Em julho de 2013, o pedreiro Amarildo Dias de Souza, morador da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, desapareceu depois de ser levado por policiais militares à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local para prestar esclarecimentos. A família registrou o desaparecimento dele dois dias depois. Em outubro, após três meses de investigações, o Ministério Público denunciou 25 policiais militares pela morte de Amarildo. Treze tiveram prisão decretada. O julgamento começou em fevereiro de 2014 e ainda não foi concluído.
O caso mobilizou a sociedade civil que se organizou em apoio à família. Moradores da Rocinha promoveram atos cobrando do governo uma solução para o caso. A história de Amarildo de Souza ganhou repercussão internacional e tornou-se símbolo de casos de abuso e violência policiais.
Reportagem de Diego Haidar sobre manifestação de moradores da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo Dias de Souza. RJTV 1ª edição, 20/07/2013.
EQUIPE E ESTRUTURA
A Editoria Rio ficou à frente da cobertura. Desde o início, os telejornais locais deram amplo destaque ao caso, acompanhando as manifestações, os desdobramentos, as investigações e o julgamento, ainda não concluído. Conforme o fato foi ganhando repercussão, os telejornais de rede passaram a destacá-lo em seu noticiário, trazendo, muitas vezes, informações exclusivas.
PRIMEIRAS NOTÍCIAS
Amarildo de Souza foi visto pela última vez no dia 14 de julho, mas sua família só registrou queixa dois dias depois. O RJ2 destacou o protesto dos moradores da Rocinha que bloqueava o trânsito na autoestrada Lagoa-Barra, no Rio de Janeiro, no dia 17 de julho. A bordo do Globocop, Bette Lucchese informou que o ato era em função do desaparecimento de um morador da favela. Os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da região eram acusados pelo sumiço de Amarildo, como mostrou a reportagem de Eduardo Tchao no RJ1 de 20 de julho. Outros protestos aconteceram nas semanas seguintes, cobrando explicações das autoridades sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro.
Investigações
No dia 24 de julho, parentes de Amarildo foram recebidos pelo governador Sérgio Cabral. O caso estava sendo investigado pela 15ª DP, mas ainda não era considerado homicídio. No RJ1 daquele dia, Rodrigo Pimentel destacou o fato de a câmera de segurança que fica em frente à UPP da Rocinha estar quebrada na noite de 14 de julho. Na semana seguinte, a Globo teve acesso a documentos que mostravam que o equipamento apresentou problemas justamente no dia em que Amarildo desapareceu.
Reportagem de André Curvello sobre a reunião do governador Sérgio Cabral com parentes do pedreiro Amarildo Dias de Souza, morador da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, que desapareceu depois de ser levado pela polícia para prestar esclarecimentos. RJTV 1ª edição, 24/07/2013.
No dia 30, a polícia, que já trabalhava com a hipótese de Amarildo estar morto, realizou buscas para encontrar o corpo do pedreiro, como destacou a reportagem de Silvana Ramiro no RJ1. Oito policiais que estavam de plantão naquele domingo já tinham sido ouvidos na delegacia que investigava o caso. Quando o registro do desaparecimento de Amarildo completou 15 dias, o caso passou a ser responsabilidade da Delegacia de Homicídios. O Jornalismo da Globo continuou acompanhando as investigações. Os GPSs que ficam nos carros da polícia da UPP estavam sendo analisados, assim como as imagens das câmeras de segurança. Também foi colhido material dos filhos de Amarildo para exame de DNA. O objetivo era saber se o sangue encontrado em uma das viaturas era do pedreiro.
No dia 9 de agosto, o Jornal Nacional exibiu as imagens da câmera que ficava em frente a um dos postos da UPP da Rocinha. Nelas, Amarildo era visto entrando em um carro da PM que, segundo a polícia, o levara à sede no alto do morro. Em seguida, ele teria sido liberado.
Reportagem de Ana Carolina Raimundi sobre as investigações do caso Amarildo. Amarildo. RJTV 1ª edição, 31/07/2013.
