Por Memória Globo

No Limite foi o primeiro reality show exibido pela Globo. Apresentado por Zeca Camargo após o Fantástico, o programa foi sucesso de audiência e abriu alas para a aquisição de direitos de outros realities dali por diante. A premissa era simples: participantes divididos em dois grupos disputavam provas de resistência, equilíbrio, coragem, em condições adversas. A cada semana, uma pessoa era eliminada. No final, vencia quem completasse mais rápido as provas. Elaine Cosmo de Melo, paulistana de 35 anos, surpreendeu a todos e venceu a primeira temporada. O último embate foi com a favorita da edição, Pipa, que, na principal prova, perdeu a mandala do elemento “água” no mar. A cabeleireira levou para casa um carro e R$ 300 mil. 

Período de exibição: 23/07/2000 -10/09/2000 | Diretor responsável: Evandro Carlos de Andrade | Coordenação de jornalismo: Luiz Nascimento | Direção-geral: J.B. de Oliveira (Boninho) | Direção: Carlos Magalhães, Alexandre Guimarães e Leandro Néri | Direção de produção: Mário Rogério Ambrósio | Apresentação e reportagem: Zeca Camargo | Editora-chefe de jornalismo: Eugênia Moreyra

Prova final do programa, disputada por Elaine e Pipa. Elaine vence.

Prova final do programa, disputada por Elaine e Pipa. Elaine vence.

Elaine, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/ Globo.

Pipa, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

Chico, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/ Globo

Andrea, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/globo

O JOGO

A primeira temporada de No Limite foi exibida entre julho e setembro de 2000 e reuniu um grupo de 12 pessoas, com idades entre 20 e 54 anos, na fictícia Praia dos Anjos, a cerca de 100 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, durante 23 dias. Cada episódio tinha duração de 25 minutos e ia ao ar depois do Fantástico. Zeca Camargo foi escolhido para apresentar a edição – uma adaptação do programa americano Survivor. Naquela temporada, houve dois momentos que entraram para a história da televisão brasileira. O chamado “grande banquete”, no qual participantes tiveram que comer alimentos inusitados, como olho de cabra. E a grande final, quando Pipa e Elaine se enfrentaram com a missão de juntar quatro mandalas conquistadas após provas de resistência. 

PRAIA DOS ANJOS

Um lugar paradisíaco. A fictícia Praia dos Anjos era um conjunto litorâneo com mais de 150 mil metros quadrados de dunas, falésias, coqueirais, matas de cajueiros, vegetação rasteira e pequenos desertos. Havia ali barreiras naturais para que se testasse a capacidade de sobrevivência dos concorrentes.

AS REGRAS

O programa de estreia teve duração de 40 minutos e, além de apresentar os participantes, mostrou como eles reagiam às primeiras dificuldades: lidar com o terreno, escolher o lugar adequado para improvisar uma barraca e arrumar alimento. Os episódios seguintes tiveram 25 minutos de duração. Os desafios exigiam força física, resistência psicológica e coragem. A cada tarefa superada, os grupos ganhavam produtos de higiene, frutas ou cartas com notícias dos parentes. A dieta mínima era elaborada pela nutricionista Márcia Madeira e complementada pelos concorrentes, que tinham de caçar, pescar e colher frutos para se alimentar. 

Amendoim, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

Anderson, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

Thiago, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

Marcus, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

O jogo foi dividido em duas etapas. Na primeira, as equipes receberam tarefas iguais, que deviam ser realizadas por todos os integrantes de cada grupo. O time perdedor – que não conseguia atingir o resultado estipulado ou demorasse mais tempo para realizá-lo – era obrigado a escolher um companheiro para sair do programa, o que era feito por meio de votação secreta, no local chamado de “Portal dos Quatro Elementos”. Zeca Camargo atuava como árbitro do jogo, entregando à equipe vencedora um dos quatro elementos – água, ar, fogo e terra –, formadores da mandala que caracterizava o cumprimento de todas as tarefas e o fim da etapa. 

