Uma estreia inusitada na televisão. Fábio Willian era ainda estudante de jornalismo, em 1984, quando decidiu fazer um teste para TV. O incentivo veio de uma professora. Seria seu primeiro contato após ter trabalhado um ano em uma emissora de rádio. “Eu cheguei às dez horas da manhã na TV Uberaba, afiliada da extinta TV Manchete, para fazer o teste. Quando eram umas onze e quinze, mais ou menos, eu estava lá sentado no corredor da televisão, e veio um senhor correndo, enlouquecido, gritando: ‘Cadê o rapaz para fazer o teste, cadê o rapaz para fazer o teste…?’ Eu peguei, levantei a mão: ‘Sou eu.’ ‘Vamos lá, vamos lá…’ Eu falei: ‘Eu vou fazer o teste agora?’ Ele falou: ‘Não, você vai apresentar o jornal ao vivo, porque o apresentador não veio, não tem quem faça, você vai fazer.’ E eu perguntei: ‘A que horas é o jornal?’. Ele disse: ‘11 e 20.’ Eu estava de camisa normal, sentei, acenderam os refletores todos, aí ele falou assim: ‘Olha…’ – mostrou o monitor – ‘vai aparecer a sua cara aqui, você lê isso aqui…’. Não tinha teleprompter. Quando eu vi a minha cara ali no monitor, comecei: ‘É… bom dia….’, e comecei a ler aquilo lá e aí entrou uma vinheta, o comercial e o pessoal falando: ‘É isso aí, vai…’. E esse foi o meu começo na televisão, fazendo um teste ao vivo, apresentando um jornal ao vivo, por incrível que pareça”.
Fábio ficou três anos na emissora. Quando concluiu a faculdade resolveu investir na carreira na capital federal. “Eu pensei: ‘Onde é que estão os entrevistados mais importantes? Eu quero entrevistar governador, presidente, ministro’. Aí eu tirei férias e vim para Brasília. Havia uma rádio que estava inaugurando, Atividade FM. Lá, fiz um teste e comecei a trabalhar como locutor.” Depois, atuou na TV Apoio, emissora em sistema UHF, e na TV Record.
Em 1996, veio o convite do então diretor de Jornalismo de Brasília, Marcelo Netto, para integrar a equipe da recém-criada GloboNews. “Eu fiquei como repórter e apresentador do Jornal das 10. Mas até a GloboNews entrar no ar demorou uns meses, e nesse período fiquei fazendo matérias para o jornal local, o 'DFTV', e vários pilotos. Foi aí que surgiu a questão do profissional multifunção: do jornalista ser apresentador, editor e repórter. Como a emissora estava nascendo, se acertando, e a gente tinha que superar algumas dificuldades, eu fazia matérias pré-editadas. Narrava e o cinegrafista fazia plano sequência para poder facilitar, porque não havia como fazer edição aqui. Eu entrava muito ao vivo também. Isso tudo foi um aprendizado grande e a gente se desenvolveu bastante por conta disso”, lembra.
O caso do Índio Galdino abalou o país em 1997. Cinco jovens jogaram álcool e atearam fogo no índio Galdino Pataxó, que dormia numa parada de ônibus.
“Foi uma cobertura que eu diria triste, porque quando você gosta da cidade onde você está, esse tipo de noticiário que ganhou não só o Brasil inteiro, mas o mundo, é um desastre para o país”
Fábio passou a integrar a equipe de repórteres do 'Jornal da Globo' e do 'Bom Dia Brasil' em 1998. As idas ao Congresso Nacional ficaram constantes e o desafio passou a ser tornar a temática política interessante para o público dos telejornais. “A gente fazia uma matéria para o 'Jornal da Globo' e uma versão diferente para o 'Bom Dia Brasil'. Ali, no Congresso, você tem os locais pré-determinados para fazer imagem, são sempre os mesmos caras de terno e gravata, do mesmo ângulo. Então, o nosso desafio é tornar a coisa mais palatável. O 'Jornal da Globo' sempre possibilitou sair daquele hard news, até porque a matéria pode já ter sido dada no 'Jornal Nacional', então o ideal é sempre avançar, dar informações diferentes ou uma abordagem diferente do que já foi visto no 'JN'”.
Formação em psicologia
Fábio William Silva é filho do policial militar José Divaldo Silva e da dona de casa Tereza Rodrigues Silva. A graduação em jornalismo foi concluída em 1987, na FIIUBE, Faculdades Integradas de Uberaba, em Minas Gerais. Depois, Fábio formou-se em psicologia, com pós-graduação em psicologia clínica, área em que também atua, conciliando com a carreira jornalística.
O cenário político proporcionou momentos marcantes na carreira de Fábio, como a primeira matéria que fez para o 'Jornal Nacional'. “A minha primeira matéria no 'JN' foi uma reunião do PT, liderada pelo José Dirceu, aqui em Brasília, em um sábado. Foi motivo de muita satisfação, porque era a primeira vez que eu ia entrar no jornal”. Em 2005, o repórter acompanhou um dos maiores escândalos da história política do Brasil: o Mensalão. Acusado de envolvimento no esquema de corrupção dos Correios, o então deputado federal, Roberto Jefferson, denunciou o suposto esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada em troca de apoio político.
Reportagem de Fábio William e comentários de Heraldo Pereira sobre o pedido de condenação de 37 dos 40 denunciados pelo mensalão, Jornal da Globo, 07/07/2011.
Mesmo não tendo participado da 'Caravana JN', em 2006, o jornalista elogiou o projeto.
