a eleição de Barack Obama (2008), com entrevistas exclusivas.

Foi um dos momentos mais importantes da minha carreira. A gente sabia que ali era um momento histórico.

Foram quatro anos e meio nos Estados Unidos, onde participou ainda de coberturas sobre a crise financeira mundial que se iniciou em 2008 com a quebra de bancos americano; a morte do cantor Michael Jackson em 2009; o terremoto no Haiti que devastou a capital, Porto Príncipe, matando 230 mil pessoas e deixando mais de um milhão de desabrigados; as consequências da passagem do Furacão Sandy, que causou destruição e mortes em Nova York e Nova Jersey em outubro de 2012; as matérias sobre a cerimônia anual do Oscar e as entrevistas com estrelas como Angelina Jolie, Madonna, Scarlet Johasson e Gisele Bündchen no Fantástico. “Celebridades e pessoas comuns para mim são a mesma coisa. E muitas vezes eles não acham. Não é o que gosto de fazer”.

De volta ao Brasil em janeiro de 2012, a jornalista se estabeleceu mais uma vez em Brasília. De lá, Giuliana tem acompanhado importantes coberturas, como o processo da Operação Porto Seguro, investigação de 24 pessoas pela Polícia Federal, acusadas de venda de pareceres técnicos do governo em favor de empresas privadas.

Em 2013, a repórter acompanhou as eleições presidenciais no Paraguai e a vitória do candidato do partido Colorado, Horácio Cartes, empresário e dirigente esportivo. Neste mesmo ano, o 'Bom Dia Brasil', que passou a ser apresentado por Ana Paula Araújo e Chico Pinheiro, passou a contar com a participação, ao vivo, de Giuliana, direto de Brasília. No ano seguinte, a jornalista estava na equipe responsável pela cobertura das eleições presidenciais brasileiras. Em janeiro de 2015, Giuliana Morrone participou da equipe que cobriu os atentados terroristas na França, com ataques ao jornal Charlie Hebdo e a um supermercado judaico. Ao todo, 17 pessoas morreram.

Depois de oito anos no 'Bom Dia Brasil', Giuliana Morrone trocou a manhã pela noite e, a partir do dia 5 de julho de 2021, passou a entrar ao vivo com o noticiário político no 'Jornal da Globo'. A jornalista também começou a participar do 'Jornal das Dez', da GloboNews, dando furos e reportando os bastidores do dia na capital federal.

Em 2023, Giuliana esteve no time de apresentadores eventuais do Jornal Nacional. E participou do Globo Repórter.

A jornalista deixou a emissora em abril de 2023.

Fontes