Tempos Modernos é uma comédia dramática contemporânea, ambientada no centro de São Paulo, que traz como principal personagem o empresário Leal Cordeiro (Antonio Fagundes), idealizador de um edifício inteligente – onde se passa grande parte da novela. Além de explorar a interação do homem com a máquina e abordar a perda da liberdade em decorrência da preocupação excessiva com a segurança privada, a história enfoca nas relações afetivas entre pais e filhos, irmãos, casais e amigos. O empreendedor Leal começou a trabalhar ainda jovem, na construção civil, fabricando tijolos. Integrou uma das primeiras equipes responsáveis pela fundação de Brasília, onde comprou seu primeiro pedaço de terra. Com dinheiro e ambição, Leal chegou à capital paulista, tendo sido contratado por empreiteiras atuantes em importantes empreendimentos, como a do conhecido edifício Titã, localizado no centro antigo de São Paulo. Além de participar da construção da obra, Leal comprou todos os imóveis colocados à venda, com exceção do apartamento da moradora Hélia (Eliane Giardini), com quem teve um envolvimento no passado. A relação dos dois não terminou bem e eles vivem brigando. Ex-bailarina, dona de uma escola de dança, Hélia ganhou o apartamento de Leal e, por mais que negue, ela ainda o ama. Somente Tio Fidélio (Ricardo Blat), seu amigo e antigo admirador, sabe das angústias que ela guarda, e a apoia nos momentos delicados.
Há anos Leal administra o Titã, tentando colocar ordem no prédio, o maior edifício do Brasil, que possui 165 m de altura, 36 andares, 1.550 apartamentos em diferentes dimensões, 95 lojas, mais de sete mil residentes e uma população flutuante beirando as dez mil pessoas. Ali convivem todas as classes sociais. E até uma pequena maternidade está para ser inaugurada no prédio, possibilitando que uma pessoa possa nascer e morrer sem sair do local uma só vez. O Titã tem os mais avançados recursos tecnológicos, que controlam desde a temperatura interna até a vigilância de tudo o que acontece dentro de suas paredes, com o auxílio de câmeras estrategicamente instaladas. O Titã é controlado pelo computador Frank, uma máquina irônica, temperamental e não muito avançada, construída e instalada no coração do edifício. Frank – uma espécie de computador HAL 9000, do filme 2001 – Uma Odisseia do Espaço (1968), de Stanley Kubrick – ainda interage com os moradores, como um síndico onipresente. Ele questiona, consola e debocha das pessoas que vivem ou circulam pelo prédio. Tem sempre uma resposta pronta, e teme ser trocado por uma versão mais atualizada. Ninguém tem acesso à sua sala de controle, com exceção de Leal, com quem tem uma relação amigável, com pitadas de humor e emoção.
Quando a história começa, Leal, após muitos anos de dedicação ao trabalho, vive o dilema de se aposentar ou permanecer à frente da administração do Titã. No momento, ele está prestes a investir no Titã II – projetado para ser o maior prédio da América Latina, a ser erguido no Centro, utilizando o que há de mais moderno em tecnologia no setor imobiliário –, o que torna a decisão mais complicada. Outro problema é a sua sucessão: suas filhas e herdeiras, Regeane (Vivianne Pasmanter), Goretti (Regiane Alves) e Nelinha (Fernanda Vasconcellos), não se entendem, nem levam o menor jeito para cuidar de um edifício com proporções e complicações tão gigantescas. A relação de Leal com as filhas e o dilema de entregar seu reinado a uma delas remete ao clássico Rei Lear, de Shakespeare.
Das três filhas, a caçula Nelinha é quem mais se parece com o empresário, tanto na teimosia quanto na forma de pensar e agir, o que faz da relação dos dois uma gangorra. Predileta de Leal, a jovem astrônoma é simples, franca, tem um enorme coração e uma grande admiração pelo pai. Nelinha é contra o Titã II porque o edifício destruirá parte da história da área central da cidade, além de causar transtornos urbanísticos e ecológicos à região. Ela tem o apoio da vizinhança, especialmente das pessoas que circulam pela Galeria, um conjunto de lojas frequentadas por diferentes tribos. Com o novo empreendimento, os comerciantes correm o risco de perder a área.
Regeane e Goretti são duas peruas cafonas que almejam a alta sociedade e fazem tudo para que o pai não abandone o projeto do Titã II, símbolo de prestígio e garantia de uma fortuna maior. Regeane sofre de consumismo patológico. Separou-se do astrônomo Portinho (Felipe Camargo) ao descobrir que ele não poderia lhe dar filhos, mas ainda é apaixonada pelo ex-marido. Para conquistar de vez o coração de Leal, na tentativa de dar-lhe um neto, ela aceita namorar Albano, acreditando que ao seu lado terá um futuro melhor. O romance, no entanto, dura pouco, e ela reata com o atrapalhado Portinho, que nunca perdera a esperança de reconquistá-la.
