Cora Rónai

A jornalista Cora Rónai é pioneira na área de tecnologia. Também escritora, fotógrafa e cronista, ela escreve em O Globo desde 1991.

Por Memória Globo


Cora Rónai transitou pela música e pela fotografia antes de descobrir-se nas letras. Filha de intelectuais, é, desde muito jovem, uma leitora compulsiva que fez da curiosidade um instrumento de formação autodidata. Tornou-se uma premiada jornalista e escritora, pioneira na crítica de tecnologia na imprensa brasileira. Iniciou sua carreira jornalística cobrindo cultura em Brasília. De volta ao Rio de Janeiro, onde nasceu, trabalhou no Jornal do Brasil, aventurou-se como dramaturga e, em 1991, estreou em O Globo, com o desafio de editar um caderno de tecnologia. O Informática Etc. mudou a abordagem da imprensa a respeito do assunto, com uma linguagem informal e descomplicada. A jornalista também escreve uma coluna própria no jornal sobre política, cultura, comportamento e, é claro, tecnologia, de um modo muito pessoal e próximo dos leitores.

Acho que nós somos uma categoria bárbara. Eu adoro jornalista, acho jornalista tudo de bom, jamais teria outra profissão. Tenho um carinho por jornalista que não dá para descrever; eu tenho orgulho de ser jornalista”
— Cora Rónai

Início da carreira

A jornalista e escritora Cora Rónai é carioca e nasceu em 31 de julho de 1953. Dos pais, o crítico e tradutor Paulo Rónai e a arquiteta e professora Nora Tausz Rónai, herdou o gosto pela leitura e a curiosidade intelectual. Autodidata, abandonou os estudos, mas nunca a paixão pela leitura e o conhecimento – é uma leitora voraz, especialmente de temas como história e filosofia. Curiosamente, foi pela fotografia que começou sua carreira no jornalismo, isso depois de desistir da música. Muito jovem, Cora Rónai já era violinista da orquestra do Teatro Municipal de Brasília, para onde se mudou após se casar.

Aos 20 anos, motivada pelas baixas remunerações que a música lhe trazia, procurou emprego em uma publicação recém-aberta próxima de sua casa, o Jornal de Brasília, apresentando seu trabalho como fotógrafa amadora. Foi contratada, porém em pouco tempo passou para a redação. As legendas que escrevia para as fotos chamaram atenção do editor, que entendeu que seu talento estava no texto – e a jovem jornalista passou a cobrir diversos assuntos. Dentro de pouco tempo, Cora Rónai foi convidada para editar o caderno cultural do Correio Braziliense, o principal jornal da cidade. “Fiquei assustada, achava que não tinha condição nem de fazer uma coluninha, quanto mais editar um caderno. Mas fui”, afirma. Com liberdade para criar, empreendeu uma série de novidades gráficas e editoriais, como imprimir o caderno de cultura na horizontal, entre outras experiências, mas logo pediu para voltar à reportagem, onde se sentia mais confortável.

Com o tempo, acumulou o emprego no Correio com colaborações nas sucursais do Jornal do Brasil e da Folha de S. Paulo. Em 1980, voltou para o Rio de Janeiro. Durante um tempo, dedicou-se apenas a fazer reportagens especiais para o Caderno B, do JB, mas deixou o jornal para experimentar uma rápida e bem-sucedida carreira como dramaturga. Nessa época, chegou a ganhar o Prêmio Mambembe Infantil de 1986, pela peça 'Um, Dois, Três e Já'.

Mas justamente essa experiência a fez voltar ao jornalismo. Ao pedir direito de resposta e publicar no Caderno B um artigo que respondia a críticas que recebeu por uma peça, foi convidada pelo editor Zuenir Ventura a voltar para o Jornal do Brasil, em 1984. De volta ao JB, fez crítica de TV, crônicas e inaugurou uma pioneira coluna de informática que atrairia, no futuro, a atenção de O Globo. “Comecei a coluna de informática em 1986, foi um presente de Natal do Marcos Sá Corrêa, porque comprei um computador, achei aquilo maravilhoso e precisava escrever sobre o tema”, relembra.