“Na 'Caravana JN', é como se nós, jornalistas, tomássemos posse daquilo que é nossa obrigação. Para poder falar com autoridade sobre alguma coisa, você tem que conhecer aquilo, mas conhecer mesmo, sentir na pele o calor do lugar, ouvir o sotaque das pessoas, sentir a umidade do ar. Então, a Caravana teve um papel muito importante por estar naqueles locais e com as pessoas dali, para poder falar sobre a situação de fato naquelas regiões”.
O acidente com o voo 1907 da Gol, que deixou 154 mortos em 2006, foi acompanhado pelo jornalista. O avião se chocou no ar com um jato Legacy e caiu em região de mata fechada ao Norte de Mato Grosso. O Legacy conseguiu pousar em uma base aérea no Sul do Pará. Os sete ocupantes não sofreram ferimentos. A tragédia marcou também o início de uma crise aérea sem precedentes na história do país. Descobriu-se que o controle de tráfego aéreo tinha problemas graves. Dois anos depois, Fábio fez a cobertura da CPI dos Grampos, que investigou as escutas, legais e ilegais. A comissão também identificou os grampos clandestinos, feitos sem autorização da Justiça.
O jornalista não teme alçar novos voos. E foi o que fez, literalmente, quando, em 2009, se aventurou num avião de caça AMX durante uma reportagem sobre o treinamento da Força Aérea Brasileira em conjunto com a Força Aérea de outros cinco países, no Rio Grande do Norte. A cobertura rendeu uma reportagem no 'Jornal da Globo', um especial de 30 minutos na GloboNews, e uma experiência memorável para o repórter. “O Comandante me disse que havia a possibilidade de eu voar no AMX. E ele me disse: ‘Olha, você sabe que o avião quando joga a bomba, que é a operação que vocês vão simular, ele sobe e tem a força gravitacional, então muito piloto desmaia. Isso é piloto, imagina quem não é.’ Mas eu decidi ir. Os caras me botaram um macacão que é ligado no avião, e o oficial foi falando: ‘Olha, se você cair na água…’ Eu falei: ‘Que história de cair na água, meu amigo?’, ‘Se você cair na água tem isso aqui e tal…’. Eu entrei no avião, que é apertado, você quase veste o avião, e coloquei a mão assim, entre as pernas. ‘Não coloca a mão aí não…’ Eu falei: ‘O que aconteceu?’ Ele disse: ‘Se você puxar esse negócio, você é ejetado.’ Eu falei: ‘Meu amigo, onde é que eu boto a mão então, o que eu faço, já que eu estou aqui dentro do avião?’ O cara deu risada e foi me explicando: ‘Você está vendo esse botão aqui, quando você começar a desmaiar, você bate a mão aqui, porque vai vir um choque de oxigênio, que você vai voltar.’ Eu falei: ‘Que história de desmaiar, meu amigo?’ Ele falou: ‘Não, tudo bem, fique tranquilo, que se você desmaiar quando a gente voltar, a gente ressuscita você.’ Eu falei: ‘Que história de me ressuscitar…?’ Os caras botando a maior pilha, eu falei: ‘Sabe de uma coisa: eu estou na guerra mesmo, pronto e acabou.’ Aí quando foi para fazer o tal ataque, que ia ter a força gravitacional, o piloto falou: ‘Fábio, um minuto para o ataque.’ Eu falei: ‘Vamos acabar com eles.’ O cara olhou assim, ele deve ter falado, esse cara é louco. Eu só vi o mundo de cabeça para baixo, e quando ele subiu, a sensação é como se eu fosse sugado de dentro de mim mesmo. Mas eu não desmaiei, não passei mal”, lembra.
Reportagem de Fábio William sobre a Crusex, um treinamento em conjunto das Forças Aéreas de Brasil, França, Chile, Venezuela e Uruguai, Jornal da Globo, 14/11/2008.
Âncora do 'DFTV'
Em 2011, Fábio assumiu a bancada do 'DFTV' e o cargo de editor-chefe do telejornal. “O Carlos Henrique Schroder e a Silvia Faria estiveram aqui para conversar comigo e me disseram: ‘Olha, a gente está mudando o 'DFTV', uma mudança que já ocorreu no Rio de Janeiro, e vai ocorrer também em São Paulo’. Aí, eu fui para o Rio, acompanhei lá o processo, o Luiz Cláudio Latgé nessa época conversou muito comigo a respeito da ideia do novo 'DFTV', que sofreu uma mudança de concepção. Foram introduzidos os comentaristas de arte e cultura, segurança pública, saúde. Temos o nosso Alexandre Garcia. É um jornal que faz análise, que mostra ao vivo. O nosso objetivo é que o telespectador se sinta bem informado. Sinta como se tivesse aprendido algo quando termina o jornal”.
Em 2013, Fábio passou a fazer parte também da escala de apresentadores do 'Jornal Hoje', motivo de orgulho, segundo ele, que vê no jornalismo uma importante missão.
“A minha maior felicidade é quando na rua alguém diz: ‘Olha, vocês estiveram aqui fazendo reportagem e nós ganhamos tal coisa, nós conseguimos tal coisa.’ Porque aí eu penso que cumpri o meu objetivo, a missão que é trabalhar para o outro. Já que as pessoas não podem estar em todos os lugares, estejamos nós, para que elas possam ter acesso àquela informação e da maneira mais honesta possível. Deixar que ela decida se aquilo é bom, é ruim, é certo ou errado”.
Em 2019, William dividiu a bancada de apresentação do 'Jornal Nacional' com Ellen Ferreira (Roraima), no rodízio de apresentadores que marcou os 50 anos do telejornal.
Fábio William deixou a Globo em abril de 2023.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Fábio William em 22/05/2014. |