Por Memória Globo

Arte/Memória Globo

Em relação à cobertura da Olimpíada de Montreal, em 1976, Moscou representou um grande avanço para a equipe da Globo. Os profissionais enviados para a União Soviética contavam com uma redação e uma sala de controle, que recebia todos os sinais ao vivo. A equipe selecionava e gravava o que considerava mais importante. Na época, as imagens ainda eram captadas em filme, e o material era passado para videoteipe e editado em Moscou antes de ser gerado para o Brasil. Leonardo Gryner, então um dos coordenadores da equipe da Globo, avalia que os Jogos de Moscou marcaram o início de uma grande mudança na abordagem do esporte olímpico no Brasil.

Além das imagens geradas por Moscou, a equipe produziu reportagens e entrevistas com atletas e abordou diversos aspectos que cercavam as competições. Os profissionais também contaram com um processador de dados que fornecia informações sobre o andamento das competições, resultados, recordes, dados pessoais sobre os atletas, além de curiosidades sobre Jogos Olímpicos anteriores.

“A Globo fez uma cobertura internacional ao vivo, o sinal subia e descia em dois satélites. O delay era de cinco, seis segundos. Era uma confusão entrar ao vivo com um delay desses. Eu ainda trabalhei com filme em Moscou em uma cobertura ao vivo. Ou seja, a gente tinha que vir correndo para televisão revelar o filme, editar para colocar uma matéria no ar, que é uma coisa completamente maluca”, conta Marcelo Matte, repórter.

O trabalho de cobertura começou bem antes do evento, com a produção de programas pré-olímpicos e matérias enviadas de Moscou desde 9 de julho de 1980. Durante a Olimpíada, além de transmissões ao vivo e em videoteipe de basquete, vôlei, futebol, entre outras modalidades, o telespectador foi informado por meio de boletins diários, flashes dentro da programação e blocos de notícias exclusivos, inseridos nos telejornais. Os boletins iam ao ar diariamente, em edições de 15 minutos (às 12h45) e uma hora (às 23h35).

Os Jogos foram mostrados sob vários enfoques, diferente do que tinha sido feito em outras coberturas, quando ia ao ar apenas uma edição das transmissões ao vivo. Pela primeira vez, foi enviada uma equipe de reportagem encarregada exclusivamente de fazer matérias para o Jornal Nacional. Também pela primeira vez, um repórter que não era da divisão de esportes participou de uma cobertura de Jogos Olímpicos. O correspondente da Globo em Londres, Roberto Feith, fez várias matérias sobre o contexto político e as dificuldades econômicas da URSS naquele momento.

“Aquela edição dos Jogos Olímpicos, em especial, tinha uma conotação política, por causa do boicote ocidental, de parte do Ocidente, aos Jogos, em função da invasão soviética ao Afeganistão. Então, o que se decidiu é que tinha de ter alguém para cobrir o lado político dos Jogos, e fui chamado para fazer isso”, explica Roberto Feith, repórter.

Antes da viagem para a União Soviética, as equipes tiveram aulas com noções básicas de russo. Em Moscou, a central de trabalho contou com duas salas dentro da sede da televisão soviética e dois intérpretes. 

“Naquela época não existia globalização nenhuma. Então, o russo não queria saber se você falava inglês, queria que você falasse russo para ele te entender”, lembra Armando Augusto Nogueira (Manduca), jornalista.

A repórter Monika Leitão, na época com 23 anos, foi a única mulher integrante da equipe da Globo enviada a Moscou. Acostumada a entrevistar jogadores em campo e a cobrir torneios de atletismo, Monika se preparou para a cobertura da Olimpíada quando participou das transmissões dos Jogos Pan-americanos de Porto Rico, um ano antes.

Urso Misha

Nas cerimônias de abertura e de encerramento dos Jogos, uma imagem se tornou emblemática. Um gigante desenho do urso Misha, mascote da Olimpíada de Moscou, foi formado por um mosaico de placas coloridas movimentadas pelas pessoas na arquibancada do estádio. Para marcar o fim dos Jogos, Misha chorou. Ciro José e Luciano do Valle narraram as transmissões.

Urso Misha chora na cerimônia de encerramento da Olimpíada de Moscou, Narração de Luciano do Valle, 03/08/1980.

Urso Misha chora na cerimônia de encerramento da Olimpíada de Moscou, Narração de Luciano do Valle, 03/08/1980.

Censura

A geração das imagens para o Brasil era feita do centro de TV em Moscou, e tudo tinha que ser previamente aprovado por representantes do regime soviético. Luiz Nascimento, que integrava a equipe da Globo, conta que não havia uma censura ostensiva e que a maior dificuldade em todo o processo era se fazer entender pelos russos. Muitas vezes, a comunicação era feita por mímica.

“Era complicado, porque a gente não tinha acesso a tudo. A gente tinha credencial, mas só podia sair do nosso hotel para a Vila Olímpica. Andar pela cidade era muito complicado, porque a gente não podia filmar tudo. Cada equipe tinha um tradutor, um russo que falava português de Portugal. Eles acompanhavam e faziam um relatório diário de tudo que a gente tinha feito. E eles censuravam, na hora da transmissão, no satélite, as coisas que eles não queriam que viessem para o Brasil. Eles cortavam enquanto estavam mandando para cá”, lembra Monika Leitão, repórter.

As equipes que iam para a rua gravar reportagens sentiram mais a pressão dos censores russos. Os repórteres podiam seguir direto do hotel para a Vila Olímpica, mas não circular pela cidade. Sempre estavam acompanhados de um intérprete, que todos suspeitavam ser um agente da KGB, a polícia secreta soviética. O repórter Marcelo Matte e o repórter cinematográfico Daniel Andrade tentaram burlar o controle, desviando o percurso para gravar uma reportagem mostrando como vivia uma família russa. A matéria foi gravada, mas não foi exibida, e por pouco a equipe não foi mandada de volta para o Brasil.

Mexa-se

Em paralelo à cobertura de Moscou, a Globo lançou uma campanha inspirada nos Jogos, intitulada Mexa-se. A proposta era estimular os telespectadores a fazer exercício. Por meio de vinhetas inseridas na programação, a campanha chamava a atenção para os benefícios da atividade física e dizia que pequenos atos, como trocar uma lâmpada ou subir uma escada, poderiam fazer diferença. 

O mascote da Olimpíada de Moscou. — Foto: Divulgação

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