Eleições americanas - 2004

George W. Bush foi reeleito presidente dos EUA com pouco mais de 50% dos votos populares e 53% do Colégio Eleitoral. O republicano derrotou o candidato democrata John Kerry.

Por Memória Globo


A primeira eleição de George W. Bush, em 2000, havia sido marcada pela suspeita de ilegitimidade nas apurações no estado da Flórida, onde os votos tiveram que ser recontados manualmente. Apesar de Al Gore, o candidato democrata, ter recebido mais votos, Bush foi declarado vencedor.

Seu primeiro mandato foi abalado pelos ataques terroristas aos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, e o início da guerra contra o Iraque, em 20 de março de 2003. No momento da reeleição, sua atuação no Iraque havia sido tão criticada que a vitória do democrata John Kerry era dada como certa. Mas Bush acabou conseguindo a maioria dos votos do Colégio Eleitoral em 2004.

O 43º presidente dos Estados Unidos é filho do ex-presidente George Bush (1989-1993). Formou-se em Harvard e, antes de conquistar a presidência, foi governador do Texas. 

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Entrevista exclusiva da jornalista Fátima Bernardes ao Memória Globo sobre as eleições americanas em 2004, a reeleição de George W. Bush.

EQUIPE E ESTRUTURA

A cobertura da Rede Globo contou com os seguintes enviados especiais e correspondentes nos Estados Unidos: Jorge Pontual, Luiz Carlos Azenha, Luís Fernando Silva Pinto, Heloísa Villela, William Waack e Cristina Serra.

“A gente conseguiu espalhar repórteres pelo país inteiro, para a cobertura de 2004. Tínhamos um repórter seguindo Bush, um seguindo John Kerry, um na Flórida, outros em Ohio, Nova York e Washington. Fizemos uma super cobertura legal. Cobrimos a eleição americana de uma forma diferenciada, inédita na TV Globo”, conta César Seabra, então coordenador do escritório da Rede Globo em Nova York.

Durante os dois meses que antecederam as eleições, a cobertura nos telejornais de rede foi diária.

Os enviados especiais William Waack, Luís Fernando Silva Pinto e Luiz Carlos Azenha acompanharam os três debates eleitorais e entraram ao vivo informando sobre as performances dos candidatos.

O correspondente Luiz Carlos Azenha realizou uma série de reportagens para o Jornal Nacionalchamada América Dividida. William Waack, enviado especial, idealizou e produziu a série Bush X Kerrypara o Jornal da Globo.

No dia anterior, assim como no dia das eleições, a apresentadora Fátima Bernardes ancorou o Jornal Nacional de Washington, enquanto William Bonner permaneceu no Rio de Janeiro.

DEBATES

Primeiro debate

William Waack acompanhou o primeiro debate na Universidade de Miami. No Jornal Nacional do dia 1º de outubro, ele noticiou que, segundo pesquisas de opinião, o candidato John Kerry havia se saído melhor.

“Essa foi uma experiência profissional que eu sempre quis ter vivido. As eleições americanas são interessantes porque todos os marqueteiros americanos têm uma grande formação. Não apenas o enquadramento de uma câmera, mas a criação de uma imagem. E a maneira como um candidato tenta, ao mesmo tempo, fazer a sua imagem e destruir a do adversário é uma técnica de marketing político que os americanos desenvolveram e foi muito estudada”, ressalta William Waack.

Quatro dias mais tarde, Luiz Carlos Azenha anunciou, de Columbus (Ohio), que o período de cadastramento para a votação havia sido encerrado nos Estados Unidos. Em 6 de outubro, Heloísa Villela, de Nova York, levou ao JN uma matéria sobre os outros doze concorrentes à presidência. Entre eles estava Ralph Nader, que ficou famoso por defender consumidores contra empresas gigantes. No dia seguinte, a correspondente em Nova York, Cristina Serra, anunciou o segundo debate, em Saint Louis (Missouri).

Segundo debate

No Jornal da Globo de 8 de outubro, logo após o debate entre George W. Bush e John Kerry, o correspondente Luís Fernando Silva Pinto, diretamente de Saint Louis: “Kerry mostrou um controle maior e um domínio de todas as nuances da política. Ele teria recebido aprovação de 44 % dos entrevistados e Bush, de 40%”. O correspondente contou ainda que a Guerra do Iraque foi o ponto mais explosivo do debate. “A segunda eleição do Bush, que foi inesperada, pois se esperava que ele não fosse ganhar, foi uma superprodução. A gente tinha correspondente em tudo quanto é lugar importante”, relembra Luís Fernando Silva Pinto.

No Jornal Nacional do dia 11 foi veiculada a primeira reportagem da série América Dividida, de Luiz Carlos Azenha. A matéria mostrou por que Ohio era o estado mais visitado durante a campanha. Para realizar as outras reportagens, o correspondente também visitou Michigan, Virgínia Ocidental, Pensilvânia e Nova Jersey – estados decisivos para a corrida à Casa Branca.

