Eleições Americanas - 2008

Em novembro de 2008, os Estados Unidos elegeram como Presidente da República Barack Obama, o primeiro negro a ocupar o cargo.

Por Memória Globo


Em 4 novembro de 2008, os americanos foram às urnas para escolher o novo presidente dos Estados Unidos, o sucessor de George W. Bush, há oito anos no poder. As eleições, que tiveram recorde de participação, foram marcadas pelo fenômeno Barack Obama. Já nas prévias do Partido Democrata, o senador, que então disputava a nomeação com Hillary Clinton, mobilizou eleitores de todo o país, principalmente os jovens, que tiveram papel decisivo no resultado. Em seguida, a disputa com John McCain, o candidato republicano, foi acirrada. Mas Obama venceu, tornando-se o primeiro presidente negro da maior potência mundial. Era o início de uma nova era.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a cobertura da Eleição de Barack Obama em 2008, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

EQUIPE E ESTRUTURA

A cobertura das eleições norte-americanas de 2008 começou em janeiro, com o início das prévias dos partidos Republicano e Democrata, e só terminou um ano depois, quando o presidente eleito, Barack Obama, tomou posse.

O planejamento da cobertura foi centralizado por Ali Kamel, na época diretor executivo da Central Globo de Jornalismo, pelo escritório de Nova York, então chefiado por César Seabra, e pelas jornalistas Teresa Cavalleiro e Maria Thereza Pinheiro.

Assim como acontecera quatro anos antes, quando George W. Bush se reelegera, as equipes dos escritórios de Nova York e Washington acompanharam as campanhas, os debates, os comícios e as convenções dos dois partidos. Também produziram séries de reportagens sobre o tema. “Nossa função era mostrar direito o que estava por trás da eleição norte-americana, porque isso era a história berrando loucamente”, comenta William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional. Ainda como parte da cobertura das eleições, durante três dias, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo foram ancorados direto de Washington.

Para reforçar o time de correspondentes, Pedro Bial foi enviado aos Estados Unidos. O jornalista estreou como comentarista do Jornal da Globo em 7 de outubro de 2008. O assunto foi o segundo debate entre os candidatos John McCain e Barack Obama.

Erick Brêtas, na época editor-chefe do Jornal da Globo, ressalta que o telejornal deu grande destaque em seu noticiário àquelas eleições norte-americanas: “A eleição do Obama foi muito rica do ponto de vista da utilização das redes sociais, da arrecadação de campanha, dos vídeos virais da internet. Então, além de cobrirmos a eleição propriamente dita, as prévias, os deslocamentos, os discursos, também cobrimos a maneira nova de eleição que os americanos estavam fazendo. Há um clipe que foi uma mania, uma febre nos Estados Unidos, o I’ve Got a Crush for Obama. A Obama Girl foi a sensação entre a molecada de 16, 17 anos. E a gente descobriu o vídeo e colocou no Jornal da Globo”.

Nas vésperas da votação, correspondentes da Globo viajaram para diferentes estados norte-americanos com o objetivo de fazer uma cobertura mais ampla das eleições. Pedro Bial foi para a Flórida, estado decisivo para o resultado final; Rodrigo Alvarez viajou para a Califórnia, o estado mais populoso e mais importante na eleição; Giuliana Morrone ficou no Arizona, base política de John McCain; Luís Fernando Silva Pinto foi para Chicago; e Roberto Kovalick e Lilia Teles ficaram em Nova York.

PRÉVIAS DEMOCRATAS E REPUBLICANAS

Em janeiro tiveram início as prévias eleitorais, que indicariam os candidatos dos dois principais partidos dos Estados Unidos que disputariam a Presidência em novembro. Entre os oito democratas, os senadores Hillary Clinton e Barack Obama lideravam a disputa. Mike Huckabee, John McCain, Mitt Romney e Rudolph Giuliani eram os principais pré-candidatos do Partido Republicano.

A TV Globo cobriu a disputa em cada um dos 50 estados norte-americanos, muitas vezes enviando seus correspondentes para acompanhar os comícios e os debates entre os pré-candidatos. “Começamos a cobrir a campanha dos candidatos muito do começo mesmo. No início, nas prévias, não havia muita imprensa estrangeira. Muitas vezes, apenas a TV Globo estava lá”, conta Giuliana Morrone.

