Acidente aéreo Air France

Na noite de 31 de maio de 2009, um Airbus da Air France, que saíra do Rio de Janeiro com destino a Paris, desapareceu em pleno Oceano Atlântico.

Por Memória Globo


O voo 447 da Air France desapareceu dos radares na noite de 31 de maio de 2009, três horas e meia após decolar do Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, a caminho de Paris. Com o passar das semanas, foram encontradas parte dos destroços e corpos dos 216 passageiros e 12 tripulantes. Por causa das más condições meteorológicas, as buscas foram interrompidas em diversos momentos, tendo sido concluídas apenas dois anos depois, quando as caixas-pretas foram resgatadas.

O laudo final da investigação apontou o congelamento dos pitots, tubos externos de medição de velocidade, como uma das causas do acidente, juntamente com falha humana e uma forte tempestade. Na época, o acidente foi a pior tragédia da aviação em território brasileiro.

Repórter Giovana Teles explica, com o auxílio de um infográfico, o acidente com o avião da Air France, Jornal Hoje, 01/06/2009.

EQUIPE E ESTRUTURA

Desde a primeira notícia sobre o desaparecimento do voo 447 até o anúncio do laudo final de investigação, a Globo cobriu todos os fatos em quatro frentes: Rio de Janeiro, Recife, Fernando de Noronha e Paris.

Os correspondentes em Paris, Sônia Bridi (em 2009) e Marcos Uchoa (em 2011), cobriram a repercussão do acidente na França e as investigações da Air France e da BEA (Bureau d’Enquêtes et d’Analyses – Escritório de Pesquisas e Análises), órgão responsável pela segurança da aviação civil francesa.   

A repórter Karla Almeida, que encontrava-se em Fernando de Noronha realizando outra matéria na data do acidente, permaneceu no arquipélago, onde concentraram-se as equipes de resgate brasileiras e francesas, por quinze dias. De lá, realizou a cobertura para os telejornais da Globo.

As reportagens de Recife, para onde todos os destroços e corpos resgatados eram transferidos, foi realizada pela jornalista Bianka Carvalho.

Ainda participaram desta cobertura os seguintes repórteres: Zileide Silva, Giovana Teles, Gioconda Brasil, Ana Paula Araújo, André Luiz Azevedo, Monica Sanchez, Helter Duarte, Alberto Gaspar, Poliana Abritta, Vladimir Neto, Flávio Fachel, Flávia Jannuzzi, Monica Silveira, Fabiana Godoy, Fábio William, Bette Lucchese, Álvaro Pereira Júnior.

AVIÃO DESAPARECIDO

O Bom Dia Brasil de 1º de junho anunciou: “E atenção, uma notícia que acaba de chegar à nossa redação é que a Aeronáutica já iniciou as buscas a um avião da Air France que teria saído do Rio de Janeiro rumo a Paris e que teria desaparecido, segundo várias agências de notícias, no meio do Oceano Atlântico.” Em seguida, a repórter Zileide Silva conversou, por telefone, com o Coronel Henry Munhoz, assessor de imprensa da Aeronáutica, que confirmou que as buscas já haviam começado a partir de Fernando de Noronha. O Airbus, que saiu às 7h da noite do Rio de Janeiro, deveria pousar em Paris às 6h10 da manhã, mas durante a madrugada não havia sido detectado pelos radares da Ilha do Sal. A apresentadora Renata Vasconcellos completou as informações dizendo que o avião carregava 216 passageiros e 12 tripulantes. Ao final da edição, o apresentador Márcio Gomes informou que um centro de atendimento às famílias dos passageiros havia sido montado no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris.

Repórter Zileide Silva entrevista o assessor de imprensa da Aeronáutica, Coronel Henry Munhoz, na cobertura do acidente com o avião da Air France, Bom Dia Brasil, 01/06/2009.

A diretora de jornalismo de Recife, Jô Mazzarolo, foi responsável pela coordenação das equipes de Pernambuco, com uma base em Fernando de Noronha e duas em Recife: “Assim que tivemos certeza do desaparecimento da aeronave, montamos uma primeira base em Fernando de Noronha, uma segunda no Cindacta III (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo), onde chegavam outras informações; e logo depois precisamos montar uma terceira no IML (Instituto Médico Legal). O resto do pessoal ficou na redação, atendendo aos telejornais locais e de rede, além da Globo News”.

No primeiro bloco do Mais Você, os apresentadores Márcio Gomes e Renata Vasconcellos entraram ao vivo do estúdio do Bom Dia Brasil, informando que o avião havia emitido um sinal de alerta de curto-circuito à base de controle. O Globo Notícia entrou no final do programa com a informação de que o último contato vocal feito pela aeronave ocorrera às 22h36.