INFORMAÇÕES EXCLUSIVAS
O Jornal Nacional mostrou com exclusividade o trajeto do carro que levara Amarildo no dia 14 de julho. O GPS de fato estava quebrado, como informara a polícia. Mas o Jornalismo da Globo descobriu que havia outro equipamento de localização ligado ao rádio da viatura, como mostrou a reportagem de Bette Lucchese no JN de 14 de agosto.
O telejornal também teve acesso ao depoimento do policial que dirigia o carro. Ele omitiu algumas informações do trajeto mostrado pelo GPS. Àquela altura, a DH, que investigava o caso havia duas semanas, trabalhava com duas hipóteses: Amarildo teria sido morto por policiais ou por traficantes.
A reportagem de André Curvello, no JN de 17 de agosto, revelou que, três meses antes do sumiço de Amarildo, dois jovens denunciaram à polícia terem sido espancados e ameaçados pelo mesmo policial militar que teria levado o pedreiro para averiguação.
Reportagem de Bette Luchese com informações exclusivas sobre o trajeto do carro da Polícia MIlitar que levara Amarildo da favela da Rocinha. Jornal Nacional, 14/08/2013.
Testemunhas
Dois meses após o sumiço de Amarildo, uma testemunha desmentiu seu depoimento no qual afirmava que o pedreiro havia sido morto por traficantes. Ela revelou que foi coagida pelo major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, a contar a primeira versão. Uma semana depois, a testemunha e seu filho pediram proteção federal.
POLICIAIS INDICIADOS
Oinquérito foi entregue em outubro ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Dez policiais militares que trabalhavam na UPP da Rocinha foram indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. A notícia foi dada em primeira mão por Carlos de Lannoy no Jornal Nacional. O repórter falou ao vivo, direto da Delegacia de Homicídios. E a reportagem completa foi ao ar no Jornal da Globo daquela noite.
O Ministério Público aceitou a denúncia da Polícia Civil e, em 4 de outubro, com base no inquérito, foi decretada a prisão dos policiais acusados, como informou a reportagem de Bette Lucchese no JN daquele dia. O MP não acreditava na versão de que Amarildo fora sequestrado e morto por traficantes após deixar a sede da UPP.
Em 22 de outubro, depois de três meses de investigações, foram denunciados mais 15 policiais militares que trabalhavam na UPP da Rocinha na noite em que Amarildo desapareceu. No total, 25 responderiam pela morte do pedreiro. O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade a uma escuta autorizada feita pela polícia que serviu como prova para a conclusão do caso, como mostrou a reportagem de Bette Lucchese. Na conversa telefônica, de acordo com a perícia, um policial se fez passar por bandido para responsabilizar traficantes da favela pelo crime. No dia seguinte, mais três PMs foram presos.
Reportagem de Bette Lucchese e Mônica Marques sobre a investigação do caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, que ficou conhecido como o “Caso Amarildo”, Fantástico, 06/10/2013.
Reportagem de Bette Lucchese sobre a conclusão da investigação do Ministério Público sobre o desaparecimento de Amarildo de Souza. Jornal Nacional, 22/10/2013.
Julgamento
Em 4 de fevereiro de 2014, Amarildo de Souza teve sua morte presumida declarada pelo Tribunal de Justiça. No dia 20 daquele mesmo mês, começou o julgamento dos 25 réus acusados de torturá-lo e matá-lo. Eles respondem por crimes como tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha, como explicou a repórter Mônica Sanches no Jornal Nacional.
No dia 14 de março de 2019, quatro dos 12 policiais que permaneciam presos foram libertados. O corpo do pedreiro não foi encontrado até essa data.
Reportagem de Mônica Sanches sobre o início do julgamento dos 25 réus acusados de tortur e matar Amarildo de Souza. Jornal Nacional, 20/02/2014.
FONTES
Jornal da Globo, 01/10/2013; Jornal Nacional, 09/08/2013, 14/08/2013, 17/08/2013, 14/09/2013, 01/10/2013, 04/10/2013, 22/10/2013, 04/02/2014, 20/02/2014; RJTV, 17-20/07/2013, 24/07/2013, 30/07/2013, 31/07/2013 |