A trama política de Porto dos Milagres contrapõe o simplório pescador Guma (Marcos Palmeira), um representante do povo, ao poder exercido pelo inescrupuloso Félix Guerreiro (Antonio Fagundes) e sua ambiciosa mulher, Adma (Cassia Kis). A história se passa na fictícia cidade de Porto dos Milagres, localizada na região do Recôncavo Baiano e formada por duas classes sociais distintas: a burguesia porto-milagrense com suas famílias tradicionais, instaladas na parte alta da cidade, e os moradores pobres do cais do porto, habitantes da parte baixa. A cidade vive da pesca, mas também é uma das entradas de contrabando no país.
A mitologia e a religiosidade estão presentes na trama através da figura de Iemanjá, a “rainha do mar”, padroeira de Porto dos Milagres e que, de forma fantástica, exerce influência na vida dos habitantes. Como outras histórias de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, a novela tem muitas cenas de realismo fantástico.
Félix e Adma são vigaristas que vivem foragidos na Espanha desde que Félix vendeu ilegalmente parte das terras do pai, deixadas como herança para ele e seu irmão gêmeo Bartolomeu (também Antonio Fagundes). Durante uma fuga, após aplicar mais um de seus golpes, Félix encontra uma cigana, que profetiza que ele vai atravessar o mar e ser rei. Ele e Adma concluem que tal profecia só pode se concretizar no Brasil e decidem voltar ao país. Quando chegam a Porto dos Milagres, descobrem que Bartolomeu se transformou no homem mais poderoso da cidade. Adma, então, envenena o cunhado à revelia do marido, e Félix assume o lugar do irmão.
O que os dois ignoram é que Bartolomeu tem um herdeiro. Ele teve um filho com a prostituta Arlete (Letícia Sabatella), que procura Félix para lhe apresentar o menino. Adma recebe Arlete e, sem contar nada ao marido, manda o capataz Eriberto (José de Abreu) matar a prostituta e seu filho. Eriberto vira o braço direito de Adma, por quem é apaixonado, e, a mando dela, mata outras pessoas ao longo da trama.
Marcos Palmeiras em Porto dos Milagres, 2001. Marcela Haddad/Globo.
Cena em que uma cigana (Eunice Muñoz) aparece misteriosamente para Félix (Antonio Fagundes) e Adma (Cassia Kis) na Espanha, profetizando que ele atravessará o oceano e se tornará rei.
Félix é rechaçado por Bartolomeu.
Cena em que Adma (Cassia Kis), expulsa da casa de Bartolomeu (Antonio Fagundes), resolve envenená-lo para ter como ficar com os seus bens. Com Félix (também vivido pelo ator), Ondina (Nathalia Timberg), Eriberto (José de Abreu) e Arlete (Letícia Sabatella).
Antonio Fagundes e Cassia Kis durante as gravações de Porto dos Milagres, 2001. Roberto Steinberger/Globo.
Cristiana Oliveira e Maurício Mattar em Porto dos Milagres, 2001. Marcela Haddad/Globo.
O destino de Guma
Eriberto leva Arlete e o menino para alto-mar, mas, antes que possa fazer alguma coisa, a mãe coloca o cesto com o bebê na água e se atira. Uma forte onda faz com que o cesto navegue nas águas revoltas, protegido por forças sobrenaturais, sendo guiado até outro barco. Nesta embarcação, estão o pescador Frederico (Maurício Mattar) e sua mulher Eulália (Cristiana Oliveira), que está prestes a dar à luz. Frederico é um dos pescadores que, para melhorar o sustento da família, está envolvido nos negócios de contrabando de Bartolomeu.
O filho de Eulália nasce morto, e Frederico, ao ver o cesto e ouvir o choro da criança, pega o bebê e mostra à mulher, como se ele fosse seu filho. Eulália diz que ele vai se chamar Gumercindo e morre em seguida. Desolado, Frederico promete o menino a Iemanjá – assim como Arlete já fizera –, e é dessa forma que o filho de Bartolomeu, herdeiro legítimo de sua fortuna, vai parar na comunidade de pescadores. Anos depois, Frederico entra no mar para tentar salvar o irmão, o pescador Francisco (Tonico Pereira), e desaparece. Gumercindo acaba sendo criado por Francisco e a mulher, Rita (Joana Fomm). Conhecido como Guma (Marcos Palmeira), e ignorando sua verdadeira origem, ele se transforma em um líder respeitado na cidade baixa.
