Arlete Salles Lopes nasceu em 17 de junho de 1938, filha do sanfoneiro Lourenço Lopes da Silva e da enfermeira Severina Salles Torres. Ainda criança, mudou-se para o Recife. Em 1958, já casada com o ator Lúcio Mauro, entrou para a Companhia Barreto Júnior e estreou profissionalmente na comédia 'A Cegonha se Diverte', dirigida por Graça Mello. Com a inauguração da filial da TV Tupi no Recife, em 1960, começou a trabalhar nos teleteatros da emissora. Estreou na Globo em 'Sangue e Areia' (1967), de Janete Clair, em que interpretou a mãe de Myriam Pérsia, que tinha a mesma idade que ela, 22 anos. Na Globo, fez mais de 30 novelas, além de minisséries, seriados e programas de humor.
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Entrevista exclusiva da atriz Arlete Salles ao Memória Globo sobre sua origem.
Início da carreira
Na adolescência, Arlete Salles dava expediente num consultório de odontologia, para ajudar nas despesas de casa. Nas horas vagas, ouvia radionovelas e alimentava um sonho: “Eu ficava imaginando que um dia, quem sabe, eu pudesse chegar até lá”.
Quando tinha 15 anos, soube que a Rádio Jornal do Comércio, do Recife, estava procurando novos talentos e foi fazer um teste. Como faltava experiência, não foi aprovada como atriz; mas a voz grave lhe garantiu um emprego de locutora. Ainda assim, deu um jeito de participar de algumas novelas. “Eu nunca tive a voz de jovenzinha amorosa. Eu nunca vivi aquela linda história de amor”, conta. Mas o coração do público ela começou a conquistar logo que estreou na TV, em 1960
Em 1963, o casal se mudou para o Rio de Janeiro e passou a integrar o elenco fixo da Tupi, onde atuou nos programas 'A, E, I, O… Urca' e 'Grande Teatro Tupi'. No ano seguinte, a emissora contratou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, como diretor artístico. Entre as várias novidades que criou, estava o humorístico 'I Love Lúcio', programa dominical de humor e música apresentado por ela e o marido. A passagem de Boni pela Tupi foi rápida, mas por intermédio dele a atriz foi para a Globo.
Com o aval de Janete Clair
Arlete Salles estreou na Globo em 'Sangue e Areia' (1967), de Janete Clair, em que interpretou a mãe de Myriam Pérsia, que tinha a mesma idade que ela, 22 anos. Foi obrigada a usar uma pesada maquiagem para parecer mais velha.
Na Globo, fez mais de 30 novelas. Seu primeiro papel marcante foi a rainha Impéria de 'A Ponte dos Suspiros' (1969), escrita por Dias Gomes sob o pseudônimo de Stella Calderón. “Nunca fotografei tão bem na minha vida, com aquelas roupas suntuosas. Yoná Magalhães era a protagonista, e eu fazia a antagonista”, recorda.
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Webdoc sobre a novela 'A Ponte dos Suspiros', com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Em 'Verão Vermelho' (1969), também de Dias Gomes, viveu Selma. Foi a primeira novela ambientada em Salvador, reproduzindo a cultura baiana: “Eu me lembro da chamada da novela, em que eu aparecia dentro de um saveiro, usando um sarongue, o maior corpaço”.
Laura Vilhena de 'Selva de Pedra' (1972), de Janete Clair, foi um grande sucesso: “Uma maluquete arrivista que só se casava com velhos ricos, porque ela só queria se dar bem na vida. A produção ia buscar os meus parceiros no Retiro dos Artistas. Cada vez que morria um marido, eles iam lá e traziam outro”.
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Webdoc novela - 'Selva de Pedra - 1ª versão' (1972)
No fim, Laura se apaixonava pelo motorista dela, interpretado por Kadu Moliterno, em sua estreia na televisão. Em outra novela da autora, 'Bravo!' (1975), também escrita por Gilberto Braga, voltou a fazer uma personagem irreverente: “Chamava-se Mimi: maluquete, engraçada, mas deliciosa. Ela também casava com velhos”.
Nessa época, esteve ainda em 'Cavalo de Aço' (1973), de Walther Negrão; 'O Rebu' (1974), de Bráulio Pedroso; e 'A Sucessora' (1978), de Manoel Carlos, quando viveu Germana Steen. “A Sucessora foi um marco na teledramaturgia do Brasil. Nessa novela, eu me reencontrei com Kadu Moliterno. Ele fazia o meu marido. Minha personagem era uma mulher madura, com um marido mais jovem, que ela tiranizava”, comenta.
Ainda nos anos 1970, Arlete Salles apresentou duas edições do Festival Internacional da Canção (FIC): em 1971 e em 1972.
