Cláudia Guimarães

A jornalista carioca Cláudia Guimarães entrou para a Globo em 1995. Tem sua trajetória ligada ao 'Globo Repórter', programa em que começou como assistente de produção. É editora e diretora de programas do tradicional jornalístico da emissora.

Por Memória Globo


Cláudia Martins Guimarães nasceu no Rio de Janeiro, em 1971, e começou a trabalhar na Globo quando ainda era aluna da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Filha do engenheiro José Thadeu Gomes Guimarães e da professora Margarida Martins Guimarães, sempre se interessou por Comunicação Social, mas sua primeira opção foi estudar Psicologia, na PUC. Depois de um ano e meio na faculdade, decidiu trocar de curso e escolheu o Jornalismo, em definitivo.

— Foto: Globo

Na Globo, sua função inicial foi trabalhar na pesquisa para a Retrospectiva de 1995. O bom desempenho na tarefa gerou o convite, dois meses depois, para se integrar à equipe do 'Globo Repórter'. Ocupando diferentes funções no programa ao longo dessa trajetória, Cláudia Guimarães conseguiu entrevistas importantes e difíceis, como a das mulheres atacadas pelo maníaco do parque, em São Paulo; viajou para países como a Nova Zelândia e a Coreia do Sul, à procura de grandes histórias e imagens de impacto; e participou de coberturas de muita visibilidade, entre elas, os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos e as manifestações de 2013 no Brasil.

“É contagiante ver as pessoas empenhadas em dar o seu melhor, cada uma no seu setor, a equipe técnica, a produção, a edição, a captação da imagem, o repórter, a preocupação com textos. Tudo tem que estar como em uma orquestra para sair bonito. O é uma ponte entre o telespectador e a qualidade ”

Em todas as reportagens, Cláudia buscou garantir que o 'Globo Repórter' oferecesse, com apreço pela informação e um enfoque bastante próprio, o que ela considera a marca do programa: um espaço de reflexão e inspiração para o telespectador. Cláudia Guimarães levou seu currículo à Globo por indicação de um colega da faculdade, quando não pensava em trabalhar em TV. “Mas foi um caso de paixão para a vida toda. O fato de eu ter cursado Psicologia chamou a atenção de quem me entrevistou, primeiro a Silvia Sayão e depois a Teresa Cavalleiro. Os Estúdios Globo estavam abrindo as portas e a gravação das cabeças da Retrospectiva foi lá, porque era uma maneira de a gente mostrar aquilo tudo”, conta.

Contratada como assistente de produção no 'Globo Repórter', em 1996, teve como primeiro desafio uma reportagem sobre a vida dos artistas, na Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro. Durante a gravação, faltou uma cartola. Ela atravessou a rua, comprou papelão e improvisou, aprendendo desde cedo como são importantes o trabalho em equipe e a capacidade de encontrar soluções criativas.

Qualidade como premissa

A partir de então, Cláudia Guimarães contribuiu com as mudanças pelas quais o Globo Repórter passou, como a decisão de dar maior protagonismo a pessoas comuns nas reportagens e ênfase em coberturas sobre natureza e saúde. Produzir mais programas sobre vida selvagem foi uma decisão editorial de Silvia Sayão e Meg Cunha.

No início de sua carreira, a jornalista teve a oportunidade de lidar com profissionais tarimbados, com os quais aprendeu muito, entre eles o apresentador Sérgio Chapelin e os repórteres Ernesto Paglia, Caco Barcellos, Ilze Scamparini, Beatriz Thielmann e Isabela Assumpção. Com estes e vários outros jornalistas, participou de reportagens marcantes, como a que mostrou as sobreviventes dos ataques do homem que ficou conhecido por “maníaco do parque”, em São Paulo.

“A gente começou a ver que os tempos foram mudando e como você compete com coisas que nem sempre são de bom gosto sem cair na mesma armadilha. Então, programas sobre a vida selvagem não eram apenas sobre bichinhos. As reportagens mostravam a pesquisa brasileira, os nossos cientistas, as pessoas que se dedicam a ir para o meio do mato estudar a questão da água, da seca.”

Convencimento

Na função de produtora, passou o dia com as mulheres vítimas do criminoso, numa delegacia de São Paulo, para ganhar a confiança delas. Assim, em 1998, conseguiu relatos que mostraram como eram feitas as ameaças que permitiam ao homem, armado, levá-las para o Parque do Estado, onde eram estupradas e muitas acabaram mortas. As entrevistas, feitas com delicadeza diante da gravidade do assunto, foram conduzidas por Ilze Scamparini.

Outro programa de impacto, este realizado a muitas mãos, abordou os atentados de 11 de setembro às torres gêmeas, em 2001. “Quando essas coisas muito fortes acontecem, o 'Globo Repórter' tenta mostrar alguma coisa que ficou diferente ou fora dos telejornais. Eu me lembro da Silvia Sayão coordenando a cobertura, pensando que matérias poderiam ser feitas, com o Edney Silvestre e o Jorge Pontual, do escritório de Nova York. A gente fica num envolvimento pela notícia, pelos colegas, que é muito forte. Então para mim o que mais marcou foi isso, ver como todo mundo estava unido e em sintonia para que aquilo desse certo”, relembra.

Em 2002, houve um programa especial em homenagem a Tim Lopes, jornalista morto por traficantes da Vila Cruzeiro, no Rio. A edição pontuou também mudanças na cobertura de questões ligadas à violência e segurança. Antes, os jornalistas entravam em áreas de risco muitas vezes sem avisar aos colegas e sem os cuidados necessários, o que deixou de ocorrer. Nesta época, também, muitos programas especiais foram feitos em forma de mutirão, reforçando uma característica do 'Globo Repórter': o trabalho em equipe. Para citar alguns: o acidente da TAM, a morte de Lady Di e a morte de Michael Jackson. De um dia para o outro, um programa inteiro no ar.

