Ecleidira Maria Fonseca Paes, ou Dira Paes, não pensava em se tornar atriz até ser incentivada a participar de um teste para o elenco do filme A Floresta de Esmeraldas, de John Boorman, exibido em 1985. Ela tinha 14 anos e a presença no filme britânico foi um impulso para seguir carreira artística. Depois de terminar o ensino médio, a jovem saiu do interior do Pará e foi para o Rio de Janeiro, onde se formou em Artes Cênicas pela Unirio. O primeiro trabalho na Globo foi em Araponga (1990). Sua estreia em TV, contudo, havia acontecido quatro anos antes, na Bandeirantes, onde participou da série Carne de Sol (1986). A atriz manteve presença constante e destacada no cinema, o que lhe rendeu reconhecimento de público e crítica, com prêmios nos festivais de Brasília e Gramado.
EXCLUSIVO: entrevista da atriz Dira Paes ao Memória Globo sobre sua origem.
Uma estreia no cinema
Ecleidira Maria Fonseca Paes, ou Dira Paes, nasceu em 30 de junho de 1969 na cidade de Abaetuba. Filha de um fiscal do Departamento de Estradas e Rodagens, Edir Cardoso Paes, e de Flor Paes, uma “assistente social por vocação e grande costureira”, não pensava em se tornar atriz até ser incentivada a participar de um teste para o elenco do filme A Floresta de Esmeraldas, de John Boorman, exibido em 1985.
Ela tinha 14 anos e a presença no filme britânico foi um impulso para seguir carreira artística: uma opção decisiva e inquestionável. Mesmo adolescente, Dira Paes mostrava sinais de que, dali pra frente, sua vida seria fortemente ligada ao cinema. E, desde então, assim foi. Depois de terminar o ensino médio, a jovem saiu do interior do Pará e foi para o Rio de Janeiro, onde se formou em Artes Cênicas pela Unirio, estudou francês e fez cursos paralelos como o de expressão corporal, conforme seus personagens exigiam. Chegou, também, a cursar por dois anos Filosofia, mas não se graduou. Na cidade maravilhosa, passou em um novo teste. Desta vez para o filme Ele, o Boto (1987), de Walter Lima Jr. “Foi um momento mágico na minha vida, quando eu percebi que realmente tinha sido pinçada para estar ali naquele momento, naquela hora, naquele segundo, isso me deu muita força como aprendiz”.
Entrevista exclusiva da atriz Dira Paes ao Memória Globo sobre o início da sua carreira, no filme “A Floresta das Esmeraldas” (1985).
Com o fim da Embrafilme na década de 1990 – o que reduziu muito a capacidade de realização de filmes no país – e ainda sem contrato com emissoras de TV, a atriz voltou a se dedicar ao teatro. Viajou pelo Brasil durante três anos, a partir de 1992, com a montagem de Capitães da Areia, de Jorge Amado, dirigida por Roberto Bomtempo. Mais tarde, fez O Avarento (2000), de Molière, com direção de Amir Haddad, e trabalhou com a Cia dos Atores em Meu Destino É Pecar (2002), de Nelson Rodrigues, peça com a qual também correu o país.
A retomada do cinema brasileiro permitiu que ela voltasse às telas, atuando em vários filmes. Em 1996, como a Dadá de Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry, ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília. Entre as produções de que participou ao longo da década de 2000 estão Amarelo Manga, de Cláudio Assis, em 2002, quando esteve ao lado de Matheus Nachtergaele e Chico Díaz; Noite de São João (2003), de Sérgio Silva, com o qual ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante em Gramado; e a comédia Meu Tio Matou um Cara (2004), de Jorge Furtado. “Os convites foram incríveis, diversos para vários lugares do Brasil. Faço um filme no Rio Grande do Sul, em Brasília, Pernambuco, no Ceará, volto para Brasília. Então eu tive essa brasilidade de entender que o Brasil é muito imenso e que eu posso fazer parte de todos esses “brasis”, diz.
Sempre ligada ao cinema, mesmo com trabalhos em sequência na TV, Dira manteve-se dedicada ao cinema. Em Dois Filhos de Francisco (2005), foi a Dona Helena, mãe dos protagonistas. No segundo longa-metragem de Cláudio Assis, Baixio das Bestas (2007), esteve novamente ao lado de Matheus Nachtergaele. E viveu a Marina em A Grande Família (2007), uma suposta amante e colega de trabalho do Lineu. “Eu fiz muitos trabalhos em que não estava me importando muito com o tamanho do meu personagem, eu queria era estar com aquelas pessoas que eu admirava”, garante.
Em Estamos Juntos (2011), de Toni Venturi, foi uma líder do movimento dos sem teto em São Paulo. A partir daí, atuou em Sudoeste (2011), dirigida por Eduardo Nunes; na comédia E Aí, Comeu?, de Felipe Joffily, mais uma vez ao lado de Marcos Palmeira; em À Beira do Caminho (2012), road movie de Breno Silveira; em Os Amigos (2013), de Lina Chamie; em Órfãos do Eldourado (2015), de Guilherme Coelho, para o qual foi convidada quando assistia a uma palestra do escritor amazonense Milton Hatoum; em Mulheres no Poder (2015), comédia de Gustavo Acioli; e em Redemoinho (2016), primeiro longa-metragem do diretor José Luiz Villamarim, com quem reproduziu uma parceria que começou na TV.
