Por Memória Globo

João Miguel Júnior/Globo

Produção

Cerca de 50 integrantes de 'Salve Jorge', entre elenco e equipe técnica, passaram 45 dias gravando na Turquia.

A jornada começou pela Capadócia, famosa por suas formações geológicas que lembram o território lunar, e pelos balões turísticos que sobrevoam o Vale do Amor, o Vale da Rosa e o Vale Devrent.

Gravação de 'Salve Jorge' na Capadócia, 2012 — Foto: João Miguel Júnior/Memória Globo

Istambul também serviu de cenário para a novela. Como pano de fundo das cenas, cartões postais como a Basílica de Santa Sofia, a Mesquita Azul e o Palácio Topkapi. Éfeso, cidade turca situada na costa ocidental da Ásia Menor, foi a última parada da equipe. Ao todo, foram gravadas cerca de 600 cenas na Turquia.

Mais de 350 cavalos foram usados nas gravações, em cenas com Rodrigo Lombardi (Theo) e Domingos Montagner (Zyah).

Figurino e caracterização

'Salve Jorge' trazia como destaque os figurinos do núcleo turco da novela, com predomínio dos ikats (tecidos artesanais com tingimento especial nos fios) e oyas (trabalho artesanal turco), além das calças salwar (largas como calças saruel).

Zyah (Domingos Montagner) tinha um estilo cowboy com toque cigano. Personagem rústico, com grande ligação com os cavalos, no dia a dia ele usava coletes, lenços de ikat e um cordão de couro com um símbolo curdo. Quando estava trabalhando como guia, vestia camisas e calças sociais.

Tania Khalill em 'Salve Jorge', 2012 — Foto: João Cotta/Memória Globo

Mustafa (Antonio Calloni) fazia o tipo elegante e moderno, com ternos de cores claras, lenços coloridos no bolso do paletó, mocassins e sapatos slipper (peças sem costura, que cobrem mais da metade do peito do pé, de salto baixo ou sem salto).

Berna (Zezé Polessa) tinha em seu guarda-roupa peças assinadas por designers turcos, mesclando elementos tradicionais e contemporâneos, como o kaftan, um tipo de túnica. Já o figurino de Aisha (Dani Moreno) tinha como referência as roupas de jovens blogueiras turcas: sapatilhas com estampa de ikat e bolsas do tipo carteira.

No núcleo da Capadócia, sobressaía o visual de Sarila (Betty Gofman), típico do interior do país. Ela usava lenços com bordas de oya cobrindo os cabelos, calças salwar (largas como calças saruel) geralmente com estampas de flores miúdas, e meias coloridas sob sapatos ou sandálias de salto.

Em relação aos núcleos do Rio de Janeiro, o sucesso ficou por conta do figurino da sofisticada delegada Helô, interpretada por Giovanna Antonelli. A sensualidade da personagem foi realçada com calças justas de jeans, jaquetas de couro, blusas finas estampadas e, especialmente, pantalonas de cintura alta – calças de corte bootleg (justas nas pernas e mais abertas nas barras). Para o papel, a atriz usou um megahair longo com mechas acobreadas.

Entre os personagens do Alemão, destacou-se o visual de Morena (Nanda Costa), marcado por camisetas regatas coladas ao corpo, calças e shorts jeans, vestidos e muitos acessórios, como pulseiras, colares de couro, faixas de tecidos e cintos de couro trançado na cintura. Para viver Morena, a atriz colocou megahair e fez mechas mais claras nos cabelos. A maquiagem, suave, era composta por blush, rímel e sombras neutras. O colorido estava presente nos esmaltes alaranjados e nos batons vermelhos e corais.

Assim como Morena, as demais personagens do núcleo do Alemão vestiam-se com simplicidade, geralmente com calças jeans e blusas decotadas. Lurdinha (Bruna Marquezine) abusava dos shorts curtos e tops, exibindo seus longos cabelos (a atriz usou megahair com mechas loiras para viver a personagem). Dira Paes, intérprete de Lucimar, também fez luzes nos cabelos. Na pele da manicure Nilceia, Paula Pereira exagerava na maquiagem, com olhos bem marcados, sombras coloridas e muito brilho, além de unhas compridas com desenhos.

