Em 2002, os brasileiros foram às urnas para, mais uma vez, escolher através do voto direto o presidente da república e os 27 governadores. Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores), foi eleito no segundo turno com 61% dos votos válidos, tornando-se o presidente mais votado da história do país até então. Era a quarta vez que Lula disputava as eleições presidenciais.
William Bonner entrevista o Presidente eleito em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, na bancada do Jornal Nacional, 28/10/2002.
DESTAQUES
A campanha
Série de reportagens
Entrevistas na bancada do JN
O debate
Dia da votação
Segundo turno
Um debate diferente
O presidente eleito na bancada do JN
Dia da posse
EQUIPE E ESTRUTURA
O projeto para a cobertura das eleições de 2002 começou a ser elaborado em 2001. A ideia, inédita não somente na Globo, mas em outras emissoras também, era levar os candidatos à Presidência da República para entrevistas em três telejornais de rede (Bom Dia Brasil, Jornal Nacional e Jornal da Globo). Pretendia-se que eles fossem também na Globo News, para participar do Jornal das Dez e do programa Espaço Aberto, apresentado por Miriam Leitão. Os candidatos a governador seriam entrevistados nos telejornais regionais. As entrevistas procurariam esmiuçar o programa de governo de cada candidato e discutir as contradições de cada candidatura.
Em 5 de maio de 2002, numa reunião na sede da emissora no Rio, Schroder, Ali Kamel e Teresa Cavalleiro, coordenadora nacional do projeto, expuseram os planos de cobertura jornalística aos representantes dos principais candidatos à Presidência – Ciro Gomes (PPS – Partido Social Socialista), José Serra (PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os representantes de Anthony Garotinho (PSB – Partido Socialista Brasileiro) tiveram reunião à parte no dia 17 de junho, pois haviam faltado à primeira reunião. Nos encontros, explicitaram-se os principais critérios que a cobertura seguiria: prioridade para o debate de ideias, o compromisso de dar amplo direito de defesa em caso de matérias investigativas com denúncias contra qualquer um deles e a política de divulgação de reportagens de outros veículos – a Globo só divulgaria aquelas que considerasse apuradas suficientemente e com boas provas ou cujos resultados a própria Globo concluísse ser verdadeiros após investigação própria. Fazia parte do plano, também, o acompanhamento diário das atividades de todos os candidatos no dia a dia da campanha.
"Antes de 2002, uma emissora corria toda sorte de riscos se um candidato de um partido nanico entrasse na Justiça pleiteando tratamento igual ao que os principais candidatos recebiam. O TSE, em decisões históricas, firmou jurisprudência que os iguais devem ser tratados como iguais. E que a notícia vem em primeiro lugar. Não se pode noticiar o que não é notícia. Um candidato inexpressivo não pode exigir tratamento igual ao dos candidatos que disputam os primeiros lugares. Também não podem ser desprezados, mas devem receber a atenção proporcional à sua importância. Todo esse amadurecimento jurídico permitiu pôr em prática o nosso projeto com uma segurança jurídica mais sólida, o que não acontecia antes", lembra Ali Kamel, diretor executivo de Jornalismo na ocasião.
Como forma de se aprofundar em temas relevantes para a população, o Jornal Nacional exibiu oito séries jornalísticas, cada uma com seis reportagens, abordando os problemas brasileiros em diversos setores. As matérias foram feitas com base nos censos do IBGE de 1991 e 2000, comparando a situação do país num ano e no outro e mostrando o que havia melhorado e o que ainda precisava ser feito. Com aqueles dados, o objetivo era afastar ao máximo o subjetivismo na avaliação das políticas públicas. Ao fim das reportagens, o eleitor era estimulado a procurar saber – no horário eleitoral obrigatório, que entrava no ar logo após o Jornal Nacional – o que cada candidato pretendia fazer em cada área abordada: saneamento, saúde, educação etc.
As pesquisas eleitorais, contratadas ao Ibope, eram mensais, mas a Globo se comprometeu a divulgar com igual destaque todas as pesquisas eleitorais feitas pelos institutos que tivessem os requisitos de qualidade que Eneida Nogueira, diretora do departamento de pesquisas da emissora, exigia: deveriam ser credenciados por uma das entidades de classe e ter uma história de acerto em prognósticos eleitorais publicados. Nacionalmente, os institutos eram o Datafolha e o Vox Populi, além do Ibope.
