Processo Jurídico

No dia 10 de agosto de 2016, 59 dos 81 senadores aprovaram o relatório do senador Antonio Anastasia, então do PSDB, e Dilma Rousseff virou ré no processo das pedaladas fiscais.

Por Memória Globo


De 12 de maio a 25 de agosto de 2016, intensos debates movimentaram o Senado Federal. Testemunhas de defesa depuseram na Casa, provas foram apresentadas pela acusação. Essa fase do rito do impeachment era presidida pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. Os senadores assumiriam, portanto, papel similar ao de juízes. No dia 10 de agosto, numa sessão que varou a madrugada, 59 dos 81 senadores aprovaram o relatório do senador Antonio Anastasia, então do PSDB, e Dilma Rousseff virou ré no processo das pedaladas fiscais.

Reportagem de Marcos Losekann com o resumo dos fatos que deram origem ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. Jornal Nacional, 25/08/2016.

Em busca de apoio, ainda naquela semana, no dia 16, Dilma Rousseff divulgou uma carta direcionada ao Senado e ao povo brasileiro. Ela afirmava ser inocente.

Julgamento

O julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff durou seis dias. Teve início no Senado em 25 de agosto, terminando com as votações do dia 31. No primeiro dia de julgamento, em meio a discussões, o Plenário só conseguiu ouvir duas das oito testemunhas do processo. Uma longa semana de trabalho se seguiria. No âmbito da cobertura jornalística, a GloboNews transmitiu todas as sessões do julgamento ao vivo. A Globo, por outro lado, abriu espaço na programação para entradas de repórteres com as últimas informações – em média, durante a semana, havia duas entradas ao vivo por telejornal.

Um dos dias mais acalorados do julgamento foi a sessão em que a presidente afastada foi inquirida, em 29 de agosto. Naquela manhã, Rousseff se defendeu em uma apresentação de 46 minutos – disse que foi vítima de um golpe, que jamais praticaria atos que fossem de encontro aos interesses dos eleitores, e que só eles poderiam afastar um governo “pelo conjunto da obra”. Ao longo da tarde e da noite, Dilma respondeu a perguntas dos senadores.

Todos os telejornais da Globo deram ênfase ao evento. O ‘Jornal Nacional’ daquela noite dedicou o primeiro bloco inteiro ao assunto, exibindo trechos do discurso de defesa de Rousseff, assim como reportagens com informações do interrogatório ocorrido ao longo daquela tarde. No ‘Jornal da Globo’, destaque para uma matéria de Heraldo Pereira que trazia uma sequência com os momentos mais marcantes da sessão.

JN exibe trechos do discurso de defesa de Dilma Rousseff no julgamento do impeachment no Senado. Jornal Nacional, 29/08/2016.

Reportagens sobre discurso de defesa de Dilma Rousseff no julgamento do impeachment no Senado. Jornal da Globo, 29/08/2016.

No dia seguinte, 30 de agosto, acusação e defesa falaram em plenário pela última vez.

A sentença

A última votação sobre o afastamento definitivo de Dilma Rousseff foi aberta às 11h do dia 31 de agosto de 2016 pelo então presidente do STF. Ricardo Lewandowski leu um resumo do relatório do processo, que elencava detalhes de tudo o que ocorrera em plenário até aquele momento. Em seguida, uma questão de ordem do PT provocou uma reviravolta no andamento da sessão. Depois de horas de discussão, decidiu-se que duas votações seriam feitas em separado: uma para determinar a perda do cargo de presidente e, outra, para definir a cassação dos direitos políticos.

Dilma Rousseff foi considerada culpada pelo crime de responsabilidade fiscal e perdeu seu mandato de presidente da República. A sentença, no entanto, não determinou a suspensão de seus direitos políticos, tal como ocorrera anos antes, no impeachment de Fernando Collor.

O trabalho jornalístico

Na Globo, Heraldo Pereira e Alexandre Garcia seguiram como âncoras do processo, amarrando as principais informações em entradas ao vivo na programação. O ‘Jornal Hoje’ daquele dia abriu com um resumo da manhã em plenário do Senado, preparado pela repórter Gioconda Brasil, que dava ênfase à decisão de se realizar duas votações para selar o destino de Dilma Rousseff. Uma pequena vitória dos apoiadores do governo, como mostrou o telejornal. Os jornalistas retornaram em plantão por volta de 13h34 para anunciar o encerramento da primeira votação. A notícia do dia saiu no painel do Senado: 61 votos a favor e 20 contra o impeachment. Dilma Rousseff se tornara a segunda presidente da República da história a ser afastada de seu mandato presidencial por vias democráticas.