Já Goretti, a Go, morre de vergonha da origem pobre de Leal e sonha com os holofotes, apostando em suas duvidosas criações como artista plástica. Casada com o charlatão Bodanski (Otávio Müller) – autor de livros de autoajuda e dono do SPA Pilhanatural, onde são aplicadas técnicas inusitadas que, supostamente, visam o bem-estar do corpo e da alma –, Goretti sempre quis dar um neto ao pai, mas só teve filhas: Maria Eunice (Polliana Aleixo), Maria Helena (Rebecca Orenstein), Maria Clara (Jeniffer de Oliveira Andrade) e Maria Eugênia (Ana Karolina Lannes), meninas incontroláveis, com idades entre 12 e 15 anos. Goretti tenta de todas as maneiras evitar as demandas domésticas e reluta em assumir o papel de mãe, por medo e inabilidade para administrar uma casa. Após muitas tentativas frustradas de arrumar governantas, babás e domésticas para cuidar dessa família, a salvação para Goretti é Iolanda Paranhos (Malu Galli), uma ex-enfermeira, formada em Psicologia, que é contratada para trabalhar na casa e encontra uma maneira de colocar ordem na bagunça, contribuindo para a educação das meninas. Por conta disso, a relação de Goretti com Iolanda passa por muitos conflitos. A família de Leal ainda conta com o apoio da experiente Tertuliana (Débora Duarte), que vive há anos na casa do empresário e ajudou a criar Nelinha após a morte de sua mãe.
Logo no início da trama, Nelinha se envolve com o jovem engenheiro Zeca (Thiago Rodrigues), ex-membro do corpo de fuzileiros navais, que volta ao Titã para viver com sua mãe, Hélia. Ele é contratado por Leal para atuar como guarda-costas da filha durante 24 horas por dia. A princípio, Zeca obedece às ordens de Leal a contragosto, e Nelinha tenta fazer o impossível para escapar da mira do rapaz, mas, com a convivência, ambos se apaixonam – na linha “gato e rato”. Zeca, porém, é namorado da bailarina Nara (Priscila Fantin), que usa de várias artimanhas para impedir que ele fique com a astrônoma. Para complicar, Zeca descobre que é filho de Leal, fruto do envolvimento entre sua mãe e o empresário no passado. Com a revelação, Zeca e Nelinha se afastam e tentam se relacionar apenas como irmãos, sendo obrigados a refrear a paixão. Ele pede Nara em casamento mas, no dia da união, Tertuliana conta ao jovem que Nelinha não é filha legítima de Leal. Mesmo assim, Zeca decide não revelar nada a Nelinha e manter o compromisso assumido com Nara, passando a viver uma relação tumultuada com uma mulher que não ama. Quando toma conhecimento de que Nara já sabia que ele não era irmão de Nelinha, Zeca pensa em anular o casamento, mas a jovem dançarina conta que está grávida.
Leal permanece um bom tempo sem saber do filho, já que Hélia opta pelo sigilo. Ela só revela a verdade quando o empresário fica à beira da falência. Nelinha, por sua vez, para tentar esquecer Zeca, envolve-se com Renato (Danton Mello), astronauta brasileiro, o segundo a ter ido para o espaço. Ela aceita se casar com o rapaz mas, no dia do casamento, descobre que não é filha de Leal e foge da igreja. Confusa em relação a seus sentimentos, Nelinha decide não contar nada ao pai.
Várias mortes de personagens ligados a Leal acontecem ao longo da trama, a mando de Albano e, depois, de Niemann. O primeiro a morrer, logo nos capítulos iniciais, é o alfaiate Abraãozinho (Elias Gleizer), velho amigo de Leal, após descobrir um minúsculo microfone costurado no terno do empresário. Cada vez mais perigoso e ameaçador, Niemann tem entre seus aliados a professora de dança Maureen (Paula Possani). Apaixonada pelo arquiteto, ela inicia um jogo de gato e rato em que ora ameaça ora colabora com ele, acobertando suas maldades e manipulando personagens como a ardilosa Nara. Obcecado em prejudicar Leal e sua família, o arquiteto reprograma o computador Frank e passa a comandá-lo à distância, para vigiar de perto o inimigo.
