PRODUÇÃO
A equipe da novela gravou cenas em Paris, na França; em Cartagena das Índias, na Colômbia; e em João Pessoa e Cabaceiras, na Paraíba. Cartagena das Índias não foi a primeira opção como locação de filmagens. Argentina e Chile haviam sido cogitados, mas o ar romântico da cidade colombiana conquistou a equipe da novela.
Na França, as cenas foram gravadas com a atriz Zezeh Barbosa, e o trabalho demandou uma equipe de 15 pessoas. A atriz interpretou Deusa, uma mulher que foi para Europa, há 20 anos, e deixou para trás a filha Grace Kelly (Leilah Moreno). Na capital francesa, as cenas foram feitas em importantes pontos turísticos da cidade, como o Cemitério do Père-Lachaise, Faubourg Saint-Honoré, Place Vendôme, Torre Eiffel, Montmartre, Montparnasse, Arco do Triunfo, Champs-Élysées e em um castelo nos arredores da Cidade Luz.
Já a Paraíba foi o cenário para contar a trama de Damiana (Bia Nunnes) e Felizardo (Diogo Vilela). Ele, depois de muitos anos sem ver a irmã, volta à sua terra natal para tentar encontrar a irmã desaparecida e dar-lhe uma vida de princesa. O que ele não sabe é que a Damiana que encontra não é a sua irmã de verdade. As cenas gravadas na capital João Pessoa e na cidade de Cabaceiras contaram com uma equipe de 100 pessoas, além dos atores Diogo Vilela e Bia Nunnes.
Durante duas semanas, uma equipe de 70 pessoas esteve em Cartagena das Índias, na Colômbia, para gravar as primeiras cenas de Aquele Beijo. Nem mesmo o calor de 35ºC desanimou a equipe – que contou ainda com mais de 600 figurantes da região. Para as gravações, houve a colaboração da produtora do ator Manolo Cardona. Do Brasil, foram levadas cerca de uma tonelada e meia de material, entre áudio, vídeo, figurino e arte. As Muralhas, a Baía de Cartagena, a Plaza Del Relojo, a Iglesia San Pedro, o Palacio de La Inquisición, as ruas do centro histórico, o Clube Havana e a Iglesia San Isidro foram alguns pontos turísticos que, durante 16 dias de gravações, serviram de locação para os atores Grazi Massafera (Lucena), Giovanna Antonelli (Cláudia), Ricardo Pereira (Vicente) e o ator colombiano Manolo Cardona (Juan).
FIGURINO E CARACTERIZAÇÃO
O look da Marisol, personagem de Mary Sheila, foi inspirado no da cantora Rihanna. Para tal, foi usado um mega-hair no cabelo da atriz, que, depois de cortado bem curtinho, foi desfiado e colorido com mechas vermelhas. Outros três personagens também demandaram um trabalho mais detalhado da equipe de caracterização: Belezinha (Bruna Marquezine), Bob Falcão (Sandro Christopher) e Ana Girafa (Luis Salém). Belezinha usava penteados armados, com muitos apliques e mega-hair, além de uma maquiagem bem carregada, o que tirava todo o ar jovial da adolescente. O visual da jovem se parecia com o de uma cantora de bolero dos anos 1950. Para participar dos concursos de miss, ela usava vestidos bem armados. Mas, no dia a dia, fora das passarelas, Belezinha usava jeans, camisetas, vestidos curtos e botas estilo cowboy, feitas especialmente para a personagem, nas cores verde água, rosa velho e bege.
Já o pai de Belezinha, Bob, fã e cover de Elvis Presley, ganhou um corte de cabelo semelhante ao do cantor. Para os momentos das apresentações, Bob usava perucas. O personagem ganhou ainda roupas especiais para shows, iguais às usadas por Elvis Presley. Mesmo quando não estava se apresentando, usava peças que remetiam ao estilo de Elvis: jaquetas, camisas sociais e peças em linho.
