Renúncia do Papa Bento XVI

A renúncia de Bento XVI surpreendeu o mundo. Menos de oito anos após ser eleito, o Papa alegou não ter mais disposição para exercer a função.

Por Memória Globo


O alemão Joseph Ratzinger foi proclamado o sucessor de João Paulo II em abril de 2005. Teólogo de grande expressão, com perfil conservador, Bento XVI foi um grande defensor das doutrinas mais ortodoxas da Igreja Católica. Ficou quase oito anos na função. Seu pontificado foi marcado por protestos e escândalos, com denúncias de atos de pedofilia dentro da Igreja.

O anúncio inesperado de que deixaria o cargo foi feito durante uma reunião com cardeais em 11 de fevereiro de 2013. A partir das 20h, horário de Roma, do dia 28 de fevereiro, o Trono de Pedro ficaria vago até que fosse realizado o conclave. Em março, o argentino Jorge Mario Bergoglio foi escolhido como novo líder da Igreja Católica.

Bento XVI esteve no Brasil em maio de 2007, quando canonizou o primeiro santo nascido no país, Santo Antonio de Sant’Anna Galvão, o Frei Galvão. Joseph Ratzinger ganhou o título de Papa Emérito. E, desde sua abdicação, vive no Vaticano, permanecendo à serviço da Igreja.

Reportagem de Ilze Scamparini sobre a renúncia do Papa Bento XVI e os momentos mais marcantes do pontificado de Joseph Ratzinger. Jornal Nacional, 11/02/2013.

EQUIPE E ESTRUTURA

A renúncia de Bento XVI pegou de surpresa jornalistas do mundo todo – havia quase 600 anos que um papa não abdicava. Com Ilze Scamparini, correspondente da Globo na Itália e especialista em assuntos do Vaticano, não foi diferente. A repórter estava de férias no Brasil quando recebeu a notícia. Antes de embarcar de volta para Roma, naquele mesmo dia, editou uma matéria com os momentos mais marcantes do pontificado de Joseph Ratzinger para ser exibida no Jornal Nacional.Ao mesmo tempo, para garantir uma cobertura ampla e in loco, a Globo enviou os repórteres Marcos Losekann e Sergio Gilz, baseados em Londres, para a capital italiana. Os dois permaneceram em Roma por dois dias. Os correspondentes Marcos Uchoa e Edu Bernardes também deixaram escritório da Globo em Paris para acompanharem a repercussão da notícia entre os conterrâneos de Joseph Ratzinger. Os dois foram para a região da Baviera, na Alemanha.O assunto foi destaque em todos os telejornais naquela segunda-feira de carnaval. A cobertura do desfile das escolas de samba na noite anterior cedeu espaço para as análises e especulações sobre os rumos da Igreja Católica após a renúncia de Bento XVI.

Reportagem de Ilze Scamparini sobre a despedida do Papa Bento XVI, primeiro pontífice católico a renunciar ao papado desde 1415, Jornal Nacional, 28/02/2013.

EM LATIM

O anúncio de que Bento XVI se afastaria do cargo no fim do mês surpreendeu o mundo. Durante uma reunião com cardeais para discutir o reconhecimento de santos, Joseph Ratzinger comunicou, em latim, sua decisão. A informação foi divulgada por uma agência de notícias italiana naquela mesma manhã do dia 11 de fevereiro.

A Globo foi a primeira TV brasileira a dar a notícia. Passava das 9h da manhã quando um plantão apresentado por Sandra Annenberg interrompeu a programação naquela segunda-feira de carnaval. De acordo com a jornalista, o Vaticano anunciara a renúncia, mas ainda não havia divulgado os motivos da decisão do Papa. Ao longo da manhã, conforme as informações foram chegando à redação, o telespectador foi sendo atualizado. Sandra Annenberg e a correspondente Cecília Malan, de Londres, deram continuidade ao plantão durante todo o programa Bem Estar.

JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

Mesmo com parte de seu noticiário voltado ao carnaval de rua e aos desfiles das escolas de samba, o RJ TV 1ª edição deu destaque à renuncia do Papa. A cinco meses da Jornada Mundial da Juventude, que aconteceria no Rio, a questão era se o substituto de Bento XVI compareceria ao evento.

O arcebispo do Rio de Janeiro conversou, ao vivo, com a repórter Silvana Ramiro e o apresentador André Trigueiro. Dom Orani Tempesta garantiu a realização do evento e disse acreditar que o sucessor de Joseph Ratzinger cumpriria os compromissos firmados pelo Papa e viria ao maior encontro de jovens católicos do mundo.

André Trigueiro e Silvana Ramiro entrevistam, ao vivo, o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, sobre a renúncia do Papa Bento XVI e os planos para a Jornada Mundial da Juventude no Rio. RJTV 1ª edição, 11/02/2013.

FRAGILIDADE

Reportagem de Marcos Losekann e Sergio Gilz sobre as circunstâncias da renúncia do Papa Bento XVI e a reação dos cardeais ao receber a notícia. Jornal Nacional, 11/02/2013.

A reportagem dos correspondentes Marcos Losekann e Sergio Gilz, que abriu o Jornal Nacional em 11 de fevereiro, destacou as circunstâncias da decisão tomada por Bento XVI. Segundo o próprio pontífice, por conta da idade avançada, ele já não tinha forças para exercer sua função. O repórter falou também sobre a reação dos cardeais, que, assim como o mundo inteiro, ficaram surpresos com a notícia. Ressaltou ainda que até aquele momento não havia sido divulgado se Joseph Ratzinger tinha alguma doença grave.