Início na Globo
Os primeiro trabalhos de Dira Paes na Globo foram realizados após a atriz ter feito um curso de teatro ministrado pelo também ator, Cecil Thiré. O convite era para atuar em Araponga, de Dias Gomes, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar. Na novela, exibida em 1990, fez o papel de Nininha, uma jovem professora mineira e conviveu pela primeira vez com ídolos como Tarcísio Meira. Sua estreia em TV, contudo, havia acontecido quatro anos antes, na Bandeirantes, onde participou da série Carne de Sol (1986), de Orlando Senna, uma produção que se aproximava muito da linguagem cinematográfica.
EXCLUSIVO: entrevista da atriz Dira Paes ao Memória Globo sobre seu primeiro trabalho na Globo, na novela “Araponga”.
A presença constante e destacada no cinema acabou gerando um novo convite, feito pelo diretor Luiz Fernando Carvalho, para um teste no remake de Irmãos Coragem (1995), novela de Dias Gomes e Marcílio Moraes. Mais uma vez, a atriz passou e fez a personagem índia Potira. “Foi um momento de imersão no universo da interpretação, do jogo cênico, de entender quem eu era. Tive a sorte de contracenar com Laura Cardoso. Ela dava o tom nos bastidores. Nunca vi a Laura reclamando da espera de uma cena. A Laura era a atriz que eu queria ser”, revela.
Em seguida, Dira Paes trabalhou na minissérie Dona Flor e Seus Maridos (1998), também de Dias Gomes, vivendo a primeira das quatro Celestes que pontuaram sua trajetória – a segunda aconteceria em 2005, no filme Celeste & Estrela (2005), de Betse de Paula, do qual foi protagonista.
Ainda na TV, atuou na minissérie Chiquinha Gonzaga, de Lauro César Muniz, em 1999, e na novela Força de um Desejo, de Gilberto Braga e Alcides Nogueira, no mesmo ano. Depois de um período filmando bastante, voltou à Globo na minissérie Um Só Coração (2004), de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Na sequência, passou a ser a Solineuza, melhor amiga de Marinete (Cláudia Rodrigues), em A Diarista, série que teve direção-geral de José Alvarenga e ficou no ar por três anos, a partir de 2004. “A gente queria a piada no final, queria que o cameraman risse da gente, que a equipe estivesse achando divertido o que a gente fazia”, conta.
Sua próxima novela, em 2010, foi Ti-Ti-Ti, de Maria Adelaide Amaral, em que seu papel era o de uma mulher introspectiva, Marta Moura, muito diferente da Norminha. A terceira Celeste de sua vida viria em seguida, em Fina Estampa (2011), de Aguinaldo Silva, uma personagem que lhe permitiu abordar um problema grave no país, a violência doméstica. No ano seguinte, viveu a Lucimar em Salve Jorge, de Gloria Perez, “o retrato de uma mulher recorrente no Brasil, uma jovem avó, porque ela foi mãe aos 15 e foi avó aos 30. Então essa jovem avó é a mulher que segura a vida de uma família toda, que cuida do neto, ela é a avó que traz o alimento para dentro de casa”.
A quarta Celeste de Dira Paes é uma personagem da minissérie Amores Roubados (2014), de George Moura, Sérgio Goldenberg, Flávio Araújo e Teresa Frota, que teve a direção de fotografia assinada por Walter Carvalho, considerado pela atriz um de seus mestres. “Eu tenho uma cena incrível com Osmar Prado, em que ele me obriga a ler os e-mails de amor, da traição com o Leandro. Foi uma cena que eu não esperava e ela teve uma força absurda, acho que uma das cenas mais incríveis da minha carreira”, avalia.
Ainda em 2014, retornou às novelas em O Rebu, de George Moura e Sérgio Goldemberg, contracenando com o amigo Marcos Palmeira, no papel da detetive Rosa Nolasco, e fez uma participação em Babilônia (2015), de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, quando estava grávida de seu segundo filho. Em Velho Chico (2016), de Benedito Ruy Barbosa, novamente dirigida por Luiz Fernando Carvalho. No trabalho, teve que lidar com a perda de um colega querido, Domingos Montagner. “Nós tivemos que nos despedir dele em cena e continuar em cena com ele. Foi uma experiência forte que me fez repensar muitas coisas da minha pessoalidade, do meu tempo, do que eu quero para o meu futuro. Às vezes você aprende de maneira acadêmica as coisas, mas a experiência é que te dá a consciência”, acredita.
Na condição de atriz e cidadã, Dira Paes passou a integrar o projeto Criança Esperança; foi cofundadora, em 2003, do Movimento Humanos Direitos, formado por profissionais de várias áreas para dar visibilidade a causas relacionadas aos direitos humanos; e foi uma das criadoras, em 2004, do Festival de Cinema de Belém, que ajudou a organizar até 2010. Escreveu, também, o livro Menina Flor e o Boto, em homenagem a sua mãe. Na obra, conta histórias da infância dela.
Oscar na Globo
A partir de 2018, Dira Paes passou a participar das transmissões do Oscar na Globo. Em um estúdio montado no Rio de Janeiro, sob o comando de Maria Beltrão, a atriz comenta a premiação ao lado do jornalista Artur Xexéo, até o seu falecimento, e depois com Maria Beltrão.
Fonte
Depoimento de Dira Paes ao Memória Globo em 06/03/2017 |