PRIMEIROS DESTROÇOS LOCALIZADOS

O primeiro bloco do Jornal Hoje foi inteiramente dedicado ao desaparecimento do Airbus, com 13 minutos seguidos. A repórter Giovana Teles entrou ao vivo de Brasília, onde a Aeronáutica não confirmava que os objetos encontrados naquela manhã pertenciam à aeronave da Air France. Às 9h30, o coronel Jorge Amaral, vice-chefe de Comunicação Social da Aeronáutica, informou que outras aeronaves haviam avistado uma poltrona de avião, pequenos pedaços brancos, uma boia laranja, um tambor e vestígios de óleo e querosene em alto mar. A repórter Giovana Telesexplicou, com o auxílio de um infográfico, como haviam sido realizados os trabalhos de busca durante a madrugada com um avião equipado com sensor.

Na bancada do telejornal, os apresentadores Sandra Annenberg e Evaristo Costa entrevistaram o presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, George Willian César de Araripe Sucupira, sobre a possibilidade do avião ter se desintegrado por conta de uma forte turbulência. Sônia Bridi, correspondente da Rede Globo em Paris, reportou que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, iria receber as 40 famílias de passageiros franceses. Ana Paula Araújo entrou ao vivo do hotel, no Rio de Janeiro, onde estavam 50 parentes de vítimas brasileiras.

Repórter Giovana Teles explica, com o auxílio de um infográfico, o acidente com o avião da Air France, Jornal Hoje, 01/06/2009.

“Quando se soube da queda, a gente tinha pouquíssima informação. Até mobilizarmos a cobertura, o que leva tempo, eu fiquei no ar com informações das agências de notícias internacionais. Enquanto isso, a chefia de redação tentava falar com a aeronáutica e com a companhia aérea para obter mais detalhes. Eu não podia sair do ar, tinha que manter a notícia. É importante passar para o telespectador que, muitas vezes, a gente não vai ter a resposta para aquela pergunta, não vai ter a notícia fechada. O nosso trabalho é juntar o maior número de peças possíveis e explicar por que as outras não existem, ou simplesmente que elas faltam e não há explicação para a falta delas – e saber assumir isso”, explica Sandra Annenberg.

Repórter André Luiz Azevedo na cobertura do acidente com o avião da Air France, Jornal Nacional, 01/06/2009.

Reportagem de Sônia Bridi sobre o acidente com o avião da Air France e a recepção dos familiares das vítimas no aeroporto Charles de Gaulle, com a presença do presidente francês Nicolas Sarkozy. Jornal Nacional, 01/06/2009.

Os dois primeiros blocos do Jornal Nacional e o final do terceiro foram inteiramente dedicados à cobertura do desastre. O apresentador William Bonner informou que 58 passageiros eram brasileiros e havia pessoas de outras 30 nacionalidades a bordo, entre eles 61 franceses, 26 alemães, nove chilenos, nove italianos e um argentino.

“A queda do avião da Air France foi um trabalho imenso para gente, exigiu uma cobertura em dois países diferentes. Foram frentes diferentes de trabalho, basicamente Rio, Fernando de Noronha, Recife e Paris”, relembra William Bonner.

Os repórteres André Luiz Azevedo, Monica Sanchez e Helter Duarte, do Rio de Janeiro; Alberto Gaspar, de São Paulo; Poliana Abritta, de Brasília e Sônia Bridi, de Paris, fizeram matérias sobre a rota e o modelo do avião, a pane no sistema elétrico, a perda de pressão, a tempestade de raios na noite da queda e as prováveis causas do acidente.

A ÚLTIMA MENSAGEM DO AIRBUS

“Há pouco mais de 24 horas, o Airbus 330-200 da Air France, voo 447, transmitiu sua última mensagem. Eram informações técnicas sem voz. Até agora, ninguém sabe onde estão os destroços do avião e nem seus 228 ocupantes”, anunciou o Jornal da Globo na noite de 1º de junho. Uma matéria de Vladimir Netto abordou as dificuldades de se chegar ao local onde os primeiros destroços foram encontrados, por causa da falta de radar e da distância. Uma reportagem de César Menezes falou das prováveis causas do acidente, enquanto Flávio Fachel remontou os últimos passos do voo 447.

A repórter Flávia Jannuzzi entrou ao vivo algumas vezes do hotel onde a Air France havia montado um centro de atendimento aos parentes das vítimas, no Rio de Janeiro. De lá, a repórter Breatriz Thielmann conversou com parentes e amigos dos passageiros brasileiros. William Waack entrevistou, na bancada do telejornal, o comandante Paulo Rivetti sobre as possíveis causas da queda do avião. A correspondente Sônia Bridi mostrou a visita do presidente Nicolas Sarkozy ao aeroporto Charles de Gaulle, onde confortou as vítimas.

