Eduardo Salgueiro

O jornalista Eduardo Salgueiro, o Cadu, nasceu em Três Rios, interior do Rio de Janeiro, em maio de 1968. Entrou para a Globo em 1990. Passou pelo 'Globo Repórter', 'Jornal Nacional' e 'Fantástico', onde é chefe de produção desde 2006.

Por Memória Globo


Carlos Eduardo Morteira Salgueiro diz que a escolha pelo curso de Comunicação Social se deu mais por aversão a algumas matérias das ciências exatas do que por vocação, que se revelou em 1988, na TV Manchete. Trabalhou na emissora por dois anos, até ser contratado pela Globo, onde começou como produtor do Globo Repórter, exercendo um modelo de jornalismo de mais análise, sem a urgência do dia a dia. Depois do Globo Repórter, Eduardo Salgueiro atuou no Núcleo de Reportagens Especiais, dando suporte ao 'Jornal Nacional'. Pouco tempo depois, integrou a equipe de produtores-repórteres do Fantástico, idealizada pelo então diretor Luiz Nascimento. No programa, participou de reportagens investigativas com o repórter Eduardo Faustini para denunciar as tentativas de corrupção de funcionários públicos, viajou para países como China, Japão e Paquistão para produzir séries de matérias especiais e foi promovido à chefia de produção. No cargo, passou a coordenar a atuação dos colegas e ter sob sua responsabilidade tudo o que diz respeito à logística e aos recursos necessários à realização das matérias cuidadosamente elaboradas que são a marca do 'Fantástico'.

Depoimento de Eduardo Salgueiro ao Memória Globo, 2018 — Foto: Cicero Rodrigues/Memória Globo

O início

Cadu começou na TV Manchete na função de assistente de produção da equipe que cobria carnaval. Passou a produzir o 'Programa de Domingo', antes mesmo de se formar. Decidido pela carreira, terminou a habilitação em Publicidade, sua escolha inicial, e cursou mais um ano e meio de faculdade para se graduar também em Jornalismo. Na Manchete, Cadu conheceu pessoas com as quais se relacionaria depois, como Luiz Nascimento, Eduardo Faustini e Leilane Neubarth, que o indicou para a Globo, onde começou a trabalhar quando estava para fazer 22 anos.

'Globo Repórter'

Como havia vagas na Editoria Rio e no 'Globo Repórter', optou pelo programa que lhe daria a chance de fazer um jornalismo mais analítico, com o qual se identifica. Contratado no 'Globo Repórter', então dirigido por Jorge Pontual, Cadu percebeu que precisava ocupar seu espaço, na medida em que era jovem e pouco conhecido pela equipe.

“O 'Globo Repórter' era um programa muito estruturado entre a figura do produtor, do editor e do repórter de vídeo. O editor era quem dava as cartas do que a gente ia fazer, o repórter ia lá fazer, só que quem apurava tudo, quem ia para a rua, levantava as histórias e encontrava os personagens era o produtor”

Nesse período, Cadu participou de programas importantes e que envolveram riscos, como o que mostrou a vida dos parentes das vítimas da chacina de Vigário Geral, em 1993; inovadores, como a reportagem sobre a comemoração de um aniversário da aviação de caça no Brasil, feita com a instalação de câmeras especiais nos aviões, também em 1993; e que ficaram na memória, como o 'Globo Repórter' sobre a morte do Ayrton Senna, em 1994.

No 'Fantástico'

Neste mesmo ano, o então diretor de produção da Central Globo de Jornalismo, Carlos Henrique Schroder, que o havia contratado, sugeriu que ele fosse para o 'Jornal Nacional' com o objetivo de produzir matérias para o Núcleo de Reportagens Especiais. A experiência durou pouco tempo, pois o desejo de voltar ao jornalismo menos voltado ao hard news foi atendido com o convite de Luizinho Nascimento para que ele se transferisse para o 'Fantástico'. A ideia do diretor do programa era montar um time de produtores-repórteres, incomum à época, composto por Cadu e outros profissionais, entre os quais Tim Lopes e Eduardo Faustini.

Entre as matérias de destaque que fez quando iniciou sua trajetória no 'Fantástico' está a dos surfistas ferroviários, no Rio de Janeiro, em 1997. Vindo do Méier, bairro da Zona Norte, com o repórter cinematográfico Lúcio Rodrigues, Cadu viu cerca de 50 pessoas em cima dos vagões e sugeriu a pauta, aceita pela direção. Durante a apuração, percebeu que as autoridades e a companhia que geria o transporte pouco sabiam sobre os surfistas, mas conseguiu mapear as estações em que eles subiam nos trens. Um dos personagens entrevistados tinha 17 anos e resistiu a um choque de alta tensão durante a viagem. Ficou, porém, com a imagem do cordão, do anel e da pulseira, que queimaram no acidente, tatuados no corpo.

“O Luizinho é um dos caras mais brilhantes com quem eu já trabalhei e a pessoa que mais conhece de televisão que eu conheço na vida, gênio. Ele tinha acabado de assumir o 'Fantástico', em 1993, 94, e estava começando a montar uma equipe mais sólida. Queria dar um ar mais versátil à equipe sem que a gente precisasse tanto daquela coisa hierarquizada.”

