PRODUÇÃO
'O Rebu' teve 266 cenas gravadas, entre externas e estúdio, só em seus dez primeiros capítulos.
ABERTURA
A abertura de 'O Rebu', que representava uma festa, foi feita a partir de desenhos assinados pela artista plástica Marguerita Fahrer e pelo cenógrafo e diretor de arte Cyro del Nero.
O Rebu (1974): Abertura
FIGURINO E CARACTERIZAÇÃO
A figurinista Marília Carneiro imprimiu um tom naturalista aos figurinos da novela. Homens e mulheres se vestiam de maneira sóbria, sem muitos adornos. Uma das grandes dificuldades encontradas pela equipe de figurino, no entanto, foi o fato de 'O Rebu' ser uma novela a cores, ainda uma novidade na época, o que implicava em uma série de truques para alcançar o efeito desejado no vídeo.
O corte de cabelo de Sílvia, personagem de Bete Mendes, tornou-se uma febre na época, sendo copiado por mulheres em todo o Brasil. Como a atriz havia sofrido um acidente de carro meses antes da novela e estava usando os cabelos muito curtos, a figurinista Marília Carneiro resolveu radicalizar o visual: desenhou um corte ainda mais curto, quase como o de um rapaz. Em cena, a atriz usava um gel que realçava o penteado.
CENOGRAFIA E ARTE
Como o crime que detonava a ação de 'O Rebu' ocorria durante um jantar oferecido por um milionário austríaco a uma princesa italiana, era preciso cuidado absoluto com as regras de etiqueta. As consultoras de arte Tiza Oliveira e Lila Bertazzi tinham a função de orientar a equipe de produção e o elenco sobre protocolo e boas maneiras, de forma a aproximar o comportamento dos personagens da realidade. Durante as gravações, elas tinham autoridade até para interromper uma cena e corrigir alguma fala e explicar, por exemplo, que os ricos não dizem coisas como “por obséquio”, mas “por favor”. Nem sempre os atores gostavam.
O trabalho de Tiza Oliveira e Lila Bertazzi chegou a ser questionado por colunistas sociais. Zózimo Barroso do Amaral escreveu no Jornal do Brasil que não era comum que os convites para uma festa daquele porte fossem enviados pelo correio. Deveriam, segundo o jornalista, ter sido entregues em mãos. As consultoras responderam que os convites haviam sido entregues a domicílio e que ele havia confundido o brasão de Mahler, gravado no envelope, com um selo postal.
Ibrahim Sued, de O Globo, observou que em uma festa da alta sociedade os convidados não apresentavam o convite na porta. A resposta veio imediatamente. O único personagem que apresentara convite havia sido o criminoso Boneco (Lima Duarte), justamente um impostor que roubara o convite de outro convidado. As consultoras só se renderam quando questionadas sobre o fato de as velas nos candelabros da mansão permanecerem apagadas: “Cada gravação dura quase cinco horas. Não há vela que aguente!”, responderam.
Duzentos funcionários trabalharam durante um mês, sob a supervisão de Mário Monteiro e Gilberto Vigna, na construção do cenário da mansão Mahler, que ocupava uma área de 300 metros quadrados, e tinha dois andares medindo seis metros de altura.
CURIOSIDADES
Polonês de nascimento, Ziembinski confessou a Lima Duarte seu método para conseguir extrair da língua portuguesa emoções que ele julgava que só um brasileiro saberia exprimir. Depois de ler as cenas e entender as emoções que elas exigiam, o ator pedia que um amigo lesse o script para ele, enquanto anotava os momentos em que os olhos do interlocutor brilhavam para depois reproduzi-los em cena.
Arlete Salles, intérprete da personagem Lídia, lembra que a estrutura narrativa de 'O Rebu' exigia dos atores um esforço extra para ajudar a manter a continuidade da novela. Se uma cena era gravada do lado esquerdo do cenário e a seguinte era para ser feita no lado direito, os atores da primeira cena tinham que se posicionar como figurantes da próxima. Além disso, precisavam passar meses com o mesmo figurino. O ator Mauro Mendonça também se lembra do cuidado extremado com a continuidade das cenas.
Carlos Vereza, que fazia o papel de Laio, conta que, durante a novela, Ziembinski deu vários palpites sobre iluminação ao diretor Walter Avancini. Além de ator, Ziembinski era também um consagrado diretor de teatro e televisão, e Avancini o respeitava e aproveitava seus conselhos.
Em depoimento ao Memória Globo, José Lewgoy contou que havia tanta naturalidade nas cenas de 'O Rebu' que, certo dia, ele se esqueceu de que estava representando, sendo imediatamente repreendido pelo diretor Walter Avancini.
A novela marcou as estreias das atrizes Bete Mendes, Tereza Rachel e Isabel Ribeiro na Globo.
A primeira sequência da novela lembra o longa 'Crepúsculo dos Deuses' (Sunset Boulevard), dirigido por Billy Wilder em 1950. Na primeira cena do filme, um cadáver aparece boiando numa piscina e, daí por diante, toda a trama se desenrola de forma a elucidar o mistério de sua morte.
As idas e voltas na ordem cronológica davam ao autor o triplo de trabalho para escrever a trama. Para dar sentido à história, antes de reescrever as cenas ele tinha que rever os tapes para lembrar como elas haviam ido ao ar. Diferentes pontos de vista eram explorados na trama.
A personagem Olympia Boncompagni (vivida por Marília Branco), a princesa italiana convidada para o jantar na mansão dos Mahler, foi batizada com um dos sobrenomes mais ilustres da Itália. Os Buoncompagni existiram de verdade. Foram príncipes de Piombino e tinham, entre seus parentes, o papa Gregório XIII. Uma princesa da família já havia visitado o Brasil na década de 1940.