Cena em que Adma (Cassia Kis), após tomar conhecimento de que Arlete (Letícia Sabatella) espera um filho de Bartolomeu (Antonio Fagundes), manda Eriberto (José de Abreu) dar fim em Guma (ainda bebê).
Cena em que Guma (bebê) escapa de ser morto por Eriberto (José de Abreu) ao ser posto por sua mãe Arlete (Letícia Sabatella) em um cesto no mar. É Frederico (Maurício Mattar) quem o encontra e entrega à Eulália (Cristiana Oliveira) como se fosse o filho do casal (que nasce morto).
Cena em que Frederico (Maurício Mattar) está para ser salvo de uma tempestade por seu irmão Francisco (Tonico Pereira) quando tem uma visão de Eulália (Cristiana Oliveira) como Iemanjá e é levado para o fundo do mar.
Marcos Palmeiras e Flávia Alessandra em Porto dos Milagres, 2001. Marcela Haddad/Globo.
Outra história que remonta ao passado é a da menina Lívia (Flávia Alessandra), sobrinha de Augusta Eugênia Proença de Assunção (Arlete Salles), a mulher mais influente da alta sociedade de Porto dos Milagres. Lívia é filha de Laura (Carolina Kasting), que abriu mão do dinheiro da família para viver com o pescador Leôncio (Tuca Andrada). Augusta Eugênia nunca se conformou com a escolha da irmã e acabou provocando, indiretamente, a morte de Laura e seu marido, ao denunciar o cunhado à polícia por fazer contrabando. Ao saber do plano para prejudicar Leôncio, Laura foi atrás dele, e o casal morreu em uma explosão do barco, após uma perseguição policial. Lívia foi criada no Rio de Janeiro por Leontina (Louise Cardoso), outra irmã de Laura.
A moça volta a Porto dos Milagres em companhia do namorado Alexandre (Leonardo Brício), filho de Adma e Félix. Na Bahia, ela conhece Guma, e os dois se apaixonam, mas encontram muitas dificuldades de concretizar esse amor, pois pertencem a mundos diferentes. Além de enfrentarem a hostilidade de Alexandre, que não se conforma em perder Lívia para Guma, e também de Augusta Eugênia, que quer ver a sobrinha casada com o herdeiro de Félix, os dois têm que lidar com as armações da sedutora Esmeralda (Camila Pitanga), moça da cidade baixa apaixonada pelo pescador.
Na reta final de Porto dos Milagres, Félix tenta matar Guma, mas acaba se rendendo ao pescador, implorando que ele salve seu filho Alexandre, que arrasta Lívia para o alto-mar, disposto a morrer com ela. Guma, mais uma vez, enfrenta as águas do mar para salvar o primo e a amada. Os dois são salvos, mas Guma não sobrevive. Esmeralda, então, em um final redentor para a personagem, dá a sua própria vida a Iemanjá para salvar a de Guma. Ela vira mãe de santo, e Guma, salvo, casa-se com Lívia, com quem tem um filho.
Abandonada por Félix após tudo o que fez pelo marido, Adma morre do próprio veneno: ela envenena uma bebida para dar a Eriberto, que percebe a artimanha e troca as taças. Em seguida, o capataz também toma a bebida, morrendo ao lado da mulher que sempre amou. Félix, eleito governador, é morto por Rosa Palmeirão (Luiza Tomé) no dia da cerimônia de sua posse. Após uma curta passagem de tempo, Guma é eleito o novo prefeito da cidade, marcando o início de uma nova era em Porto dos Milagres.
Cena em que Augusta Eugênia (Arlete Salles), irmã de Laura (Carolina Kasting), retorna a Porto dos Milagres. Leôncio (Tuca Andrada) tenta fazer com que a cunhada conheça a bebê Lívia – sobrinha de Augusta -, mas é desprezado.
Cena em que Guma (Marcos Palmeira) salva Alexandre (Leonardo Brício) e Lívia (Flávia Alessandra) de uma tempestade em alto-mar. É quando o pescador a conhece.
Cena em que Félix (Antonio Fagundes) é assassinado por Rosa Palmeirão (Luiza Tomé).
Cena em que Guma (Marcos Palmeira) se casa com Lívia (Flávia Alessandra).