Por Memória Globo

Thiago Prado Neris/Globo

A personagem de Taís Araújo foi a oitava Helena criada por Manoel Carlos em suas novelas. Ele batizou com o mesmo nome as protagonistas de 'Baila Comigo' (1981, Lilian Lemmertz), 'Felicidade' (1991, Maitê Proença), 'História de Amor' (1995, Regina Duarte), 'Por Amor' (1997, Regina Duarte novamente), 'Laços de Família' (2000, Vera Fischer), 'Mulheres Apaixonadas' (2003, Christiane Torloni) e 'Páginas da Vida' (2006, Regina Duarte). Sendo que, desta vez, a personagem era mais jovem do que as anteriores, além de negra.

Taís Araújo em Viver a Vida, 2009 — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

Taís Araújo interpretou na trama a primeira protagonista negra de uma novela das oito da TV Globo.

A escolha de Taís Araújo para viver a protagonista da novela foi considerada um marco na história da teledramaturgia brasileira. Segundo o cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo, autor do documentário 'A Negação do Brasil' (2000), sobre a trajetória dos personagens negros nas novelas brasileiras, e que resultou no livro 'A Negação do Brasil – O Negro na Telenovela Brasileira' (2000), a importância se deve não somente ao fato de ela ser a primeira protagonista negra no horário nobre, mas também pelo tratamento inédito dado à personagem, que não estava inserida em um contexto branco. Helena tinha uma família negra, em que cada integrante tinha sua história própria. A valorização dos cabelos crespos da atriz também foi aplaudida.

'Viver a Vida' foi a 11ª novela de autoria de Manoel Carlos produzida na TV Globo.

Esse foi o terceiro trabalho do diretor Jayme Monjardim em parceria com o autor Manoel Carlos. Os anteriores foram a novela 'Páginas da Vida' (2006) e a minissérie 'Maysa – Quando Fala o Coração' (2009).

O sucesso da novela não se refletiu apenas na audiência, mas no lucro com merchandising comercial. O autor Manoel Carlos afirmou que chegou a recusar ações de merchandising devido ao número elevado de propostas. Até a prefeitura de Lisboa negociou com a TV Globo a realização de algumas ações, com a finalidade de incentivar o turismo na capital portuguesa. Na trama, os personagens Felipe (Rodrigo Hilbert) e Renata (Bárbara Paz) viajaram à cidade para participar de um editorial de moda. Esta foi a primeira vez que uma novela da TV Globo apresentou um projeto de merchandising adquirido por um cliente internacional.

Giovanna Antonelli e Klara Castanho em 'Viver a Vida', 2009 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

A personagem Rafaela, interpretada pela menina Klara Castanho, sofreu alterações ao longo da história, por conta de uma pressão exercida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Idealizada como uma criança má, ela chegou a fazer chantagens com a personagem Helena (Taís Araújo), o que desagradou ao MPT, que encaminhou notificação recomendatória ao autor, demonstrando que “o trabalho infantil artístico deve ser comedido, observando não só os aspectos legais mas, principalmente, eventuais reflexos que determinado personagem pode provocar no desenvolvimento da criança”. A atriz mirim, então com 9 anos, foi um dos destaques da novela por conta de sua desenvoltura em cena. Ela foi escalada para a trama após fazer sucesso no seriado 'Mothern', exibido no GNT.

A novela de Manoel Carlos confirmou o talento de jovens atores como Mateus Solano, Alinne Moraes e Bárbara Paz (em seu primeiro papel na TV Globo), destacou mais uma vez a versatilidade de veteranas como Natália do Vale e Lilia Cabral, e revelou novatas como Adriana Birolli e Nanda Costa. Eles foram muito elogiados por sua interpretação. Lilia Cabral voltou a atrair muitas críticas positivas, como aconteceu com a personagem Marta, que interpretou em 'Páginas da Vida'. Mateus, intérprete dos gêmeos Jorge e Miguel, virou o novo galã da TV.

A exemplo de outras novelas do autor, 'Viver a Vida' explorou as relações entre mães abnegadas e seus filhos, com destaque para o relacionamento de Luciana (Alinne Moraes) e Tereza (Lilia Cabral). Muitas das cenas estreladas pelas duas personagens emocionaram o público. Em uma delas, Tereza dá banho na filha.

Diálogos entre Tereza (Lilia Cabral) e a filha adotiva Mia (Paloma Bernardi) chegaram a despertar a indignação de grupos de apoio à adoção no Rio, insatisfeitos com o texto do autor. Eles consideraram algumas falas pejorativas e pediram uma nova abordagem do assunto “adoção”. Em determinado capítulo, ao lembrar a primeira vez em que Mia a chamou de mãe, Tereza disse que o chamado soou diferente do das filhas “verdadeiras”. Embora a personagem tenha deixado claro que considerou o gesto da adotiva mais sincero que o das biológicas, a distinção entre filho biológico e adotivo incomodou. A discussão teve início em uma página de relacionamentos do Orkut.

José Mayer em 'Viver a Vida', 2009 — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

A escalação de José Mayer para viver mais um galã em uma novela de Manoel Carlos transformou o ator em uma lenda instantânea da internet. Ele virou personagem de um movimento viral, o Zé Mayer Facts (Fatos sobre Zé Mayer), criado por um blogueiro especialista em criar burburinhos na rede virtual. A brincadeira se inspirou num dos virais mais conhecidos da internet, o Chuck Norris Facts, uma corrente de 2005 que trazia cem frases fictícias sobre o ator americano. O viral de José Mayer chegou a atingir o segundo lugar nos Trending Topics, lista com os dez assuntos mais comentados no site Twitter.

Alinne Moraes se afastou por um tempo das gravações da novela por conta de uma crise renal. Para driblar a ausência da atriz e explicar seu sumiço da trama, o autor criou uma infecção urinária para a personagem, que voltou a ser internada.

O argentino naturalizado brasileiro Mario José Paz, assim como seu personagem, Garcia, já era um velho conhecido de Búzios. Dono de uma pousada e do cinema local, o ator e empresário produzia há 15 anos o Festival de Cinema do balneário quando atuou na novela. Maradona – apelido de Garcia – foi um de seus maiores papéis na TV até então.

Os nomes dos gêmeos de Luciana e Miguel foram escolhidos por Alinne Moraes. A atriz batizou os filhos de sua personagem de Flávia e Manoel, em homenagem à jornalista Flávia Cintra, que serviu de referência para a história de Luciana, e ao autor da novela. No script do último capítulo, Manoel Carlos deixara a escolha do nome a critério da atriz.

'Viver a Vida' já foi título de outra obra de Manoel Carlos, uma minissérie exibida pela TV Manchete em 1984, inspirada no romance 'Uma Tragédia Americana', de Theodore Dreiser, e no filme 'Um Lugar ao Sol' (1951), de George Stevens, inspirado no mesmo livro.

Rosana Garcia, a primeira Narizinho do infantil Sítio do Picapau Amarelo, trabalhou em 'Viver a Vida' como coach (preparadora de atores) de Klara Castanho e Caio Manhente. A atriz já havia feito o mesmo trabalho em outras novelas.

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