A realização de dois debates, um no primeiro turno e outro no segundo, caso houvesse, tanto para presidente como para governador de estado, também estavam previstos. O plano da CGJ foi aprovado pelo Conselho Editorial. Schroder indicou Ali Kamel para dirigir a cobertura.
A CAMPANHA
A partir de 1º de julho, o Jornal Nacional e os outros telejornais da Globo passaram a acompanhar o dia a dia dos quatro principais candidatos à Presidência. A campanha dos candidatos do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e do PCO (Partido da Causa Operária), sem representação na Câmara dos Deputados, era assunto do telejornal apenas quando acontecia algum fato relevante ou invariavelmente uma vez a cada 15 dias.
“Pela legislação,” explica Ali Kamel, “a gente poderia um dia dar três minutos para o Lula e 30 segundos para o Serra, se o Lula tivesse produzido mais notícia naquele dia. Mas para evitar mal-entendidos decidimos que daríamos todos os dias tempos iguais aos quatro candidatos. Agora, claro, quando o Lula lançou o seu programa econômico, que era importante, o mercado estava esperando, a gente deu tempos iguais para a matéria sobre o dia a dia dos candidatos, e a matéria do programa econômico do Lula à parte em outra reportagem. Porque, um dia, o Garotinho e o Serra também iriam lançar o seu programa e, quando lançassem, teriam tratamento igual”.
SÉRIES DE REPORTAGENS
A primeira série de reportagens preparada para o período eleitoral a ir ao ar no JN – Cidadania – foi exibida a partir do dia 5 de agosto. Nela, Edney Silvestre mostrou como era possível lutar por direitos, contribuir para a legislação e escolher melhor os representantes. As outras séries exibidas foram: As Contas do Governo, com o repórter Tonico Ferreira; Concentração de Renda, com Marcelo Canellas; Educação e Emprego, com Sônia Bridi; Saúde e Saneamento, com Vinícius Dônola; Desigualdades Regionais, com Marcelo Canellas; e Meio Ambiente e Grandes Cidades, com William Waack. A última – O Valor do Voto, com Ernesto Paglia –, exibida na semana da eleição.
Webdoc com entrevistas exclusivas ao Memória Globo sobre a série jornalística Problemas Brasileiros, exibida pelo Jornal Nacional em 2002, como parte da cobertura das eleições presidenciais.
As séries de reportagens tiveram a coordenação de Teresa Cavalleiro e de Maria Thereza Pinheiro.
Jornalismo de serviço
O Jornal Nacional também teve a preocupação de apresentar reportagens de serviço, ensinando o eleitor a votar, explicando o papel de um deputado e de um senador, esclarecendo o que é um projeto de lei e uma emenda constitucional. Uma semana antes do segundo turno, o repórter Marcelo Canellas, na reportagem intitulada O Poder do Presidente, explicou as relações entre o Poder Executivo e o Congresso, os limites do cargo de presidente, os problemas da política econômica, entre outras coisas.
ENTREVISTAS NA BANCADA DO JN
A primeira rodada de entrevistas dos candidatos, ao vivo, na bancada do Jornal Nacional aconteceu entre os dias 8 e 11 de julho. A primeira foi com Ciro Gomes, seguido de Anthony Garotinho, José Serra e, por último, Luiz Inácio Lula da Silva, sequência definida por sorteio. Os candidatos foram sabatinados por William Bonner e Fátima Bernardes, que seguiram regras previamente negociadas com as equipes dos candidatos.
Bonner conta que a equipe da Globo se preparou muito para as entrevistas. Foi realizada uma série de reuniões para discutir a abordagem e as perguntas que seriam feitas a cada candidato. Além de Bonner e Fátima, as reuniões contaram com a participação de Ali Kamel, Schroder, Franklin Martins, Luiz Cláudio Latgé, Miriam Leitão, Ana Paula Padrão e Renato Machado. A ideia era que todos contribuíssem para que as perguntas abordassem os mais variados temas e tivessem níveis iguais de dificuldades. Nas reuniões foi esboçado um roteiro de perguntas e realizado um levantamento sobre as possíveis respostas, réplicas e tréplicas de cada entrevistado.
"Numa cobertura como aquela, não há espaço para improvisação. Não existe isso de olhar para os âncoras e dizer: ‘Vão lá e dêem o melhor de si’. Tudo é muito pesquisado, tudo é muito debatido, tudo é de fato um trabalho em grupo. Evidentemente, ninguém tem bola de cristal e as entrevistas no ar sempre tomam rumos inesperados. Mas todos os âncoras estão absolutamente seguros sobre tudo o que se passou até ali na campanha, todos têm dados e fatos, fica uma coisa muito rica. Quando as entrevistas estavam no ar, mesmo se o imprevisto acontecia – e eles aconteceram, é claro – a preparação era total", lembra Ali Kamel.