CONFIRMAÇÃO DA QUEDA

No Bom Dia Brasil do dia 2 de junho, Zileide Silva informou que um piloto de avião da TAM e sua tripulação, que faziam o trajeto Paris – Rio de Janeiro, haviam avistado pontos alaranjados, como se fossem pequenos focos de incêndio, a cerca de 1.300 km de Fernando de Noronha. A repórter Giovana Teles entrevistou, ao vivo, o coronel Jorge Amaral que aventou a possibilidade de o avião ter feito um pouso de emergência no oceano e dos ocupantes terem saído em botes salva-vidas. Foi a repórter Bianka Carvalho, ao vivo de Recife, que trouxe a confirmação de que os destroços encontrados eram mesmo do avião da Air France.

Reportagem de Sônia Bridi sobre a repercussão da notícia da localização dos destroços do avião da Air France, além de entrevista com o diretor do sindicato de pilotos da França, que afirmou que a investigação seria longa. Jornal Nacional, 02/06/2009.

Imagem de satélite da tempestade que o avião da Air France atravessava quando caiu, Jornal da Globo, 02/06/2009.

No Jornal Nacional, foi ao ar uma reportagem de Mônica Silveira sobre o envio de navios da Marinha para recolhimento dos destroços encontrados. Também foi exibido um trecho da coletiva com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ele afirmava que mais uma faixa de destroços havia sido localizada na mesma região. A repórter Poliana Abritta esclareceu, ao vivo de Brasília, que os destroços seriam analisados por técnicos franceses da Air France, que iriam comandar as investigações. Em entrevista feita pela jornalista, o ex-presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, revelou que havia poucas chances de encontrarem as caixas-pretas do avião – objetos de apenas 40 centímetros perdidos a quatro mil metros de profundidade, o que dificultava a emissão do sinal.

A correspondente Sônia Bridi mostrou a repercussão da confirmação do acidente na França. Ela também entrevistou o diretor do sindicato de pilotos da França, que afirmou que a investigação seria longa. A jornalista Mônica Sanchez retratou o perfil de algumas das vítimas brasileiras. O primeiro bloco, com duração de 16 minutos, foi inteiramente dedicado à cobertura.

O Jornal da Globo da mesma noite abriu com a imagem de satélite da tempestade que o avião da Air France atravessou quando caiu. Segundo as projeções de especialistas, o Airbus teria passado 12 minutos de forte turbulência antes da queda.

VÍTIMAS BRASILEIRAS

Em 3 de junho, no Jornal Hoje, uma reportagem de Sônia Bridi esmiuçou as quatro etapas da investigação da Air France: o resgate dos destroços, o histórico da manutenção da aeronave, a investigação operacional do voo e da carga do avião e o estudo dos sistemas e equipamentos de voo.

A enviada especial Karla Almeida fez matérias sobre os trabalhos de buscas em Fernando de Noronha, para o Jornal Hoje e para o Jornal da Globo. A lista de 53 dos 58 passageiros brasileiros foi disponibilizada na internet – cinco famílias pediram para ter os nomes preservados.

Durante o resto da semana, a Globo cobriu os pequenos avanços nas buscas aos destroços do voo 447, assim como as missas e homenagens às famílias. No Jornal Nacional do dia 3, Mônica Silveira informou que, cem horas após o acidente, os destroços já deveriam ter se deslocado cerca de 100 quilômetros pelo oceano.

Reportagem de Karla Almeida sobre os trabalhos de busca em Fernando de Noronha na cobertura do acidente com o avião da Air France, Jornal Hoje, 03/06/2009.

PRIMEIROS CORPOS

No dia 6, o Jornal Nacional noticiou que os primeiros corpos de vítimas haviam sido encontrados. Foram exibidos trechos da entrevista coletiva do coronel Jorge Amaral, vice-diretor comandante da Aeronáutica, que confirmou o resgate de dois corpos de homens e de peças pertencentes ao voo, que foram levados até Fernando de Noronha.