Para viver a travesti Ana Girafa, Luis Salém teve de se acostumar a usar corselete, feito sob medida para ele; cílios postiços; peruca; maquiagem carregada; além de pintar as unhas e raspar os pelos. Sua composição levava cerca de duas horas para ser finalizada.
Cláudia, vivida por Giovanna Antonelli, tinha um ar romântico. O cabelo dela foi cortado um pouco – seguindo um estilo bem casual, solto, natural – e também clareado. A pele da atriz ganhou um tom mais bronzeado, e a maquiagem era bem leve, apenas com os olhos esfumaçados. Ela usava muitos lenços, echarpes, vestidos, bolsa carteiro, calça jeans e sandálias com saltos que lhe davam mais segurança para dirigir sua scooter.
Maruschka, interpretada por Marília Pêra, usou seus cabelos loiros bem desfiados, na altura dos ombros. Sua maquiagem era sóbria, e seu figurino bem elegante: roupas coloridas, estampas em detalhes nos acessórios e sapatos com saltos bem altos.
Para compor o visual da modelo internacional Lucena, vivida por Grazi Massafera, a equipe de caracterização se inspirou nas moradoras de Paris e Cartagena, locais onde foram gravadas alguma cenas da novela. A personagem usava muitos decotes, shorts, saias curtas e botas.
O empresário Alberto, interpretado por Herson Capri, usava cabelo mais solto, bagunçado, e com mechas claras. Um bronzeado natural garantia-lhe um ar tropical. Os ternos ficavam somente para reuniões mais especiais. No dia a dia, Alberto usava blazers, jaquetas, camisas de chamois e calças jeans. Usava ainda colar, pulseira e brinco.
Para o trabalho no salão, Sarita (Sheron Menezzes) vestia roupas mais coloridas e práticas. Como advogada, passou a usar saias um pouco mais compridas, camisas sociais e sapatos com meio salto. Seus acessórios eram discretos.
Para viver a vendedora Grace Kelly, funcionária da loja Comprare, Leilah Moreno usou cabelos mais claros, no tom loiro médio e com mechas nas pontas. Seu guarda-roupa tinha muita estampa de onça, roupas justas e decotes. Tudo muito colorido e exuberante, com acessórios grandes. A irmã dela, Marisol (Mary Sheila), era uma estilista nata. Entendia e gostava de moda, por isso seu figurino era bem fashion, mas tudo dentro da realidade dela. Muitas peças vieram de lojas populares, para mostrar que basta ter gosto e estilo para se vestir bem. Ela usava saias curtas, lenços, sandálias, bolsas grandes e coloridas.
O advogado Vicente (Ricardo Pereira) usava muitos ternos e roupas mais clássicas, nada de extravagância. Já Rubinho (Victor Pecoraro), era um playboy, com jeito bem esportivo, traduzido em jeans, calças de amarrar, tricots e camisas para fora.
Na tentativa frustrada de se parecer com Maruschka (Marília Pêra), Locanda (Stela Miranda) ganhou um guarda-roupa bem chamativo. Vestia roupas com muitas estampas de bichos, tudo muito chamativo, em um estilo kitsch para a personagem. O marido Felizardo (Diogo Vilela) também seguia essa linha, usando roupas escuras com gravatas bem coloridas. O personagem calçava sandálias de couro, uma maneira de ligá-lo ao Nordeste.
Marieta (Renata Celidônio) e Olavo (Ernani Moraes) não se acham acima do peso e usam roupas bem justas. Taluda (Priscilla Marinho), a empregada da casa, também abusa de peças que marcam bem o corpo, tudo muito colorido, estampado e exagerado.
CENOGRAFIA E ARTE
Uma comunidade, uma mega loja de luxo, um pequeno bairro, um casarão abandonado e mais 25 cenários em estúdio foram construídos no Projac para ambientar Aquele Beijo. O espaço que abriga as duas cidades cenográficas – dividida entre a loja de luxo Comprare e as regiões fictícias Vila Caiada, Covil do Bagre e o Lar da Mão Aberta – ocupa, aproximadamente, uma área total de 8800 m2.