Na segunda etapa, já com um número reduzido de participantes, as provas passaram a ser individuais. Pipa, Andréia, Juliana e Elaine conseguiram chegar à semifinal, e formaram duplas para prosseguir na competição. Como as gravações haviam começado um mês antes da exibição do programa, os concorrentes excluídos ficavam hospedados em pousadas no Ceará, para que não tivessem contato com amigos e familiares, evitando que o público soubesse quem era o perdedor da semana antes da exibição do episódio correspondente. A vitória de Elaine, porém, acabou sendo descoberta por um veículo de imprensa, que estampou o “furo” em suas páginas. A notícia gerou muita especulação sobre o final do programa, já que a direção, na tentativa de manter a surpresa, não confirmou o resultado até que o último episódio foi efetivamente ao ar. 

Cena em que os participantes disputam a primeira prova (Hilma, Vanderson, Marcus, Juliana, Chico, Amendoim, Elaine, Thiago, Pipa, Hilca, Jeferson e Andréa).

Cena em que os participantes disputam a primeira prova (Hilma, Vanderson, Marcus, Juliana, Chico, Amendoim, Elaine, Thiago, Pipa, Hilca, Jeferson e Andréa).

PARTICIPANTES

Entraram no programa a dona de casa Hilma, o bailarino e ex-menino de rua Vanderson; o advogado recém-formado Marcus; a estudante de serviços sociais Juliana; o aposentado Chico; o líder comunitário Amendoim; a cabeleireira Elaine; o motociclista Thiago; a atriz Pipa; a estudante de ensino médio Hilca; o bancário Jeferson e a advogada carioca Andréa. Os 12 competidores foram divididos em duas equipes, intituladas com nomes de tribos: Kuaray e Jaxi, que significam Sol e Lua em guarani. A língua foi usada para que os concorrentes decifrassem algumas mensagens ao longo do programa.

No Limite 1, terceira prova — Foto: Frame de vídeo/Globo

VOCÊ SABIA?

Todos os participantes passaram por uma série de testes antes de serem aprovados para o programa. Foram checadas desde aptidões físicas até características psicológicas. A escolha das pessoas, que também levou em conta critérios sociológicos como idade, classe social, ocupação, nível de escolaridade e local de moradia, teve o apoio de uma agência de recursos humanos que pré-selecionou interessados em fazer parte de um programa de aventura produzido pela Globo. Os candidatos se conheceram somente quando chegaram ao local da aventura. 

BASTIDORES

No Limite nasceu como um quadro do Fantástico. Devido a isso, mobilizou uma parte da equipe do programa, entre eles a editora Eugenia Moreyra e o então diretor artístico do Fantástico, Boninho. A equipe de produção liderada por Boninho contava com 100 integrantes, entre eles, dez operadores de câmera que se revezavam para registrar os principais momentos da vida dos participantes, 24 horas por dia. No Rio de Janeiro, Eugenia Moreyra e outros quatro editores recebiam as fitas e editavam em tempo recorde o material.  

Juliana, No Limite, 2000. Foto: — Foto: Frame de vídeo/Globo

Jefferson, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

Ilma, No Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

Hilca, no Limite, 2000 — Foto: Frame de vídeo/Globo

“Foi a maior aventura profissional da minha vida. O Boninho foi para o meio de uma praia deserta no Ceará, com uma equipe enorme, fazer uma coisa que ele nem sabia direito o que era, com uma coragem extraordinária. A gente ficou aqui para editar tendo visto apenas duas edições do Survivor, que ainda estava no ar. Foi um sucesso extraordinário”.
Eugenia Moreyra |  editora-chefe de No Limite.

 A ideia de gerar um reality show dentro do Jornalismo da Globo nascera em um “brainstorm” no final dos anos 1990, a pedido do então diretor da Central, Evandro Carlos de Andrade. Naquela época, apostaram que uma equipe de jornalistas conseguiria imprimir um ar documental ao show.  Foi uma receita de sucesso. Em pouco tempo, o programa deixaria a área de Jornalismo e passaria a integrar um núcleo dedicado exclusivamente ao formato reality, dirigido por Boninho.

