'Senhora do Destino' traz referências biográficas de Aguinaldo Silva, um nordestino que também deixou sua cidade natal (Carpina, em Pernambuco), para viver na região Sudeste do país. O nome da protagonista, Maria do Carmo Ferreira da Silva, e o do personagem Sebastião são homenagens à sua mãe e a um tio, irmão dela. Além disso, o autor trabalhou muitos anos como jornalista e, em 1969, passou 70 dias preso na Ilha das Flores por ter escrito o prefácio dos Diários de Che Guevara. A novela foi ao ar 40 anos depois do golpe militar de 1964.
Em 'Senhora do Destino', Aguinaldo Silva presta uma homenagem aos migrantes nordestinos ao mostrar a trajetória de sucesso de Maria do Carmo (Susana Vieira), que enfrenta uma série de dificuldades, mas vence na vida com ética e coragem. A homenagem à retirante foi ainda mais explícita no final da trama, quando Maria do Carmo vira enredo da Unidos de Vila São Miguel. Ela, os filhos, netos, noras e amigos desfilam na escola. A madrinha da escola de samba fictícia é Regininha (Maria Maya). Crescilda (Gottscha) puxa o samba-enredo da escola, cuja comissão de frente é formada por Isabel (Carolina Dieckmann) e cinco crianças representando Maria do Carmo e seus filhos.
'Senhora do Destino' foi a primeira novela em que o autor Aguinaldo Silva e o diretor Wolf Maya trabalharam juntos. Os dois voltariam a fazer dobradinha em outros trabalhos.
A personagem Josefa Magalhães Duarte Pinto (Marília Gabriela) foi inspirada em três mulheres que eram donas de importantes jornais cariocas no período da ditadura: a Condessa Pereira Carneiro, do Jornal do Brasil; Niomar Moniz Sodré, do Correio da Manhã; e Ondina Dantas, do Diário de Notícias. As três, de origem nordestina, assumiram o comando dos jornais por herança, após a morte de seus maridos. O perfil da personagem se assemelha mais ao de Niomar Moniz Sodré, segunda mulher do jornalista Paulo Bittencourt, dono do Correio da Manhã, que morreu em Estocolmo em 1963 e deixou-lhe o jornal em testamento.
Niomar era colecionadora de arte e amiga de artistas, tendo sido responsável pela criação do Museu de Arte Moderna do Rio. Contestadora e temperamental, fez forte oposição aos militares em seu jornal, cuja circulação foi suspensa várias vezes por contrariar determinações da Censura Federal. Perseguida pela repressão, foi presa no Regimento Caetano Faria na edição do AI-5. O Correio da Manhã não resistiu ao crescente abandono dos anunciantes, resultado da pressão dos militares, e acabou saindo de circulação.
Giovanni Improtta, interpretado pelo ator José Wilker, foi tirado do livro 'O Homem que Comprou o Rio', de Aguinaldo Silva (Brasiliense, 1986). Entre as frases popularizadas pelo personagem na novela estão: “Há malas que vêm de trem!”; “Vou me pirulitar-me”; “Não esqueça do meu lema: com Giovanni Improtta não tem problema”; “Então fica o dito pelo não dito, o não dito pelo dito e, como sempre, vale o escrito”; “Aqui se faz, aqui se paga. Na vida, como no restaurante, a conta sempre chega”; “A vaca vai voar!”, “O tempo ruge e a Sapucaí é grande!”, “Giovanni Improtta, em charme e osso”.
Senhora do Destino: Giovanni Improtta
Reginaldo foi o primeiro vilão que Eduardo Moscovis fez na TV.
A menos de três meses do fim da novela, Raul Cortez teve de se afastar da trama por conta de um câncer. Enquanto o ator esteve em tratamento, o autor inventou uma viagem para o personagem. Raul Cortez voltou ao set para gravar uma aparição do Barão e, depois, no final da trama, quando o Barão e a Baronesa Laura (Glória Menezes) viajam para a Europa. O afastamento do ator levou Aguinaldo Silva a aumentar a participação do mordomo Alfred, interpretado por Ítalo Rossi. Senhora do Destino foi a última novela de Raul Cortez, que morreu de câncer em julho de 2006.