Construída em um espaço de 400 m2, a Comprare, loja do casal Maruschka (Marília Pêra) e Alberto (Herson Capri), possui dois andares que comportam sete lojas de luxo. O cenário demorou dois meses para ficar pronto. O ambiente, idealizado para ostentar riqueza e ser o point de consumo de clientes ricas, conta ainda com um bar e uma área de exposições, na qual foi projetada uma parede com uma estrutura de iluminação especial para exibir trabalhos reais de artistas plásticos, pintores e estilistas. A cada dois meses, trabalhos de artistas eram exibidos nessa galeria de arte. A estreia da amostra ficou por conta do estilista Jum Nakao, que expos os seus vestidos.
A fachada da loja tinha o estilo neoclássico. Na parte interna, no entanto, optou-se por misturar esse estilo à modernidade. Para tal, foram utilizados elementos em ferro, alumínio e vidros, além de esculturas e algumas interferências contemporâneas na decoração. No centro da Comprare, por exemplo, o cliente se deparava com uma claraboia e um lustre com oito metros de diâmetro, feito com seis mil contas de cristais e uma estrutura de ferro. Ao redor do bar, o chão era de vidro com iluminação interna onde, eventualmente, poderiam ser feitos desfiles de moda. Uma estrutura metálica também foi construída como um espaço multiuso para possíveis apresentações e shows. No segundo andar, um grande painel do artista gráfico Menotti evidenciava a logomarca da Comprare: um hexágono que remetia a uma colmeia. Em toda a Comprare, houve uma preocupação com a iluminação cênica e arquitetônica, para que cada detalhe fosse evidenciado.
Para criar a Vila Caiada, a equipe de cenografia foi buscar inspiração nas construções mais antigas do Catete, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. A região cenográfica era composta por uma pequena vila de casas e um único e pequeno edifício. Portugal foi representado através do restaurante Sonho D’Aveiro, comandado por Amália (Marina Mota) e Brites (Maria Vieira).
A fachada do casarão colonial foi toda feita com azulejos tradicionais do país, e a calçada reproduzia as existentes em Aveiro, em Portugal. No salão do restaurante, painéis com fotografias e objetos decorativos lusitanos decoravam o espaço.
Ao redor da pequena praça da Vila Caiada, foram construídas a casa de Felizardo (Diogo Vilela) e Locanda (Stella Miranda) e a confecção do casal, a Shunel; a casa de Bob (Sandro Christopher), Íntima (Elizangela) e Belezinha (Bruna Marquezine); o prédio onde moravam Camila (Fernanda Souza), Ricardo (Frederico Reuter), Valério (José D´Artagnan) e Orlandinho (Daniel Torres); a casa de mãe Iara (Claudia Jimenez) e Joselito (Bruno Garcia); e a casa de Olavo (Ernani Moraes) e Marieta (Renata Celidônio).
Locanda e Felizardo eram reconhecidos como o “casal rico” da Vila Caiada, e a casa dos dois representava esse desejo de ostentação. Só não tinham bom gosto. A residência era um sobrado transformado em “casa chique”, com decoração exagerada.
O ídolo de Bob Falcão (Sandro Christopher) é logo saudado na entrada da casa do personagem: uma pequena árvore foi plantada no canteiro cercado, com a placa Love Me Tender, semelhante à existente em Memphis, Estados Unidos, na casa de Elvis Presley.
Na fachada da casa da Mãe Iara (Claudia Jimenez) é visível a obra feita na parede depois do acidente de ônibus que vitimou a mãe da vidente. A equipe de cenografia deixou, propositalmente, o cimento aparente, sem pintura, evidenciando que ali houve um grande reparo na parede.
