Euclydes Marinho

O autor e roteirista Euclydes Marinho nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de fevereiro de 1950. Estreou na Globo em 1978. Foi um dos autores da minissérie 'Malu Mulher' (1979).

Por Memória Globo


Euclydes Marinho sonhava trabalhar com cinema. Trabalhou como fotógrafo de jornais, revistas e de filmes de longa-metragem e chegou a realizar alguns curtas-metragens, o que o levou a conhecer o diretor Daniel Filho, de quem se tornaria parceiro em diversos trabalhos posteriores. Foi através dele que, em 1978, entrou na Globo, convidado para integrar a equipe de autores do seriado 'Ciranda Cirandinha'. No ano seguinte, escreveu o primeiro episódio de 'Malu Mulher'. A partir daí, colaborou em diversos programas, entre novelas, seriados e humorísticos, até estrear como autor de novelas em 'Mico Preto' (1990). Em meio à variedade de assuntos sobre os quais escreveu, o autor se destaca por personagens femininas fortes e tramas que envolvem o rico e complexo universo feminino.

É um tema recorrente na minha vida – as mulheres. Mas não sei se entendo delas. Acho que ninguém entende. Talvez eu morra escrevendo sobre elas e tentando entendê-las”.
Euclydes Marinho — Foto: Cicero Rodrigues/Memória Globo

Início da carreira

Euclydes Marinho ingressou no curso de Desenho Industrial da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, mas não chegou a concluí-lo. Sonhava trabalhar com cinema. Aos 18 anos, mudou-se para Paris, onde viveu intensamente o auge da contracultura e o movimento hippie. De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou como fotógrafo de jornais, revistas e de filmes de longa-metragem, como 'A Estrela Sobe' (1974), de Bruno Barreto. Em seguida, mudou-se com a mulher, a atriz Odete Lara, para Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro. Aos 27 anos, de volta à capital e à vida urbana, decidiu retomar o sonho de ser cineasta e realizou alguns curtas-metragens.

Nessa época, conheceu o diretor Daniel Filho, de quem se tornaria parceiro em diversos trabalhos posteriores. Foi através dele que Euclydes Marinho começou a trabalhar na Globo, em 1978, convidado para integrar a equipe de autores do seriado 'Ciranda Cirandinha'. Assinado por Domingos Oliveira, Antônio Carlos da Fontoura, Luiz Carlos Maciel e Euclydes Marinho, 'Ciranda Cirandinha' contava a história de quatro jovens que dividiam um apartamento no Leblon, bairro da Zona Sul carioca.

Apesar de tumultuado, o início da carreira de Euclydes Marinho como autor da Globo foi promissor. Ainda em 1978, o seriado 'Ciranda Cirandinha' foi escolhido o melhor programa de TV pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Em seguida, ganharia o prêmio Estácio de Sá, oferecido pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.

Malu Mulher

No ano seguinte, Euclydes Marinho voltou a trabalhar em seriados da Globo, escrevendo o primeiro episódio de 'Malu Mulher' (1979). 'Acabou-se o que Era Doce' apresentou ao público a protagonista Malu (Regina Duarte) e toda a violenta crise conjugal por que ela e o marido (Dennis Carvalho) passam até a separação. A equipe de autores de Malu Mulher contava também com Armando Costa, Lenita Plonczynski, Renata Palottini, Doc Comparato e Manoel Carlos. Inovadora para a época, 'Malu Mulher' trouxe para a televisão discussões como divórcio e conciliação da criação de uma filha com a vida profissional, tudo isso sob o viés da personagem título.

Eu acho que o que [Malu Mulher] trazia de novo era que se falava de coisas que a televisão não falava, dos problemas mais reais da vida. Não se falava muito da realidade, até porque a realidade era completamente censurada. O grande mérito do Malu foi esse: a gente conseguir falar.
Regina Duarte em Malu Mulher, 1980 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Após o sucesso da temática feminina abordada em 'Malu Mulher', a Globo produziu o especial 'Mulher 80', com roteiro de Euclydes Marinho e Luiz Carlos Maciel e direção de Daniel Filho. O programa especial foi apresentado por Regina Duarte e teve depoimentos de diversas estrelas da música brasileira, como Elis Regina, Maria Bethânia, Rita Lee e Gal Costa. Este foi o primeiro de uma série de musicais com os quais o autor colaborou durante a década de 1980.