Uma ideia de Eduardo marcou a comemoração dos trinta anos do milésimo gol de Pelé, feito na cobrança de um pênalti no jogo entre Santos e Vasco, em 19 de novembro de 1969, no Maracanã. O programa, além de apresentar três reportagens sobre a vida do jogador, exibiu uma produção especial no dia 14 de novembro de 1999. O 'Fantástico' desafiou Pelé e o goleiro Andrada para se reencontrarem no mesmo estádio para uma revanche.

“Estava fazendo 30 anos do milésimo gol, um marco no futebol, uma coisa emblemática, e eu falei isso para o Luizinho (Nascimento). Nessa época, tinha um cineasta em São Paulo, Aníbal Massaini, que estava fazendo um filme sobre o Pelé. Entrevistei todos os jogadores, reuni todo mundo do Santos, fiz uma interface através desse cineasta que tinha uma relação muito próxima ao Pelé e ele conseguiu me ajudar a convencer o Pelé a vir ao Maracanã. São momentos únicos que você leva para o resto da vida. O Pelé bateu, fez o gol, foi aquela festa”, conta o produtor em depoimento ao Memória Globo.

Jornalismo investigativo

Em 2002, Cadu levou a Luizinho Nascimento uma proposta de Eduardo Faustini, que havia combinado com o prefeito de São Gonçalo de fingir-se de secretário de Planejamento para mostrar as propostas de corrução recebidas por esses funcionários públicos. “Naquela época não existia micro câmera. Era a primeira vez em que a gente passou cabo para outra sala, furou a parede, com tudo escondido e um técnico monitorando o tempo inteiro”, detalha. Os dois repetiriam a experiência dez anos depois, no Hospital de Pediatria do Fundão, quando Faustini se fez passar por gestor de compras. As duas matérias geraram grande repercussão.

Em 2004, Cadu participou do desenvolvimento de um quadro fixo do programa, o 'Diário da Vida Real'. Uma pessoa, famosa ou não, era acompanhada ao longo de um mês para que sua rotina fosse conhecida do público. Zeca Pagodinho foi um dos personagens que aceitaram tomar parte nesse pré-reality.

Viagens internacionais

Como produtor, fez diversas viagens internacionais. Em 1997, foi ao Japão com Maurício Kubrusly, para viabilizar reportagens de perfil comportamental. Em 2000, montou uma expedição até o acampamento base da montanha K2, a quase seis mil metros de altura, no Paquistão. E em 2001 esteve com Pedro Bial e o repórter cinematográfico Toninho Marins na primeira equipe brasileira de TV na China, onde os três ficaram 20 dias e produziram dez matérias.

Documentário

Antes de assumir a função de chefe de produção, para a qual foi convidado em 2006, Cadu teve um de seus trabalhos mais desafiadores no 'Fantástico': o documentário 'Falcão, Meninos do Tráfico'. A partir de um material trazido em 2003 pelo rapper MV Bill e por Celso Athayde, da Central Única de Favelas (CUFA), iniciou-se um longo processo de edição e negociação para apresentar a história de jovens que trabalhavam para o tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

35 anos em 15 segundos - Falcão, Meninos do Tráfico

“As gravações mostravam o que eles pensavam de vida, trabalho, família, oportunidades, escola, amor. A gente começou a decupar, assistir, separar por temas, nós sugerimos complementos, eles tinham entrada nas comunidades e gravavam. Havíamos perdido o Tim Lopes em 2002, assassinado pelo tráfico, então tivemos muito embate, discussão, reuniões, com o objetivo principal de encontrar a forma ideal de contar aquelas histórias.”

Chefia de produção

Ao assumir a chefia, Cadu passou a lidar com outras atribuições e pensar mais coletivamente, na medida em que estão sob sua responsabilidade, desde então, o desenvolvimento de habilidades da equipe que comanda, em busca da maior versatilidade possível dos profissionais, e a identificação das pessoas mais capacitadas a desempenhar as tarefas. No cargo, ele se relaciona com diversas áreas, pois precisa estar atendo a tudo o que envolve logística e recursos – técnicos, financeiros e humanos – em uma reportagem.

Do ponto de vista da produção, uma mudança ocorrida nos mais de dez anos em que está à frente da equipe foi a decisão de contratar freelancers em situações como atentados terroristas em outros países, para conseguir imagens e depoimentos exclusivos enquanto os repórteres não chegam ao local. E, ao mesmo tempo, colocar os produtores no Brasil para trabalhar no acontecimento levando em conta os registros feitos pelas pessoas em seus celulares e câmeras. Como ocorreu em 2015, quando a produtora Renata Rodrigues encontrou o dono de um restaurante metralhado por terroristas durante ataques na França e conseguiu que ele concordasse em abrir o local para uma entrevista, realizada pelo repórter Pedro Vedova. O chefe de produção acredita que o uso de imagens enviadas pelo público é algo incorporado ao dia a dia e deve ser visto como uma ferramenta pelos jornalistas.

Eduardo Salgueiro, chefe de produção do 'Fantástico', conta como a redação se mobiliza para as grandes coberturas. Canal F, com bastidores do 'Fantástico', 07/04/2011

Nova direção

A alteração no comando do 'Fantástico' em 2017, com a escolha de Bruno Bernardes para dirigir a atração, feita por seu antecessor, é entendida por Cadu como uma oportunidade de garantir a continuidade do espírito que marca o programa.

“O Bruno coordenou projetos brilhantemente e o Luizinho começou a enxergar nele capacidade criativa, talento para mudar, ser diferente e pensar para frente, mantendo esse produto vivo e renovado.”

FONTE:

Depoimento de Eduardo Salgueiro ao Memória Globo em 24/05/2018.