Por Memória Globo

João Cotta/Globo

Por ser um microcosmo do Brasil, as paisagens que circundavam a cidade de Bole-Bole eram diferentes e as gravações aconteciam em lugares distintos do país. As dunas dos Lençóis Maranhenses foram cenário do namoro de Gibão e Marcina. As sedes das Fazendas Vilar e Rosado ficavam no interior de São Paulo e os canaviais, em Minas Gerais. No Rio de Janeiro, o Museu de Arte do Rio, o MAR, sediou uma exposição com obras inspiradas nos personagens fantásticos da trama. As asas de Gibão, um cenário imitando o cemitério por onde passeava o lobisomem Aristóbulo, o corpo da enorme Redonda, a cabeça de Belisário em sua redoma de vidro, entre outros,puderam ser vistos na galeria.

O Globo Universidade também promoveu o seminário Realismo Fantástico de Saramandaia, com a presença do autor Ricardo Linhares, da professora e doutora em letras pela UFRJ, Beatriz Resende, e da escritora e ensaísta Vera Follain. A mediadora foi a jornalista e apresentadora da GloboNews, Bianca Ramoneda.

O personagem João Gibão (Sérgio Guizé) tem um gavião como amigo. O pássaro é uma fêmea da espécie Parabuteo Unicinctus, mais conhecido como gavião-asa-de-telha, e se chama Atena. A ave tem dois anos e meio, é considerada adulta (a média de vida deste tipo de bicho é de 25 anos, mas, em condições adversas, pode ser reduzida pela metade) e atuou em dois filmes.

Matheus Nachtergaele, Vera Holtz e Thais Melchior em 'Saramandaia - 2ª versão', 2013 — Foto: Alex Carvalho/Globo

A caracterização de Dona Redonda foi feita por uma equipe formada, entre outros integrantes, por Mark Coulier, o maquiador britânico responsável pela transformação da atriz Meryl Streep em Margaret Thatcher para o filme A Dama de Ferro. Redonda (Vera Holtz) é vaidosa e adora cores. O carro não podia ser diferente da proprietária. Em alguns capítulos, ela aparece andando em um fusca lilás conversível, com enfeite em forma de batatas-fritas no espelho retrovisor e adesivo com os parentes na parte traseira. A equipe de produção comprou um modelo branco, ano de 1965 e repaginou especialmente para a trama. Como Redonda é pesada, um efeito especial foi adicionado ao veículo: quando ela entra, o carro afunda.

O site da novela trouxe novidades. A rivalidade entre as duas correntes políticas da cidade estavam estampados nos blogs Saramandaia Já! e Diário de Bole-Bole. Esses sites eram atualizados pelos personagens da trama. Os Saramandistas escritores eram Bia, Pedro, Zélia, Tiago, Marcina e João Gibão. Dona Redonda, Encolheu, Cazuza, Fifi, Aparadeira e Aristóbulo eram os autores entre os tradicionalistas. Além disso, a websérie Saramandices do corpo humano, estrelada por Doutor Rochinha, tentava explicar o exotismo de alguns cidadãos de Saramandaia. Foram quatro episódios: O Ícaro de Saramandaia, sobre as asas de João Gibão; Gordismo Atômico, sobre a explosão de Dona Redonda, O homem que botava formigas pelo nariz, sobre as formigas que saíam do nariz de Zico Rosado e O médico e o monstro que falava da transformação de Aristóbulo em lobisomem.

A divisão ideológica entre os moradores de Bole-Bole pode ser percebida também pelo figurino. Os bolebolenses tradicionais usam tons sóbrios, cores escuras e peças antiquadas. A única exceção é Dona Redonda (Vera Holtz) que, embora tradicionalista, adora estampas e roupas coloridas. Apesar da falta de cuidados com a silhueta, ela é vaidosa, gosta de acessórios e está sempre arrumada. Para a equipe de figurino, a confecção das peças da personagem exigiu muita atenção para estar de acordo com o falso corpo usado por Vera Holtz. Desde o tecido que permitisse leveza e movimento até o tipo de saia e blusa para marcar o charme de Redonda.

As equipes de caracterização e efeitos especiais tiveram o desafio de recriar os personagens Dona Redonda (Vera Holtz) e o lobisomem Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes). Na primeira versão da novela, Dona Redonda foi vivida por Wilza Carla que usava roupas largas. A maquiagem do lobisomem de Ary Fountoura foi feita pelo maquiador Eric Rzepecki. Na época, eles prendiam pelos no corpo do ator com uma cola de borracha.

Gabriel Braga Nunes em 'Saramandaia - 2ª versão', 2013 — Foto: Alex Carvalho/Globo

Para a nova versão, os atores Gabriel Braga Nunes (Aristóbulo), Vera Holtz (Dona Redonda) e Sergio Guizé (que precisou de uma corcunda para João Gibão) tiveram seus corpos escaneados em um estúdio em Los Angeles, Estados Unidos, para, em seguida, dar origem a um molde em fibra de vidro. Os corpos dos personagens foram feitos sobre esses moldes com técnicas e tecidos especiais.