A famosa “periguete” do Alemão, Maria Vanúbia (Roberta Rodrigues), economizava nas peças de roupas, invariavelmente curtas e colantes. A atriz alisou os cabelos e tingiu os fios de loiro. As sobrancelhas foram arqueadas para conferir à personagem um ar esnobe. As unhas eram longas, coloridas e decoradas; e o os batons, rosa pink e laranja.

A rival de Morena, a tenente Érica (Flávia Alessandra), tinha um visual mais romântico. Fora do regimento, por exemplo, misturava camisetas soltas de renda com couro e botas. Para viver Érica, a atriz cortou o cabelo na altura dos ombros e fez mechas loiras claras. A personagem usava maquiagem suave.

A vilã Lívia (Claudia Raia) esbanjava sofisticação. Vestia grifes famosas, todas roupas em cores suaves, como bege, nude e rosé. Chapéus de abas grandes e saias lápis também compunham seu estilo.

A filha de Helô, Drica (Mariana Rios), herdou o gosto da mãe pelas compras. Ela veste muitos shortinhos, saias curtas, camisetas de seda e cardigãs. As cores navy (azul, branco e vermelho) e o amarelo predominam em suas roupas e acessórios. Em seu casamento com Pepeu, realizado na Turquia – mas gravado em uma igreja ortodoxa de São Paulo –, a noiva usou um vestido de renda dourada, com um véu triplo medindo cerca de três metros de comprimento. O primeiro véu era bordado com pérolas, o segundo era em poá, e o terceiro, liso.

A personagem de Cleo Pires, Bianca, usava maquiagem clean, com pele e boca naturais e olhos marcados por delineador e sombra esfumaçada. A atriz clareou os cabelos em degradê, com a raiz escura e as pontas ddsloiras e desfiadas.

Cenografia e arte

Três cidades cenográficas foram construídas na Central Globo de Produção, o Projac, para as gravações da novela: duas regiões diferentes da Turquia (Istambul e Capadócia) e o Complexo do Alemão.

A Istambul de Salve Jorge possuía 5,3 mil metros quadrados de área construída. O grande destaque era a versão cenográfica do Grand Bazaar, um dos maiores e mais antigos mercados do mundo, onde trabalhavam Mustafa (Antonio Calloni) e Demir (Tiago Abravanel). A réplica do mercado original era repleta de corredores, restaurantes e lojas de souvenirs, doces e tapetes. Muitos dos elementos que decoravam o local foram importados da Turquia, como luminárias, olhos turcos de vidro, tapetes, colchas, tecidos e cerâmica. Algumas peças foram reproduzidas por meio de plotagem (impressão de imagens em larga escala).

Na Istambul cenográfica havia também um aqueduto, inspirado no de Valente, na Turquia; as típicas yalý, casas de madeira tradicionais otomanas; e uma área inspirada na famosa rua Istiklal, repleta de prédios neoclássicos, que caracterizam a parte europeia da cidade. Nessa região ficava a casa de Drika (Mariana Rios) e Pepeu (Ivan Mendes). Outros destaques eram o restaurante 380º, inspirado no restaurante turco 360º – com vista fictícia para o Bósforo; e o portão que reproduzia a entrada do Palácio Küçüksu, locação real, situada no lado asiático de Istambul, e que na história era onde ficava a casa da família de Mustafa (Antonio Calloni) e Berna (Zezé Polessa). O palácio Küçüksu pertenceu ao sultão Abdul Mecit 1, foi construído em 1856 e tem três andares, com sua fachada revestida de mármore.

A cidade cenográfica da Capadócia tinha uma extensão de cinco mil metros quadrados que se dividiam em duas áreas, a rural e a turística. Na parte rural, que reproduzia as formações rochosas típicas da região, destacavam-se a entrada da caverna onde vivia Zyah (Domingos Montagner) e a aldeia em que residiam as famílias de Farid (Jandira Martini) e Sarila (Betty Gofman), cujas casas tinham forração de tapetes, fogões típicos e mesas de refeição baixas. A parte turística tinha como ponto de partida a cidade de Göreme e suas inúmeras lojas de turismo. Na cidade cenográfica foram usadas cores em tons pastel, ocre e areia, garantindo ao espaço uma iluminação solar, como a Capadócia original.

