Por ser um microcosmo do Brasil, as paisagens que circundavam a cidade de Bole-Bole eram diferentes e as gravações aconteciam em lugares distintos do país. As dunas dos Lençóis Maranhenses foram cenário do namoro de Gibão e Marcina. As sedes das Fazendas Vilar e Rosado ficavam no interior de São Paulo e os canaviais, em Minas Gerais. No Rio de Janeiro, o Museu de Arte do Rio, o MAR, sediou uma exposição com obras inspiradas nos personagens fantásticos da trama. As asas de Gibão, um cenário imitando o cemitério por onde passeava o lobisomem Aristóbulo, o corpo da enorme Redonda, a cabeça de Belisário em sua redoma de vidro, entre outros,puderam ser vistos na galeria.
O Globo Universidade também promoveu o seminário Realismo Fantástico de Saramandaia, com a presença do autor Ricardo Linhares, da professora e doutora em letras pela UFRJ, Beatriz Resende, e da escritora e ensaísta Vera Follain. A mediadora foi a jornalista e apresentadora da GloboNews, Bianca Ramoneda.
O personagem João Gibão (Sérgio Guizé) tem um gavião como amigo. O pássaro é uma fêmea da espécie Parabuteo Unicinctus, mais conhecido como gavião-asa-de-telha, e se chama Atena. A ave tem dois anos e meio, é considerada adulta (a média de vida deste tipo de bicho é de 25 anos, mas, em condições adversas, pode ser reduzida pela metade) e atuou em dois filmes.
A caracterização de Dona Redonda foi feita por uma equipe formada, entre outros integrantes, por Mark Coulier, o maquiador britânico responsável pela transformação da atriz Meryl Streep em Margaret Thatcher para o filme A Dama de Ferro. Redonda (Vera Holtz) é vaidosa e adora cores. O carro não podia ser diferente da proprietária. Em alguns capítulos, ela aparece andando em um fusca lilás conversível, com enfeite em forma de batatas-fritas no espelho retrovisor e adesivo com os parentes na parte traseira. A equipe de produção comprou um modelo branco, ano de 1965 e repaginou especialmente para a trama. Como Redonda é pesada, um efeito especial foi adicionado ao veículo: quando ela entra, o carro afunda.
O site da novela trouxe novidades. A rivalidade entre as duas correntes políticas da cidade estavam estampados nos blogs Saramandaia Já! e Diário de Bole-Bole. Esses sites eram atualizados pelos personagens da trama. Os Saramandistas escritores eram Bia, Pedro, Zélia, Tiago, Marcina e João Gibão. Dona Redonda, Encolheu, Cazuza, Fifi, Aparadeira e Aristóbulo eram os autores entre os tradicionalistas. Além disso, a websérie Saramandices do corpo humano, estrelada por Doutor Rochinha, tentava explicar o exotismo de alguns cidadãos de Saramandaia. Foram quatro episódios: O Ícaro de Saramandaia, sobre as asas de João Gibão; Gordismo Atômico, sobre a explosão de Dona Redonda, O homem que botava formigas pelo nariz, sobre as formigas que saíam do nariz de Zico Rosado e O médico e o monstro que falava da transformação de Aristóbulo em lobisomem.
A divisão ideológica entre os moradores de Bole-Bole pode ser percebida também pelo figurino. Os bolebolenses tradicionais usam tons sóbrios, cores escuras e peças antiquadas. A única exceção é Dona Redonda (Vera Holtz) que, embora tradicionalista, adora estampas e roupas coloridas. Apesar da falta de cuidados com a silhueta, ela é vaidosa, gosta de acessórios e está sempre arrumada. Para a equipe de figurino, a confecção das peças da personagem exigiu muita atenção para estar de acordo com o falso corpo usado por Vera Holtz. Desde o tecido que permitisse leveza e movimento até o tipo de saia e blusa para marcar o charme de Redonda.
As equipes de caracterização e efeitos especiais tiveram o desafio de recriar os personagens Dona Redonda (Vera Holtz) e o lobisomem Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes). Na primeira versão da novela, Dona Redonda foi vivida por Wilza Carla que usava roupas largas. A maquiagem do lobisomem de Ary Fountoura foi feita pelo maquiador Eric Rzepecki. Na época, eles prendiam pelos no corpo do ator com uma cola de borracha.
Para a nova versão, os atores Gabriel Braga Nunes (Aristóbulo), Vera Holtz (Dona Redonda) e Sergio Guizé (que precisou de uma corcunda para João Gibão) tiveram seus corpos escaneados em um estúdio em Los Angeles, Estados Unidos, para, em seguida, dar origem a um molde em fibra de vidro. Os corpos dos personagens foram feitos sobre esses moldes com técnicas e tecidos especiais.
Uma das grandes preocupações com a transformação de Dona Redonda foi garantir mobilidade à Vera Holtz. Técnicas de ventilação e hidratação foram usadas para que a atriz não sofresse com o calor e a transpiração excessiva.