No Fantástico do dia 7, uma matéria de Karla Almeida falou sobre a retirada de 17 corpos e dezenas de peças do mar. A correspondente Sônia Bridi explicou como se daria a análise dos destroços na França. O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) informou que tinha entrado em contato com todas as tripulações que haviam passado pela zona do desastre no dia do acidente e confirmado que outros dois voos tiveram o mesmo tipo de pane que parecia ter causado o acidente: velocidade contraditória ao atravessar turbulências. Em virtude disso, a empresa havia acelerado a troca dos tubos pitots, instrumentos de medição de velocidade, de seus airbuses. A repórter Fabiana Godoy mostrou a sequência de eventos que levou ao acidente do voo 447, desde o momento em que decolou, até seu último contato. A repórter esteve num simulador de voo em Jundiaí, São Paulo, onde foi reproduzido, minuto a minuto, o que aconteceu com o Airbus, com base em 24 mensagens eletrônicas emitidas automaticamente. O quadro Forças da Natureza abordou os movimentos das correntes subaquáticas que estavam dispersando os destroços.

Reportagem de Fabiana Godoy sobre a sequência de eventos que levou ao acidente com o avião da Air France, Fantástico, 07/06/2009.

Em 8 de junho, o Jornal da Globo anunciou o resgate de mais oito corpos. No dia seguinte, já eram 44. No dia 12, os jornalistas tiveram acesso aos destroços, como foi noticiado pelo Jornal Hoje. No Fantástico do domingo, 21, foi ao ar a notícia de que o governo de Pernambuco havia identificado os primeiros dos 50 corpos.

Durante as semanas seguintes, a Globo acompanhou os trabalhos de buscas de 250 homens e dez navios, interrompidos, em diversos momentos, por causa da instabilidade meteorológica na região. Cerca de um mês após o acidente, as buscas foram suspensas.

Reportagem de Sônia Bridi sobre as investigações do acidente com o avião da Air France e a celebração ecumênica em homenagem às vítimas, realizada na Catedral de Notre Dame. Jornal Nacional, 03/06/2009.

Reportagem de Sônia Bridi sobre as investigações do acidente com o avião da Air France e a suspeita de que a aeronave estaria acima da velocidade adequada. Jornal Nacional, 04/06/2009.

CAIXA PRETA

Em 4 de abril de 2011, quase dois anos após a tragédia, todos os telejornais da emissora anunciaram a localização de mais destroços do avião e corpos em alto mar. Era a quarta expedição da Marinha.

No Fantástico de 10 de abril, o correspondente da Globo em Paris, Marcos Uchoa, mostrou os detalhes da expedição que iria ficar cinco semanas resgatando os restos localizados. Duas semanas mais tarde, o programa dominical levou ao ar uma matéria de Fábio William sobre a caixa preta que havia sido encontrada naquela manhã, 1º de maio. Dois dias depois, o Jornal Nacional noticiou que a segunda caixa-preta, aquela que continha os últimos minutos de conversa entre os pilotos, também havia sido localizada.

O Jornal Nacional de 27 de maio de 2011 abriu com a seguinte chamada: “Vinte e três meses de mistério. E surgem as primeiras informações técnicas sobre a queda do voo 447 da Air France. Dados das caixas pretas indicam que a queda durou três minutos e meio.” Nas conversas gravadas, havia indicação de que os aparelhos de navegação tinham parado de funcionar. A repórter Bette Lucchese entrevistou o engenheiro Moacyr Duarte, da Coppe (Universidade Federal do Rio de Janeiro), sobre o que os dados revelavam a respeito dos últimos minutos do voo 447.

No Fantástico de 29 de maio de 2011, foi ao ar uma matéria de Marcos Uchoa sobre a repercussão da imprensa internacional a respeito do resgate das caixas pretas. O BEA, escritório francês responsável pelas análises, divulgou um boletim. Em seguida, uma matéria de Álvaro Pereira Júnior sobre os últimos minutos do voo explicou que os pitots, tubos externos que medem a velocidade da aeronave, realmente haviam parado de funcionar, desativando o piloto automático e enviando aos pilotos informações contraditórias. Apesar dos pilotos terem tentado arremeter a aeronave, a queda, de 11 mil metros, foi inevitável.

Reportagem de Bette Lucchese com as primeiras informações técnicas da caixa preta do avião da Air France, 23 meses depois do acidente, Jornal Nacional, 27/05/2011.

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: William Bonner (07/03/2012 e 19/03/2012), Jô Mazzarolo (29/08/2011), Duda Amaral (31/08/2011) e Sandra Annenberg (5/05/2010); Bom Dia Brasil (01/06/09 a 31/07/09); Fantástico (07/06/09, 21/06/09, 10/04/2011, 29/05/2011) ; Globo Notícia (01/06/09), Jornal da Globo (01/06/09 a 31/07/09) ; Jornal Hoje (01/06/09 a 31/07/09);Jornal Nacional (01/06/09 a 31/07/09); Mais Você (01/06/09); Sites: http://www.bea.aero/index.php acessado em 26/12/2012; http://pt.wikipedia.org/wiki/Voo_Air_France_447