Boni

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, nasceu em Osasco, São Paulo, no dia 30 de novembro de 1935. Ocupou cargos de direção na Globo de 1967 a 1997, criando, com Walter Clark, o padrão de qualidade pelo qual a empresa se tornou conhecida. Foi responsável também pela implantação da grade de programação na emissora. De 1998 a 2001 foi consultor da TV Globo.

Por Memória Globo


José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, mais conhecido como Boni, fez história na televisão brasileira. Um de seus principais feitos foi a criação da grade de programação da Globo nos anos 1970, fato que contribuiu para o estabelecimento de um hábito nacional de assistir a telenovelas e a telejornais no horário nobre. Boni começou a carreira na rádio. Foi redator da Roquette Pinto e da Rádio Nacional. Na televisão, passou pela TV Tupi e TV Paulista. Ocupou cargos de direção na TV Excelsior e Rádio Bandeirantes. Entrou na Globo em 1967 e em 1969 tornou-se diretor-geral da Central Globo de Produções. Em 1970, tornou-se Superintendente de Produção e e Programação da Rede Globo, ficando responsável pela programação da emissora e pela relação com diretores das áreas de dramaturgia, shows e jornalismo. Em 1977, com a saída de Walter Clark do cargo de diretor-geral, Boni permaneceu como braço-direito de Roberto Marinho, que assumira o posto máximo de liderança da empresa. Em 1980, Boni assumiu a Vice-Presidência de Operações da Rede Globo, tornando-se responsável pela direção da emissora. O executivo deixou o posto no final de 1997 e passou a consultor da Globo. Em 2001, Boni se desligou do Grupo e dedica-se a projetos pessoais.

O fundamental das novelas era o conteúdo. Era aproximar da realidade e inserir temas atuais e brasileiros.

Trecho de depoimento exclusivo de Boni ao Memória Globo sobre o ínicio da sua carreira profissional, 04/05/2020

Início da carreira

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, mais conhecido como Boni, nasceu em Osasco, São Paulo, em 30 de novembro de 1935. Filho de Orlando de Oliveira, um dentista que tocava violão e cavaquinho no conjunto regional de Armandinho, na Rádio Cultura de São Paulo, e sobrinho de Hermínio, integrante do conjunto 'Quatro Ases e um Curinga', desde garoto frequentava os estúdios de emissoras de rádio.

Aos 15 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, para iniciar carreira no rádio. Recomendado por um tio, conseguiu um estágio como ajudante de Dias Gomes, então diretor da Rádio Clube do Brasil. Tempos depois, Dias Gomes o encaminhou para um curso de rádio, promovido pela prefeitura da cidade, na Rádio Roquette Pinto, onde teve as primeiras noções de locução e redação.

Ainda em 1950, Boni foi contratado como redator do programa Clube Juvenil Toddy, da Rádio Nacional. Lá, conheceu o radialista e humorista Manoel da Nóbrega, que estava à procura de redatores para trabalhar na filial paulista da rádio, então em fase de implantação. Em 1951, retornou a São Paulo, para trabalhar como secretário pessoal de Manoel da Nóbrega e integrante da equipe de redatores da Rádio Nacional de São Paulo. Dois anos depois, o jovem redator de 17 anos aceitou o convite para trabalhar na Rádio Tupi, com a condição de que poderia também trabalhar na televisão. Na TV Tupi, dirigida por Dermeval Costalina e Cassiano Gabus Mendes, exerceu diversas funções, entre elas as de produtor, diretor e redator do programa Grêmio Juvenil Tupi.

Na televisão

No ano seguinte, Boni foi para a TV Paulista trabalhar como assistente do diretor artístico da emissora, seu amigo Roberto Corte Real. A situação econômica da emissora, entretanto, estava muito ruim e, por isso, no mesmo ano, ele foi trabalhar como redator da Rádio Bandeirantes. Em 1955, tornou-se chefe do Departamento de Rádio e Televisão da agência de publicidade Lintas Propaganda, onde trabalhou ao lado de Rodolfo Lima Martensen, José Scatena e Maria Augusta Barbosa de Mattos, a Guta, que mais tarde viria a coordenar o elenco da TV Globo. Na mesma época, foi o diretor de propaganda da gravadora RGE, lançando discos de artistas como Maysa e Chico Buarque de Holanda, entre outros.