As entrevistas – com dez minutos de duração cada uma – representaram, segundo Schroder, um grande avanço: “Elas ‘desmarquetizaram’ os candidatos. Uma coisa é o candidato gravar com a orientação do assessor, querendo se passar por algo que ele é ou não. Outra coisa é o candidato, diante de 51 milhões de pessoas, ser inquirido e responder de improviso sobre os principais assuntos do país e ter que revelar se é ou não consistente”.
A experiência foi inédita tanto para os candidatos quanto para o histórico do JN em eleições. A série de entrevistas recebeu inúmeros elogios. Alberto Dines, em artigo divulgado no site do Observatório da Imprensa, afirmou que elas mostraram que “o jornalismo político pode ser conduzido sem veemências, a serviço do esclarecimento”. O jornalista disse ainda que a série já era “uma referência no vasto painel das responsabilidades sociais que a televisão pode assumir, seja ela pública ou privada, aberta ou paga”.
A rodada de entrevistas prosseguiu, primeiro no Jornal da Globo, com Ana Paula Padrão, e depois no Bom Dia Brasil, com Renato Machado e Miriam Leitão. A estrutura era a mesma, mas como eram realizadas em períodos diferentes da campanha eleitoral, a Globo pôde inquirir os candidatos nas diversas fases, dando ao eleitor a oportunidade de esclarecer fatos que, por vezes, se perdem no meio de tantas notícias.
No Jornal Nacional houve uma segunda rodada de entrevistas entre os dias 23 e 26 de setembro. Os candidatos tiveram 20 minutos para expor suas ideias e responder as perguntas feitas por Bonner e Fátima e pelo público, que pôde participar através da internet. Novamente a ordem das entrevistas foi decidida por sorteio: Ciro Gomes foi o primeiro, seguido por José Serra, Anthony Garotinho e Lula.
O DEBATE
“A democracia tem um encontro marcado esta noite. São quatro candidatos e um destino: a Presidência da República.” Assim a apresentadora Fátima Bernardes abriu o Jornal Nacional do dia 3 de outubro. No último dia oficial da campanha para o primeiro turno das eleições, a Globo realizou um debate entre os quatro principais candidatos à Presidência, exibido ao vivo logo depois da novela Esperança, a partir das 22h. Naquela noite, Bonner – o mediador do debate – ancorou o JN direto do estúdio da Central Globo de Produção (CGP), em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. De lá, ele mostrou o cenário onde aconteceria mais tarde o encontro entre os presidenciáveis e deu uma breve explicação sobre as regras. Mais de 120 jornalistas do Brasil e do mundo tinham sido credenciados para acompanhar aquele último encontro dos candidatos a presidente da República antes das eleições.
O debate teve uma duração aproximada de duas horas e meia e foi dividido em cinco blocos – quatro dedicados à discussão sobre os diferentes programas de governo e o último para considerações finais. Houve blocos com temas livres, nos quais os candidatos escolheram as questões que desejavam discutir, e blocos com temas determinados, em que o mediador sorteou o assunto. Nas duas situações, Bonner sorteava o candidato, que por sua vez escolhia a quem perguntar e formulava a questão. Os participantes também responderam perguntas complementares feitas pelo mediador.
No dia seguinte, o Jornal Nacional apresentou uma reportagem de Pedro Bial sobre os bastidores do encontro. Nenhum trecho do debate foi exibido. Depois de ouvir a opinião dos quatro presidenciáveis sobre a noite anterior, Bonner concluiu: “O debate produziu pelo menos uma unanimidade: candidatos, assessores, jornalistas, radialistas, espectadores sabiam que ontem à noite estava se escrevendo a história do Brasil.”
William Bonner ancora o Jornal Nacional do estúdio da Central Globo de Produção, local onde ocorreu, momentos depois, o debate dos candidatos à Presidência da República no primeiro turno das Eleições 2002, 03/10/2002.
DIA DA VOTAÇÃO
No dia das eleições, 6 de outubro, a equipe de jornalismo da Globo trabalhou intensamente. Desde as 8h, quando começou a votação, até o término da apuração, a emissora acompanhou a movimentação eleitoral no país através de flashes ao vivo de todas as capitais.