Em março, John McCain garantiu sua vaga na disputa presidencial, enquanto Hillary Clinton e Barack Obama continuavam numa acirrada disputa, como mostrou a reportagem de Luís Fernando Silva Pinto exibida no Jornal Nacional no dia 5 daquele mês.

Reportagem de Luís Fernando Silva Pinto sobre o discurso de Barack Obama no encerramento da convenção democrata, Jornal Nacional, 29/08/2008.

Em maio, os correspondentes Lilia Telles e Sherman Costa acompanharam John McCain em uma de suas viagens de campanha. Em apenas um dia, o candidato republicano visitou três estados – Ohio, Iowa e Colorado –, onde participou de conferências, fez discursos e deu entrevistas coletivas. A equipe da TV Globo e os demais jornalistas viajaram no mesmo avião do senador. “Passamos por três estados diferentes no mesmo dia. Pegamos calor numa cidade, neve na outra. No final, teve uma coletiva de imprensa. Lá é o entrevistado que escolhe quem vai falar. Todos os repórteres ficam sentados, esperando. Ele me escolheu e fiz uma pergunta sobre o biodiesel, que é uma questão de muita divergência nos EUA, principalmente em relação ao nosso etanol. E ele respondeu”, relembra Lilia Teles.

Em 3 de junho, após conseguir o número suficiente de representantes do partido, Barack Obama anunciou que seria o candidato democrata às eleições presidenciais de novembro. Luís Fernando Silva Pinto acompanhou o discurso histórico de Obama em St. Paul, Minessota.

Quatro dias depois, Hillary Clinton anunciou o fim de sua campanha à presidência dos Estados Unidos e declarou apoio a Barack Obama. O discurso da senadora em Washington também foi acompanhado por Luís Fernando Silva Pinto. O repórter entrou ao vivo no JN daquela noite, direto da capital norte-americana.

A indicação oficial de Barack Obama como candidato democrata aconteceu durante a convenção do partido em Denver, no Colorado, no final de agosto. Luís Fernando Silva Pinto acompanhou os quatro dias em que os delegados democratas se reuniram para formalizar a candidatura do senador. Um dos momentos mais emocionantes foi o discurso de Obama no encerramento da convenção. Inspirado por Martin Luther King, ele falou para 75 mil pessoas, como mostrou o Jornal Nacional de 29 de agosto.

Em setembro foi a vez Partido Republicano oficializar a candidatura de John McCain e da candidata a vice-presidência Sarah Palin, então governadora do Alaska. Jorge Pontual e Giuliana Morrone viajaram para St. Paul, em Minessota, para cobrir a convenção republicana, que teve seu início adiado por conta da passagem do furacão Gustav pela região.

Com os nomes de Barack Obama e John McCain oficializados pelos partidos, Giuliana Morrone passou a acompanhar de perto a campanha do candidato republicano, enquanto Luís Fernando Silva Pinto seguia os passos do democrata. “Eu fui a tantos comícios do McCain que cheguei ao ponto de saber de cor, inteirinho, o discurso da mulher do senador”, relembra Giuliana Morrone.

SÉRIES JORNALÍSTICAS

Em outubro, o Bom Dia Brasil, o Jornal Hoje, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo exibiram séries de reportagens abordando diferentes aspectos das eleições norte-americanas que aconteceriam no mês seguinte.

Roberto Kovalick e o repórter cinematográfico Luiz Claudio Azevedo foram à Flórida, onde produziram uma série de reportagens, exibidas pelo Bom Dia Brasil, sobre como os americanos e os estrangeiros daquele estado votavam. “Eu sugeri que a gente fosse à Flórida para fazer uma série para o Bom Dia Brasil, mostrando um pouco de crise econômica e a questão dos estrangeiros, brasileiros e cubanos. A Flórida tinha sido decisiva na primeira eleição do Bush”, conta Roberto Kovalick.

Os jovens norte-americanos foram o tema da série exibida pelo Jornal Hoje. As reportagens de Roberto Kovalick, Lilia Teles, Jorge Pontual e Giuliana Morrone mostraram o que esses eleitores, que desempenharam importante papel durante toda a campanha, esperavam do próximo ocupante da Casa Branca e as ferramentas utilizadas por McCain e Obama para se comunicar com eles.