Depois de passar por um treinamento na agência de publicidade J.W. Thompson, na Inglaterra, e na TV NBC, em Nova York, em 1957, Boni assumiu a direção de criação da Linx Filmes, a primeira empresa de filmes comerciais para a televisão. Exerceu essa função até 1959. No ano seguinte, passou a chefiar o Departamento de Criação de Rádio e Televisão da agência Multi Propaganda, em São Paulo, onde trabalhou com Jorge Adib. Foi também chefe do Departamento de Rádio e Televisão da agência Alcântara Machado, em São Paulo.

Em 1962, Boni assumiu a direção artística da Rádio Bandeirantes e, em 1963, criou – e depois vendeu – sua própria agência, a Proeme Publicidade e Mercadologia. Também naquele ano, trabalhou na TV Rio, a convite de Walter Clark – de quem já era amigo desde os tempos da Lintas. Após rápida passagem pela TV Excelsior, em 1964, retornou à TV Tupi para implantar o Telecentro das Emissoras Associadas, o que possibilitaria concretizar o sonho de criar uma televisão nacional, operando com uma só programação. Mas o projeto não vingou.

TV Globo: criação da rede e da grade de programação

Walter Clark fez novo convite a Boni em 1967, desta vez para que ele ocupasse a chefia da direção de programação e produção da recém criada Globo. Era a oportunidade de tentar mais uma vez criar uma rede nacional de televisão. A ideia da rede seria viabilizada em 1969, quando a Embratel inaugurou o seu sistema de microondas. O marco efetivo do início da rede foi a estreia, em setembro daquele ano, do 'Jornal Nacional', primeiro programa regular transmitido ao vivo para todo o país.

Ao lado de Walter Clark, Boni concebeu o formato básico da programação da Globo até hoje, com a grade do horário nobre formada por três novelas, o 'Jornal Nacional' entre a segunda e a terceira, e uma atração especial a seguir. Boni promoveu também importantes mudanças na área artística da TV Globo. Foi ele que concluiu ser imprescindível mudar os rumos da teledramaturgia da emissora, ainda presa ao gênero capa-e-espada, ao perceber o filão que havia sido aberto com o sucesso da novela 'Beto Rockfeller', exibida em 1968 na TV Tupi, com direção de Walter Avancini e Lima Duarte. Com o aval de Walter Clark, apostou em uma dramaturgia mais realista que retratava o cotidiano brasileiro contemporâneo, tendo sido responsável pela entrada de Daniel Filho, Dias Gomes e Janete Clair na Rede Globo. Em 1970, Boni assumiu o cargo de Superintendente de Produção e Programação da Globo, tornando-se responsável pela programação da emissora e pelo contato com os diretores das áreas de conteúdo.

Depoimento - Boni: Início das novelas na Globo

Em 1970, passou a ser o superintendente de Produção e Programação da Rede Globo. Entre 1969 e 1971, também foi membro da Convenção Internacional da National Association Broadcasting (NAB) dos EUA e da Europe Broadcasting Union.

Como vice-presidente de Operações, cargo que ocupou entre 1980 e o final de 1997, Boni era responsável por todas as áreas da emissora, acima dele estava apenas Roberto Marinho. Foi um dos grandes nomes que marcaram a história da televisão brasileira. No período, aprovava as atrações que iam ao ar e repensava formatos. Esteve envolvido na criação de vários programas, como o 'Fantástico' (1973), o 'Você Decide' (1992) e o seriado 'Mulher' (1998). Zelava pelo padrão de qualidade de todo o conteúdo. Chegou até a escrever as letras dos temas de abertura de vários programas, como os do 'Fantástico' (1973) e das novelas 'Que rei sou eu?' (1989) e 'Tieta' (1989).

Depoimento - Boni: Padrão Globo de qualidade

Boni permaneceu como vice-presidente de Operações na Globo até o final de 1997, quando foi substituído por Marluce Dias da Silva. Passou a ser consultor da emissora, cargo que exerceu até 2001. Desde 2003, é sócio, com seus quatro filhos, da TV Vanguarda, afiliada à Globo no interior de São Paulo.

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