Alguns atores fizeram aulas específicas para compor seus personagens, como Marcello Antony e Dan Stulbach, que tiveram noções de culinária. Susana Vieira e Carolina Dieckmann ganharam uma professora de fonética, para que a construção da fala de Maria do Carmo seguisse os mesmos tom e ritmo nas duas fases.
A novela contou com muitas participações especiais. Roberto Bomtempo fez o taxista Gilmar, cúmplice de Nazaré (Renata Sorrah) que é assassinado por ela após tentar chantageá-la. Paulo José viveu o médico que guardava o segredo da esterilidade de Nazaré. Lima Duarte interpretou o senador corrupto Victorio Vianna, personagem que já havia aparecido na novela Porto dos Milagres (2001), de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares.
Vera Fischer viveu Vera Robinson, ex-Miss Brasil e ex-namorada de Leonardo (Wolf Maya), contratada por ele para seduzir Viriato (Marcello Antony) e depois acusá-lo de assédio sexual. A personagem foi uma homenagem à atriz, eleita Miss Brasil em 1969. Felipe Camargo entrou na novela no papel de Edmundo, um advogado pilantra que tem um caso com Nazaré. Flávio Galvão interpretou Jorge Maciel, advogado de Guilhermina (Marília Gabriela). Jayme Périard viveu o médico de Laura (Glória Menezes). O jogador de vôlei Tande fez uma participação na cena da fuga de Nazaré.
A cantora Gottsha surpreendeu no papel de Crescilda, funcionária da loja de Maria do Carmo.
A novela lançou atores, escolhidos por testes de interpretação, como Agles Stibe (Maikel), Nuno Melo (Constantino), Tânia Khalil (Marinalva), Jéssica Sodré (Daiane) e Leonardo Carvalho (filho de Dennis Carvalho e Christiane Torloni, que interpretou o personagem Gato).
A atriz Miriam Pires, intérprete de Clementina, avó de Shao Lin (Leonardo Miggiorin) e cozinheira de Maria do Carmo (Susana Vieira), morreu durante as gravações da novela, mas a personagem continuou a ser citada na trama. Sua filha Aurélia (Cristina Müllins) entrou na história e deu prosseguimento ao projeto da mãe, o lançamento de um livro de receitas de pratos nordestinos. A publicação do livro extrapolou a ficção: a Editora Globo lançou 'A Cozinha de D. Clementina', reunindo diversas receitas da personagem.
A trama principal da novela remeteu o público ao “caso Pedrinho”, como ficou conhecido o caso de Pedro Rosalino Braule Pinto, bebê sequestrado em 1986 pela empresária Vilma Martins Costa. O episódio mexeu com a opinião pública, e a novela reavivou o fato. Apresentando-se como assistente social de uma casa de saúde de Brasília, Vilma teria entrado no quarto em que o recém-nascido estava com a mãe e levado o menino, sob o pretexto de que ele precisava fazer exames. Pedrinho foi registrado como filho natural de Vilma, com o nome de Osvaldo Martins Borges Junior. Em agosto de 2003, Vilma foi condenada a mais de 13 anos de reclusão pelo sequestro de Pedrinho e de outra criança, Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva – registrada como Roberta Jamilly Martins Borges –, que teria sido levada por Vilma de uma maternidade de Goiânia. Vilma foi desmascarada em 2002, quando Pedrinho tinha 16 anos e Roberta, 23. Com a revelação, Pedrinho foi viver com os pais biológicos.
'Senhora do Destino' é considerada um marco na história da telenovela. Foi a líder de audiência no horário nobre da TV Globo, considerando-se os nove anos anteriores. Na média relativa ao número de capítulos, só perdeu para O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa, exibida em 1996.
A novela obteve altos índices de audiência também em Portugal, onde foi exibida na emissora SIC, em horário nobre. A história foi vendida para mais de 20 países, como Albânia, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Canadá, Costa Rica, Cuba, Equador, Eslovênia, EUA, Guatemala, Moçambique, Moldávia, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Romênia, Rússia, Uruguai e Venezuela.