Dirce Migliaccio

A atriz paulista Dirce Migliaccio estreou na Globo em 1973, num papel que também marcaria sua carreira: uma das irmãs Cajazeira de O Bem Amado: Judicéia, mas conhecida como 'Juju'. Morreu em 2009, aos 75 anos.

Por Memória Globo


Dirce Migliaccio nasceu no dia 30 de setembro de 1933 em São Paulo. Formada pela Escola de Arte Dramática de São Paulo, estreou nos palcos em 1958, ao lado do irmão, o ator Flávio Migliaccio, em 'Eles Não Usam Black-Tie', de Gianfrancesco Guarnieri, no Teatro de Arena. Novamente com o irmão, atuou em 'Chapetuba Futebol Clube' (1959), de Oduvaldo Vianna Filho, e 'Revolução na América do Sul' (1960), de Augusto Boal. Em 1967, integrou o elenco de um marco do teatro brasileiro, 'O Rei da Vela', de José Celso Martinez Corrêa, pelo Teatro Oficina. Ao longo da carreira, fez diversas peças, como 'Vestido de Noiva' (1976), de Nelson Rodrigues, e 'O Jardim das Cerejeiras' (2000), de Anton Tchekov. Sua última peça com o irmão foi 'Os Ratos do Ano 2030', em 1999.

Estreia na televisão

A atriz estreou na televisão na TV Tupi, onde fez diversas novelas: 'Nino, o Italianinho' (1969), de Geraldo Vietri e Walther Negrão, 'Toninho on the Rocks' (1970), de Teixeira Filho, 'A Fábrica' (1971), de Geraldo Vietri, e 'A Selvagem' (1971), adaptação de Geraldo Vietri e Gian Carlos de uma novela de Ivani Ribeiro. Em seguida, foi para a Globo.

Em 1973, logo em sua primeira novela na emissora, fez um papel marcante: o de Judicéia Cajazeira, uma das irmãs Cajazeira de 'O Bem-Amado'. A novela, escrita por Dias Gomes, era baseada na peça teatral de sua autoria, 'Odorico, o Bem-Amado, e os Mistérios do Amor e da Morte', de 1962. O protagonista era Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), prefeito da ficitícia Sucupira, cidade no litoral baiano. O político envolvia-se com as irmãs Cajazeira – além de Judicéia, Dorotéia (Ida Gomes) e Dulcinéia (Dorinha Duval) –, prometendo se casar com todas em troca de intimidades amorosas. Defensoras incondicionais do prefeito, as três marcaram a história. Dirce Migliaccio viveria Judicéia Cajazeira novamente em 1980, no seriado 'O Bem-Amado', inspirado na novela.

Paulo Gracindo, Ida Gomes, Kleber Macedo e Dirce Migliaccio no seriado O Bem-Amado — Foto: Acervo/Globo

'Pluft, o Fantasminha',

Em 1975, a atriz fez o papel-título de 'Pluft, o Fantasminha', adaptação da peça homônima e Maria Clara Machado – que, inclusive, já havia gerado uma versão para o cinema, em 1965, dirigida por Romain Lesage e também com Dirce Miggliacio no elenco. Anunciada como uma “novela jovem”, foi a primeira produção para crianças realizada em cores no Brasil. Produzido em parceria com a TV Educativa, foi exibido duas vezes por semana, durante um mês, em capítulos que tinham cerca de meia hora.

Cena em que Pluft (Dirce Migliaccio) se apresenta à Maribel (Norma Blum).

Em 1977, a atriz voltou ao universo infanto-juvenil, consagrando-se no papel da boneca de pano Emília, no programa 'Sítio do Picapau Amarelo', adaptação de Paulo Afonso Grisolli e Wilson Rocha da obra de Monteiro Lobato. O programa unia entretenimento a um conteúdo informativo e educativo – mas sem adotar linguagem pedagógica. As histórias se passavam no sítio que dava nome ao programa, onde Dona Benta (Zilka Sallaberry) vive com a neta Lúcia, mais conhecida como Narizinho (Rosana Garcia), e da cozinheira Tia Nastácia (Jacyra Sampaio). Emília é a boneca de Narizinho, que ganha vida no mundo de fantasias criado pela menina. A personagem teve outras intérpretes posteriormente, mas Dirce Migliaccio ainda é lembrada até hoje. Em 1978, depois de um ano vivendo Emília, a atriz foi substituída por Reny de Oliveira.

