Sete de janeiro de 2015. Onze e meia da manhã em Paris. Dois homens vestidos de preto e fortemente armados invadiram a redação do jornal satírico Charlie Hebdo. A ação durou poucos minutos e resultou em 12 mortos, entre jornalistas e policiais. Entre os mortos, George Wolinski, de 80 anos, uma lenda do cartunismo mundial. Na fuga, um dos terroristas executou, a sangue frio, um policial caído na calçada. As imagens chocaram o mundo. A polícia francesa logo identificou os autores do atentado: os irmãos franco-argelinos de origem muçulmana, Said e Cherif Kouachi, de 34 e 32 anos, respectivamente.
O Charlie Hebdo é um jornal semanal satírico, notabilizado por suas caricaturas de forte conteúdo antirreligioso. Alvos de muitas polêmicas, os chargistas do Charlie Hebdo não poupam ninguém: políticos conservadores, catolicismo, islamismo, judaísmo. Em 2011, o jornal foi alvo de um atentado em represália a uma caricatura do profeta islâmico Maomé.
Oitenta mil policiais foram mobilizados na caçada aos irmãos argelinos. A população de Paris foi às ruas em protesto contra o terrorismo. Uma onda de indignação e solidariedade se espalhou pelo mundo, com manifestações na maioria das grandes cidades do planeta. O slogan “Je Suis Charlie” (Eu sou Charlie) tomou conta das ruas.
Reportagem de André Luiz Azevedo sobre o atentado terrorista contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, Jornal Nacional, 07/01/2015.
Dois dias depois, em 9 de janeiro, o terror voltou a se manifestar na França e despertou a atenção do mundo. Foram dois incidentes quase simultâneos. Cinquenta e quatro horas após o atentado ao Charlie Hebdo, os irmãos argelinos foram localizados numa gráfica, a 35 km de Paris, onde mantinham reféns. Depois de oito horas de cerco, a polícia invadiu o local e matou os dois terroristas. Em outro lugar, na zona leste da cidade, o francês Amedy Coulibaly, de 32 anos, invadiu um supermercado judaico, fez varias pessoas reféns e matou quatro das vítimas. A polícia invadiu o supermercado e matou Coulibaly. Posteriormente, investigações confirmaram a ligação entre os irmãos Kouachi e o invasor do mercado. Eles teriam recebido treinamento da rede terrorista Al Qaeda e estavam em uma missão para defender a honra do profeta Maomé.
De 7 a 9 de janeiro, o terrorismo deixou um saldo de 17 mortes. No domingo, 11 de janeiro, 3,5 milhões de pessoas foram às ruas de Paris e outras cidades francesas para protestar contra o terrorismo, entre elas, o Presidente da França, François Hollande, e mais 40 líderes mundiais.
EQUIPE E ESTRUTURA
A Globo divulgou as primeiras notícias do atentado ao Charlie Hebdo em um plantão na manhã de 7 de janeiro. O correspondente em Lisboa, André Luiz Azevedo, foi enviado a Paris e de lá entrou, ao vivo, no Jornal Nacional daquele dia. Os correspondentes em Londres, Cecília Malan e Roberto Kovalick, também se deslocaram para Paris. Relataram os desdobramentos do atentado e a manifestação histórica que levou mais de 3 milhões de pessoas às ruas das cidades francesas.
Renato Machado, de Londres, mostrou a repercussão do atentado na Europa; de Jerusalém, Rodrigo Alvarez contou como os atos terroristas foram recebidos no mundo árabe; Fábio Turci, de Nova York falou da reação do Presidente Barack Obama. Participaram ainda da cobertura os repórteres Paulo Renato Soares, Renato Biazzi, Giuliana Morrone, Tiago Eltz, Pedro Vedova e Helen Sacconi.
“JE SUIS CHARLIE”
No Jornal Nacional do dia 7 de janeiro, o correspondente Andre Luiz Azevedo entrou ao vivo da Bastilha, bairro tradicional de Paris, a 150 metros do local do atentado. A reportagem mostrou imagens dos tiros nas ruas e do policial executado na calçada.
Ao invadir a redação, os terroristas perguntaram os nomes das vítimas e depois gritaram: “vingamos o profeta Maomé”. O apresentador do JN naquele dia, Heraldo Pereira, disse que a polícia francesa já havia identificado os terroristas e que eles seriam de origem argelina. Em Paris, a segurança foi reforçada e o Presidente da França, François Hollande, visitou o local ainda de manhã. A apresentadora Renata Vasconcellos ressaltou que o Charlie Hebdo conquistou os franceses pela irreverência contra o fanatismo religioso.