Cora Rónai, 2018 — Foto: Fábio Guimarães/Agência O Globo

Início em O Globo

Cinco anos depois, em 1991, o jornalista Merval Pereira marcou uma conversa entre Cora Rónai e o diretor de O Globo, Evandro Carlos de Andrade, que lhe trouxe um desafio: criar um caderno de informática em apenas um mês. Em tempo recorde, ela formou uma equipe de peso. Reuniu não apenas profissionais de imprensa, como Cristina De Luca (jornalista), mas pessoas ligadas a tecnologia como B. Piropo (engenheiro) e Carlos Alberto Teixeira (formação múltipla). Com o nome de Informática Etc., o caderno pretendia mudar a maneira pela qual o assunto era abordado até então nos jornais, assumindo uma linguagem mais informal e facilmente assimilada pelos leitores. “Sem falsa modéstia, quando começamos a fazer o Informática Etc., mudamos completamente a linguagem do setor. Porque a linguagem de informática no Brasil, de tecnologia, passou a ser uma linguagem descontraída, em primeira pessoa, com brincadeiras, com piadas. Isso não existia”, comenta. A própria Cora Rónai também escrevia uma coluna no encarte – no início, em tom mais didático e, depois, mais opinativo – sobre as novidades do setor. Nos anos iniciais, o Informática Etc. abordou questões que eram vanguardistas no momento, como a criação do Napster, com uma tecnologia que viabilizava o envio de arquivos de música, e o lançamento do Orkut, a primeira rede social a fazer sucesso no Brasil.

Paralelamente, a jornalista passou a escrever também uma coluna no Segundo Caderno. Alguns de seus textos geraram grande repercussão, com destaque para o lançamento ao estrelato de uma capivara que nadava e passeava na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro – o animal acabou sendo apelidado carinhosamente de Cora Rónai, para orgulho da autora do artigo; e para o sequestro da gata da jornalista, a Pipoca, desvendado pela polícia e comemorado na cidade. “Contei como foi o estouro do cativeiro da Pipoca e teve gente telefonando para mim de Niterói para dizer: ‘Olha, estou aqui num restaurante e acabaram de pedir uma garrafa de espumante na mesa ao lado para comemorar a volta da Pipoca’”, se diverte.

Com o fim do caderno Informática Etc., em 2008, Cora Rónai deixou a função de editora, mas continuou a escrever sobre tecnologia para O Globo. Ganhou quatro vezes o Prêmio Comunique-se como jornalista da área e foi incluída, em 2014, entre as dez principais inovadoras brasileiras pela ZDNet, uma das mais importantes publicações de tecnologia do mundo.

Suas colunas na edição online do jornal tratam também de assuntos como cultura, política e comportamento. Sobre a capacidade de escrever a respeito de temas diferentes sempre de forma muito pessoal, ela cita duas referências que marcaram sua trajetória: “O que me fez como escritora e jornalista, as influências da minha vida inteira, foram meu pai, em primeiro lugar, por sua curiosidade intelectual insaciável, e depois o Millôr Fernandes [ex-companheiro], que me trouxe uma dose de iconoclastia que eu não tinha”.

Livros

Com saudades dos filhos, que passaram uma temporada em Brasília quando Cora Rónai voltou ao Rio de Janeiro, a jornalista começou a escrever livros infantis, alguns dos quais de muito sucesso comercial. 'Sapomorfose ou Príncipe que Coaxava' (1983), entrou inclusive em currículos escolares e vendeu mais de 120 mil exemplares. Entre outras obras infanto-juvenis dessa fase, estão 'Viva, Jacaré!' (1983), 'Uma Ilha Lá Longe' (1987) e 'A Princesa e a Abóbora' (1988), este último publicado também em Portugal. Os livros lhe renderam reconhecimento, ganhando o Prêmio Revelação do Ano da APCA, promovido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1983; e o Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em 1988, na categoria Criança. Em 2006, a paixão pela fotografia a levou a publicar o livro 'Fala Foto', com imagens captadas por câmeras de celulares ao longo de cinco anos. Foi a primeira obra, no país, a trazer apenas fotos de telefones celulares.

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Cora Rónai em 07/03/2005.