Crise na Ucrânia

Uma crise política na Ucrânia leva à independência da Crimeia e sua anexação à Rússia, criando embargos internacionais e até mesmo o abate de um avião com 298 pessoas a bordo.

Por Memória Globo


Em novembro de 2013, Victor Yanucovich, presidente da Ucrânia, deixou de assinar um acordo comercial com a União Europeia para favorecer as relações do país com a Rússia. Em fevereiro de 2014, manifestantes locais tomaram a principal praça de Kiev, capital da Ucrânia, e foram fortemente reprimidos. Houve 77 mortes, o que levou o parlamento a votar o impeachment do presidente, que fugiu, e a instituir um governo de coalizão. Em março de 2014 um referendo popular aprovou a anexação da Crimeia, região sul da Ucrânia, à Rússia, acirrando conflitos entres separatistas pró-Rússia e nacionalistas ucranianos. A crise estendeu-se às relações diplomáticas russas com os EUA e a União Europeia, que impuseram sanções. Em julho do mesmo ano, um avião comercial da Malaysia Airlines foi abatido por um míssil operado por separatistas do leste da Ucrânia e militares russos, matando 298 civis.

Reportagem de Renato Machado mostra que a Ucrânia está dividida entre a aproximação com a União Europeia e a antiga proximidade com a Rússia, Jornal Nacional, 21/02/2014.

Reportagem de Roberto Kovalick e Sergio Gilz sobre a ameaça do governo da Ucrânia de punir os manifestantes que ocupam o centro de Kiev contra o presidente e o primeiro-ministro. Jornal Nacional, 04/12/2013.

Reportagem de Roberto Kovalick e Sergio Gilz sobre os protestos no centro de Kiev, onde milhares de pessoas enfrentam o frio para protestar contra o governo da Ucrânia. Jornal Nacional, 07/12/2013

Reportagem de Roberto Kovalick e Sergio Gilz sobre a tensão entre as forças de segurança da Ucrânia e os manifestantes que ocupam o centro de Kiev para pressionar o governo a promover maior integração com a União Europeia. Jornal Nacional, 09/12/2013.

Reportagem de Roberto Kovalick e Sergio Gilz sobre os confrontos entre policiais e os manifestantes que ocupam a Praça da Independência, em Kiev. Jornal Nacional, 11/12/2013

Reportagem de Cecília Malan na qual Vladimir Putin afirma que bases militares ucranianas não foram cercadas por forças russas, mas sim por forças locais, Jornal Nacional, 04/03/2014.

Reportagem de Renato Machado sobre a história e a origem dos conflitos na região da Crimeia, Jornal Nacional, 17/03/2014.

EQUIPE E ESTRUTURA

A cobertura da Globo contou com os correspondentes em Londres Roberto Kovalick, Renato Machado e Cecília Malan. Complementaram com repercussões locais os jornalistas André Luiz Azevedo (Lisboa), Luís Fernando Silva Pinto (Washington), e Júlio Mosquéra, Alan Severiano e Hélter Duarte (Nova York).

DIAS SANGRENTOS

Em 20 de fevereiro de 2014, o correspondente Roberto Kovalick informou, de Londres, que a União Europeia havia imposto punições ao governo da Ucrânia após mais de setenta pessoas terem sido mortas em confrontos na Praça da Independência. As imagens que se seguiram à matéria eram de guerra: policiais disparando com rifles automáticos contra opositores. A correspondente da GloboNews, Bianca Rothier, falou do saguão de um hotel na capital ucraniana que havia sido convertido em necrotério.

No dia seguinte, foi noticiado que o governo da Ucrânia havia cedido e assinado um acordo com a oposição para tentar por fim à crise de quase três meses na região. O acordo anteciparia as eleições previstas anteriormente para dezembro. No parlamento, uma moção limitando os poderes do presidente Victor Yanucovich foi assinada. Uma matéria de Renato Machado para o JN explicou que a Ucrânia, país espremido entre a Rússia e a União Europeia, estava dividido desde sua independência, em 1991; e que os conflitos daquela semana lembravam a Revolução Laranja de 2003, quando Yanucovich deixou o governo até ser reeleito em 2010.

Confrontos na Praça da Independência. Passa de 70 o número de mortos em batalhas na Ucrânia. Jornal Nacional, 20/02/2014.

IMPEACHMENT DO PRESIDENTE

Protestos que deixaram 77 mortos durante a semana do dia 22 de fevereiro na Ucrânia levaram o parlamento a destituir o presidente Victor Yanucovich e a marcar eleições para maio. De Londres, o correspondente Roberto Kovalick falou da incerteza sobre o futuro da Ucrânia. A ex-primeira ministra Iúlia Timochenko, presa quatro anos antes, acusada de abuso de poder, foi solta e anunciou sua candidatura às eleições. Na segunda seguinte, dia 24, o JN noticiou que o presidente deposto estava sendo acusado do assassinato em massa de 82 civis nas manifestações na semana anterior. Dois dias mais tarde, o envio de 150 mil soldados russos aumentou o clima de tensão na Ucrânia.

Já na escalada do JN de 27 de fevereiro, a apresentadora Patrícia Poeta anunciou que o presidente deposto da Ucrânia havia avisado que estava refugiado na Rússia. De Londres, Cecília Malan complementou a informação dizendo que Victor Yanukovich havia declarado que, apesar de refugiado, ainda se considerava o chefe de estado da região ucraniana e não reconhecia as ações do governo interino.