Reportagem de Tiago Eltz contou a trajetória do semanário que faz sátiras a Maomé, mas também ironiza outras religiões e já satirizou o Papa, judeus e muçulmanos. Lembrou que George Wollinski, de 80 anos, era um mito do cartunismo mundial e um expoente das manifestações pela liberdade em maio de 1968, na França. O editor chefe do jornal, Stephane Charbonnier teria dito, há dois anos, que “preferia morrer de pé a viver de joelhos”. O correspondente Renato Machado, de Londres, disse que os líderes europeus se uniram para classificar o atentado como um ataque à liberdade de expressão e de imprensa. De Nova York, Fábio Turci relatou que o Presidente Barack Obama ligou para Hollande a fim de prestar solidariedade e oferecer ajuda para identificar e prender os criminosos. Rodrigo Alvarez, de Jerusalém, falou da reação do mundo árabe aos atentados. Reportagem de Paulo Renato Soares mostrou a indignação dos cartunistas brasileiros. Ique disse que o ato era o “11 de setembro dos cartunistas” e Ziraldo protestou: “É inimaginável entrar em uma redação e matar 12 pessoas. Que civilização é essa?”
No Jornal da Globo, reportagem de Renato Biazzi mostrou pessoas empunhando canetas em um protesto em Paris. Em entrevista, o cartunista Ziraldo destacou a coragem dos colegas do Charlie Hebdo. A reportagem mostrou ainda uma charge com uma sátira ao profeta Maomé e uma manifestação de solidariedade de franceses na Avenida Paulista, em São Paulo. A frase “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie) se tornou comum em todas as mobilizações pelo mundo.
Reportagem de Tiago Eltz sobre a trajetória do jornal Charlie Hebdo após o atentado terrorista sofrido pelo semanário, Jornal Nacional, 07/01/2015.
Reportagem de Renato Biazzi sobre a reação de cartunistas ao atentado contra o jornal Charlie Hebdo e sobre manifestação de repúdio ao ataque, Jornal da Globo, 07/01/2015.
REPÚDIO
No Bom Dia Brasil de 8 de janeiro, Ziraldo mostrou a dedicatória feita por George Wolinski especialmente para ele. O cartunista Jaguar disse que era inacreditável ver que escolheram para um atentado profissionais que ficam em suas mesas desenhando. Reportagem de Edney Silvestre exibiu manifestações no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde franceses e brasileiros cantaram o hino da França.
No Jornal Nacional, Cecília Malan mostrou franceses fazendo vigília em Paris em memória às vítimas do atentado. Um morador da cidade disse que sentia tristeza e raiva ao mesmo tempo. André Luiz Azevedo traçou um perfil dos irmãos Said e Cherif Kouachi. Imagens de documentário revelam Cherif recebendo treinamento de técnicas terroristas. O telejornal exibiu fotos da redação do Charlie Hebdo coberta de sangue. Agências internacionais afirmaram que Said esteve em um campo de treinamento da Al Qaeda no Iémen.
Ainda no JN, André Luiz Azevedo contou que os sobreviventes da redação do Charlie Hebdo preparavam uma nova edição do jornal, com uma tiragem de um milhão de exemplares. Ele entrevistou o editor chefe do jornal francês Libéracion e mostrou a capa histórica feita pelo Charlie Hebdo, após o atentado sofrido em 2011.
Cecília Malan conversa ao vivo de Londres com Evaristo Costa sobre o atentado terrorista contra o jornal francês Charlie Hebdo, Jornal Hoje, 07/01/2015
De Nova York, Fábio Turci mostrou a declaração de Barack Obama elogiando a atuação da policia francesa na caçada aos terroristas. A reportagem exibiu também a declaração de um terrorista para uma televisão árabe falando que o ataque foi financiado pela Al Qaeda. A repórter Giuliana Morrone contou como os atos terroristas repercutiram na Europa. A líder da extrema direita francesa, Marie Le Pen, disse que “fechar as fronteiras é essencial para combater o terrorismo”.
Reportagem de André Luiz Azevedo sobre a caçada da polícia francesa aos terroristas responsáveis pelo ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, Jornal Nacional, 08/01/2015.
MAIS TERROR
No Bom Dia Brasil do dia 9 de janeiro, a repórter Helen Sacconi mostrou a capa do livro Balas não matam ideias, lançado no salão de humor de Piracicaba, em São Paulo. O evento recebeu uma charge enviada especialmente pelo cartunista francês George Wolinski. O Jornal Hoje exibiu áudio de entrevista em francês com o terrorista Cherif Kouachi dizendo: “Nós somos os defensores do profeta Maomé e fomos enviados pela Al Qaeda do Iémen”.
