Memoria Globo

TRAMA PRINCIPAL

Marco na renovação da linguagem das telenovelas, a história mostra as questões vividas por cinco gerações de uma família no norte de São Paulo, tendo como trama central o romance entre Carolina (Sandra Barsotti) e João Maciel (Gracindo Jr.), um talentoso artista plástico que não se conforma com o provincianismo da cidade de Sapucaí, onde é ambientada a trama.

Com idas e vindas no tempo, a novela se desenvolve em três épocas distintas, apresentadas simultaneamente, e atores diferentes interpretam os mesmos personagens em cada fase. No período entre 1900 e 1910, Maria do Carmo (Analu Prestes), mãe de Carolina, é obrigada pela família a se casar com o engenheiro Eugênio (Edson França), mesmo sendo apaixonada pelo português Jacinto (Tony Correa). Na década que vai de 1926 a 1936, a jovem Carolina, pressionada, repete a história da mãe e desiste de fugir com João Maciel, casando-se com Atílio (Dennis Carvalho), comerciante com carreira política ascendente.

Gracindo Júnior e Sandra Barsotti em O Casarão, 1976. Acervo/Globo. — Foto: Globo

Gracindo Júnior e Sandra Barsotti em O Casarão, 1976. Acervo/Globo.

Neuza Amaral e Paulo Gracindo em O Casarão, 1976. Acervo/Globo. — Foto: Globo

Paulo Gracindo e Neuza Amaral em O Casarão, 1976. Acervo/Globo.

No ano de 1976, Carolina (agora representada por Yara Cortes) mantém ainda grande vitalidade, apesar da idade avançada. De longe, ela acompanha o sucesso de João Maciel (interpretado agora por Paulo Gracindo), recortando os jornais que informam sobre as andanças do artista. Por outro lado, Atílio (vivido agora por Mário Lago) está acometido por doenças da velhice e bastante abalado pela perda de seu prestígio na cidade, vivendo das lembranças de um passado distante. O personagem é a imagem do casarão, condenado à destruição pela chegada dos novos tempos. Já João Maciel se mostra ainda em pleno vigor e mantém o mesmo idealismo dos 20 anos, embora não disfarce certo amargor diante da realidade.

Boêmio inveterado, casou-se cinco vezes, mas conserva uma fantasia em relação à Carolina. Sua volta a Sapucaí significa o reencontro com um passado mal resolvido. Depois de muitos desacertos ao longo da trama, e com a morte de Atílio, Carolina e João Maciel realizam o sonho de ficar juntos.

Waldir Maia, Arthur Costa Filho e Fernando José em O Casarão, 1976. Acervo/Globo. — Foto: Globo

Waldir Maia, Arthur Costa Filho e Fernando José em O Casarão, 1976. Acervo/Globo.

O casarão, personificação da ação do tempo na vida dos personagens, e ele próprio um personagem da história, é destruído. De arquitetura colonial, a casa é inicialmente sede de uma rica fazenda que, no decorrer de 76 anos, vai se depreciando, perdendo sua extensão, transformando-se, ao final, na sede de um empreendimento imobiliário. Suas terras são divididas em pequenos lotes, vendidos para a construção de casas de campo. Um fatalismo histórico marca sua vida: sua construção e apogeu coincidem com a implantação de uma estrada de ferro; em contraponto, na atualidade, uma nova ferrovia deverá passar justamente no local onde está o imóvel, forçando sua demolição.

Paulo Gracindo e Elizangela em O Casarão, 1976. Acervo/Globo. — Foto: Globo

Paulo Gracindo e Elizangela em O Casarão, 1976. Acervo/Globo.

A MULHER BRASILEIRA

Além de acompanhar a evolução da família de Deodato Leme (Oswaldo Loureiro), a novela apresentava um viés feminista, abordando o papel da mulher na sociedade em épocas diferentes. A personagem Lina (Renata Sorrah), por exemplo, desafia o conservadorismo. Casada com Estevão (Armando Bógus), ela se apaixona por Jarbas (Paulo José) e decide viver com o homem que ama, recebendo todo o apoio da avó, Carolina (Yara Cortes), numa identificação de propósitos entre as duas.

Também tem destaque na trama a influência da Igreja Católica na sociedade brasileira. Nas três épocas de O Casarão, existe a participação ativa de padres: na primeira e na segunda fases, a igreja é representada pelo vigário Felício (Hélio Ary); na terceira, pelo padre Milton (Nilson Condé).

Renata Sorrah em O Casarão, 1976. Acervo/Globo. — Foto: Globo

Renata Sorrah em O Casarão, 1976. Acervo/Globo.

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