Heraldo Pereira e Alexandre Garcia anunciam, ao vivo, o resultado da última votação no Senado que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff. Jornal Hoje, 31/08/2016.

O ‘Jornal Nacional’ daquela noite teve mais de 40 minutos de tempo de produção. A maior parte, fechada em Brasília. A reportagem principal do dia foi feita por Júlio Mosquéra, que resumiu os principais momentos da sessão no Senado, destacando o trabalho incansável de jornalistas naquela cobertura, definida por ele como uma “maratona de seis dias e noites de trabalho”.

Reportagem de Júlio Mosquéra sobre os principais momentos da sessão no Senado que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff. Jornal Nacional, 31/08/2016.

A GloboNews cobriu ao vivo a última sessão da derradeira fase do processo de impeachment. O canal de notícias segurou a transmissão das 11h às 14h30, quando o resultado final da votação saiu. Cristiana Lôbo acompanhou do plenário ao vivo. Nos corredores do Congresso, Andréia Sadi, Marina Franceschini e Gerson Camarotti apuraram a repercussão dos acontecimentos com parlamentares e o próprio presidente interino, Michel Temer.

Em transmissão ao vivo, direto do plenário, Cristiana Lôbo comenta resultado da votação que determinou o impeachment de Dilma Rousseff. Jornal GloboNews, 31/08/2016.

Despedida de Dilma Rousseff

No próprio dia 31 de agosto, Michel Temer tomou posse como presidente do Brasil em cerimônia no plenário do Senado. A reportagem de Delis Ortiz no ‘Jornal Nacional’ mostrou momentos da cerimônia, bem como a primeira reunião ministerial conduzida por ele no Palácio do Planalto, em que Temer dizia precisar de firmeza contra os adversários que poderiam acusá-lo de golpista. Para o presidente recém-empossado, “golpista é quem derruba a Constituição, quem quer violar o texto constitucional, e vocês sabem que, no plano internacional, eles tentaram e conseguiram, com algum sucesso, propor, dizer que aqui no Brasil houve um golpe. Um golpe que durou… Hoje é o 108º dia de processo do impedimento, com defesa, 40 testemunhas de um lado, 40 testemunhas de outro lado”. Em seguida, Temer embarcou em uma viagem oficial à China.

Reportagem de Delis Ortiz sobre a posse de Michel Temer após o impeachment de Dilma Rousseff. Jornal Nacional, 31/08/2016.

Imediatamente após a decisão do Senado, Dilma Rousseff fez um pronunciamento à nação. Disse que fora vítima de um golpe e anunciou que faria oposição ao governo que se estabeleceria dali em diante. Dilma disse que o Senado cometera naquele dia “uma grande injustiça”, e que os senadores que votaram pelo impeachment rasgaram a Constituição e “consumaram um golpe parlamentar”. E acrescentou: “Saio da presidência como entrei: sem ter cometido ato ilícito, sem ter traído qualquer de meus compromissos, com dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo Brasil”. No final, disse que não dizia adeus aos brasileiros, mas “até daqui a pouco”. O ‘Jornal Nacional’ exibiu uma cobertura completa sobre o fim do processo de impeachment.

Reportagem sobre o discurso de Dilma Rousseff após o impeachment. Jornal Nacional, 31/08/2016.

Retrospectiva

No final do ano, a equipe do ‘Globo Repórter’ preparou uma edição especial da ‘Retrospectiva 2016’, que dava ênfase aos escândalos políticos da Lava Jato e ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, culminando no governo recém-assumido de Michel Temer. O programa foi gravado no Boulevard Olímpico e também em Brasília – Glória Maria e Sérgio Chapelin foram filmados diante do Congresso Nacional, na entrada do Palácio do Planalto e do Itamaraty. A edição do programa contou com uma equipe de 70 profissionais.

Na Retrospectiva 2016, um resumo da crise política no Brasil, o impeachment de Dilma Rousseff e os escândalos revelados pela Operação Lava Jato. Retrospectiva, 30/12/2016