Produção
Para as filmagens iniciais, a produção de Gabriela passou 15 dias entre os estados do Piauí, Pernambuco e Bahia (Junco do Salitre, em Juazeiro).
No Piauí, a equipe de produção e o elenco levavam três horas de deslocamento até o Parque Nacional da Serra das Confusões. Esta locação serviu como cenário para a travessia da caatinga dos personagens de Gabriela (Juliana Paes), Clemente (Daniel Ribeiro) e Negro Fagundes (Jhe Oliveira).
Para produzir belas imagens aéreas da passagem do grupo pela caatinga, a produção usou uma novidade tecnológica: um helicóptero de aeromodelismo, controlado por rádio, foi adaptado para carregar uma câmera. Pela primeira vez, a técnica foi usada na teledramaturgia brasileira.
Nas gravações nas cidades de Ilhéus e Canavieiras (Bahia), dezenas de figurantes se juntaram ao elenco e foi preciso um caminhão inteiro para guardar as peças de figurino.
Cenografia e Arte
A cenografia da novela foi baseada na própria obra de Jorge Amado. O diretor, Mauro Mendonça Filho, inspirou-se nos livros Seara Vermelha, 'Terras do Sem-fim', 'Cacau' e 'São Jorge dos Ilhéus', além de ter como referência o sertão nordestino presente no cinema nacional.
Uma cidade cenográfica foi erguida no Projac para retratar Ilhéus da década de 20. Com uma pracinha, um chafariz, a igreja e diversas casas e comércios, a cidade foi palco de cenas marcantes, como a da chegada de Gabriela (Juliana Paes) à cidade. Na sequência, a atriz se banhou no chafariz, na frente de todos os moradores, escandalizando os mais moralistas. Outra cena que foi recriada no Projac foi a clássica de Gabriela subindo no telhado de uma casa para pegar uma pipa. O diretor-geral da trama, Mauro Mendonça Filho, quis fazer uma grande homenagem à primeira versão televisiva da novela, repetindo, inclusive, alguns dos ângulos feitos em 1975.
Abertura
A abertura de Gabriela foi produzida de maneira totalmente artesanal, sem o uso de recursos de computação gráfica. Foram utilizados 150 kg de areia colorida, vindos especialmente do Ceará, para retratar seis paisagens e cenários da trama criados pelo artista Mello Menezes.
A equipe de Videografismo da Central Globo de Comunicação, comandada por Hans Donner, buscou os temas que estamparam a vinheta da primeira versão da novela, em 1975, para construir os seus painéis de areia com 1,5 m x 1m. A equipe inspirou-se na sensualidade de Gabriela, nas belas paisagens da Bahia e da caatinga, na boemia do Bataclã e na moral conservadora da Bahia dos anos 20.
Os únicos efeitos da abertura foram as simulações de vento, ondas do mar e pingos de chuva, filmados com uma câmera especial capaz de revelar detalhes imperceptíveis a olho nu, registrados a mil frames por segundo.
A trilha sonora da abertura, 'Modinha para Gabriela', de Dorival Caymmi, foi mantida na voz de Gal Costa, como aconteceu na primeira versão.
Figurino e Caracterização
Por se passar nos anos 20, conhecidos como “os anos loucos”, a novela retratou uma mudança no figurino feminino, com a liberação da mulher. Foi a partir dessa época que os espartilhos foram abolidos, por exemplo. A linha da cintura foi para a altura dos quadris.
O figurino de Malvina (Vanessa Giácomo) representou a sua conexão com o mundo. Apesar de morar em Ilhéus, era moderna e usava cores contrastantes, como preto e amarelo, azul e vermelho, com formas retas e geométricas. Para completar o visual, a personagem lançou mão de sapatos de boneca e cintos finos. Para sua caracterização, a referência foi a atriz do cinema mudo Louise Brooks, que imortalizou o tipo de corte de cabelo conhecido como la garçonne.
O figurino de Gabriela (Juliana Paes) não se enquadra em nenhuma época, pois segue uma linha natural. Em seu guarda-roupas, vestidos simples de algodão, de alcinha ou renda, com estampas que provocassem certa sensualidade. Os cachos muito longos, a sobrancelha mais grossa e a pele curtida de sol completaram o visual de Gabriela.
Apesar de aparentar estar sem maquiagem, Juliana Paes passava por um longo processo de caracterização que durava cerca de duas horas. Para chegar à cor de canela da personagem, era passada, em todo o rosto e corpo, uma maquiagem trazida dos Estados Unidos.
Os chapéus foram bem explorados na novela, já que o uso do acessório era popular na década de 20, sendo obrigatório pela manhã. Todas as moças de Ilhéus, com exceção de Gabriela, se enfeitavam. O cloche, chapéu justinho na cabeça e enterrado até os olhos, era o mais popular.