Apresentador Zeca Camargo, na primeira edição de No Limite. 2000. — Foto: Frame de vídeo/Globo

“A gente não sabia como funcionava muito bem o jogo. Eu me lembro muito de um momento emocionante: a gente desceu de uma reunião, viemos para a sala da direção do Fantástico, e a gente quebrou a cabeça: ‘Como funcionaria um programa desse? Qual é a estrutura? Quantos têm que ser eliminados? Quantos episódios?’ A gente fez no papel. Dali saiu um esboço do que virou o No Limite. O Boninho começou a tocar as provas com o aparato da produção do Projac; e parte da equipe do Fantástico assumiu a edição, a formatação e a condução das histórias para que não houvesse nenhuma manipulação. Para que houvesse coerência das histórias”.
Zeca Camargo |  apresentador.  

No Limite alcançou altos índices de audiência para o horário. O site especial do programa foi acessado por mais de 400 mil pessoas somente nas duas primeiras semanas. Um recorde para a época. Nos dois primeiros episódios, a audiência do reality bateu os números da novela das 20h e do Jornal Nacional. Todas as etapas do programa contaram com o apoio logístico da Marinha e tiveram à disposição serviços médicos e hospitalares de emergência. O governo do estado do Ceará colaborou com a segurança, distribuída em três guaritas ao redor do centro de gravações, onde só entravam pessoas autorizadas. A equipe de produção incluía a psicóloga Deise Werneck, a bióloga Brigitte Bertin, o pesquisador e doutor em linguística Luiz Carlos Borges e o índio Guarani Wera D’jekupe. No Limite recebeu o prêmio de melhor programa de televisão de 2000, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). 

Pipa, Elaine, Juliana e Andréa, participantes do No limite 1 — Foto: Roberto Steinberger

Vanderson, Chico, Juliana, Jefferson e Elaine, participantes do No Limite 1 — Foto: Roberto Steinberger

Participantes no tabuleiro, No Limite 1 — Foto: Roberto Steinberger

Elaine, vencedora de No Limite 1 com a mandala completa — Foto: Frame de vídeo/Globo

CURIOSIDADES

Webdoc sobre o programa No Limite com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre o programa No Limite com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

A grande vencedora, Elaine, precisou fazer a dieta forçada de 250 calorias diárias do programa, assim como os demais participantes. Ela, que antes estava fora de forma e levava uma vida sedentária, voltou para casa com 12 quilos a menos. 

Após a primeira edição do reality show, a Globo licenciou uma linha de 25 produtos com a marca do programa – bonés, canivetes, jogos, camisetas, livros e telescópios. Tratava-se, até então, do maior volume de produtos licenciados para um programa da emissora. 

Todos os concorrentes apresentaram-se no Domingão do Faustão uma semana depois da final, para mais uma disputa. Juliana foi considerada a mais carismática pelo público – que votou através de uma central telefônica implantada especialmente para a eleição – e ganhou um carro zero quilômetro como prêmio. 

Inspirado no sucesso de No Limite, o Domingão do Faustão lançou o jogo Sufoco, uma competição com seis pessoas (três homens e três mulheres), com idades entre 21 e 40 anos, que passaram quatro dias trancados dentro de uma casa de vidro, vigiados por câmeras durante as 24 horas do dia. O grupo disputou provas de capacidade intelectual e resistência física, além de ter que saber tudo sobre os rivais. O vencedor foi escolhido pelo público, ao vivo, através de um telefone 0800. Um integrante, chamado de Sabotador, foi infiltrado no grupo para dificultar a vida de todos. 

Em agosto de 2000, o Caldeirão do Huck estreou o quadro Caldeirão no Limite, mostrando duas equipes – Sol e Lua –, formadas, cada uma, por três familiares dos participantes de No Limite. O programa apresentava duas famílias a cada sábado. Participaram da primeira edição do quadro a mãe e duas primas de Hilca, de Salvador; e a mãe, a irmã e o namorado de Andréa, do Rio de Janeiro. Foram ao ar seis programas ao todo, e os integrantes das equipes não podiam se separar em nenhum momento. Eles eram acompanhados por uma produtora e uma equipe de filmagem. A prova só era considerada concluída quando todos os integrantes do grupo tivessem cumprido a tarefa proposta. A equipe vencedora ganhava um carro zero. As locações eram sempre urbanas, e o primeiro local escolhido foi a Rodoviária Tietê, em São Paulo. Além disso, após o fim do programa, Andréia, Elaine e Juliana foram ao Caldeirão do Huck, onde enfrentaram o grupo Os Travessos no quadro Trato na Escola. 

