Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biasi) são sócios na 'Armação Ilimitada', uma empresa prestadora de serviços, e topam qualquer desafio: de competições esportivas a cenas arriscadas como dublês de anúncios para a TV, do conserto de um toca-discos até a redação de um discurso para o presidente da República. Os dois moram juntos em um estúdio de TV abandonado, onde vivem cercados de mulheres bonitas, praticam esportes e levam uma vida saudável. Amigos desde infância, se orgulham da lealdade e confiança que depositam um no outro até que conhecem e se apaixonam pela jovem repórter Zelda Scott (Andréa Beltrão).
Inteligente, bonita e idealista, Zelda acaba de chegar da Europa, onde se formou em jornalismo na Sorbonne e viveu com o Pai (Paulo José), um político exilado. No Brasil, ela divide o apartamento com a fogosa Ronalda Cristina (Catarina Abdala) e trabalha no jornal Correio do Crepúsculo, comandado pelo seu tirânico Chefe (Francisco Milani) . Enviada para escrever um perfil de Juba e Lula, Zelda acaba apaixonada pelos dois. Incapaz de se decidir, conclui que o melhor é amar os dois ao mesmo tempo. Para Juba e Lula, a coisa não é tão simples e só depois de quase se matarem em uma disputa pelo amor de Zelda, eles decidem preservar a amizade. O trio passa, então, a ter um bem-resolvido relacionamento amoroso. No episódio O Surfista e o Milionário, Zelda afirma que quer ficar com Juba e Lula após ser salva pela dupla . Alguns episódios depois, adotam Bacana (Jonas Torres), um garoto esperto que perdeu os pais, que eram artistas de circo. Em pouco tempo, ele revela ter o mesmo espírito aventureiro dos pais adotivos.
As aventuras dos heróis de 'Armação Ilimitada' eram baseadas na atualidade e no estilo de vida dos jovens, com roteiros que absorviam todos os clichês dos filmes de ação, ficção científica e aventura. Em quatro temporadas, Juba, Lula e companhia lidam com agentes secretos, sósias, vampiros sereias, políticos corruptos, clones de Magnum (do seriado epônimo) e James Bond, super-heróis, bandas de rock, motociclistas, mulheres fatais e monstros. Para os autores, tão importante quanto as histórias era determinar a maneira como elas seriam contadas. Em texto e imagem, eles abusavam de experimentações narrativas e de um humor anárquico, sem maior compromisso com a dramaturgia convencional da televisão. O seriado tinha o seu próprio menestrel ou corifeu na figura do DJ Black Boy (que, apesar do nome, era interpretado por uma mulher, a atriz Nara Gil). De seu estúdio na Rádio Atividade, ele interrompia um episódio várias vezes para fazer comentários sobre a história, num misto de locução de rádio e rap: “É como já dizia o velho Charles:/ Bandeira pouca é bobagem/ Mais ovo e menos galinhagem/ Entra no ar o rádio com imagem”.
Em alguns episódios, Zelda aparecia completamente nua, com tarjas pretas cobrindo suas partes íntimas. Em outros, quando um personagem falava um palavrão, o áudio era suspenso e um balão de histórias em quadrinhos com símbolos e caracteres cifrados surgia sobre sua cabeça. A qualquer momento, um personagem podia se virar para a câmera e fazer um comentário sobre a qualidade do script do programa. No primeiro episódio, Um Triângulo de Bermudas, Juba despenca de um penhasco durante um racha de motocicleta e morre. No final do episódio, ressurgia e se desculpava com o público dizendo que era tudo brincadeira, “só um seriado de televisão”. Tudo absolutamente inovador para a época.
As brincadeiras com a linguagem davam um tom quase surrealista a algumas cenas. O Chefe, por exemplo, surgia sempre caricaturado de acordo com o contexto específico de cada cena com Zelda. Toda a realidade ao redor do personagem podia ser transformada à menção de uma palavra ou expressão. Se dissesse que estava no “fundo do poço” podia ser a senha para que imediatamente ele surgisse de fato no fundo de um poço d’água, assim como “sombra e água fresca” podia transportá-lo a uma praia paradisíaca com sombra de coqueiros e água de coco. Quando se encontrava no escritório despachando assuntos do jornal, o Chefe aparecia vestido de Pai-de-Santo em um terreiro de candomblé. E tudo isso podia acontecer durante uma mesma cena.
