Álvaro Pereira Jr. passou quase toda a sua carreira no 'Fantástico'. Participou de coberturas de repercussão, atuando principalmente na área científica. Durante sua trajetória, o jornalista se afastou temporariamente do programa para liderar o surgimento do que viria a se tornar o site com a maior audiência entre os portais de jornalismo no país: o g1.
Início da trajetória
Álvaro Pereira Jr. é filho do comerciante de autopeças Álvaro Pereira e da assistente social Luiza Garrido Vargas. Apesar de ter começado sua vida profissional como jornalista, o interesse pela área não nasceu propriamente de uma vocação. Como gostava de escrever, decidiu fazer o curso de Jornalismo depois de ter iniciado a faculdade de Química. A dupla formação mostrou-se bastante útil: permitiu que ele fosse contratado pela primeira vez como jornalista, na revista Química e Derivados, e fizesse, aos 26 anos, um curso de aperfeiçoamento em jornalismo científico no Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos.
O início da atuação profissional de Álvaro Pereira Jr. aconteceu no Grupo Folha, primeiro na Folha de S. Paulo e depois no jornal Notícias Populares (NP). Uma matéria assinada na Folha o levou a ser convidado a trabalhar no 'Fantástico', programa em que teve a oportunidade de chefiar equipes em São Paulo e no Rio de Janeiro, contribuindo para que as reportagens ganhassem ângulos exclusivos, sobretudo na área de ciência. Durante cerca de 15 anos, participou diretamente como repórter, ou coordenando o trabalho de outros jornalistas, de matérias que ficaram na memória dos telespectadores: a morte de Michael Jackson, o acidente com o avião da TAM, o incêndio na boate Kiss, o acidente com a avião da Chapecoense, e, mais recentemente, o incêndio do edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo.
O jornalista esteve à frente também da criação do g1, portal de notícias da Globo lançado em 2006. Foi dele a ideia de levar a redação do site para São Paulo e criar espaço para colunistas de prestígio e popularidade, além de realizar transmissões em streaming ainda pouco comuns, à época. Hoje o jornalista se dedica à reportagem, propondo a maior parte das pautas em que atua, muitas das quais ligadas à ciência e ao entretenimento.
Quando trabalhava na revista Química e Derivados, Álvaro Pereira soube por um colega de redação, o escritor José Roberto Torero, que havia uma vaga na editoria de Ciência da Folha de S. Paulo. Candidatou-se, passou no processo seletivo e em 1987 iniciou sua carreira no jornal. Ao voltar dos Estados Unidos, em 1990, foi convidado para compor a equipe que faria uma renovação no jornal Notícias Populares, do Grupo Folha. “Era uma molecada fazendo um jornal popular, um negócio insano, no qual se aprende um monte de coisas. Como, por exemplo, a importância da prestação de serviço. O pessoal achava que o que vendia jornal era manchete engraçada. Não era. Manchete engraçada é para outros jornalistas curtirem, mas o povo que comprava o jornal queria saber de caderneta de poupança, inflação, aposentadoria, reajuste salarial, então a gente aprendeu ali que jornalismo popular não é folclore”, explica.
Na condição de editor-chefe do Notícias Populares, o jornalista tinha reuniões com as chefias da Folha e com seu proprietário, Otávio Frias de Oliveira, que em um desses encontros sugeriu a produção de uma matéria sobre um suposto médium que fazia cirurgias espirituais. A reportagem, em tom cético, trouxe na assinatura a informação de que seu autor estudara no MIT.
Convite para o 'Fantástico'
O então diretor do Fantástico, Luiz Nascimento, leu o texto, gostou e decidiu convidar Álvaro Pereira para ser o editor-chefe do programa, no Rio de Janeiro. Como vinha de jornal impresso, o jornalista trazia boas contribuições para a pauta e coordenação de reportagens, mas não conhecia a operação de TV, o que gerou dificuldades iniciais. Em 1997, pediu para voltar para São Paulo.
Na capital paulista, ele se tornou chefe de redação no Jornalismo, função que desempenhou até 1999, quando voltou para o 'Fantástico', por um curto período de cinco meses, e depois se mudou para os Estados Unidos, acompanhando a esposa que foi fazer pós-doutorado na Califórnia. Para manter-se profissionalmente ativo, conseguiu um acordo para enviar um número fixo de matérias para a Folha, onde era colunista, e passou a gravar reportagens também para a GloboNews e para o 'Fantástico'.
Na frente das câmeras
Como morava em Berkeley, próximo a vários importantes centros de pesquisa, pôde falar sobre ciência, um de seus interesses, fazer entrevistas para o programa 'Milênio', da GloboNews, e aprender a atuar em frente à câmera, algo que ainda não tinha ocorrido, em função dos cargos que ocupou. Uma das matérias que fez, no período, foi sobre o 11 de setembro, em 2001. Aproveitando a proximidade com Hollywood, gravou depoimentos de pessoas ligadas ao cinema sobre os impactos do atentado terrorista para a indústria cinematográfica, em uma matéria mais amena exibida no 'Fantástico'.
Entrevistas com artistas também eram comuns, em lançamentos de filmes. Nessa época, Álvaro Pereira conversou com Bruce Willis, Julia Roberts, Brad Pitt e com a brasileira Gisele Bündchen. “Entreguei a ela um bicho de pelúcia que o Jô Soares havia enviado e consegui uma entrevista. Eu fazia 500 mil matérias de ciência e ninguém falava nada. Na hora em que eu entrevistei a Gisele Bündchen, era mensagem, e-mail, telefonema”, diverte-se.