Cena do Sítio do Picapau Amarelo em que Emília (Dirce Migliaccio) e Visconde (André Valli) conversam com os besouros (Chaguinha e Júlia Braga).

Novelas

Em 1979, Dirce integrou o elenco de 'Marron Glacé', de Cassiano Gabus Mendes. A novela mostrava o dia a dia de um bufê, envolvendo a proprietária, Clotilde (Yara Cortes), suas filhas os funcionários. Estes últimos eram responsáveis pelas tramas paralelas. O garçom Oscar (Lima Duarte), por exemplo, era um solitário que vivia com duas velhinhas, dona Bea (Ema D’Ávila) e dona Angelina, interpretada por Dirce Miggliacio.

Sua novela seguinte foi 'A Gata Comeu', de 1985, escrita por Ivani Ribeiro, adaptação de outra novela da mesma autora, 'A Barba Azul' (exibida na TV Tupi, em 1974). A atriz destacou-se com um papel coadjuvante, o de Conceição, casada com Oscar (Luiz Carlos Arutin). Autêntico vagabundo, ele finge que trabalha, enquanto a mulher dá duro e acredita que ele é um santo. A dupla foi responsável por bons momentos de humor na história.

Luiz Carlos Arutin e Dirce Migliaccio em A Gata Comeu — Foto: Acervo/Globo

Depois de um intervalo de 11 anos, Dirce Migliaccio voltou às novelas em 1996, em 'Quem É Você?', de Solange Castro Neves e Lauro César Muniz. Sua última novela na Globo foi 'Da Cor do Pecado', de 2004, de João Emanuel Carneiro – trama que ficou marcada como a primeira novela a ter uma protagonista negra, interpretada por Taís Araújo.

Ao longo de sua carreira, a atriz fez participações em outros programas da Globo, além dos já citados. Em 1973, integrou o elenco de um episódio do Caso Especial. Também fez participações em episódios de programas de humor como 'Sai de Baixo', em 1996, 'A Comédia da Vida Privada', também em 1996 e em 1997, e 'Sob Nova Direção', em 2004. Em 1997, atuou em 'Adoro Natal', um programa especial de fim de ano.

Ema D'Ávila, Lima Duarte e Dirce Migliaccio em Marron Glacé — Foto: Nelson Di Rago/Globo

'Brava Gente'

Dirce Migliaccio também participou de cinco episódios de 'Brava Gente', série de adaptações de contos e peças. Curiosamente, quatro destes episódios tinham o mesmo núcleo central de personagens: 'Arioswaldo e sua Mãe Centenária' (junho de 2001), 'Arioswaldo e o Casamento de Sua Velha Mãe Centenária' (outubro de 2001), 'O Natal de Arioswaldo' (dezembro de 2001) e 'Arioswaldo e o Lobisomem' (novembro de 2002). Nos quatro episódios, Dirce Migliaccio vivia uma velha do interior de Minas Gerais, a tal 'mãe centenária'. Ela também integrou o elenco de um episódio do programa 'Você Decide', em 1998.

Dirce Migliaccio e Antonio Calloni no episódio 'Arioswaldo e sua mãe Centenária' de Brava Gente — Foto: Acervo/Globo

Sua última aparição na Globo foi em uma ponta na série 'Casos e Acasos', em 2008.

Cinema

Além da televisão e do teatro, Dirce Migliaccio também se dedicou ao cinema, tendo estreado em 'Os Mendigos', de 1962, escrito e dirigido pelo irmão Flávio Migliaccio. Ainda em 1962, integrou o elenco de um dos filmes mais conhecidos do cinema brasileiro, 'O Assalto ao Trem Pagador', de Roberto Farias. Também fez filmes infantis, como 'Simão, o Fantasma Trapalhão' (1998), com o comediante Renato Aragão, e 'Xuxa em Sonho de Menina' (2007), estrelado pela apresentadora Xuxa Meneghel.

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Dirce Migliaccio morreu em 22 de setembro de 2009, aos 75 anos, de pneumonia e infecção urinária. A atriz estava com a saúde debilitada desde 2008, quando sofreu um acidente vascular cerebral.