Para a ambientação turca, as produtoras de arte trouxeram da Turquia teares de madeira maciça autênticos. Eles foram usados pelas personagens Sarila (Betty Gofman) e Ayla (Tânia Khalil). Também foram encomendados tapetes kilims confeccionados pela metade para serem adaptados a estes teares. Doces e iguarias turcas foram reproduzidos e expostos nas lojas do Grand Bazaar cenográfico junto com mais de mil olhos turcos de diferentes tipos: chaveiros, penduricalhos, enfeites de parede e adesivos. Mais de 600 roscas turcas foram feitas cenograficamente para enfeitar as barraquinhas de venda idênticas às de Istambul.

O Complexo do Alemão cenográfico tinha 1,8 mil metros quadrados e 14 edificações, representando casas e estabelecimentos comerciais. Ruas estreitas e caixas d’água aparentes compunham o cenário, onde as lajes também ganharam destaque. A mais famosa era a laje de Miro (André Gonçalves), de onde os turistas apreciavam a paisagem do Rio de Janeiro.

Para ambientar a casa de Morena (Nanda Costa), a equipe de produção de arte visitou casas de moradores, feiras de rua e festividades no Complexo do Alemão, como o primeiro evento gastronômico do Morro do Adeus. Manicures, donos de bar, sacoleiras e outros profissionais da comunidade deram depoimentos, contribuindo para tornar a novela e sua ambientação o mais real possível.

Uma incursão à rotina do Exército brasileiro foi essencial para criar o clima do núcleo de Theo (Rodrigo Lombardi). A equipe acompanhou desde o café da manhã dos militares ao treinamento de salto de cavalos, práticas veterinárias e educação física do Regimento Andrade Neves.

A festa e a procissão da Igreja de São Jorge, em Quintino, serviram de referência para a reprodução do evento nos primeiros capítulos da novela.

Um dos desafios enfrentados pela equipe de produção de arte foi a adequação dos automóveis à realidade internacional. Os carros europeus são muito diferentes dos brasileiros. Foi preciso realizar pinturas de carros, compras de novos faróis e para-choques, e envelopamentos para dar veracidade às peças. A sinalização de ruas, hotéis, carros de polícia, ambulâncias, boates e táxis, tanto os da Turquia quanto os de Madri, foram recriados a partir dos originais.

Abertura

Capadócia, Istambul e Complexo do Alemão. Alguns dos principais cenários de Salve Jorge se misturavam na abertura da trama. Criada pela Central Globo de Comunicação, a vinheta era embalada por uma canção feita especialmente para a novela – Alma de Guerreiro, na voz do cantor Seu Jorge. Na abertura, um guerreiro montado em um cavalo branco percorria lugares marcantes da Turquia e do Brasil, que iam surgindo em forma de mosaico: a imagem do Cristo Pantocrátor, o mais célebre dos mosaicos Bizantinos da Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia), na Turquia; a Ponte de Bósforo, em Istambul, que liga a Europa à Ásia; os balões e vales de formação vulcânica da Capadócia; além das lages e pipas características do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

A filmagem com o cavalo foi feita em cromaqui e inserida nas paisagens por meio de computação gráfica tridimensional. Além de fazer referência ao cavalo branco de São Jorge, o cavaleiro que cruzava a abertura retratava o espírito guerreiro de cada cidadão em sua luta diária por uma vida melhor.

Ações Socioeducativas

O tráfico de pessoas foi a grande campanha social de Salve Jorge. A autora Gloria Perez decidiu abordar o crime a partir de três vertentes: sexo, trabalho doméstico e adoção ilegal. A ação incluiu a inserção de depoimentos reais na trama. Familiares de pessoas traficadas contaram suas histórias na novela.

Entre as jovens aliciadas, estavam Rosângela (Paloma Bernardi), Waleska (Laryssa Dias), Jéssica (Carolina Dieckmann) e Morena (Nanda Costa). Elas sofreram e lutaram, cada uma a seu modo, para escapar da escravidão.

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