'Armação Ilimitada' foi criado a partir de uma idéia dos atores Kadu Moliterno e André de Biasi, que haviam trabalhado juntos na novela Partido alto (1984), e se encontravam frequentemente na praia para surfar. Eles queriam fazer um seriado de TV que misturasse esportes, romance e aventura, com uma linguagem jovem. Em 1985, os atores conversaram sobre o programa com o diretor Daniel Filho, que resolveu apostar no projeto.
O primeiro passo era ampliar o conceito do seriado para um público mais amplo do que os amantes do surfe. Para a missão foi convocado o autor Antonio Calmon, que escrevera e dirigira os filmes Menino do Rio (1981) – com André de Biasi no elenco – e Garota Dourada (1984), e tinha intimidade com aquele universo. A ele se uniram a atriz e escritora Patricya Travassos, integrante do famoso grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone e letrista da Blitz; o dramaturgo Euclydes Marinho, que já havia assinado os textos de seriados de grande sucesso como Ciranda Cirandinha (1978) e Malu Mulher (1978); e o produtor musical Nelson Motta. Os dois últimos moravam na Itália e não tinham planos de voltar em definitivo para o Brasil, mas, recrutados pessoalmente por Daniel Filho, aceitaram colaborar com os quatro primeiros episódios do seriado. Depois foram substituídos por Daniel Más.
A direção foi entregue a Guel Arraes, que dirigira com Jorge Fernando a novela Vereda Tropical (1984), de Silvio de Abreu. O diretor conta que, a princípio, não se identificou com o seriado, que achava muito ligado ao universo dos surfistas e ao estilo de vida carioca. Convencido por Daniel Filho, em pouco tempo, criou a linguagem e o modo de produção do programa, que remetia ao usado no cinema. 'Armação Ilimitada' era gravado com uma só câmera. Era a primeira vez que isso era feito na TV Globo, onde normalmente se usavam quatro câmeras. A iluminação ficou a cargo do diretor de fotografia Nonato Estrela, profissional de cinema praticamente estreante em televisão.
Várias das cenas de ação protagonizadas por Juba e Lula eram sugeridas por André de Biasi e Kadu Moliterno e realizadas com a ajuda de amigos dos atores. Kadu Moliterno conta que chegou a quebrar duas costelas, perder dois dentes e receber 13 pontos na perna, até ser proibido pela emissora de realizar cenas de ação sem dublês. Guel Arraes atribui boa parte do sucesso de 'Armação Ilimitada' à linguagem inovadora do programa – ágil, similar a dos videoclipes que começavam a se tornar populares no Brasil naquela época – e à edição de João Paulo de Carvalho. Segundo o diretor, com freqüência o resultado final era tão surpreendente que, muitas vezes, ele não se lembrava de sequer ter gravado aquelas imagens.
Na terceira temporada, Ronalda Cristina engravida de um extraterrestre e dá à luz a pequena Zelda Cristina, bebê com superpoderes. No início, o rosto da personagem Zeldinha não era visto, aparecendo apenas como um carrinho de bebê. A partir de Uma Armação nas Estrelas, é revelada sua aparência como um alienígena hominídeo com longas orelhas pontudas e pele esverdeada (lembrando Yoda, de Guerra nas Estrelas). Grandes mudanças vieram na quarta temporada: Zelda deixou o jornalismo, envolvendo-se em outras atividades, embora seu Chefe continuasse o mesmo. Bacana entrou para a escola e formou uma turma de amigos. No primeiro ano, Armação Ilimitada integrava a Sexta Super, faixa de programação noturna da TV Globo, e era exibido uma vez por mês, em episódios de 45 minutos de duração. Em 1986, passou ir ao ar quinzenalmente e a ser reprisado durante as férias de verão. O seriado deixou de ser exibido em dezembro de 1988. Em 1990, foi reapresentado no Festival 25 anos da TV Globo.