Debate dos indecisos

Jornal da Globo de 13 de outubro, pouco após seu término. Chico Pinheiro anunciou: “Vamos ao Arizona, de onde fala ao vivo o enviado especial da Rede Globo, Luiz Carlos Azenha. Quem levou a melhor esta noite?” O jornalista respondeu: “Pela primeira pesquisa, que acaba de ser divulgada pela rede americana, 42% dos entrevistados disseram que o democrata foi o melhor, e 41% disseram que foi o presidente George Bush. O debate foi morno e os candidatos repetiram muito do que já haviam dito”. Azenha completou a sua entrada ao vivo dizendo que uma pesquisa feita com os indecisos, antes do debate, mostrou que 11% gostariam que o presidente americano continuasse no poder, enquanto 40% achavam que era hora de mudar.

A cada nova edição, o Jornal Nacional seguiu cobrindo a campanha e o dia a dia dos candidatos. Os correspondentes Cristina Serra, Luís Fernando Silva Pinto, William Waack, Luiz Carlos Azenha, Heloísa Villela e Jorge Pontual viajaram para as cidades de Nova York, Washington, Lancaster e Filadélfia, de onde produziram matérias para os telejornais de rede e também entraram ao vivo.

SÉRIE ESPECIAL

Entre 25 e 29 de outubro foi ao ar, no Jornal da Globo¸ a série Bush X Kerry, de William Waack. “Eu fiz uma série para o Jornal da Globobaseada no refrão do rapper americano 50 Cent, que é ‘Get rich or die trying it’. Essa frase, para mim, e o entorno dela, era a chave para entender o pensamento americano: ‘Fique rico ou morra tentando’. Em cima desta frase eu construí as matérias. O sonho da chegada do imigrante e a possibilidade de alguém ficar rico ou morrer tentando é o que conduziu o raciocínio para entender o momento político americano, que acabou dando certo. O que decidiu a eleição americana de 2004 não foi Guerra do Iraque, foi a expectativa do eleitor americano de que, com o Bush, ele poderia ficar rico sem morrer”, comenta.

Em 26 de outubro, o Jornal Nacional anunciou, sobre a corrida à presidência: “A sete dias da eleição americana, os dois principais candidatos, George Bush e John Kerry, fazem campanha lado a lado, nos mesmos estados, em busca dos votos dos indecisos.”

Durante todo o mês de outubro, o Fantástico exibiu matérias sobre as eleições norte-americanas em suas edições. No dia 31, quando foi ao ar a última edição antes da votação, Glória Maria chamou uma matéria a respeito da disputa dos candidatos pelos 2% de eleitores indecisos, percentual que poderia definir as eleições.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Entrevista exclusiva do jornalista William Waack ao Memória Globo sobre as eleições americanas em 2004, a reeleição de George W. Bush.

A VÉSPERA

O Jornal Nacional de 1º de novembro foi parcialmente ancorado de Washington por Fátima Bernardes: “Seis e 20 da noite aqui em Washington. Eu estou no prédio da Câmara Americana de Comércio. Na verdade, eu estou no telhado deste prédio e não sou a única. Cada tenda dessas funciona como um pequeno estúdio com equipes de tevê da NHK, do Japão, da BBD, da Inglaterra, da Austrália, da Alemanha e da Americana CNN. E este lugar é tão disputado porque está exatamente de frente para a Casa Branca. É daqui que nós vamos falar, ao vivo, hoje e nos próximos dias.”

Fátima Bernardes apresenta o Jornal Nacional direto de Washington na cobertura das eleições americanas de 2004, 01/11/2004.

“Fomos eu e o Ali Kamel do Rio de Janeiro. E nos encontramos com a equipe que trabalha com o Luís Fernando Silva Pinto, correspondente nosso em Washington, produtores, câmera, um pessoal que ajudou muito. A gente alugou um espaço com vista para a Casa Branca para apresentar o jornal na segunda, terça e quarta-feira”, conta Fátima Bernardes.

Na véspera das eleições, dia 1º de novembro, o Jornal da Globo anunciou: “Nos Estados Unidos, tudo pronto para a eleição desta terça-feira. Com pesquisas registrando empate técnico, George Bush e John Kerry não querem desperdiçar um minuto: vão fazer campanha até de madrugada. Jorge Pontual, onde os candidatos estão nesse momento?” Em seguida, o correspondente entrou dizendo que as campanhas, na reta final, haviam se concentrado nos seis estados em que os resultados eram mais imprevisíveis. O jornalista também informou onde seriam as festas da vitória nos dois casos: a de Bush, em Washington; a do democrata Kerry, na biblioteca pública de Boston. Em seguida, foi exibida a série de William Waack, Bush X Kerry, com uma matéria sobre o perfil dos dois candidatos que, apesar de terem estudado na mesma universidade – Yale –, possuíam personalidades muito diferentes.

DIA DECISIVO

Escalada do Jornal Nacional com os correspondentes da Globo na cobertura das eleições presidenciais americanas de 2004, 02/11/2004.

Nota de Fátima Bernardes sobre o discurso da vitória de George Bush, Jornal Nacional, 03/11/2004.