O JN deu destaque aos desafios que o sucessor de Bush encontraria pela frente, como a crise econômica, a questão da imigração ilegal e a guerra no Oriente Médio. Nas duas últimas reportagens da série, o telejornal acompanhou os candidatos em campanha durante três dias. Os correspondentes Luís Fernando Silva Pinto e Orlando Moreira mostraram os comícios de Barack Obama em três diferentes estados: Colorado, Nevada e Pensilvânia. Já os repórteres Giuliana Morrone e Sherman Costa percorreram os estados de Novo México, Ohio e Pensilvânia para cobrir os últimos esforços de John McCain para conquistar os eleitores indecisos. “No fim”, conta Giuliana Morrone, “o McCain sabia que não tinha chance. Eu me lembro de um comício em Albuquerque que parecia reunião de condomínio, com pouquíssima gente. Enquanto no comício do Obama era aquela multidão, aquela emoção”.

Na terceira reportagem da série "Americanos", sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos, os repórteres Rodrigo Alvarez e Sergio Telles chegam a Chicago, cidade onde Barack Obama tem mais votos, e examinam o comportamento dos eleitores americanos muçulmanos. Jornal da Globo, 29/10/2008.

Quinta e última reportagem da série "Americanos", de Rodrigo Alvarez, sobre a região dos Estados Unidos conhecida como "Cinturão da Bíblia", dias antes das eleições presidenciais norte-americanas, Jornal da Globo, 31/10/2008.

A série Americanos, exibida pelo Jornal da Globo, procurou mostrar o que os cidadãos norte-americanos esperavam do próximo presidente. Para a realização das reportagens, Rodrigo Alvarez e o repórter cinematográfico Sergio Telles percorreram 18 estados, partindo da Califórina. “O objetivo era mostrar o que os americanos de diferentes regiões pensavam sobre as eleições e não uma pesquisa sobre a intenção de voto. Nós perguntávamos o que eles esperavam do próximo presidente. Fomos à cidade natal de Obama, fomos ao Mississipi, Alabama, Arizona. Conversamos com o americano mais interiorano, mais caipira, mas também ouvimos os moradores das capitais. Foi interessante porque a saímos sem pauta, sem nenhuma entrevista marcada. E, ao contrário do que normalmente fazemos, não ouvimos especialista ou autoridade nenhuma. Só queríamos ouvir o americano comum”, explica Alvarez.

Foi uma “road série”, como classificaria Erick Brêtas, na época editor-chefe do Jornal da Globo: “A equipe pegou um carro na costa oeste e foi até a costa leste, contando a história do país e as questões que estavam em evidência naquela eleição. Passou pela fazenda do agricultor que tinha subsídio para produzir milho, foi para o lugar onde estavam autorizando novas escavações de petróleo”.

Como a ideia era buscar uma linguagem de documentário, as entrevistas eram, na verdade, conversas. “Nunca começava, nem terminava a entrevista. Ninguém sabia de antemão que estava fazendo parte de uma matéria para a TV Globo. Essa foi a nossa proposta: ouvir sem ser notado, sem chamar a atenção”, complementa Rodrigo Alvarez.

DIRETO DE WASHINGTON

A partir de 3 de novembro, e durante três noites, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo foram ancorados por William Bonner e William Waack, respectivamente, direto de Washington. As eleições norte-americanas ganharam ampla cobertura dos dois telejornais naqueles dias. De diferentes pontos dos EUA, os correspondentes da TV Globo falaram sobre os candidatos e a expectativa da população na véspera de ir às urnas.

Naquela noite, o Jornal Nacional exibiu reportagem de Luís Fernando Silva Pinto que estava em Chicago, cidade de Barack Obama e local onde o candidato que liderava as pesquisas faria seu primeiro discurso após a vitória. Em Phoenix, no Arizona, estado de John McCain, Giuliana Morrone acompanhou a reta final da campanha do candidato republicano. Pedro Bial estava em Miami, na Flórida, estado que decidira as eleições anteriores. Em sua reportagem, o correspondente mostrou as histórias de vida de Obama e McCain. De São Francisco, Rodrigo Alvarez mostrou como estava a disputa no estado da Califórnia, outro importante colégio eleitoral. De Nova York, Lilia Teles relatou os problemas que algumas urnas já apresentavam nos estados onde acontecia a votação antecipada, e Roberto Kovalick destacou o aumento da participação dos jovens naquelas eleições. O JN também apresentou uma reportagem de William Bonner que explicava o funcionamento do sistema eleitoral norte-americano.