O corpo do lobisomem seguiu o mesmo princípio de realismo e conforto para o ator. Materiais translúcidos permitiram rápida adesão à pele e facilitaram a pintura de tons amarronzados. O silicone deu formato à musculatura do lobisomem e ajudou na colocação dos pelos. No molde em fibra de vidro do rosto, os técnicos desenvolveram, em silicone, o nariz do personagem. Todo esse processo, de encaixe do nariz e das demais partes do corpo do lobisomem ao do ator, levava cerca de cinco horas.
A mesma técnica de computação gráfica para criar o entorno da cidade de Bole-Bole (que reunia canaviais, bosques e lençóis d’água) ampliou o cemitério onde o lobisomem Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) passeava nas madrugadas. A transformação do professor em fera também ganhou mais realismo graças a esse efeito.
O entorno de Bole-bole fica em uma colina e é cercado por canaviais, bosques e lençóis d’água. Juntar essas paisagens foi um desafio para a equipe de computação gráfica e direção, que buscou a tecnologia adequada nos Estados Unidos.
Como seus arredores, Bole-Bole é uma combinação de referências da arquitetura brasileira. Barroco, gótico, art déco e vanguardista, os estilos da cidade são uma metáfora do Brasil.
A futura Saramandaia tinha quase cinco mil metros quadrados e uma peculiaridade: uma parte alta, que era acessada por escadas, permitia outro ponto de vista da paisagem. A cidade cenográfica abrigava a praça principal com dois coretos, um para cada banda, uma rodoviária, a prefeitura de Lua Viana (Fernando Belo), o Centro Cívico, a farmácia de Cazuza (Marcos Palmeira), a barbearia e a lanhouse de Cursino (André Abujamra) e Totó (Zeu Britto), a loja de pássaros de João Gibão (Sergio Guizé), a pensão de Risoleta (Debora Bloch) e as casas de Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) e Redonda (Vera Holtz).
Os cenários internos somavam cerca de quatro mil metros quadrados de estúdio. Os mais imponentes eram as duas fazendas das famílias inimigas, Vilar e Rosado. A casa de Dona Redonda e Seu Encolheu estava sempre cheia de comida. A mesa trazia banquetes variados, mas os cupcakes, macarrons, jujubas e brigadeiros eram os favoritos de Redonda. Coloridos e bem moldados, eles apareciam em diversos tamanhos, especialmente em miniatura, e ajudavam a dar o tom do personagem.
O padroeiro da cidade era o Santo Dias, uma homenagem ao autor da versão original, Dias Gomes. A imagem do santo tinha 1,2 metro de altura, feições semelhantes às do teledramaturgo e trazia símbolos na roupa que faziam alusão ao teatro e a televisão.
O primeiro capítulo da versão de Saramandaia (24/06/2013) trouxe uma passeata de jovens que reivindicavam mudanças e se posicionavam contra a corrupção. Um detalhe curioso: o capítulo foi escrito e gravado meses antes das manifestações de rua contra o aumento das passagens de ônibus, em junho. Em entrevista, Ricardo Linhares conta que não foi coincidência. Ele se inspirou nos movimentos jovens internacionais, como Ocupe Wall Street e Primavera Árabe, para escrever os capítulos referentes ao assunto. O autor falou que desconfiava que essa onda de protestos chegaria ao Brasil e se disse feliz por ter conseguido fazer com que a novela mostrasse a insatisfação popular.
A trama não ignorou a tecnologia. Os habitantes da cidade eram vistos com computadores, tablets, câmeras e smartphones nas mãos e, algumas vezes, conversavam por meio desses aparelhos. Tanto os saramandenses quanto os bolebolenses tinham blogs que eram atualizados pelos personagens e citados na novela. Os jovens saramandenses faziam vídeos sobre seu dia a dia de luta contra a corrupção e eles eram postados no blog.
Saramandaia foi o primeiro trabalho de Laura Neiva (Stela), Fernando Belo (Lua Viana) e Camila Lucciola (Rosalice) na TV. Laura Neiva já havia contracenado com Debora Bloch no cinema. Por coincidência, Debora também era sua mãe no filme À Deriva (2009), de Heitor Dhalia. Em 2012, Sérgio Guizé, que viveu João Gibão, participou do seriado Tapas e Beijos como o travesti Lorraine.
A atriz Renata Sorrah, que interpretou Leocádia, mãe de João Gibão, superou sua ornitofobia (medo de pássaros) durante as gravações de Saramandaia. Ela contracenou com o gavião Atenas, que, na trama, era amigo de João Gibão.
Além do gavião Atena, Saramandaia tinha outro animal-ator: a cadela chihuahua Chloe, que interpretou Pingo, “filho” de Redonda (Vera Holtz) e Encolheu (Matheus Nachtergaele). Pena que Pingo teve um fim trágico: ele morre na explosão de Redonda.