No JN, André Luiz Azevedo mostrou a caçada aos irmãos argelinos. Imagens do cerco policial à gráfica onde eles mantinham reféns e a invasão que culminou com a morte dos terroristas. Cecília Malan acompanhou o resgate dos reféns no supermercado judeu, mantidos pelo terrorista Amedy Coulibaly. A reportagem mostrou a ligação dele com os irmãos argelinos e a operação da polícia que invadiu o estabelecimento e matou o terrorista. O Jornal da Globo mostrou imagens inéditas da invasão do supermercado e da gráfica.
Reportagem de André Luiz Azevedo sobre a morte dos terroristas responsáveis pelo ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo após operação da polícia francesa, Jornal Nacional, 09/01/2015.
Um minuto de silêncio
No JN do dia 10 de janeiro, Roberto Kovalick, de Londres falou da repercussão na Europa da morte dos terroristas. Cecília Malan, em Paris, entrevistou moradores do bairro onde fica o mercado judeu e ouviu também o dono da gráfica invadida pelos irmãos Kouachi. Ele disse que serviu café e fez curativo em um dos terroristas. A reportagem mostrou ainda a homenagem do time Paris Saint German, onde jogam os brasileiros Thiago Silva, Lucas e David Luiz. Antes da partida contra o Bastion, houve um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do terrorismo.
Reportagem de Cecília Malan sobre a repercussão da morte dos terroristas responsáveis pelo atentado contra o jornal Charlie Hebdo e sobre homenagens às vítimas do ataque, Jornal Nacional, 10/01/2015.
FRANCESES FAZEM HISTÓRIA
No Fantástico do dia 11 de janeiro, André Luiz Azevedo, entrevistou brasileiros que moram em Paris e mostrou imagens dos terroristas se abraçando e comemorando o atentado. Cecília Malan acompanhou a maior manifestação popular da história da França. Três milhões e meio de pessoas e mais 40 chefes de Estado foram às ruas de Paris e de outras cidades francesas para protestar contra o terrorismo. No Jornal Nacional do dia 12, o repórter Pedro Vedova mostrou a estátua de Marianne, um dos símbolos da República Francesa, cercada de populares. Cartazes nas ruas exibiam frases como “Morrer de rir” e “17 mortos e 66 milhões de feridos”.
Reportagem de Cecília Malan sobre o protesto dos franceses contra o terrorismo após o ataque ao jornal Charlie Hebdo no que se tornou a mairo manifestação popular da história da França, Fantástico, 11/01/2015.
Reportagem de Pedro Vedova sobre homenagens às vítimas do atentado contra o jornal satírico Charlie Hebdo na estátua de Marianne, um dos símbolos da República da França, Jornal Nacional, 12/01/2015.
Reportagem de Cecília Malan sobre o resgate de vítimas de um supermercado judeu em Paris mantidos reféns pelos terroristas responsáveis pelo ataque ao jornal Charlie Hebdo e a ligação dos criminosos com facções terroristas, Jornal da Globo, 09/01/2015.
Ainda estava escuro em Paris quando o gabinete de crise se reuniu no Palácio Eliseu, a sede do governo francês. O presidente François Hollande convocou ministros e comandantes das forças de segurança para decidir as novas medidas.
A polícia divulgou nesta terça a prisão na Bulgária de um homem que estaria ligado aos atentados. Um novo vídeo divulgado nesta segunda-feira (12) mostrou como os irmãos Kouachi saíram tranquilamente da sede do jornal.
Quando o jornal chegou às bancas de Paris, nesta quarta-feira (14), a disputa não durou muito. Em menos de uma hora, não restava mais nada. A capa do Charlie Hebdo ostra o profeta Maomé, chorando e segurando um cartaz, onde se lê “Je Suis Charlie”.
FONTES
Bom Dia Brasil (08/01/2015; 09/01/2015); Jornal Hoje (09/01/2015); Jornal Nacional (07/01/2015;08/01/2015;09/01/2015;10/01/2015;12/01/2015); Jornal da Globo (07/01/2015;09/01/2015); Fantástico (11/01/2015); O Globo (08/01/2015;09/01/2015;10/01/2015;12/01/2015); Folha de São Paulo (08/01/2015;09/01/2015;10/01/2015;12/01/2015) |