PRODUÇÃO
REALIZAÇÃO
O diretor Luiz Fernando Carvalho buscou retratar a realidade a partir de um registro documental, de uma narrativa e de uma câmera mais jornalística, dispensando muitos acessórios de filmagem, como gruas, travellings e lentes especiais. O mesmo foi buscado em relação ao texto, que priorizou a linguagem coloquial, embora procurando não perder a densidade dramática. Segundo o diretor, no dia a dia, ele imaginava os filmes de Elia Kazan filmados por iPhones. Seu foco estava nas relações afetivas dos personagens rede de afetos e também no retrato da Zona Norte com as diversas facetas que a compõem. O texto sugeria reflexões sobre a representação dos negros na produção cultural e na dramaturgia, e a importância do espaço das periferias na sociedade brasileira. Mais do que retratar a geografia do subúrbio, Luiz Fernando Carvalho se interessou em esmiuçar os laços de afeto entre os moradores.
'Suburbia' foi gravada com duas câmeras Arri Alexa com objetivas Master Prime. As imagens eram colorizadas pelo colorista Sergio Pasqualino. A elogiada edição ficou a cargo de Marcio Hashimoto.
Este foi o quarto trabalho do diretor de fotografia Adrian Teijido com Luiz Fernando Carvalho. Antes ele já havia trabalhado nas minisséries 'A Pedra do Reino' e 'Capitu', e no seriado 'Afinal, o que Querem as Mulheres?'. Adrian Teijido é conceituado no cinema, tendo assinado a fotografia de filmes como 'O Palhaço' e 'Gonzaga – de Pai pra Filho'.
O editor Marcio Hashimoto também virou colaborador constante de Luiz Fernando Carvalho, desde a realização de 'A Pedra do Reino', em 2007. Trabalhou em séries realizadas pela O2 Filmes (como 'Antônia', exibida na TV Globo) e em séries da HBO, entre outros trabalhos.
ELENCO
Para compor o elenco do seriado, o diretor Luiz Fernando Carvalho foi atrás de pessoas cujas trajetórias de vida se aproximassem do universo dos personagens. Artistas negros e mulatos – não necessariamente atores, e em sua maioria desconhecidos da mídia – foram escalados em testes de seleção realizados em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, envolvendo mais de dois mil candidatos.
A mineira Erika Januza, intérprete da protagonista Conceição, era funcionária administrativa de uma escola em Contagem (MG), sua terra natal, e nunca havia trabalhado como atriz. Assim como sua mãe na história, interpretada por Serafina Terezinha Pereira, a D. Fininha, uma benzedeira de Belo Horizonte. E a carioca Ana Pérola, escalada para o papel de Jéssica, rival de Conceição – ex-gari e passista das escolas de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e Império Serrano, do Rio de Janeiro.
O elenco também trouxe artistas de grupos que usam a arte, a educação e a cultura como agentes de inclusão e transformação social. Desse time, faziam parte integrantes de grupos culturais como Nós do Morro e AfroReggae, de companhias teatrais como Companhia dos Comuns, Tá na Rua, Teatro Independente, Mulher de Palavra e de projetos como Negro Olhar – Ciclo de Leitura Dramatizada com Autores e Artistas Negros. Além de buscar uma proximidade com o real – como se as histórias e os personagens existissem de fato –, a escolha de não atores e de profissionais desconhecidos do público de TV se incorporava a uma proposta de inclusão social de novos talentos.
Alice Coelho e Arthur Bispo, intérpretes de Maria Rosa e Lorival, os filhos adolescentes da família protagonista da trama, são moradores do morro do Vidigal, na zona sul do Rio, e integram o grupo cultural Nós do Morro. Na vida real, junto com os intérpretes de seus amigos da trama, eles formam os grupos de rap 'As Pérolas Negras' (trio feminino formado por Alice Coelho, Mariana Alves e Jennifer Loiola) e 'Os Panteras Negras' (quarteto masculino formado por Arthur Bispo, Dhonata Augusto, Ramon Francisco e Wallace Costa).
Três integrantes do grupo cultural AfroReggae, que nunca tinham atuado antes, também integraram o elenco de 'Suburbia': os percussionistas Nelly, Wallace Rocha e Lecão; este último, também era vocalista do grupo Afro Samba. Os três moravam em Vigário Geral, na zona norte do Rio.
'Suburbia' também contou com atores veteranos, de marcada contribuição cultural no cenário artístico brasileiro. Como o produtor, escritor e comentarista de Carnaval Haroldo Costa, cuja trajetória começou no Teatro Experimental do Negro (ele viveu Orfeu na peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, encenada em 1956 no Theatro Municipal), e a atriz e cantora Rosa Marya Colin, conhecida no mundo da música, que já fez vários trabalhos na televisão.
Todos os intérpretes passaram por uma preparação intensa para mergulhar no universo de 'Suburbia'. Ensaios e leituras de capítulos com o preparador de elenco Antonio Karnewale, exercícios corporais e aulas de danças de matriz africana com a preparadora corporal Lúcia Cordeiro, aula de jongo e aulas de funk dos anos 1990 com o coreógrafo Fly fizeram parte da maratona de três meses de ensaios.
A sequência da festa de S. Aloysio contou com a participação especial dos integrantes do grupo Jongo da Serrinha, tendo à frente a matriarca Tia Maria do Jongo, e também de membros da velha guarda de escolas de samba como Império Serrano e Portela. Já a mãe de santo da cena do terreiro de umbanda foi interpretada pela cantora Mariuza, de 74 anos.