Presidente deposto da Ucrânia, Viktor Yanukovich é considerado foragido da Justiça, Jornal Nacional, 24/02/2014.

A apresentadora Patrícia Poeta noticia que o presidente deposto da Ucrânia havia avisado que estava refugiado na Rússia, Jornal Nacional, 27/02/2014.

TROPAS RUSSAS

“O parlamento russo aprova o envio de tropas para a Ucrânia. O novo governo ucraniano põe o exército em alerta nas ruas em manifestações contra e a favor da Rússia”, anunciou Carla Vilhena na escalada do JN de 1º de março. De Lisboa, André Luiz Azevedo falou sobre a divisão no país, em especial na região da Crimeia, para onde a Rússia havia enviado seis mil soldados contra o governo interino. A Otan, Aliança Militar do Ocidente, pediu à Rússia que aceitasse a soberania da Ucrânia. De Nova York, Júlio Mosquéra falou sobre a reação de Barack Obama à crise, que pediu ao presidente russo Vladimir Putin para retirar seus soldados e prevenir uma possível reação norte-americana.

Apesar da pressão dos EUA e da Comunidade Europeia, que mostrou seu apoio aos ucranianos, a Rússia intensificou a presença militar na península da Crimeia, conforme noticiado em 3 de março. Cecília Malan informou que a União Europeia estudava um embargo às armas de fabricação russa. A Rússia, por sua vez, havia dado um ultimato para a retirada das tropas ucranianas da Crimeia. O correspondente Alan Severiano trouxe as últimas notícias ao vivo de Nova York.

Durante a primeira semana de março, o Jornal Nacional cobriu com destaque os desdobramentos sobre a ocupação russa na Crimeia e a reação das potencias ocidentais. Em seu primeiro pronunciamento oficial, Vladimir Putin afirmou que as bases militares ucranianas não estavam sendo cercadas por forças russas, mas por forças locais. Mas que, se preciso fosse, usaria de força para proteger cidadãos russos em qualquer região de mundo.

O correspondente em Londres Renato Machado explicou em matéria de 4 de março, a importância estratégica da Ucrânia, que arrecada dinheiro para manter um gasoduto que atravessa suas terras. A Europa, que tem ¼ de seu abastecimento de gás natural distribuído pela Ucrânia, buscava medidas mais diplomáticas para resolver o conflito. Já a Rússia, que gera e comercializa o gás utilizando o território ucraniano para escoamento dos dutos, em duas ocasiões, em 2006 e 2009, cortou o abastecimento de gás por causa de uma aproximação entre a Ucrânia e a Europa. E poderia fazê-lo novamente em pleno inverno europeu, justamente quando o gás é usado para aquecimento. No dia seguinte, a União Europeia liberou uma ajuda de 11 bilhões de euros para a Ucrânia vencer a crise econômica e política.

REFERENDO E ANEXAÇÃO

Em 6 de março, o JN noticiou em primeira mão que o parlamento da região da Crimeia votou a favor de se tornar parte da Rússia, e não da Ucrânia. A partir daquele momento, as tropas ucranianas passaram a ser consideradas invasoras. Uma reportagem de Cecília Malan explicou que o posicionamento geográfico da Crimeia e do porto de Sebastopol é estratégico para a Rússia, já que liga o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo.

Um referendo popular realizado em 16 de março aprovou, por mais de 97%, a anexação da Crimeia à Rússia. Os EUA e os europeus responderam com fortes punições diplomáticas, como noticiado pelo correspondente Luís Fernando Silva Pinto, de Washington. O parlamento da Crimeia anunciou também a adoção do rublo russo e do horário de Moscou. Já o governo ucraniano autorizou uma trincheira e reforçou sua ocupação militar na fronteira, considerando o referendo inconstitucional por desrespeitar as leis nacionais. Uma reportagem de Renato Machado trouxe um pouco da história da região, ilustrando as raízes do conflito.

“O mundo se surpreende com o mais novo desafio de Putin. O presidente decide anexar a Crimeia ao território da Rússia. E faz um discurso com críticas ao ocidente”, anunciaram os apresentadores Patrícia Poeta e William Bonner na abertura do JN de 18 de março.

Durante todo o mês, o telejornal cobriu os desdobramentos diplomáticos, políticos e militares da crise. Movimentos separatistas começaram a aparecer em outras regiões, particularmente no leste da Ucrânia.

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O voo MH17 da Malasyan Airline, que partiu de Amsterdam com destino à Kuala Lumpur em 17 de julho de 2014, foi abatido por um míssil no leste da Ucrânia matando todos seus 298 ocupantes. A notícia ocupou o primeiro bloco do Jornal Nacional dos dias 17 e 18 de julho de 2014. Trechos de uma conversa entre possíveis rebeldes ucranianos e russos revelaram que o avião civil teria sido abatido por engano. O correspondente em Nova York, Hélter Duarte, explicou como um sistema sofisticado de mísseis operado com provável ajuda dos russos, o BUK, teria derrubado o avião. Já os russos culparam a Ucrânia por abrir seu espaço aéreo durante um conflito militar.

FONTES

Jornal Nacional 01/11/2013 a 20/07/2014