Uma casa inteiramente cenográfica foi construída para a novela, uma inovação na teledramaturgia brasileira: era a primeira vez que o usual processo de gravar as externas em frente a uma fachada, e as internas, em estúdio, não era usado. A mesma tecnologia utilizada para a construção das cidades cenográficas foi aplicada na montagem da casa, cenário dos personagens Lucas (Hugo Carvana) e Ester (Odete Lara).
'O Dono do Mundo' (1991): cena em que Márcia (Malu Mader) se vinga, desmascarando Felipe (Antonio Fagundes).
A insatisfação com a personagem Márcia se refletiu no seu figurino, idealizado para ressaltar o lado inocente e romântico da personagem. A figurinista Marília Carneiro pensou na heroína da novela usando tênis e vestidinhos de algodão estampados, inspirados na grife inglesa Laura Ashley, mas, devido à rejeição do público, teve de mudar tudo, recorrendo ao básico jeans com camiseta, mais realista.
'O Dono do Mundo' (1991): Abertura
A abertura de 'O Dono do Mundo' foi um dos destaques da novela. Ao som da canção 'Querida', de Tom Jobim, a abertura mostrava a cena do filme O Grande Ditador (1940) em que Charles Chaplin, no papel do personagem Hynkel, dança com um globo terrestre, numa sátira a Adolf Hitler. A cena foi modificada eletronicamente com a inserção de belas mulheres no globo.
Inicialmente, 'O Dono do Mundo' não agradou ao público, e Gilberto Braga teve que se esforçar para tornar a trama de sua protagonista convincente. Segundo a opinião dos telespectadores, uma mulher como a personagem Márcia (Malu Mader), uma jovem com curso superior, moradora do Rio de Janeiro, em plena década de 1990, não se deixaria enganar tão facilmente pelo vilão Felipe Barreto (Antonio Fagundes).
Além disso, o público não perdoou a mocinha por ter perdido a virgindade com outro homem, e não com seu marido, em plena lua de mel, o que fez com que os telespectadores não torcessem pela vingança de Márcia contra o cirurgião plástico, o fio condutor da trama. Segundo Gilberto Braga, além de ter uma heroína de que o público não gostava e um vilão que era admirado, ele acha que pesou a mão na crítica social, o que não resultou bem.
O autor Silvio de Abreu foi convidado para ajudar a equipe de 'O Dono do Mundo' na reformulação da trama, modificar o perfil de alguns personagens e dar maior agilidade ao texto. Aos poucos, os autores conseguiram reconquistar o público.
O público torcia pelo casal Taís e Beija-Flor. Seus intérpretes, os atores Letícia Sabatella e Ângelo Antônio, conheceram-se durante as gravações de O Dono do Mundo e se casaram algum tempo depois. A novela marcou a estreia de ambos na TV Globo.
A falta de ética do personagem Felipe Barreto incomodou diversos cirurgiões, que encaminharam reclamações à TV Globo.
O Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas do Rio de Janeiro se manifestou contra a personagem Vanda, interpretada por Lucinha Lins, que plantava notas falsas em colunas sociais.
A novela sofreu reclamações do município de Barra Mansa, situado no sul do estado do Rio de Janeiro, que considerou que a cidade era retratada como um local acometido por verminoses e dengue.
Na versão internacional de 'O Dono do Mundo' houve uma reformulação na cena em que Márcia (Malu Mader) bate à porta do quarto de Felipe (Antonio Fagundes) e se entrega a ele – atitude criticada pelo público no Brasil. Na nova cena, ouve-se a voz da atriz Malu Mader, e, em seguida, as imagens que aparecem mostram a personagem já na cama com o médico.
O Dono do Mundo: Beija-Flor (Angelo Antonio) e o "surfe ferroviário"
O carisma de Beija-Flor junto ao telespectador foi tão grande que o perfil do personagem foi modificado ao longo da história. Ele deixou de fazer surfe ferroviário e de se envolver com marginais, tornando-se honesto e íntegro. Suas ações inspiraram uma campanha sobre ética promovida pela Associação Brasileira de Marketing.
'O Dono do Mundo' (1991): Trilha sonora do personagem Beija-flor (Ângelo Antônio)
O nome Beija-Flor foi uma homenagem ao cantor Cazuza, autor da música-tema do personagem, 'Codinome Beija-Flor', interpretada por Luiz Melodia. Entre as roupas do figurino do personagem, estava uma camiseta da Sociedade Viva Cazuza.
O 'Dono do Mundo' marcou a estreia do ator Paulo Gorgulho na TV Globo, após o sucesso na novela Pantanal (1990), exibida na extinta TV Manchete. Na trama de Gilberto Braga, ele interpretou o personagem Otávio.
Felipe Barreto foi o primeiro vilão interpretado por Antonio Fagundes em uma novela. O papel foi feito especialmente para o ator.
Para Fernanda Montenegro, que viveu a cafetina Olga, voltou a contracenar com Nathalia Timberg, com quem trabalhava desde 1956, quando ambas se revezavam nos papéis principais dos antigos teleteatros.
Segundo Gloria Pires, sua personagem, Stela, foi algo inspirada na personagem de Mimi Rogers no filme 'Perigo na Noite' ('Someone to Watch Over Me', 1987), de Ridley Scott. A atriz chegou ao fim da novela grávida de sua segunda filha.
A veterana atriz Odete Lara fez sua estreia em novelas, aos 63 anos, como a personagem Ester, em quem Felipe faz uma cirurgia plástica malsucedida logo no início da trama. Gilberto Braga já havia convidado a atriz para atuar em 'Vale Tudo' (1988), como a vilã Odete Roitman, mas ela não aceitou o papel.
O 'Dono do Mundo' foi o primeiro trabalho de Paulo Goulart em uma novela de Gilberto Braga. Também foi a primeira vez que trabalhou com o diretor Dennis Carvalho e com Antonio Fagundes, que interpretou seu filho na trama.
A roteirista Fernanda Young arriscou-se como atriz na novela 'O Dono do Mundo' interpretando Jurema, empregada da personagem de Gloria Pires (Stela).
Felipe Barreto foi citado na novela 'A Próxima Vítima', de Silvio de Abreu, exibida pela TV Globo em 1995: é ele quem faz uma cirurgia plástica em Isabela, personagem de Claudia Ohana.
'O Dono do Mundo' foi vendida para vários países, entre eles Bolívia, Canadá, Chile, Estados Unidos, Paraguai, Portugal, Turquia e Venezuela.