Enviado especial Pedro Bial estreia como comentarista das eleições presidenciais nos Estados Unidos pelo Jornal da Globo, 07/10/2008.

Escalada do Jornal Nacional mostra os correspondentes da Globo em vários estados americanos na véspera das eleições presidenciais, Jornal Nacional, 03/11/2008.

O ÚLTIMO COMÍCIO DE BARACK OBAMA

Em 3 de novembro, logo após a exibição do Jornal Nacional, William Bonner, Ali Kamel, o repórter cinematográfico Márcio Capuchinho e uma produtora seguiram para Manassas, cidade próxima à capital federal, onde Barack Obama faria seu último comício antes das eleições. Apesar do engarrafamento – e graças ao produtor David Presas, que viajara na frente para garantir um bom lugar – a equipe chegou a tempo de assistir a um dos momentos mais emocionantes da campanha democrata.

“Imaginem 80 mil pessoas querendo ver o último comício do Obama, que era o candidato das multidões. O trânsito estava completamente parado, levamos três horas e pouco para chegar ao local. A certa altura, a equipe teve vontade de desistir. Foi quando eu disse que ia a pé. Desci do carro e perguntei ao guarda se estávamos distantes do comício. Ele respondeu que estávamos a uma milha e meia da entrada. Peguei o rádio e pedi ao Bonner que ele e a equipe descessem do carro, pois seguiríamos a pé. Eu carreguei a câmera para o Márcio. Bonner quis ajudar, mas ele não podia carregar peso e depois aparecer suado. Corremos, literalmente. Foi mais de uma milha e meia, o guarda sempre erra. E fomos quase os últimos a chegar, o que acabou sendo uma vantagem, porque não tivemos muito problema na inspeção de equipamentos. Quando chegamos, fomos direto para onde estava o David. E era assim, de frente para o gol mesmo. Bonner ficou a pouquíssimos metros do púlpito. E, graças a Deus, Obama também se atrasou. Foi um momento bonito, histórico. Eu estava completamente encantando – o termo é esse mesmo – com o que Obama representaria para civilização mundial. Um presidente negro numa nação que só em 1964 conseguiu aprovar a lei dos direitos civis”, conta Ali Kamel.

Dois dias antes, Bonner acompanhara o comício de John McCain em Springfield, também no estado de Virgínia. O âncora relatou suas impressões no Jornal Nacional de 4 de novembro, dia da eleição.

Reportagem de William Bonner sobre o último comício do candidato presidencial americano Barack Obama e a saída do presidente George W. Bush da Casa Branca, Jornal Nacional, 04/11/2008.

O repórter Jorge Pontual entrevista Ann Cooper, eleitora de Barack Obama que foi escolhida como personagem do discurso de vitória do presidente e virou símbolo da campanha presidencial. Jornal Nacional, 07/11/2008.

JOE, THE PLUMBER

Samuel Joseph Wurzelbacher – ou Joe the Plumber – ganhou notoriedade após perguntar a Barack Obama sobre sua política de impostos para o pequeno empresário, durante uma das passagens do candidato democrata por Ohio. Conservador, o encanador logo se transformou num personagem da campanha de John McCain e Sarah Palin, participando de diversos comícios dos republicanos.

William Waack e o cinegrafista Marco Antonio Gonçalves resolveram encontrar esse personagem , que representava o americano médio, para tentar entender quais eram os sonhos e os medos daquela sociedade. Os dois percorreram o estado de Ohio, região importante na disputa presidencial norte-americana. “Nós fomos atrás de um personagem fictício que desempenhava um papel importante na briga política entre os dois candidatos, que era o Joe ‘o Encanador’. Nós saímos atrás dele para não encontrá-lo, porque ele não existe. Joe the Plumber é uma ficção, é este americano de nível médio, branco, que está ameaçado pelo mundo atual, pela globalização. E aí descobrimos uma sociedade partida pelo medo, medo que está se realizando, de que as atuais gerações viverão pior do que as gerações que as precederam. Isso é absolutamente novo para sociedade americana. Esse foi o foco da nossa reportagem. Essa caçada ao Joe the Plumber foi a melhor matéria que fiz lá, na minha avaliação”, conta Waack.