Três boletins especiais foram apresentados durante o dia. No primeiro, às 8h, Renato Machado e Leilane Neubarth mostraram o início da votação no Brasil. Às 17h, Alexandre Garcia e Franklin Martins apresentaram os resultados das pesquisas de boca de urna do Ibope e as tendências para o novo quadro político. No último boletim, exibido às 18h, foram mostrados os primeiros números da apuração das urnas.
Durante todo o Fantástico daquele dia, o telespectador pôde acompanhar a contagem dos votos na disputa pela Presidência. De cinco em cinco minutos, apareciam na tela os números da apuração. Quando eles eram atualizados, um sinal sonoro anunciava as mudanças. Depois que o Fantástico saiu do ar, boletins especiais mantinham o telespectador informado, com os números oficiais da contagem dos votos em todo o Brasil.
Quando o Jornal Nacional foi ao ar no dia 7 de outubro, 99% das urnas em todo o país já tinham sido apuradas. De acordo com os números, Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra disputariam o segundo turno da eleição para presidente. Naquela noite, os dois candidatos deram entrevistas ao vivo ao JN sobre os rumos que suas campanhas tomariam a partir de então. Lula foi entrevistado por Carlos Dornelles no Comitê Nacional do PT, em São Paulo, e Serra conversou com William Waack na produtora onde o candidato gravava seus programas eleitorais.
SEGUNDO TURNO
A partir de 8 de outubro, o Jornal Nacional passou a acompanhar o dia-a-dia da campanha dos dois candidatos ao segundo turno das eleições presidenciais em diversos estados do país. Nos dias 17 e 18 de outubro, Lula e José Serra deram novamente entrevistas, ao vivo, no Jornal Nacional. Daquela vez, entretanto, os candidatos conversaram com Fátima Bernardes e William Bonner diretamente das cidades onde estavam. As entrevistas duraram sete minutos cada.
No dia da votação, a emissora acompanhou com flashes ao vivo a movimentação em todo o país. Assim que se fecharam as urnas, foram apresentados no programa Boca de Urna os primeiros números da pesquisa realizada pelo Ibope. Como no primeiro turno das eleições, o Fantástico acompanhou a apuração dos votos, apresentando durante todo o programa o resultado parcial da votação.
UM DEBATE DIFERENTE
Dois dias antes do segundo turno das eleições, em 25 de outubro, a Globo realizou o último debate entre os dois candidatos. O modelo do encontro foi inspirado no debate final que se costuma realizar nas campanhas presidenciais norte-americanas. “Para preparar a cobertura das eleições, eu assisti aos debates realizados aqui no Brasil em eleições anteriores e a debates realizados ao redor do mundo. Eu me lembrava de um debate entre Bush e Al Gore, o último da campanha de 2000. Tinha na lembrança que eles ficavam numa arena e podiam se movimentar livremente. Pedi as fitas ao escritório de Nova York e assisti a tudo novamente. Tudo isso meses antes, talvez em fevereiro. E me fixei naquele modelo de arena. Schroder aprovou e, depois, João Roberto também concordou. Faltava apenas convencer os candidatos”, lembra Ali.
Do debate americano, três coisas foram aproveitadas: a arena, a possibilidade de os candidatos se movimentarem livremente e a plateia que fazia perguntas. “Mas a gente tropicalizou tudo aqui. Tivemos a ideia de pôr na plateia eleitores indecisos, escolhidos pelo Ibope, com auditoria da Price Waterhouse Coopers”, conta Schroder.
O debate – exibido ao vivo, com aproximadamente duas horas de duração – foi dividido em cinco blocos. Nos quatro primeiros, Lula e Serra responderam juntos a um total de 16 perguntas sobre temas de interesse da população, e, no último bloco, cada participante teve dois minutos para fazer suas considerações finais. Não houve pergunta de candidato para candidato – as próprias respostas eram usadas para provocar a reação do adversário. Bonner foi novamente o mediador e, assim como na primeira vez, fez perguntas complementares sempre que julgou necessário. Como previsto, os dois candidatos se movimentaram livremente pela arena, e seus movimentos eram captados por várias câmeras. Assim, enquanto Serra falava, Lula poderia se aproximar bem dele para encará-lo ou vice-versa. No fim do debate, os dois candidatos deram entrevistas coletivas e fizeram questão de dizer que o modelo era vitorioso.