Nos anos 1980, atuou em sete novelas, como 'Louco Amor' (1983), de Gilberto Braga, e 'Amor com Amor se Paga' (1984), de Ivani Ribeiro. Em 1986, deixou a emissora para fazer 'Dona Beija', de Wilson Aguiar Filho, na Rede Manchete.
No ano seguinte, a atriz estava de volta à Globo. Primeiro, no elenco de 'O Outro', de Aguinaldo Silva; depois como a Carmosina de 'Tieta' (1989), do mesmo autor, a partir do romance de Jorge Amado. “Era uma solteirona virgem, mas inquieta, ainda estava esperando encontrar o amor. Essa Carmosina existia muito dentro de mim, conheci várias delas no Recife. Eu considero esse o meu melhor trabalho em televisão”, confessa.
Tieta (1989): cena em que Tieta (Betty Faria) revela à amiga Carmosina (Arlete Salles) o verdadeiro motivo de seu retorno a Santana do Agreste: vingar-se.
Do mesmo autor, trabalhou em 'Pedra sobre Pedra' (1992), no papel de Francisquinha; 'Fera Ferida' (1993), como Margarida Pestana; 'Porto dos Milagres' (2001), como a vilã Augusta Eugênia; e 'Fina Estampa' (2011), como Vilma. “Eu tenho muita identificação com os textos dele. Um dia desses, ele declarou numa revista que gosta de escrever para mim. Eu fiquei superfeliz e lisonjeada com isso”, conta.
A sofisticada Kiki Jordão
'Lua Cheia de Amor', de Ana Maria Moretzsohn, Ricardo Linhares e Maria Carmem Barbosa, de 1990, também marcou a carreira da atriz, que viveu a nova rica Kika Jordão.
Naquele ano também, estreou um dos seus maiores sucessos nos palcos, 'A Partilha', de Miguel Falabella, em que contracenava com Susana Vieira, Thereza Piffer e Natália do Vale. A peça gerou uma continuação em 2000, 'A Vida Passa'.
O ano de 1996 marcou o seu encontro com Falabella na TV. A Anabel Muñoz, sua personagem em 'Salsa e Merengue', novela dele e de Maria Carmem Barbosa, deu-lhe o prêmio de Melhor Atriz da Associação dos Críticos Teatrais de São Paulo.“Miguel tem uma participação na minha vida, nesse momento de renovação profissional. Escreveu para mim 'A Partilha', 'A Vida Passa'. E na primeira novela dele, me deu uma das protagonistas. Aquela mulher forte, destemida, mas sofrida, com aquela filharada, naquela luta pela vida”, destaca.
Também de Falabella e Maria Carmem Barbosa, fez 'A Lua me Disse' (2005), como Ademilde Goldoni, a dona da loja de conveniências Frango Com Tudo Dentro; e o humorístico 'Toma Lá, Dá Cá' (2007-2009), em que foi a fogosa e desbocada Copélia. O ousado e exuberante figurino da personagem lhe possibilitou exibir sua boa forma: “Ela é a redenção das mulheres de meia idade. O divertido é que ela não se enxerga”.
'Toma Lá Dá Cá' (2007-2009): Copélia (Arlete Salles) volta para casa após três semanas no castelo de um deputado
A Vilma Moreira Prado de 'Fina Estampa' (2011), de Aguinaldo Silva, marcou o seu retorno às novelas das 21h. Depois de participações especiais no seriado 'Louco por Elas', nos humorísticos 'A Grande Família' e 'Sai de Baixo' e na novela 'Malhação', em 2015 Arlete Salles foi convidada para interpretar a Consuelo em 'Babilônia', novela de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Conservadora e dominadora, a mãe do prefeito corrupto Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira) fala o que pensa sem filtros.
Em 2018, Arlete Salles deu vida à Nazira Falcão (Naná), mãe do protagonista Beto (Emílio Dantas). No ano seguinte, mais uma parceria com Miguel Falabella: foi Turandot Gazebo na série 'Eu, a Vó e a Boi', disponibilizada no Globoplay. Em 2020 e 2021 fez participações no Especial 'Amor e Sorte' e no seriado 'Sob Pressão', respectivamente. Após quatro anos retorna às novelas em 'Além da Ilusão', de Alessandra Poggi, interpretando Santa.
Arlete Salles teve dois filhos com Lúcio Mauro: o ator Alexandre Barbalho e o cineasta Gilberto Salles, e é avó do ator Pedro Medina e de Joana. A atriz também foi casada com o ator e cantor Tony Tornado.
Fontes
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Arlete Salles em 30/01/2002 e 24/06/2010. |