Massacre na Praça da Paz Celestial

Em 1989, o episódio conhecido como o Massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim, na China, causou milhares de mortos e feridos.

Por Memória Globo


1989. Às vésperas dos 40 anos da revolução comunista, a China foi sacudida por uma onda de manifestações lideradas por estudantes. Eles reivindicavam mais liberdade e melhores condições de vida. Em 1978, o político Deng Xiaoping chega ao poder e governa o país até 1992. O líder comunista estabeleceu uma série de reformas políticas e econômicas, implantando, de forma gradual, uma economia de mercado e a liberalização política. Uma abertura no regime autoritário vigente a partir de 1948 com a revolução liderada por Mao Tsé Tung.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a cobertura do Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

No início de 1989, intelectuais, trabalhadores, mas, principalmente, estudantes começaram a sair às ruas exigindo mudanças imediatas na economia e na política. O movimento era influenciado pela lentidão dessas reformas e pelos ventos liberalizantes vindos da União Soviética de Mikhail Gorbachev. Os protestos iniciais foram realizados por estudantes e intelectuais e logo ganharam a adesão de trabalhadores.

Em maio, as manifestações se intensificaram. No dia 4, 100 mil estudantes e trabalhadores marcharam em Pequim pedindo reformas e a abertura de diálogo com o governo. No dia 13, grandes grupos de estudantes ocuparam a Praça Tiananmen e começaram uma greve de fome. A praça ficaria conhecida como Praça da Paz Celestial. Intolerante, o governo liderado pelo Secretário Geral do Partido Comunista, Deng Xiaoping e pelo Primeiro Ministro, Li Peng, decretou a lei marcial em 20 de maio. O estado de exceção não diminuiu o ímpeto dos manifestantes. Com tropas e tanques nas ruas, a violência tomou conta de Pequim. No início de junho o confronto atingiu o auge. O número real de mortos e feridos segue um segredo de estado. As estimativas vão de dois mil a quatro mil mortos e cerca de 30 mil feridos.

No dia 5 de junho, um manifestante solitário se colocou em frente a uma coluna de tanques detendo o seu avanço. O homem continuou de pé, durante um longo tempo, antes de ser expulso do lugar. A imagem do chinês contra a força do exército tornou-se uma das mais emblemáticas do século 20. A sua identidade nunca foi divulgada e há indícios de que ele foi executado dias depois do episódio.

EQUIPE E ESTRUTURA

Apesar das restrições à liberdade de imprensa impostas pelo governo comunista e com a proibição da entrada de jornalistas estrangeiros, a Globo realizou ampla cobertura com material enviado pelas agências internacionais e com a participação de seus correspondentes: Pedro Bial, em Londres e Luís Fernando Silva Pinto, em Washington. No Brasil, os repórteres Sérgio Gregory e Isabela Assumpção produziram reportagens com chineses que moravam no país falando da repercussão da violência em Pequim.

Em junho de 1989, no auge dos conflitos entre governo e manifestantes, o repórter Luís Fernando Silva Pinto e o cinegrafista Paulo Zero conseguiram entrar na China. O trabalho deles era quase clandestino. Os repórteres gravavam as imagens de dentro do carro e conseguiram produzir reportagens que mostraram, de perto, a realidade no país.

O início da crise

No dia 7 de março de 1989, o Jornal Nacional noticiou que o governo da China impôs lei marcial no Tibet depois de três dias de violentos protestos pela independência na região.

No dia 20 de março, o Jornal da Globo mostrou o Primeiro Ministro da China, Li Peng, abrindo o novo ano parlamentar e pedindo mais dois anos de austeridade. Em 20 de abril, o JN informou que 200 mil pessoas desafiaram o regime comunista e fizeram uma passeata exigindo liberdade e democracia. No dia 13 de maio, O Jornal Nacional falou da greve de fome que mil estudantes chineses iniciaram naquele dia.

Gorbachev na China

No dia 14 de maio de 1989, o Jornal Nacional mostrou a chegada do Presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev à China, acompanhado da primeira dama, Raísa. O Jornal da Globo mostrou no mesmo dia que a presença do líder russo na China ocorreu em meio à manifestações gigantescas de estudantes contra o governo. No dia 16 de maio, o JN mostrou a visita de Gorbachev à Muralha da China e o discurso dele no parlamento chinês.

Lei Marcial

No dia 24 de maio, o Jornal Nacional noticiou que o governo da China, depois de decretar lei marcial, retirou as tropas da Praça da Paz Celestial, ocupada há 12 dias por estudantes pedindo reformas democráticas. O Jornal Hoje do dia 25 de maio mostrou a reaparição em público do Primeiro Ministro chinês, Li Peng. Ele reafirmou a liderança de Deng Xiaoping à frente das reformas na China.