O DIA D

Em 4 de novembro, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo dedicaram a maior parte de seu noticiário às eleições nos Estados Unidos. Os correspondentes acompanharam a votação e o início da apuração nos diferentes estados americanos. Um número recorde de eleitores compareceu às urnas, e muitos enfrentaram horas de fila para escolherem seu candidato. As pesquisas apontavam a vitória de Barack Obama, mas alguns estados ainda não haviam encerrado a votação quando o Jornal Nacional chegou ao fim.

Com as urnas já fechadas em 40 estados, o Jornal da Globo deu destaque à apuração dos votos e às projeções feitas pelas redes de TV norte-americanas. Mas a vitória de Barack Obama foi confirmada apenas durante a madrugada. Tratava-se do primeiro presidente negro dos EUA. A programação da emissora foi interrompida por um plantão, que transmitiu, ao vivo, trechos do discurso de John McCain, no qual ele reconhecia sua derrota, e também da festa da vitória de Obama em Chicago.

A VITÓRIA DE BARACK OBAMA

A eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos foi destaque em todos os telejornais da emissora. Os correspondentes espalhados pelos diferentes estados daquele país mostraram a festa da vitória.

Roberto Kovalick se surpreendeu com a alegria que contagiou o nova-iorquino no dia em que foi confirmada a vitória de Obama. “Naquele dia, Nova York parecia tomada de uma felicidade como eu nunca vi em lugar nenhum. As pessoas cantavam no metrô, se abraçavam na rua, brancos e negros, parecia filme. E eu estava lá, no meio da Times Square, cobrindo isso. Essa reportagem foi extremamente marcante”, lembra.

Na abertura do Jornal Nacional de 5 de novembro, Fátima Bernardes ressaltou a importância daquele momento: “Existem dias em que o jornalismo registra fatos que, no futuro, serão contados nos livros – e serão guardados por gerações. Nesses dias, o que o jornalismo faz é escrever a História. É um capítulo da História que o Jornal Nacional começa a contar a partir de agora, ao vivo, de Washington, com William Bonner.”

Reportagem de Luís Fernando Silva Pinto sobre discurso da vitória de Barack Obama, Jornal Nacional, 05/11/2008.

Com uma edição dedicada à vitória de Barack Obama, o JN destacou o discurso emocionante que o presidente eleito fez para um público de 240 mil pessoas, em Chicago, acompanhado de perto pelo correspondente Luís Fernando Silva Pinto. A repercussão na Europa, no Oriente Médio, na Ásia, na África e na América do Sul também foi tema de diferentes reportagens.

No Jornal da Globo, William Waack fez uma análise sobre o que representava o resultado daquela eleição e os desafios que Obama teria pela frente. O jornalista conversou com o professor Riordan Roett, da John Hopkins University, especialista em política externa americana e América Latina, e afirmou que, assim como a queda do Muro de Berlim, a eleição de Obama era apenas o começo de uma nova fase. O telejornal encerrou com um clipe de imagens da campanha e da vitória do candidato democrata ao som da música Beautiful Day, da banda irlandesa U2.

A AVÓ DE BARACK OBAMA

A semana da posse foi marcada por reportagens sobre Barack Obama e também sobre os preparativos para o grande dia. O fim do governo de oito anos de George W. Bush e as heranças deixadas pelo presidente – como a grave crise econômica e a guerras – também foram tema de algumas matérias.

O Jornal Hoje, por exemplo, exibiu a série de reportagens Quênia, as Raízes de Obama, realizada pelos repórteres Ernesto Paglia e Rogério Rocha. Os dois foram à África para mostrar o que o continente esperava do novo presidente norte-americano, filho e neto de quenianos. A equipe visitou a tribo dos guerreiros Massai e o Parque Nacional de Naukuro, conheceu Kogelo, cidade da família Obama, e mostrou a destruição do país após a guerra civil do ano anterior. Ernesto Paglia e Rogério Rocha fizeram ainda uma entrevista exclusiva com a avó e com o tio de Barack Obama.

Segunda reportagem de Ernesto Paglia e Rogério Rocha sobre as origens quenianas do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Jornal Hoje, 20/01/2009.