Entre os destaques do elenco, além dos protagonistas Erika Januza e Fabrício Boliveira, que receberam críticas elogiosas sobre seus desempenhos na trama, sobressaiu também a atriz Dani Ornellas, intérprete da evangélica Vera. Além disso, chamou a atenção a escalação de Paulo Tiefenthaler (o empresário Costa), ator cultuado pela apresentação do programa Larica Total, no Canal Brasil.
FIGURINO E CARACTERIZAÇÃO
As imagens feitas pelo fotógrafo carioca Walter Firmo, que em seus trabalhos registrou a realidade dos subúrbios e valorizou a cultura negra, foram algumas das referências determinantes para a criação do figurino de Suburbia.
O subúrbio iluminado e colorido de Walter Firmo se contrapõe à fase da infância de Conceição (Debora Nascimento) em Minas Gerais. O figurino da personagem na infância tem cores esmaecidas, cobertas pelo preto do carvão. Já as cenas do Rio de Janeiro, nas quais o conceito documental se estabelece, as cores foram resgatadas.
Luciana Buarque estreou na televisão em um especial do diretor Luiz Fernando Carvalho, 'Uma Mulher Vestida de Sol', exibido na TV Globo na década de 1990. Assinou também os figurinos das duas temporadas de 'Hoje é Dia de Maria', da minissérie 'A Pedra do Reino' e do seriado 'Afinal, o que Querem as Mulheres?'.
Uma pesquisa sobre a história de vida do escritor Paulo Lins, aliada ao rigor acadêmico da figurinista, também abriu um leque de possibilidades conceituais para a criação das peças vestidas pelos personagens do seriado. Luciana Buarque mergulhou, ainda, na história do funk, buscando as raízes do ritmo na cultura negra, além de fazer compras e observar os hábitos das pessoas no bairro de Madureira, na Zona Norte do Rio, captando as cores predominantes no bairro. Os próprios atores serviram de fonte para a pesquisa. Vários deles têm suas origens nos subúrbios cariocas e, assim, seus comportamentos, atitudes e gostos se aproximavam dos personagens.
CENOGRAFIA E PRODUÇÃO DE ARTE
Minas Gerais e vários bairros do subúrbio do Rio de Janeiro serviram de cenário para a história, cujas cenas foram todas realizadas em locações externas, evitando os estúdios e as representações cenográficas da realidade. As cenas da pequena Conceição (Debora Nascimento) e sua família foram gravadas na cidade de Quem Quem, no interior de Minas Gerais, e constituem o prólogo do primeiro capítulo da história. No Rio de Janeiro, serviram de cenário, entre outros, os bairros de Madureira, Oswaldo Cruz, Quintino, Curicica e Tijuca.
Na ilha de Paquetá, localizada na Baía de Guanabara, foi ambientada a casa da família que acolhe Conceição (Erika Januza) – e que na trama corresponde ao bairro de Madureira. Um lar onde convivem negros, brancos e mulatos, inserido em um subúrbio que faz as vezes de microcosmo do Brasil. É um subúrbio obrigado a conviver com a violência, mas ao mesmo tempo lírico, semeado de gentileza, sensualidade e elegância. Tal lirismo evocava a figura do músico Pixinguinha, as imagens do fotógrafo Walter Firmo, casas de muro baixo com quintais largos e cadeiras de ferro na varanda, crianças brincando nas calçadas, e a rua de terra como extensão da casa. Paquetá foi escolhida por atender a essas exigências.
TRILHA SONORA
A trilha sonora original de 'Suburbia' foi encomendada pelo diretor Luiz Fernando Carvalho ao compositor e multi-instrumentista André Mehmari, que criou temas orquestrados para pontuar momentos da história. Algumas das composições foram gravadas com os integrantes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Esta foi a primeira vez que Mehmari fez uma trilha para uma série de TV.
A trilha adicional do seriado ficou a cargo de Ed Motta, que aproveitou seu gosto e conhecimento pelo gênero blaxploitation para desenvolver o trabalho. Blaxploitation é um gênero cinematográfico americano, surgido na década de 1970, caracterizado por filmes escritos, dirigidos e estrelados por negros, e que tinham a comunidade negra como público-alvo. Para esses filmes foram produzidas trilhas sonoras memoráveis, lançadas em álbuns, como 'Shaft', de Isaac Hayes (1970); 'Superfly' (1972), de Curtis Mayfield; 'Coffy' (1973), de Roy Ayers; 'Foxy Brown' (1974), de Wille Hutch, entre outras. O movimento também foi usado como referência para a conceituação de 'Suburbia'.
Entre as canções conhecidas escolhidas para fazer parte da trilha estão várias composições antigas de Roberto Carlos – já que a protagonista Conceição é fã das músicas do cantor –, além de estilos como funk, soul, black music, samba e jongo, refletindo a diversidade de ritmos presentes na trama. As canções de funk remetem ao início dos anos 1990, quando o gênero teve início e era marcado por composições de protesto.
A canção 'Pra Swingar', de autoria de Pedrão e Pedrinho e cantada pela banda Som Nosso de Cada Dia (da qual ambos faziam parte), foi resgatada dos anos 1970 para ser usada como música de trabalho do seriado. Podia ser ouvida nas chamadas e na abertura. Também fizeram sucesso canções como 'Garota Nota 100', na voz de MC Marcinho, usada nas chamadas da série; e a clássica 'It´s Automatic', interpretada por Freestyle, utilizada nas aparições de Jéssica (Ana Pérola).