Os bastidores do encontro foram mostrados no Jornal Nacional do dia seguinte, numa reportagem de Pedro Bial. Naquela edição do telejornal também foram apresentados os últimos números da pesquisa do Ibope encomendada pela Globo e realizada logo após o debate. De acordo com o Ibope, Lula teria 62% dos votos válidos, enquanto Serra, 38%. Além do tradicional “boa noite”, Bonner encerrou o JN desejando um bom voto aos telespectadores.
PRESIDENTE ELEITO NA BANCADA DO JN
Em 27 de outubro, Lula já tinha concedido uma pequena entrevista ao Fantástico, a primeira depois de eleito. Mas, muito tempo antes, tanto ele quanto Serra tinham se comprometido a dar uma entrevista ao Jornal Nacional no dia seguinte à eleição.
No dia seguinte, Fátima Bernardes anunciou: “A primeira edição do Jornal Nacional depois da maior eleição da história do Brasil vai ser especial.” E foi. Com o presidente eleito sentado ao seu lado na bancada, William Bonner apresentou o JN direto de São Paulo.
William Bonner entrevista o Presidente eleito em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, na bancada do Jornal Nacional, 28/10/2002.
Durante o telejornal, Lula foi entrevistado pelo próprio Bonner e por Fátima Bernardes, que fazia perguntas do estúdio no Rio de Janeiro. Ele avaliou o resultado do pleito – Lula foi o presidente mais votado da história do Brasil, com 61,27% dos votos válidos, o equivalente a mais de 52.790.000 votos – e falou sobre o futuro do país. Apesar das insistências dos entrevistadores, não quis adiantar nomes de sua futura equipe. No encerramento, foi apresentado um clipe em sua homenagem, com imagens das eleições ao som do Hino Nacional. Quando acabou o telejornal, todos da redação aplaudiram e foram cumprimentar o presidente eleito.
A história dessa entrevista é um capítulo à parte. Ali Kamel conta como foi: “Durante todo o dia, tentamos obter a confirmação de que Lula iria ao estúdio em São Paulo, para onde o Bonner e eu nos deslocáramos. Sem sucesso. A assessoria e o presidente eleito descansavam dos dias anteriores. Deixamos dois esquemas prontos: um com Lula, outro sem Lula. Uma hora antes de o jornal ir ao ar, no entanto, a assessoria confirmou que o presidente eleito iria ao estúdio. Para não se atrasar, ele foi de helicóptero. A ideia era ele participar dos minutos iniciais e depois ir embora. Mas Lula estava de excelente humor, assim como seus assessores. Eu disse a ele para participar o quanto quisesse, mas Lula nem ouviu direito. Sentou na bancada e curtiu o Jornal Nacional, de uma maneira bem participativa. Respondeu as perguntas, comentou as reportagens e ficou até o fim. Foi um JN para entrar para a História”.
O DIA DA POSSE
Trecho da edição especial do Jornal Nacional, dedicado à posse do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, 01/01/2003.
A Globo preparou uma cobertura especial para a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Flashes ao vivo, direto de Brasília, com detalhes da cerimônia começaram a ser apresentado às 6h30. O jornalista Carlos Nascimento assumiu a cobertura a partir das 10h, ficando no ar até o término do Jornal Hoje, ancorado direto do Distrito Federal. Durante a tarde – até as 18h –, a emissora mostrou, ao vivo, a posse do presidente e sua equipe. Os comentários ficaram por conta dos jornalistas Alexandre Garcia e Franklin Martins.
O Jornal Nacional no dia da posse teve uma edição especial, com William Bonner em Brasília e Fátima Bernardes no Rio de Janeiro. As reportagens abordavam diferentes aspectos da cerimônia de posse. O repórter Alberto Gaspar, por exemplo, acompanhou uma caravana que saiu do sindicato dos metalúrgicos no ABC paulista em direção a Brasília. Marcelo Canellas assistiu à passagem de ano ao lado de Lula e registrou de perto o primeiro dia do novo presidente. No seu encerramento, o JN fez uma homenagem a Lula, exibindo um clipe com imagens daquele dia, ao som da música Meu País, da dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
No seu discurso de posse, Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu como principal meta do seu governo o combate à fome. Um Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar, sob o comando do ministro José Graziano, foi criado especialmente para implementar o programa social Fome Zero, um conjunto de iniciativas e de ações emergenciais para a distribuição de alimentos e para, a médio prazo, desenvolver a formação profissional e diminuir a pobreza.
FONTES
MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional – a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004. |