Leal, a princípio, não desconfia das intenções de Niemann, que simula cordialidade ao se reaproximar do antigo amigo. Desiludido e cansado, Leal resolve se aposentar e se afastar dos negócios, passando a administração do Titã a Goretti. A filha deslumbrada do dono do Titã nomeia Niemann seu conselheiro, e demite Albano após este ser acusado por Leal de ter sabotado Frank. Como vingança, Albano sequestra Regeane, mas seu carro explode após uma perseguição e ele morre. Regeane, desmemoriada, é dada como morta. A personagem passa um longo tempo fora da novela.
Quando se dá conta de que Niemann está levando Goretti a tomar péssimas decisões à frente dos negócios, Leal decide retomar seu império, e desiste de construir o Titã II, para alegria dos comerciantes da Galeria. Mas, como conselheiro de Goretti, Niemann a fizera assinar vários papéis sem ler, propiciando que ele se tornasse dono não só de suas ações, como das de Leal (que as repassara para a filha), assumindo o comando do Titã. Nelinha tenta contornar a situação oferecendo suas ações ao pai, e ele volta aos negócios como sócio de Niemann, contando com a ajuda dos amigos Faustaço (Otávio Augusto) e Zuppo (Paschoal da Conceição), além de Zeca – que ele já sabe ser seu filho. Leal agora trabalha em um projeto de construção de casas residenciais, tendo de driblar as armações de Niemann que, por debaixo dos panos, tenta impedir o avanço das obras.
Já Deodora, a filha do vilão, transforma-se após se apaixonar pelo astrônomo Portinho, acompanhando seu sofrimento em busca de Regeane. Pistas dão conta de que ela está viva, em outro estado do país, mas Niemann e Maureen tentam esconder as informações de Leal. Para isso, matam, entre outros, o detetive Roberto (Marcelo Assumpção) e Josefa (Mariana Consoli). Deodora defende Portinho das investidas da dupla e revela uma segunda personalidade, a da escritora N., personagem que inventou quando vivia no manicômio. Durante vários capítulos, N. surge como se fosse outra pessoa, com um visual e um comportamento bem diferentes, e leva algum tempo até que Portinho confirme que ela é mesmo Deodora. Ao longo da trama, o astrônomo se afeiçoa à moça, que se humaniza. Mais para o final da novela, Deodora descobre que o pai foi o responsável pela morte de sua mãe: em um surto de loucura, Niemann incendiou o manicômio – e só teve tempo de salvar a filha.
Regeane, ainda desmemoriada, é localizada no Pará. Leal tenta resgatar a filha, mas o avião em que viaja com Renato e Bodanski sofre uma queda, e eles a perdem de vista. Na estrada, a caminho de São Paulo, conduzida por um caminhoneiro que a reconhece como a filha procurada por Leal, Regeane é novamente sequestrada, desta vez pelos comparsas de Niemann, que matam o caminhoneiro. Niemann se encontra com Regeane e tenta se fazer passar por Leal, pedindo a ela que assine um documento de transferência de suas ações para o seu nome, o que o tornaria sócio majoritário dos negócios do rival. Maureen, por sua vez, faz-se passar por sua irmã. Regeane recupera a memória ao ver no jornal a foto do pai e de Nelinha, em uma notícia sobre o batismo de um planeta com o nome Leal – antigo projeto da jovem astrônoma, enfim ratificado. Ela tenta escapar, sendo recapturada e levada para um esconderijo na casa de Niemann. Paralelamente, Niemann se aproveita da informação de que Nelinha não é filha de Leal, e revela a descoberta ao empresário, além de contar à jovem que é seu verdadeiro pai. Ele tenta convencê-la a reconhecer publicamente a paternidade, o que seria um golpe certeiro contra Leal. Em troca, faria a transferência de suas ações para o nome dela.
Cabe a Tertuliana dar um fim à discussão: ela conta à família que Nelinha não é filha de Niemann. Ela é filha da humilde Josefa, tendo sido trocada na maternidade. Tertuliana conta que a terceira filha de Vivi, a mulher de Leal e mãe de Regeane e Goretti, não resistiu e morreu após nascer no precário hospital onde Vivi deu entrada para dar à luz. Vivi estava passando uns tempos em uma fazenda, longe da capital, e aquele era o único hospital da localidade. Tertuliana fazia companhia a Vivi e, assim que a menina morreu, Josefa, uma senhora pobre que também acabara de dar à luz, implorou a ela para que sua filha tomasse o lugar da criança morta, pois sua intenção era deixá-la no hospital, por não ter condições de criá-la. Tertuliana ficou muito sensibilizada e aceitou guardar segredo sobre a troca, até mesmo porque sabia que Vivi não suportaria saber que a filha havia morrido. A mulher de Leal criou Nelinha sem nunca desconfiar de nada. Josefa, por sua vez, chegou a conhecer Nelinha já adulta, mas também morreu sem saber que ela era a sua filha biológica.