Abertura do programa No Limite (2000).

Abertura do programa No Limite (2000).

POLÊMICAS

Algumas polêmicas acompanharam a exibição de No Limite. Como se tratava da primeira experiência de reality show no Brasil, sociólogos e psicólogos questionaram o que consideravam falta de comprometimento do programa com os direitos humanos e acusaram a produção de “sádica” e “irresponsável”. O programa também foi acusado de fútil, por explorar o narcisismo dos participantes. 

O líder comunitário Paulo César Martins, o Amendoim, morador da favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio – onde presidia a Associação de Moradores e Amigos do Bairro Barcelos – , sentiu-se discriminado pelos demais participantes do programa e ofendido por ter sido chamado de “crioulo” no ar pelo concorrente Marcus Werner Viana Ferreira, advogado e surfista morador da Lagoa, área nobre do Rio. Entidades de direitos humanos tentaram convencer Amendoim a entrar com uma ação civil pública contra Marcos por danos morais e racismo. Marcus foi um dos que votaram pela expulsão de Amendoim da equipe Sol. Os dois acabaram selando a paz no Domingão do Faustão, em agosto de 2000. 

Marcus ainda protagonizou outro debate ao ganhar fama de “come e dorme” e garanhão, por ter comentado no programa que “pegaria” a companheira de equipe Patrícia Diniz, a gaúcha Pipa, e insinuar que fora paquerado por ela, que era casada. Irônico, ainda batizou as duas galinhas pretas que ganhou em uma das competições com os nomes de Hilca e Amendoim, que eram negros. No primeiro programa, já havia chamado Hilca de “gorda”. 

Mais do memoriaglobo
Projeto Resgate

Malhação reestreou em maio de 2001 com uma trama mais dramática que o habitual e investindo mais nas campanhas de responsabilidade social.

'Malhação Múltipla Escolha 2001' estreia no Globoplay  - Foto: (Memoria Globo)
Projeto Resgate do Globoplay

Adaptação de obra homônima de Antonio Callado, 'A Madona de Cedro' relata o drama de um homem religioso que contraria seus valores morais em nome do amor.

O roubo de uma obra de arte movimenta 'A Madona de Cedro' - Foto: (Jorge Baumann/Globo)
Dia de alegria!

A atriz Adriana Esteves nasceu no Rio de Janeiro. Estreou na Globo em um quadro do 'Domingão do Faustão', em 1989. No mesmo ano estreou em sua primeira novela, 'Top Model'.

Parabéns, Adriana Esteves! - Foto: (Ique Esteves/Globo)
O telejornal que acorda com o país

Com uma linguagem leve e informal, o telejornal informa as primeiras notícias do Brasil e do mundo para um público que acorda ainda de madrugada.

'Hora 1' completa 10 anos apostando no dinamismo e credibilidade  - Foto: (Arte/Memória Globo)
Fundador da TV Globo

O jornalista e empresário Roberto Marinho nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1904. Foi diretor-redator-chefe do jornal O Globo, aos 26 anos. Criou a TV Globo em 1965 e, em 1991, a Globosat, produtora de conteúdo para canais de TV por assinatura. Morreu em 2003, aos 98 anos.

Roberto Marinho nasceu há 120 anos: relembre a vida do jornalista e empresário - Foto: (Acervo Roberto Marinho)
"Quem cultiva a semente do amor..."

A novela exalta o poder feminino por meio da trajetória de Maria da Paz e traz uma história contemporânea de amor, coragem e esperança.

Relembre Maria da Paz, 'A Dona do Pedaço' - Foto: (João Miguel Júnior/Globo)
Projeto Fragmentos do Globoplay

A novela celebrava o centenário de morte de José de Alencar e se baseava em três obras do autor: A Viuvinha, Til e O Sertanejo.

'Sinhazinha Flô' teve Bete Mendes como protagonista  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)