Viagens na memória

A primeira viagem internacional de maior responsabilidade para Cláudia Guimarães foi ao Parque de Yellowstone, nos Estados Unidos, em 1999. Ao lado do repórter Ciro Porto e do repórter-cinematográfico Carlos Alberto Coutinho, sem editor, coube a ela a missão de encontrar personagens interessantes, como pessoas já atacadas por ursos. Apesar da dificuldade, teve sucesso. Na Nova Zelândia, em 2012, fez parte de uma equipe que, de helicóptero e barco, mostrou a boca de um vulcão em atividade no meio do mar, pessoas pulando de bungee jumping em uma ponte e o voo sobre um pico de uma montanha com neve, para apresentar belezas de um país desconhecido pela maioria dos brasileiros.

Na Holanda, em 2014, usou-se pela primeira vez um drone, para filmar do alto as plantações de tulipa. Muitos trajetos foram feitos de bicicleta, com a GoPro, outra tecnologia recente que facilitou as coberturas. E, em 2017, Cláudia Guimarães estava na equipe que fazia uma reportagem na Coreia do Sul exatamente no período em que a Coreia do Norte disparou um míssil que cruzou o Japão.

“A gente mandou material para o Brasil. O Pedro Bassan, que foi correspondente internacional por muito tempo, e o cinegrafista Lúcio Rodrigues estavam lá. Foi uma experiência interessante misturar o 'Globo Repórter' com os jornais”

Na direção

O primeiro programa em que Cláudia Guimarães atuou como diretora foi um 'Globo Repórter' sobre a casa própria, que está na memória afetiva da jornalista, pela qualidade do resultado obtido. “'Globo Repórter' não é ficção, portanto você não precisa dirigir a cena. Você está ali dirigindo o conteúdo, dando uma direção para aquela reportagem. É preciso manter a harmonia da equipe, que tem de estar ciente da pauta. Não adianta você entrar no carro de reportagem e não dar uma palavra com o técnico, com o repórter-cinematográfico, com o repórter e querer que as coisas aconteçam”, arremata.

Outra direção que ela destaca se deu em um programa que abordou o cérebro humano e tratou de meditação, entre outros aspectos. Com base na definição de uma das entrevistadas – “é como se você tivesse na frente do ventilador e visse cada pá girando” –, Cláudia Guimarães decidiu usar uma câmera em super slow para representar o avançado estágio alcançado na meditação, filmando o ventilador e gotas caindo.

“É interessante ressaltar que é um desafio constante conciliar as novas tecnologias com a valorização da notícia e da reportagem em si. Escolher os equipamentos certos para cada situação faz toda diferença para o nosso trabalho de equipe. Não se trata apenas de usá-los, mas de incorporá-los à narrativa e ao roteiro”

Céus do Brasil

Quando a jornalista estava na Nova Zelândia, surgiu a ideia de fazer programas com o nome Globo Repórter Nos Céus do Brasil, que foram ao ar em 2011. Com o suporte de um balão, já que drones não eram comuns naquele tempo, mostraram-se aos telespectadores os biomas brasileiros, de maneira que eles pudessem ser contemplados de uma ótica diferente. No programa sobre a Mata Atlântica, os jornalistas acabaram surpreendidos por crianças de uma escola rural que correram em direção ao balão quando ele pousou, momento que gerou emoção e ótimas imagens.

O ano de 2013 foi intenso para a equipe do Globo Repórter. A cobertura das manifestações populares em diversos estados exigiu coordenação com as demais áreas do jornalismo da emissora, atuação em várias praças simultaneamente, às vezes em situação de tensão para os profissionais de imprensa, e a busca de entrevistados interessantes que ainda não tivessem aparecido nos telejornais. No mesmo ano, o Globo Repórter sobre os índios Enawenê-Nawê, com o jornalista Chico José, foi indicado pelo Emmy. “Na redação, ele contou tudo o que viu, como os índios falavam, onde ficou, porque ele é pioneiro nessas coisas todas. Ele se entrega, é valente, tenho uma admiração grande por tudo o que ele faz”, garante.

Outros projetos

Na lista de trabalhos feitos por Cláudia Guimarães fora do Globo Repórter, além das retrospectivas em que atua desde 1995, está a participação no Globo Mar, em 2011. Na temporada, o programa que mais a impressionou foi gravado na Ilha da Trindade. Para acompanhar uma longa expedição da Marinha, a equipe precisou levar uma ilha de edição a bordo do navio, algo raro.

Os 50 anos da Globo também conduziram a jornalista a uma nova atividade, de pesquisa no acervo, para a programação especial, em 2015. “A gravação do especial acabou se tornando uma grande reunião de amigos, foi muito bacana ver aquelas pessoas se reencontrando, algumas estavam morando fora e não se viam há muito tempo. Acho que todos ficaram muito à vontade e eu fiquei feliz, porque revi muita gente que trabalhou no Globo Repórter quando eu comecei”, diz. Eu me lembro do empenho que cada um teve com a produção e com os roteiros dos VTs. Coube a mim a terceira década e foi marcante ver o cuidado editorial de todos com cada fato: a queda do muro de Berlim, Os Jogos Olímpicos, a questão do debate entre o Lula e o Fernando Collor, a morte de Ayrton Senna… um trabalho inesquecível.”

FONTE:

Depoimento ao Memória Globo concedido por Cláudia Guimarães em 06/02/2018.