O Segurança do Titã
Na segurança do Titã trabalha Albano (Guilherme Weber), homem misterioso cuja pretensão é tomar posse de tudo o que Leal construiu, o que o leva a se infiltrar no universo da família Cordeiro. Para começar, ele fica noivo de Regeane, a filha mais velha de Leal. Secretamente, Albano controla as câmeras do prédio e usa diversos equipamentos tecnológicos para vigiar todos os moradores. O vilão tem como braço direito e amante a perigosa Deodora (Grazi Massafera), parceira em suas armações. Ela domina as artes marciais e é quem comanda e treina os seguranças do prédio. A dupla deseja enfraquecer Leal e lança mão de vários ardis para colocar em risco a vida de sua família, afastá-lo de seus amigos e acabar com o respeito que a vizinhança tem pelo dono do Titã.
Indeciso se deixa o comando do Titã, prepara as herdeiras para sucedê-lo ou segue adiante com a construção do Titã II, Leal inventa uma doença grave e pede às filhas para se tornarem mais tolerantes e se relacionarem como verdadeiras irmãs. Com isso, ele pretende avaliar se pode confiar no trio. O destino, porém, prega-lhe uma peça, e ele descobre que está realmente doente e pode morrer a qualquer momento.
O triângulo
A novela traz outras surpresas. Uma delas é a volta do arquiteto Niemann (Marcos Caruso), o terceiro vértice do triângulo formado por Leal e Hélia. Niemann é quem está por trás de todas as armadilhas preparadas contra Leal. Ele é sócio de Albano na empresa de segurança que administra o Titã, além de pai de Deodora, a quem orienta para conseguir alcançar seus objetivos, ou seja, vingar-se de Leal. No passado, o arquiteto, ex-marido de Hélia, foi internado em uma clínica psiquiátrica após descobrir o romance da bailarina com Leal, de quem era amigo. Durante seu período na clínica, Niemann se envolveu com sua psiquiatra; do relacionamento, nasceu Deodora, que foi criada no manicômio.
A trama chega ao fim
No fim da trama, Regeane, enfim, é resgatada, e reencontra Portinho. Niemann é preso, mas sofre um acidente e é internado. No hospital, recebe a visita de Isidro (Guilherme Weber), irmão gêmeo de Albano. Isidro atira contra o arquiteto, mas atinge fatalmente Deodora, que se coloca à frente do pai. Nara vai presa por sua cumplicidade com Niemann e Maureen, e seu filho é criado por Zeca e Nelinha. Maureen, após matar o cúmplice Lindomar (Edmilson Barros), também é presa, mas escapa e foge para o exterior.
Goretti e Bodanski, após um período separados, fazem as pazes. Ela havia rompido com o marido ao descobrir que, quando os dois se casaram, ele já era pai de quatro filhos homens: João Maria, João Jonas, João João e João Altemir. As Marias se unem aos irmãos num plano para reaproximar os pais. A essa altura, Bodanski já acertara suas contas com a população: obrigado a prestar serviços comunitários pela venda ilegal de um falso emagrecedor, ele passou um período fazendo trabalho social em um hospital.
O tempo passa e Nelinha, feliz com Zeca, aparece grávida de uma menina. Leal, após várias idas e voltas em seu romance com Hélia, tem uma conversa definitiva com a bailarina e os dois chegam à conclusão de que seu amor não cabe neste mundo. O dono do Titã chega ao fim da novela ao lado de Iolanda, com quem também se relacionou ao longo da trama, quando não estava com Hélia. Iolanda ficou próxima de Leal ao ajudá-lo a aprender a ler (dificuldade que ele escondia de todos), e os dois se apaixonaram.
Nunca foi fácil para Leal assumir que mal sabia assinar seu nome. O dono do Titã sempre sentiu vergonha em relação a suas filhas e netas, além de passar por saias justas. Ao saber que podia sofrer de dislexia, ele tomou coragem e pediu ajuda a Iolanda, que passou a lhe dar aulas particulares e secretas. Viúva e mãe de Joca (Darlan Cunha), jovem egresso de um reformatório, Iolanda perdeu o marido cedo, e tinha medo de sofrer novamente ao se envolver com Leal. Durante a trama, sabendo de sua doença, Leal preferiu se afastar dela e do garoto, para que eles não sofressem, mas o amor e a cumplicidade falou mais alto.
No último capítulo, já ao lado de Iolanda, Leal revela que o laboratório onde havia feito seus exames de saúde incorreu na emissão de resultados errados, por conta de um problema na rede de computadores, e que, portanto, seus exames também podiam estar errados. Mas Leal decide não abrir o resultado dos novos exames que realizou a pedido de sua médica, e resolve apostar no futuro.