“A intenção era visitar a avó do Obama. Mas, estando em um país tão interessante como o Quênia, seria um desperdício não gastar mais alguns dias ali e fazer algumas outras coisas. Foi uma alegria imensa, porque eu saí do Brasil com todos os sinais de que esse encontro não iria acontecer. Todos os sinais eram de que a família não iria receber mais ninguém. Eles haviam sido muito assediados pela imprensa americana. Nesses casos, é preciso ter um pouco de sorte também. E eu acabei contratando um jovem produtor local, talentoso, e que por acaso tinha vínculos com a família Obama. Enquanto nós viajávamos, fomos fazendo algumas gravações, ele fazia contato por celular. Depois de uns três dias, ele marcou um encontro com o tio do Obama em um lugar estranho: no estacionamento de um supermercado. Eu falei: ‘Meu Deus do céu, o que nós vamos conversar com o tio do presidente dos Estados Unidos em um estacionamento de supermercado? Isso não está me parecendo sério’. Mas na hora do vamos ver, ele realmente nos apresentou ao tio. O cara estava viajando para a terra da mãe dele – no caso, a avó do Obama -, e aceitou uma carona nossa. Quando já estávamos na porta do sítio, pedimos para entrar, e quando vimos, estávamos ao lado da avó do presidente Barack Obama, sendo recebidos com muita simpatia. Foi tal alegria que eu mal me aguentava. Eu tinha vontade de dar pulos, dar um beijo na avó do presidente Obama. São sensações maravilhosas de conquista. É uma vitória sem derrotados”, conta Ernesto Paglia.

20 DE JANEIRO DE 2009 - DIA HISTÓRICO

“Você hoje vai ser testemunha de um capítulo importantíssimo da história mundial. Anote aí: às 13h, horário brasileiro de verão, o planeta vai parar. Barack Hussein Obama vai tomar posse.” Assim o apresentador Márcio Gomes abriu o Bom Dia Brasil de 20 de janeiro. O telejornal mostrou os preparativos para a cerimônia que aconteceria em poucas horas e a expectativa dos americanos para aquele tão aguardado momento .

Ao longo de todo o dia, foram exibidos flashes ao vivo direto de Washington, onde estavam os correspondentes Lilia Teles, Giuliana Morrone e Luís Fernando Silva Pinto. Apesar do frio, dois milhões de pessoas se reuniram em frente ao capitólio para assistir ao discurso de Barack Obama. Lilia Teles e Giuliana Morrone são unânimes ao afirmar que a posse do primeiro presidente negro dos EUA foi um dos momentos mais emocionantes de suas carreiras jornalísticas. “Lembro que saí do hotel às 3h. As ruas estavam interditadas, então fomos caminhando com aquela multidão, gente do mundo inteiro, que se dirigia para o centro de Washington. Eu fiquei muito emocionada com as pessoas que, mesmo com o frio cruel, queriam ficar ali”, lembra Giuliana.

Reportagem de Lília Teles sobre os eleitores de Obama que foram à Washington para comemorar a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Bom Dia Brasil, 20/01/2009.

A posse de Barack Obama e a festa ao redor do país também foram destaque nos principais telejornais da emissora. O Jornal Nacional exibiu os principais trechos do discurso de Barack Obama e disponibilizou em sua página na internet a tradução, na íntegra. De Nova York, Rodrigo Bocardi mostrou a cidade parada para assistir ao discurso de Obama pelo telão, e Rodrigo Alvarez falou sobre o desafio que o novo presidente encontraria assim que assumisse o cargo – atender às expectativas de seus eleitores. Ainda no Jornal Nacional daquela noite histórica, Sônia Bridi mostrou a repercussão na Europa e no Oriente Médio.

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Ali Kamel (26/03/2012), César Seabra (23/05/2011), Erick Brêtas (20/06/2011), Ernesto Paglia (24/05/2010), Giuliana Morrone (22/08/2012), Lilia Teles (10/09/2012), Luís Fernando Silva Pinto (26/03/2010), Roberto Kovalick (12/01/2012), Rodrigo Alvarez (19/06/2011), William Bonner (09/03/2009 e 23/03/2009), William Waack (21/03/2012); Bom Dia Brasil, 21-23/10/2008, 3-5/11/2008, 20/01/2009; Jornal da Globo, 15/01/2008, 03/06/2008, 28/08/2008, 3-4/09/2008, 07/10/2008, 16/10/2008, 27-31/10/2008, 3-5/11/2008, 20/01/2009; Jornal Hoje, 27-31/10/2008, 01/11/2008, 3-5/11/2008, 19-23/01/2009; Jornal Nacional, 03/01/2008, 05/03/2008, 06/05/2008, 04/06/2008, 07/06/2008, 27-31/10/2008, 01/11/2008, 3-5/11/2008, 20/01/2009.