Um homem contra o exército

No dia 5 de junho, no auge do conflito entre tropas do governo e manifestantes, o Jornal Nacional mostrou a ocupação pelo exército da Praça da Paz Celestial. O JN exibiu a imagem que se tornaria histórica do manifestante solitário impedindo o avanço dos tanques. O Jornal da Globo do dia 6 de junho destacou reportagem sobre os chineses que moram em São Paulo acompanhando a rebelião dos estudantes pela democracia. No dia 8 de junho, Pedro Bial, de Londres, mostrou uma vigília em frente à embaixada chinesa. Ele ouviu chineses que moram na capital inglesa, que demonstraram preocupação com o futuro do país. A reportagem exibiu ainda as filas que se formaram na agência do Banco da China de Londres.Temendo um colapso econômico, os chineses moradores de Londres tentavam retirar todo o seu dinheiro.

Reportagem com narração de Cid Moreira sobre o massacre da Praça da Paz Celestial em Pequim, na China, Jornal Nacional, 05/06/1989.

Chineses no Brasil

No dia 9 de junho, a repórter Isabela Assumpção contou no Jornal Nacional como foi a chegada dos primeiros imigrantes chineses ao Brasil no século 19. Ela foi ao bairro da Liberdade em São Paulo, onde vive uma parte dos 100 mil chineses residentes no Brasil. No Jornal Hoje do dia 10 de junho, o repórter Sérgio Gregory mostrou a chegada de 12 brasileiros que estavam em Pequim durante o Massacre da Praça da Paz Celestial.

Um homem disse que ficou chocado com os blindados passando por cima dos estudantes. Um Globo Repórter especial sobre a China foi exibido no dia 9 de junho. O programa ouviu brasileiros que estavam em Pequim e testemunharam os conflitos, como também os chineses que moram no Brasil. Quem é o homem que enfrentou a coluna de tanques? O Globo Repórter mostrou ainda como foi a cobertura internacional, com depoimentos de profissionais americanos e ingleses.

Reportagem de Sérgio Gregory sobre a volta de brasileiros que estavam na China durante os protestos dos estudantes e o massacre da Praça da Paz Celestial, Jornal Hoje, 10/06/1989.

Perto da notícia

O correspondente da Globo em Washington, Luís Fernando Silva Pinto e o cinegrafista Paulo Zero, conseguiram entrar na China, dias após o Massacre da Praça da Paz Celestial. Driblando as restrições impostas aos jornalistas pelo governo chinês, eles conseguiram produzir material exclusivo sobre os acontecimentos no país. No Fantástico do dia 11 de junho, Luís Fernando Silva Pinto relatou o silêncio que imperava em Pequim, com pessoas indo para o trabalho em suas bicicletas, enquanto 400 estudantes eram interrogados pela polícia chinesa. A reportagem revelou que o governo já tinha achado um “bode expiatório” para a ocupação da praça Tinammen. O físico nuclear chinês Fang Lizhi que pediu proteção na embaixada americana. Ele estaria sendo apontado como o mentor intelectual do movimento dos estudantes. A manutenção dele na embaixada americana foi considerada uma provocação ao regime.

No Jornal Nacional do dia 12 de junho, Luís Fernando Silva Pinto mostrou a praça Tinnamenn vazia e silenciosa, como um monumento aos mortos na cidade. A grande maioria dos chineses não fazia comentários, já que qualquer um poderia ir para a cadeia.

Reportagem de Luís Fernando Silva Pinto mostra a praça Tinnamenn vazia e silenciosa após o massacre da Praça da Paz celestial e o receio da população em comentar o ocorrido por medo de ir para a cadeia, Jornal Nacional, 12/06/1989.

OUTRAS REPORTAGENS

Reportagem com narração de Sérgio Chapelin sobre a retirada das tropas chinesas da Praça da Paz Celestial aonde estudantes protestavam por reformas democráticas na China, Jornal Nacional, 24/05/1989.

Reportagem com narração de Léo Batista sobre confronto entre estudantes e tropas do exército na China na Praça da Paz Celestial em Pequim, 03/06/1989.

Reportagem com narração de Cid Moreira sobre a caçada do governo chinês aos líderes da revolta por reformas democráticas que culminou com o massacre da Praça da Paz Celestial, Jornal Nacional, 12/06/1989.

FONTES

Jornal Hoje : (25/05/1989; 10/06/1989); Jornal Nacional (07/03/1989; 20/03/1989; 20/04/1989; 13/05/1989 ; 14/05/1989; 16/05/1989; 29/05/1989; 05/06/1989; 09/06/1989; 12/06/1989); Jornal da Globo (06/06/1989); Globo Repórter (09/06/1989); Fantástico (11/06/1989); Jornal do Brasil (08/03/1989; 21/03/1989; 14/05/1989; 05/06/1989; 06/06/1989)