Em 1982, ao lado de Luiz Carlos Maciel e Maria Carmem Barbosa, Euclydes Marinho assinou o roteiro de 'Um Facho de Luz', especial da série 'Grandes Nomes' sobre a obra do cantor e compositor Djavan. Em 1986, baseado no conto 'Cinderela, a Gata Borralheira', dos irmãos Grimm, Euclydes Marinho escreveu com Luiz Gleiser o musical 'Cida, a Gata Roqueira', protagonizado por Cláudia Raia. No ano seguinte, junto com Nelson Motta, assinou o roteiro de 'Antonio, o Brasileiro', musical em homenagem aos 60 anos do maestro Antônio Carlos Jobim.

Estreia em novelas e minisséries

Euclydes Marinho teve sua primeira experiência em telenovelas, ainda em 1981, como colaborador do autor Gilberto Braga em 'Brilhante' (1981). No ano seguinte, estreou como autor principal, assinado a minissérie 'Quem Ama Não Mata' (1982), uma das primeiras produzidas pela Globo. Ambientada no Rio de Janeiro, 'Quem Ama Não Mata' apresentava as histórias de cinco casais, com visões diferentes sobre seus relacionamentos. A minissérie é considerada um marco na teledramaturgia da emissora, por discutir em profundidade casamento, fidelidade e amor, numa época marcada por crimes passionais, como o assassinato de Ângela Diniz.

Fantástico: reportagem sobre a série de crimes passionais que lançou a campanha "Quem Ama Não Mata", e inspirou a minissérie homônima. Incluindo entrevistas feitas com o elenco (Marília Pêra, Cláudio Marzo e Hugo Carvana), a direção (Daniel Filho) e o autor (Euclydes Marinho), 08/08/1982.

A partir de 1983, Euclydes Marinho passou a escrever para o programa 'Caso Especial'. Primeiro, adaptando alguns clássicos da literatura, como 'Mandrake', de Rubem Fonseca, e 'O Fantasma de Canterville' (1983), de Oscar Wilde, cujo roteiro dividiu com Lula Torres. Em seguida, ainda em 1983, o autor adaptou para o 'Caso Especial' a peça 'Domingo em Família' (1983), de Oduvaldo Vianna Filho, e escreveu o roteiro para dois episódios do programa baseados em textos originais de Luiz Fernando Veríssimo, 'Casal Vintém' (1983) e 'Demônios do Posto Cinco' (1983). Em 1984, junto com Maria Carmem Barbosa e Christiane Nazareth, assinou 'Feliz Ano-Novo, de Novo' (1984). Dois anos depois, em 1986, assinou com Luiz Gleiser o episódio 'Negro Léo' (1986), baseado na obra de Chico Anysio.

Euclides Marinho e Daniel Filho em 1982 — Foto: Acervo Globo

Em 1984, com a colaboração de Christiane Nazareth e Lula Torres, Euclydes Marinho voltou a assinar uma minissérie. Desta vez, adaptada da obra de Nelson Rodrigues. 'Meu Destino é Pecar' contava a história de Leninha (Lucélia Santos), uma mulher insatisfeita com o casamento arranjado pelos pais. No elenco, atores como Tarcísio Meira, Nathalia Timberg e Marcos Paulo.

Em seguida, Euclydes Marinho integrou a equipe de criação do seriado 'Armação Ilimitada', ao lado de Antonio Calmon, Patrycia Travassos, Nelson Motta, Christiane Nazareth e Daniel Más. Dedicado ao público jovem, 'Armação Ilimitada' era protagonizado pelo triângulo amoroso formado pelos dublês Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biasi) e a jornalista Zelda (Andréa Beltrão), e inovou ao apresentar uma linguagem ágil, baseada em videoclipes e histórias em quadrinhos.

Webdoc seriado - Armação Ilimitada (1985)

No final dos anos de 1980, o autor voltou a escrever para seriados da Globo, colaborando com o texto de 'Tarcísio & Glória' (1988), estrelado pelos atores Tarcísio Meira e Glória Menezes. Logo a seguir, Euclydes Marinho dividiu com Antonio Calmon e Leopoldo Serran a criação do especial 'Shop Shop' (1988). 'Shop Shop' era o primeiro episódio do que deveria ser um seriado voltado para o público adolescente. Baseado no filme 'Stand by Me' (1986), de Rob Reiner, contaria histórias de jovens em grandes cidades, mas não teve continuidade.

Euclydes Marinho integrou o time de autores da Casa de Criação Janete Clair. Criada por Dias Gomes em 1985, a Casa foi responsável pela sinopse da novela 'Roda de Fogo', protagonizada por Bruna Lombardi, em 1986.

A estreia de Euclydes Marinho como autor de novelas aconteceu logo em seguida, em 'Mico Preto' (1990). Assinada em parceria com Marcílio Moraes e Leonor Bassères, a novela contava, de forma bem-humorada, a história de um honesto funcionário público, Firmino Espírito Santo (Luis Gustavo), que se tornava procurador de uma milionária subitamente desaparecida.