Ao lado da Vila Caiada, está o Covil do Bagre, onde a equipe de cenografia criou uma pequena comunidade carente. Logo na entrada, foram dispostos camelôs e barracas que vendiam tudo. Um botequim, uma loja com artesanato nordestino, uma vendinha, uma casa de sucos, um açougue, uma loja de material de construção, outra de moda atacado e varejo, uma oficina mecânica, uma lan house e o salão de Ana Girafa (Luis Salém) completavam o cenário. O salão de beleza, inclusive, era um dos poucos que tinha cenário interno. Imagens e esculturas africanas, cortinas coloridas, adornos com rolinhos de cabelo e produtos de beleza decoravam o salão.
O Lar da Mão Aberta foi erguido tendo como referências casarões antigos e abandonados, assim como o trabalho do fotógrafo Robert Polidori, que trabalha com câmeras de grande formato – o que permite uma riqueza de detalhes e uma alta definição imagética – e registra a presença pela ausência. Ela fotografa as marcas deixadas pelo homem nas cidades depois que tragédias, catástrofes naturais ou sociais as destruíram. Segundo o cenógrafo Keller Veiga, foi feita uma construção seguida de desconstrução para dar ao Lar da Mão Aberta uma verdadeira aparência de abandono. Para isso, foram usados uma pintura de arte envelhecida, vitrais quebrados e, na entrada, um afresco desgastado. O Lar tinha dois andares, um sótão e um porão. Em estúdio, foram reproduzidos o refeitório, o escritório, o quarto de Otília (Patrícia Bueno) e Olga (Maria Zilda Bethlem), o quarto das crianças e o porão.
A equipe de produção de arte desenvolveu uma linha de produtos e móveis para compor os interiores da loja Comprare, montada no Projac. A logomarca, que remetia à uma colmeia, e o slogan “Bee Fashion” foram escolhidos para transmitir o glamour da marca. Assim como as abelhas, que buscam pólen em diversas flores para produzirem o mel com o que há de mais puro e melhor, a Comprare se apresenta como uma multimarcas com o melhor da moda.
Esse mesmo espírito de arte e luxo pôde ser visto no cenário da casa de Maruschka (Marília Pêra). Para decorar o local, a equipe de produção de arte usou fotografias e telas de artistas renomados, como as da pintora brasileira Cristina Canale.
Para o apartamento de Cláudia (Giovanna Antonelli), a equipe de produção de arte reservou um clima bem intimista, colorido, com peças clássicas, como uma cadeira de madeira anos 1960, e elementos de design modernos, como a tela dos gêmeos grafiteiros Otávio e Gustavo Pandolfo.
Para fazer o altar na sala da casa de Mãe Iara (Claudia Jimenez), onde ela atende seus clientes, a produção de arte usou imagens e referências de várias culturas, inclusive a mexicana, já que a personagem tem uma forte ligação com o país.
O restaurante Sonho D’Aveiro, ambientado na Vila Caiada, trouxe a trama um pouco da culinária e dos costumes da região de Aveiro, também conhecida como a Veneza de Portugal. Para isso, foram desenvolvidos um cardápio de comidinhas e doces, além de muitos detalhes decorativos inspirados na cultura portuguesa, como um centro de mesa em formato de barcos típicos de Aveiro e um barril pequeno, decorativo, onde se guardam ovos moles, à venda no Sonho D’Aveiro.
Como o casal Olavo (Ernani Moraes) e Marieta (Renata Celidônio) come muito, a produção de arte espalhou pela casa muitos potes com doces. Como também são compradores compulsivos, há na casa muito produtos comprados pela internet, sem a menor utilidade. A Van Premier, carro usado pelo casal para levar senhoras para shows e teatros pela cidade, foi totalmente adaptada, com forro de veludo vermelho nas poltronas, cortinas nas janelas e uma bancada com panfletos de peças e biscoitos para serem servidos às clientes. A van passou, ainda, por uma reforma mecânica e de lataria, ganhando um adesivo com seu nome na lateral.
Brinquedos velhos e até quebrados compunham o cenário do Lar da Mão Aberta. Tudo para evidenciar as carências da instituição. Cada criança tinha, também, o seu conjunto de prato e caneca, bem simples.