No dia das eleições, Fátima Bernardes ancorou o Jornal Nacional novamente de Washington: “Nossos repórteres acompanham o voto dos principais candidatos. Você vai conhecer os resultados das últimas pesquisas eleitorais. E as diferenças de estilo entre as mulheres que podem ocupar o posto de primeira-dama”, disse a apresentadora. Em seguida, ela chamou os repórteres Luiz Carlos Azenha e Jorge Pontual, de Nova York; Heloísa Villela, de Cleveland (Ohio); Cristina Serra, de Miami (Flórida); Luís Fernando Silva Pinto, de Crawford (Texas); William Waack, de Boston (Massachusetts). Fátima Bernardes ainda fez um giro com outros correspondentes internacionais para saber da repercussão das eleições ao redor do mundo. Giuliana Morrone falou de Brasília; Ilze Scamparini, da Itália; Marcos Losekann, de Jerusalém; e Caco Barcellos, de Paris.

Ali Kamel relembra: “A gente mandou a Fátima para um ponto de vivo em frente à Casa Branca. Colamos um repórter no Kerry, um repórter no Bush e mandamos alguém para Ohio, que era o estado que os analistas, na ocasião, diziam que seria o fiel da balança. Mandamos um repórter pra Flórida (Miami), onde teria havido as fraudes em 2000; um para Boston, que era a cidade do Kerry; e um para o Texas, onde o Bush estava. E também para Nova York. No dia das eleições, a gente entrou ao vivo de todos esses cinco lugares. Foi uma cobertura bastante legal.”

“Um dia decisivo para o planeta. A superpotência do mundo foi às urnas para escolher seu novo presidente. As primeiras estimativas falam do comparecimento de cento e 25 milhões de eleitores, o mais alto da história dos EUA”, anunciou Ana Paula Padrão na abertura do Jornal da Globo de 2 de novembro. Até aquele momento, Bush levava a vantagem de 89 delegados contra 77 do democrata Kerry. Jorge Pontual falou, de Nova York, sobre o alto comparecimento dos norte-americanos à votação, recorde em 25 anos, desde a Guerra do Vietnã. Em seguida, entraram matérias dos correspondentes Luís Fernando Silva Pinto, que tinha acompanhado o dia do presidente americano no Texas, e William Waack, que cobria em Boston o candidato democrata Kerry. Ainda participaram desta edição do telejornal as repórteres Heloísa Villela, de Cleveland e Cristina Serra, da Flórida.

BUSH É REELEITO

O Jornal Nacional do dia seguinte às eleições abriu novamente de Washington, de onde Fátima Bernardes entrou ao vivo: “Neste 3 de novembro de 2004, os ocupantes daquela construção imponente, ali atrás, conquistaram o direito de continuar nela por mais quatro anos”, falou, referindo-se à Casa Branca. “George Bush conseguiu se manter na Casa Branca, na presidência dos Estados Unidos e no cargo mais poderoso da terra, com uma vitória dupla: no voto popular e no colégio eleitoral”, completou. Em seguida, foram exibidos trechos do discurso do presidente reeleito e todos os enviados da Globo aos Estados Unidos entraram ao vivo dos estados onde estavam.

Reportagem de William Waack sobre o discurso de John Kerry em reconhecimento de sua derrota nas eleições presidenciais americanas de 2004, Jornal Nacional, 03/11/2004.

“Na semana anterior à eleição, até a terça-feira, a gente fez uma cobertura superbacana. A Fátima chegou na segunda-feira a Washington e passou lá os dias mais quentes: segunda-feira, a véspera; terça-feira, a eleição; quarta e quinta-feira, o resultado e o discurso da vitória”, completa César Seabra, que na época coordenava o escritório da Globo em Nova York.

No Fantástico de 7 de novembro, a apresentadora Glória Maria questionou: “E agora, o que acontecerá na Casa Branca e no mundo nos próximos quatro anos? O presidente Bush prepara-se para o segundo mandato, fortalecido pela maior votação que um presidente já recebeu na história americana. Na agenda, o desafio número um é a pacificação do Iraque.” A matéria assinalou ainda que, apesar da América Latina não ter destaque na política externa de Bush, o Brasil era considerado estratégico.

Em 2005, a cobertura feita pelo Jornal Nacional foi indicada ao prêmio televisivo norte-americano Emmy, na categoria jornalismo internacional. César Seabra comenta: “A gente conseguiu fazer uma cobertura que disputou o Emmy do ano seguinte. A gente ficou entre os três finalistas. Foi uma coisa até chocante, ser escolhido para disputar o Emmy de Jornalismo em cobertura continuada com a eleição do Bush, no país deles.”

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Ali Kamel (21/05/2007), César Seabra (23/05/2011), Fátima Bernardes (7/5/2007), Luís Fernando Silva Pinto (26/03/2010) e William Waack (16/5/2007); Bom Dia Brasil (02/09/2004 a 05/11/2004); Fantástico (03/10/2004 a 11/11/2004); Jornal da Globo02/09/2004 a 05/11/2004); Jornal Hoje 02/09/2004 a 05/11/2004); Jornal Nacional 02/09/2004 a 05/11/2004).