Mico Preto (1990): Abertura

No ano seguinte, Euclydes Marinho voltou a assinar uma minissérie em parceria com Lula Torres. 'Meu Marido' (1991) apresentava a história de um austero chefe de família, Carlos Zanata (Nuno Leal Maia), que é acusado de tráfico de drogas. Parte da trama voltaria a ser abordada pelo autor em 2002, quando assinou 'Desejos de Mulher' (2002).

Antes disso, porém, Euclydes Marinho deixou a Globo, em 1994, para se dedicar ao cinema e a projetos independentes. É dessa época sua colaboração no roteiro do filme 'Veja Esta Canção' (1994), de Cacá Diegues, e a parceria com o amigo Daniel Filho, no seriado 'Confissões de Adolescente', baseado no livro de Maria Mariana.

Em 1996, de volta à Globo, e novamente ao lado Daniel Filho, Euclydes Marinho adaptou crônicas de Nelson Rodrigues para o quadro 'A Vida Como Ela é'…, exibido pelo 'Fantástico'. Com episódios de oito minutos de duração e estrelada por grande elenco, a série foi toda filmada em película, obtendo excelente repercussão.

Webdoc jornalismo - Fantástico: "A Vida Como Ela É" (1996)

Dois anos depois, Euclydes Marinho voltava a escrever para seriados, assinando um episódio de 'Mulher', que contava o cotidiano das doutoras Martha (Eva Wilma) e Cristina (Patrícia Pillar) na Clínica Machado de Alencar, especializada em ginecologia e obstetrícia. Ainda em 1998, o autor também colaborou com o texto do humorístico 'Vida ao Vivo Show', estrelado por Pedro Cardoso e Luiz Fernando Guimarães.

Euclydes Marinho escreveu 'Andando nas Nuvens', a primeira novela que assinou sozinho, em 1999. Para contar a história de Otávio Montana (Marco Nanini), que desperta após 18 anos em coma, o autor contou com a colaboração de Elizabeth Jhin, Vinícius Viana, Letícia Dornelles e Nelson Nadotti. No elenco, atores como Cláudio Marzo, Nicette Bruno, Renata Sorrah e Susana Vieira.

Três anos depois, o autor assinou sua segunda novela, 'Desejos de Mulher' (2002), na qual teve como colaboradores Ângela Carneiro, Denise Bandeira, João Emanuel Carneiro, Vinícius Viana e Graça Motta. A trama principal de 'Desejos de Mulher' trazia a história das irmãs Andréa (Regina Duarte) e Júlia (Gloria Pires), com temperamento e estilos de vida inteiramente diferentes.

Desejos de Mulher: cena em que, durante uma discussão, Julia (Glória Pires) revela que Andréa (Regina Duarte) é adotada

Em 2004, Euclydes escreveu diversos episódios do seriado 'A Diarista', estrelado por Cláudia Rodrigues. Também assinou o especial de final de ano 'Histórias de Cama & Mesa', com Marcos Palmeira, Patrícia Pillar, Daniel Dantas, entre outros. Em 2005, foi responsável, junto com Rafael Dragaud, pelo roteiro do programa especial 'A História de Rosa', que foi exibido na programação em homenagem aos 40 anos da Globo. 'A História de Rosa' abordava a dramaturgia produzida pela emissora, contando a história da menina Rosa (Isabelle Drummond) com a televisão. No elenco, Adriana Esteves, Reynaldo Gianecchini, Milton Gonçalves e Lilia Cabral, entre outros.

Em seguida, Euclydes escreveu mais quatro obras para a Globo: as minisséries 'Capitu' (2009), baseada na obra de Machado de Assis, 'O Brado Retumbante' (2012), retratando o universo da política nacional no eixo Brasília e Rio de Janeiro, e 'Felizes para Sempre?' (2015), uma história ousada que retratava um conflito de casais, e o seriado 'As Cariocas' (2010), inspirado na obra homônima de Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta. 'Felizes para sempre', releitura de seu sucesso 'Quem Ama não Mata', contou com com Paolla Oliveira e Maria Fernanda Cândido no elenco. Com diversos trabalhos bem-sucedidos abordando a realidade das mulheres, Euclydes passou a ser conhecido como o autor do universo feminino.

Além dos trabalhos em televisão, Euclydes Marinho também escreveu os roteiros dos filmes 'Beijo na Boca' (1982), de Paulo Sérgio Almeida, 'Bar Esperança' (1983), de Hugo Carvana, e 'Primo Basílio' (2007), de Daniel Filho. Em 2007, escreveu e dirigiu seu primeiro longa-metragem: 'Mulheres Sexo Verdades Mentiras'.

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