O autor Silvio de Abreu preparou a sinopse de 'Rainha da Sucata' em um mês, a pedido do vice-presidente de operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que lhe encomendou “uma trama com linguagem de novela das 19h, só que para ir ao ar às 20h”. Mas a novela só começou a fazer sucesso mesmo quando o autor juntou o drama à comédia.
'Rainha da Sucata' estreou em plena efervescência do confisco da poupança pelo governo de Fernando Collor de Mello. Por conta do plano econômico, Silvio de Abreu reescreveu cenas de 30 capítulos que já estavam prontos, e combinou com o diretor Jorge Fernando a regravação de outras para que a trama não ficasse desatualizada. Como a história principal girava em torno da protagonista Maria do Carmo (Regina Duarte), cujo dinheiro outros personagens cobiçavam, ele fez com que o dinheiro da personagem estivesse investido em uma construção, e, por isso, ela era a única que não havia sofrido com o confisco.
Segundo Silvio de Abreu, a personagem Maria do Carmo foi criada com base em uma pesquisa sobre a mudança de mãos do dinheiro, configurando uma nova realidade social que apontava para a ascensão econômica de grupos que, apesar do aumento do poder aquisitivo, não necessariamente adquiriam mais cultura, fazendo-os entrar em choque com as famílias tradicionais.
Rainha da Sucata fez grande sucesso no exterior, sendo vendida para, entre outros países, Angola, Bolívia, Canadá, Chile, Costa Rica, Estados Unidos, Guatemala, Nicarágua, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. A novela foi reapresentada entre fevereiro e setembro de 1994, em Vale a Pena Ver de Novo.
CURIOSIDADES
Devido a problemas de doença na família, Silvio de Abreu atrasou a entrega de capítulos, e contou com a ajuda de Gilberto Braga para equilibrar a trama. Braga escreveu nove capítulos da novela.
Rainha da Sucata foi a primeira novela em que o autor Alcides Nogueira atuou como colaborador de Silvio de Abreu. Os dois viriam a trabalhar juntos em outras tramas, como Deus nos Acuda (1992), A Próxima Vítima (1995), Torre de Babel (1998) e As Filhas da Mãe (2001).
Três finais diferentes foram escritos para a novela, para manter o segredo sobre o fim da personagem Maria do Carmo.
Com Rainha da Sucata, a TV Globo deixou de apresentar as cenas do próximo capítulo. A novela passou a terminar em um momento de clímax, e a programação a seguir entrava direto no ar. O objetivo era evitar que o telespectador mudasse de canal no intervalo entre as programações. Além disso, os capítulos ganharam em duração, passando de 45 minutos para cerca de 60 minutos.
O músico Guilherme Dias Gomes, filho de Janete Clair e Dias Gomes, era quem dublava Daniel Filho nas cenas em que seu personagem, Renato, tocava trompete.
Rainha da Sucata marcou o reencontro de Nicette Bruno com Silvio de Abreu, com quem já havia trabalhado em teatro, além de ter participado da primeira novela do autor, Éramos Seis, escrita em parceria com Rubens Ewald Filho e exibida na TV Tupi em 1977.
Silvio de Abreu escreveu Rainha da Sucata para Regina Duarte, com quem havia trabalhado, como ator, na TV Excelsior. E quis Glória Menezes para fazer a vilã, papel que ela nunca havia feito antes. Além delas, também queria trabalhar com Tony Ramos, que conhecia desde os tempos da TV Tupi, mas com quem ainda não havia trabalhado.
'Rainha da Sucata' (1990): Dona Armênia e seus "filhinhas"
Aracy Balabanian, que viveu a Dona Armênia na trama, apesar de nascida em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, é filha de armênios, que vieram para o Brasil fugindo da Primeira Guerra Mundial. Dessa forma, pôde emprestar o sotaque e alguns costumes de seu povo de origem à sua personagem, além de auxiliar no trabalho da equipe de produção de arte. O autor Silvio de Abreu resgatou Dona Armênia (Aracy Balabanian) e seus três filhos, Geraldo (Marcello Novaes), Gerson (Gerson Brenner) e Gino (Jandir Ferrari), na novela Deus Nos Acuda, exibida na TV Globo em 1992. Eles foram interpretados pelos mesmos atores.
A ideia do personagem Caio Szimanski ser gago foi sugestão de seu intérprete, o ator Antonio Fagundes, que fazia seu primeiro papel cômico na Globo. Em determinado momento da história, Caio bate a cabeça e se cura da gagueira. O autor Silvio de Abreu, porém, recebeu tantas reclamações do público que, em dois capítulos, Caio voltou a gaguejar.
Claudia Raia engordou dez quilos para viver Adriana, a “bailarina da coxa grossa”. A certa altura, a atriz disse a Silvio de Abreu que não aguentava mais ficar tão acima de seu peso e, a partir daí, o autor criou cenas hilárias em que a personagem começa a fazer uma rígida dieta para tentar conseguir um trabalho. Em uma das cenas, para perder calorias, Adriana se enrola em um plástico de PVC, corre e pula corda na sala de sua casa.
Rainha da Sucata foi o primeiro trabalho de Andréa Beltrão na TV após o sucesso do seriado 'Armação Ilimitada' (1985). A atriz, que ficara mais de um ano dedicada ao teatro, queria fazer outros papéis na televisão. Ela temia ser vista apenas como Zelda, sua personagem no seriado. Coincidentemente, Ingrid, sua personagem na novela, também havia passado muitos anos na França. De tanto assistir a filmes franceses para ajudar na interpretação, Andréa convenceu com seu sotaque, embora nunca tivesse estudado a língua antes.
O personagem de Paulo Gracindo, Betinho, usava uma expressão recorrente quando se referia às atitudes de sua mulher – “coisas de Laurinha” –, que acabou se transformando em um bordão reproduzido pelo público.
A atriz Fernanda Montenegro fez uma participação especial na novela, no papel de Salomé Szimanski, mãe de Caio (Antonio Fagundes) e Mariana (Renata Sorrah).
Marília Pêra fez uma participação especial na história interpretando ela mesma. A atriz recebia a desastrada personagem Adriana (Claudia Raia) no teatro, no espetáculo que estrelava na época.
Gracindo Jr. fez uma participação na trama, como um policial que prende Maria do Carmo, a personagem de Regina Duarte.
A atriz Ilka Soares participou da novela como uma das amigas elegantes de Laurinha (Glória Menezes).
Rainha da Sucata marcou as estreias de Marisa Orth e Cleyde Yáconis em novelas da TV Globo.