De volta ao Brasil
O retorno ao Brasil aconteceu em 2002, quando Álvaro Pereira voltou a ocupar um cargo de chefia no 'Fantástico', em São Paulo. Nessa condição, além de orientar as equipes, também fazia matérias, como a que buscou explicar a causa da explosão do ônibus espacial Columbia. Um professor do Instituto de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos, demonstrou didaticamente como o atrito gerado durante a aterrisagem arrancou painéis de proteção térmica e ocasionou o acidente. A relação do jornalista com ciência mais uma vez se mostrava útil.
Criação do g1
Em 2006, Álvaro Pereira foi convidado a liderar a criação do site jornalístico da Globo, o g1. Autorizado a levar a estrutura do portal para São Paulo, convidou os jornalistas Renato Franzini e Márcia Menezes a se juntarem a ele no núcleo de decisão, contratou dezenas de profissionais e botou no ar aquele que é hoje o maior site de jornalismo em audiência. “Consegui trazer pessoas de culturas diferentes, gente da Folha, do Estadão, da Veja, da Reuters, do UOL, da Microsoft. Montamos uma estrutura parecida com a de jornal, naquele tempo, em que existiam editorias bem definidas: Política, Economia, Ciência e Tecnologia separadas, que luxo”, conta.
Havia também muitos colunistas convidados, nomes de prestígio e populares, entre eles o escritor Paulo Coelho e os jornalistas Carlos Alberto Sardenberg e Critiana Lôbo. O portal foi pioneiro na transmissão de debates por streaming, quando a internet ainda não dispunha da velocidade que tornou o uso da tecnologia natural no dia a dia.
Retorno ao 'Fantástico'
Em 2007, após a consolidação do G1, Álvaro Pereira voltou ao 'Fantástico', como chefe de redação. E uma das primeiras reportagens de expressão que coordenou, no mesmo ano, foi o acidente com o avião da TAM em Congonhas. Com a participação da jornalista Roberta Vaz, equipes foram mobilizadas para abordar diversos aspectos relacionados ao acidente, como as possíveis causas, a investigação policial e os personagens envolvidos.
Dois anos depois, a morte de Michael Jackson fez com que Álvaro Pereira viajasse a Los Angeles com o cinegrafista Marcelo Benincassa, seu companheiro mais frequente em coberturas. O jornalista sugeriu a pauta e a apurou em pessoa, visitando os locais que lembravam o músico – a loja onde ele comprava brinquedos, a rua em que gravou 'Thriller', a primeira casa em que morou e o rancho em que vivia, Neverland.
Outra morte trágica de artista exigiu a mobilização da equipe, em 2012. A notícia do falecimento de Amy Winehouse chegou à redação em um sábado de manhã. “Eu estava na chefia do plantão. Aí você começa a ligar para as pessoas, reunir todo mundo, colocar Londres em ação. Tivemos a ideia de sair na rua, botar as pessoas cantando pedaços da música da Amy. Eu fiz uma matéria também sobre a trajetória dela. Essas coberturas, por alguma razão, ficam as melhores no ar. Parece que quanto mais na correria, mais na loucura, melhor o resultado”, avalia.
Correria e loucura também na preparação do show com o grupo irlandês de rock, U2, para o 'Fantástico'. Com a colaboração do diretor de Operação, Fernando Gueiros, o “estúdio” foi montado no terraço da Globo São Paulo em menos de 24 horas: “Na chamada, eu falei assim: ‘Será que o Fantástico está com moral ou é só impressão’? e apresentava a banda. Eles tocaram duas músicas. Foi incrível”.
Viagens internacionais
Entre as viagens internacionais que fez, a cobertura da violência em Honduras foi um dos momentos tensos da carreira de Álvaro Pereira Jr. Novamente ao lado de Marcelo Benincassa, o jornalista esteve em 2014 em uma das cidades com maior índice de mortes por cem mil habitantes no mundo, San Pedro Sula. Mesmo para quem vive em um grande centro brasileiro, a visão da violência em um grau tão elevado assustou, havia seguranças armados de escopeta até em farmácias e bastava ficar de plantão junto à polícia local para ouvir o relato de mais um homicídio.
Em 2016, o jornalista foi a Chernobyl, pauta sugerida por ele, uma vez que o acidente com a usina nuclear completava 30 anos. A matéria mostrou que a cidade vizinha Pripyat continuava abandonada e que muitos camponeses da Belarus, região próxima ao local onde a usina se localiza, ainda viviam como há 70 anos, com fotos da Segunda Guerra na parede.
Exclusivamente repórter
Com as mudanças ocorridas no 'Fantástico' em 2017, momento em que Luiz Nascimento deu lugar a Bruno Bernardes na direção do programa, Álvaro Pereira pediu para se dedicar exclusivamente à reportagem, saindo do cargo de chefia. Nessa nova condição, integrou a equipe que cobriu em 2018 o incêndio e desmoronamento do edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo. “Estava em Miami fazendo uma matéria sobre o Ozzy Osbourne, voltei de terça para quarta e na quinta, sexta e sábado eu estava gravando. Sempre dá para entrar com ciência e tecnologia, então achamos as plantas do prédio e a filha do arquiteto que o projetou, um personagem riquíssimo, porque ela estava fazendo um documentário sobre o edifício. As duas matérias foram exibidas no domingo. Continuo fazendo minhas viagens, 99% das pautas eu mesmo crio, nessa nova função minha produtividade como repórter aumentou muito. Vamos seguindo”, arremata.
FONTE:
Depoimento ao Memória Globo em 09/05/2018. |