A etiqueta dos homens também exigia o uso do acessório. A maioria vestia chapéu panamá, sobretudo coronéis como Mundinho Falcão (Mateus Solano). Já Berto (Rodrigo Andrade), desfilava com um chapéu negro, fazendo referência aos mafiosos. Tonico Bastos (Marcelo Serrado) personificava o homem galanteador com o uso do chapéu palheta com uma fita na base.
O uso do bigode na novela permeou quase todos os personagens, com exceção de Mundinho Falcão (Mateus Solano), que, pode ser um personagem progressista, usava a cara limpa.
Os coronéis usavam sempre ternos com tecidos leves, como linho, para enfrentar o calor. A modelagem, sem ombreiras, e as cores neutras, entre marrom, bege, branco e preto, completavam o visual.
A preocupação com a aparência fica evidente em Tonico Bastos, que usava ternos de risca em tons claros e escuros. Seus lenços, estampados e de seda, davam um toque mais galanteador, junto com o bigode fininho, bem característico da época, e o gel no cabelo.
As meninas do Bataclã estavam sempre usando a última moda. Presenteadas por estrangeiros e coronéis com as novidades vindas de fora, investiam em transparência, sensualidade e cores vibrantes, simbolizando a quebra de padrões típica dos anos 20. A maquiagem, forte, contou com tons vermelhos de batom e esmaltes, olhos esfumaçados e cílios postiços. Perucas, apliques e cabelos com ondas típicas desta época estavam nas cabeças das meninas do Bataclã.
Maria Machadão (Ivete Sangalo) teve o figurino inspirado na soberania de sua personagem. Mangas largas e grandes, tiradas do japonismo, remetiam ao poder. Brincos, colares e o corte de cabelo à la Coco Chanel completaram o look.
Um casal que não passou despercebido por Ilhéus foi Anabela e Príncipe Sandra. Ela, moça moderna, misturava cores inusitadas e usa perucas. Ele, com sua barba pontiaguda e o bigode virado para cima, usava uma pena de pavão na lapela do paletó.
A moça da janela, Glória (Suzana Pires), abusava da renda misturada com viés e da cintura marcada. Adepta de cores quentes, a personagem usava o corte de cabelo fora da moda da época.
Algumas peças usadas na novela foram especialmente desenvolvidas para seus personagens. Foi o caso do colar azul com a imagem de São Sebastião, de Dona Sinhazinha (Maitê Proença); das alianças dos coronéis e suas esposas; do anel do Príncipe Sandra (Emílio Orciollo Netto) e dos barretes (prendedores de colarinho) utilizados pelos homens.
Curiosidades
A primeira montagem de Gabriela na Rede Globo deu-se em 1975, com adaptação de Walter George Durst, direção de Walter Avancini e Gonzaga Blota e supervisão de Daniel Filho. A interpretação de Sônia Braga no papel-título teve grande repercussão nacional. A novela foi lançada em comemoração aos dez anos de existência da emissora, com 132 capítulos, indo ao ar às 22h, horário nobre, entre 14 de abril e 24 de outubro.
Essa versão foi reapresentada no Brasil em quatro ocasiões: de janeiro a maio de 1979, às 22h. Em 1980, num compacto de 90 minutos e em junho de 1982, em 12 capítulos. E, finalmente, foi reprisada na sessão Vale a Pena Ver de Novo, entre 24 de outubro de 1988 e 24 de fevereiro de 1989, sempre às 13h30. Também foi a primeira novela da Rede Globo a ser exibida pela emissora RTP, em Portugal.
protagonista.
Antes da primeira adaptação da Rede Globo, o romance de Jorge Amado havia sido transformado em novela pela TV Tupi, em 1960, por Zora Seljan.
Gabriela Cravo e Canela é o livro de Jorge Amado com o maior número de traduções, disponível em mais de 30 idiomas. O universo do livro é recheado com quase 200 personagens. O autor Walcyr Carrasco focou o remake na discussão dos costumes e reduziu o número de personagens para 72.
José Wilker (Coronel Jesuíno Mendonça), que havia interpretado Mundinho Falcão em 1975, criou, nesta versão, frases cortantes que viraram bordões, como “vou lhe usar”.
A cantora Ivete Sangalo contou com a ajuda de profissionais tarimbados da TV na sua estreia como atriz, no papel de Maria Machadão. Antonio Fagundes encorajou a nova empreitada da cantora, auxiliando-a antes das cenas.
O ator Genézio de Barros inspirou-se no personagem Pantaleão, de Chico Anysio, para compor o coronel Amâncio. Outra marca forte de Amâncio foi sua voz grave e anasalada, uma homenagem a Castro Gonzaga, um ator da década de 1970.
Outro ator que buscou inspiração em Chico Anysio foi Marcelo Serrado, que interpretou Tonico Ramos. O cabelo e o movimento do queixo foram uma homenagem ao personagem Alberto Roberto.