Uma das grandes preocupações com a transformação de Dona Redonda foi garantir mobilidade à Vera Holtz. Técnicas de ventilação e hidratação foram usadas para que a atriz não sofresse com o calor e a transpiração excessiva.

O corpo do lobisomem seguiu o mesmo princípio de realismo e conforto para o ator. Materiais translúcidos permitiram rápida adesão à pele e facilitaram a pintura de tons amarronzados. O silicone deu formato à musculatura do lobisomem e ajudou na colocação dos pelos. No molde em fibra de vidro do rosto, os técnicos desenvolveram, em silicone, o nariz do personagem. Todo esse processo, de encaixe do nariz e das demais partes do corpo do lobisomem ao do ator, levava cerca de cinco horas.

A mesma técnica de computação gráfica para criar o entorno da cidade de Bole-Bole (que reunia canaviais, bosques e lençóis d’água) ampliou o cemitério onde o lobisomem Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) passeava nas madrugadas. A transformação do professor em fera também ganhou mais realismo graças a esse efeito.

O entorno de Bole-bole fica em uma colina e é cercado por canaviais, bosques e lençóis d’água. Juntar essas paisagens foi um desafio para a equipe de computação gráfica e direção, que buscou a tecnologia adequada nos Estados Unidos.

Como seus arredores, Bole-Bole é uma combinação de referências da arquitetura brasileira. Barroco, gótico, art déco e vanguardista, os estilos da cidade são uma metáfora do Brasil.

A futura Saramandaia tinha quase cinco mil metros quadrados e uma peculiaridade: uma parte alta, que era acessada por escadas, permitia outro ponto de vista da paisagem. A cidade cenográfica abrigava a praça principal com dois coretos, um para cada banda, uma rodoviária, a prefeitura de Lua Viana (Fernando Belo), o Centro Cívico, a farmácia de Cazuza (Marcos Palmeira), a barbearia e a lanhouse de Cursino (André Abujamra) e Totó (Zeu Britto), a loja de pássaros de João Gibão (Sergio Guizé), a pensão de Risoleta (Debora Bloch) e as casas de Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) e Redonda (Vera Holtz).

Os cenários internos somavam cerca de quatro mil metros quadrados de estúdio. Os mais imponentes eram as duas fazendas das famílias inimigas, Vilar e Rosado. A casa de Dona Redonda e Seu Encolheu estava sempre cheia de comida. A mesa trazia banquetes variados, mas os cupcakes, macarrons, jujubas e brigadeiros eram os favoritos de Redonda. Coloridos e bem moldados, eles apareciam em diversos tamanhos, especialmente em miniatura, e ajudavam a dar o tom do personagem.

O padroeiro da cidade era o Santo Dias, uma homenagem ao autor da versão original, Dias Gomes. A imagem do santo tinha 1,2 metro de altura, feições semelhantes às do teledramaturgo e trazia símbolos na roupa que faziam alusão ao teatro e a televisão.

O primeiro capítulo da versão de Saramandaia (24/06/2013) trouxe uma passeata de jovens que reivindicavam mudanças e se posicionavam contra a corrupção. Um detalhe curioso: o capítulo foi escrito e gravado meses antes das manifestações de rua contra o aumento das passagens de ônibus, em junho. Em entrevista, Ricardo Linhares conta que não foi coincidência. Ele se inspirou nos movimentos jovens internacionais, como  Ocupe Wall Street e Primavera Árabe, para escrever os capítulos referentes ao assunto. O autor falou que desconfiava que essa onda de protestos chegaria ao Brasil e se disse feliz por ter conseguido fazer com que a novela mostrasse a insatisfação popular.

A trama não ignorou a tecnologia. Os habitantes da cidade eram vistos com computadores, tablets, câmeras e smartphones nas mãos e, algumas vezes, conversavam por meio desses aparelhos. Tanto os saramandenses quanto os bolebolenses tinham blogs que eram atualizados pelos personagens e citados na novela. Os jovens saramandenses faziam vídeos sobre seu dia a dia de luta contra a corrupção e eles eram postados no blog.

Saramandaia foi o primeiro trabalho de Laura Neiva (Stela), Fernando Belo (Lua Viana) e Camila Lucciola (Rosalice) na TV. Laura Neiva já havia contracenado com Debora Bloch no cinema. Por coincidência, Debora também era sua mãe no filme À Deriva (2009), de Heitor Dhalia. Em 2012, Sérgio Guizé, que viveu João Gibão, participou do seriado Tapas e Beijos como o travesti Lorraine.

A atriz Renata Sorrah, que interpretou Leocádia, mãe de João Gibão, superou sua ornitofobia (medo de pássaros) durante as gravações de Saramandaia. Ela contracenou com o gavião Atenas, que, na trama, era amigo de João Gibão.

Além do gavião Atena, Saramandaia tinha outro animal-ator: a cadela chihuahua Chloe, que interpretou Pingo, “filho” de Redonda (Vera Holtz) e Encolheu (Matheus Nachtergaele). Pena que Pingo teve um fim trágico: ele morre na explosão de Redonda.

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