Memoria Globo

A exemplo do tratamento adotado por Erico Verissimo no livro em que a minissérie foi inspirada, os atores de O Tempo e o Vento eram de diferentes estados brasileiros. Por meio dessa “universalização” – com misturas de falas, sotaques e culturas –, mostrou-se a formação miscigenada do Rio Grande do Sul. No elenco, repleto de grandes intérpretes, destacaram-se as atuações de Gloria Pires (Ana Terra), Tarcísio Meira (capitão Rodrigo) e Lélia Abramo (Bibiana Terra Cambará).

A
minissérie marcou a volta das Séries
Brasileiras naquele ano e foi exibida como parte da
programação de comemoração dos 20 anos da TV Globo. A idéia era, ao longo do
ano, levar ao público histórias de diferentes regiões brasileiras, baseadas em
obras da literatura nacional: a região Sul, com O
Tempo e o Vento; a Bahia, com Tenda
dos Milagres, de Jorge Amado; e Minas Gerais, com Grande Sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa.

Bastidores da minissérie, dirigida por Jorge Bodanzki. Na cena, Glória Pires aprende a tear com o antiquário Jorge Herman.

Bastidores da minissérie, dirigida por Jorge Bodanzki. Na cena, Glória Pires aprende a tear com o antiquário Jorge Herman.

ANA TERRA

Gloria Pires em O Tempo e o Vento, 1985. Jorge Baumann/Globo. — Foto: Globo

Gloria Pires em O Tempo e o Vento, 1985. Jorge Baumann/Globo.

Gloria Pires conta que, para conseguir o papel de Ana Terra, teve que batalhar muito. Na mesma época em que a minissérie seria gravada, a atriz estava escalada para o elenco da novela Partido Alto, de Aguinaldo Silva e Gloria Perez. Ao saber, nos corredores da emissora, que Paulo José, um dos diretores da série, havia cogitado seu nome para viver Ana Terra, ela correu à sala de Daniel Filho, então diretor da Central Globo de Produção, e pediu para conciliar os dois trabalhos. Depois de muitas negociações, Gloria Pires conseguiu o que queria.

Sua rotina era complicada, pois a minissérie era gravada no Rio Grande do Sul e a novela, nos estúdios da TV Globo, no Rio de Janeiro. Apesar do desgaste, a atriz considera Ana Terra um de seus melhores trabalhos. Entre as cenas marcantes de sua personagem, ela destaca a sequência em que dá à luz Pedro, sozinha, depois de ter sido rejeitada pela família.

“Foi um belo trabalho, uma história linda. Tem um diferencial realmente importante para a gente, brasileiros, saber dessas histórias, e a televisão é o melhor veículo para isso. Então, foi bacana, me senti muito honrada de participar do trabalho. Aprendi muitas coisas, inclusive a fiar, tirar a lã e fazer o fio na roca, que é muito difícil. Fiquei feliz com o resultado. Foi muito bonito”.

Glória Pires | Intérprete de Ana Terra

CAPITÃO RODRIGO

Tarcísio Meira e Louise Cardoso em O Tempo e o Vento, 1985. Bazilio Calazans/Globo. — Foto: Globo

Tarcísio Meira e Louise Cardoso em O Tempo e o Vento, 1985. Bazilio Calazans/Globo.

Tarcísio Meira, por sua vez, intérprete do capitão Rodrigo, lembra que teve receio de aceitar o papel. Ele conta que, em 1980, havia sido convidado para viver o personagem. Como parte das comemorações do aniversário de 15 anos da Rede Globo, a história de Érico Veríssimo seria adaptada para a televisão por Manoel Carlos, com direção de Paulo José. O projeto acabou cancelado, e O Tempo e o Vento só veio a ser produzido cinco anos depois. Tarcísio Meira foi novamente escalado para dar vida ao capitão Rodrigo, mas o ator, então com 50 anos, achava que sua idade não era mais condizente com o personagem.

Além disso, uma das características marcantes do capitão era sua paixão pela música. Ele tocava violão e adorava cantar, atividades para as quais o ator revela não ter nenhuma habilidade. Depois de algumas conversas com os diretores da série, Tarcísio Meira aceitou o desafio e recebeu inúmeros elogios de crítica e público pelo seu belo trabalho.

Daniel Filho conta que outro ator chegou a gravar algumas cenas como o capitão Rodrigo, mas, segundo ele, era impossível pensar em alguém que não fosse Tarcísio Meira.

“Eu sempre gostei muito do Erico Verissimo, era um grande admirador, li toda a obra dele e tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, visitá-lo na casa dele. Então, fiquei muito feliz com a oportunidade de fazer o Capitão Rodrigo, porque era um personagem maravilhoso, o herói brasileiro por excelência. Mas eu tinha um grande receio de fazer o Capitão Rodrigo porque eu já tinha passado da idade. Mas, tudo bem, fiz e enganei. E gostei muito de ter feito. A obra ficou muito bonita, toda ela. E fez muito sucesso”.

Tarcísio Meira, Intérprete do Capitão Rodrigo

Antes de exibir O Tempo e o Vento, a emissora apresentou um documentário sobre os bastidores da minissérie, dirigido por Jorge Bodanzky e com produção de Roberto Bianchi. 

A minissérie foi reapresentada três vezes: em março de 1986; em junho de 1991, no Vale a Pena Ver de Novo – quando foi levada ao ar uma versão compactada em dez capítulos, somente com as histórias do capitão Rodrigo e Ana Terra; e entre 3 e 27 de janeiro de 1995, em 16 capítulos, em homenagem aos 30 anos da Rede Globo. 

O Tempo e o Vento foi vendida para mais de 20 países, entre eles Argélia, Argentina,
Bélgica, Canadá, Cuba, Estados Unidos, França, Hungria, Portugal, Suíça e
Tunísia. Para ser vendida internacionalmente, foi dividida em quatro episódios. 



Em 2005, quando a TV Globo completou 40 anos e o escritor Érico Veríssimo, 100, a minissérie foi lançada em DVD. A trilha sonora também foi relançada nesse mesmo ano.

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