Ao vivo, direto do Vaticano, Losekann explicou a dificuldade que ele e Gilz enfrentaram para chegar à Roma: justo naquele dia, a capital italiana foi atingida por uma das piores tempestades dos últimos dez anos. O repórter fez diversas entradas ao longo daquela edição do JN, sempre atualizando com as últimas informações.

UM CONSERVADOR REVOLUCIONÁRIO

A reportagem de Ilze Scamparini exibida no dia seguinte, quando a correspondente já estava em Roma, levantou o que poderia estar por trás da decisão de Bento XVI. Apesar de usar um marca-passo, o porta-voz do Vaticano garantiu que Joseph Ratzinger não tinha nenhuma doença grave. A repórter ressaltou que a saúde frágil nunca fora um empecilho para os pontífices, vide João Paulo II, que no sofrimento acabou ganhando mais carisma.

Em sua matéria, Scamparini também relembrou alguns indícios de que Bento XVI poderia renunciar. Em uma de suas entrevistas, o alemão chegou a afirmar que o papa tinha o dever de renunciar caso não tivesse condições físicas, mentais e espirituais para permanecer no cargo. No final da reportagem, a jornalista percebeu a ironia da situação: “O conservador Bento XVI, com a sua renúncia, pode provocar uma revolução na Igreja”.

O conservador Bento XVI, com a sua renúncia, pode provocar uma revolução na Igreja”
— Ilze Scamparini em reportagem sobre a renúncia do Papa

Reportagem de Ilze Scamparini sobre os motivos da renúncia do Papa Bento XVI, Jornal Nacional, 12/02/2013.

“RENUNCIAR? LOGO ELE?”

Reportagem de Marcos Uchoa e Edu Bernardes sobre a reação à renúncia do Papa Bento XVI na região da Baviera, Alemanha, terra natal de Joseph Ratzinger. Jornal Nacional, 12/02/2013.

Para cobrir a repercussão da renúncia de Bento XVI, Marcos Uchoa e Edu Bernardes foram para a região da Baviera, na Alemanha. Na cidade de Regensburg, os dois mostraram a reação dos conterrâneos do Papa, que oscilaram entre o apoio e a crítica àquela decisão inusitada.

Mas o que mais surpreendeu os alemães, que conheciam bem o perfil conservador e ortodoxo de Joseph Ratzinger, foi a decisão ter sido tomada justo por um papa contrário a qualquer mudança ou novidade nas doutrinas da Igreja.

O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO

“Quando você se recuperar do carnaval pense em dois fatos que dão uma boa ideia do complicado que anda o mundo. A renúncia do Papa é um desafio a uma instituição, a Igreja Católica, que não só é antiga, mas poderosa. Ela tem as respostas a um mundo mudando rápido? A bomba atômica que a ditadura da Coréia do Norte explodiu hoje é um desafio às duas maiores potências da atualidade, Estados Unidos e China. Elas têm respostas sobre como garantir estabilidade num mundo mudando rápido?” William Waack levantou a questão no Jornal da Globo de 12 de fevereiro. O jornalista destacou que, um dia após o anúncio da renúncia, ainda não estavam claros os motivos que levaram Bento XVI a abdicar do cargo. A reportagem de Marcos Losekann, apresentada no telejornal, relembrou os escândalos de corrupção e os casos de pedofilia que marcaram o pontificado de Joseph Ratzinger.

A visita que William Waack e o repórter cinematográfico Hélio Alvarez fizeram a casa de Joseph Ratzinger no interior da Alemanha, em 2007, foi tema de outra reportagem exibida no telejornal.

Reportagem de William Waack sobre o perfil intelectual do Papa Bento XVI, com imagens da visita do repórter à casa de Joseph Ratzinger anos antes, em 2007. Jornal da Globo, 12/02/2013.

QUEM SERÁ O NOVO PAPA?

Reportagem de Ilze Scamparini sobre as especulações e expectativas sobre quem seria o novo pontífice após a renúncia do Papa Bento XVI. Jornal da Globo, 12/02/2013.

A reportagem de Ilze Scamparini no Jornal da Globo, em 12 de fevereiro, falou das especulações e expectativas sobre quem seria o novo pontífice. Qualquer cardeal participante do conclave poderia ser eleito. Entre os candidatos com potencial para serem papa, dois brasileiros: Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, e Dom João Braz, arcebispo emérito de Brasília.

POR TRÁS DA RENÚNCIA

O que estava por trás da renúncia de Bento XVI foi o assunto da reportagem de Ilze Scamparini exibida no Fantástico em 17 de fevereiro. A correspondente conversou com o cardeal brasileiro Dom João Braz de Aviz. O religioso, que estava presente quando o Papa anunciou que deixaria o Trono de Pedro, descreveu sua reação de surpresa.

Ilze Scamparini também entrevistou a jornalista italiana que deu o furo da notícia e o escritor Gianluigi Nuzzi, autor do livro Sua Santidade, que expôs documentos confidenciais do Papa, roubados por seu mordomo, como seria descoberto mais tarde.

FONTES

Bem Estar, 11/02/2013; Fantástico, 17/02/2013; Jornal da Globo, 12/02/2013; Jornal Hoje, 11/02/2013; Jornal Nacional, 11/02/2013, 12/02/2013; RJTV, 11/02/2013.