Por Memória Globo

Nos arredores do Pelourinho, apresenta-se a história de amor entre Florípedes Paiva (Giulia Gam), conhecida como Dona Flor, e seu marido, Valdomiro dos Santos Guimarães (Edson Celulari), o Vadinho, um malandro, mulherengo e sem trabalho, que se envolve em jogos de azar para conseguir uns trocados e se dar bem.

Vadinho pertence à boemia e faz o que for preciso para conseguir dinheiro para gastar na rua, inclusive bater na mulher e roubar o que Flor consegue dando aulas de culinária. O cassino clandestino Novo Tabaris é o local das trapaças de Vadinho.

Dona Flor é apaixonada por Vadinho, com quem sempre viveu um tórrido romance, cheio de sensualidade. Um dia, após dormir fora de casa com uma amante, ele paga uma ambulância para transportá-lo até sua casa e, assim, sensibilizar sua esposa. É recebido com muito carinho e cuidado. Só que, minutos depois, já está fantasiado para sair no bloco afoxé Filhos de Gandhi, onde só desfilam homens.

No meio do desfile, Vadinho é procurado por comparsas do  calabrês (Otávio Augusto), um contraventor a quem ele deve dinheiro. Quando a arma é apontada para a vítima, os tiros não saem. Mas, em decorrência de um mal súbito, Vadinho morre em pleno desfile. Flor é avisada e corre entre os homens do bloco, chorando sua dor com o marido morto nos braços.

No velório, a amarga Dona Rosilda (Walderez de Barros), mãe de Flor, tenta consolar a filha dizendo que ela deveria estar soltando fogos por se livrar de um traste como aquele. Ainda durante o velório, feito no lar do casal, Flor recebe a visita de muitas mulheres, que se desesperam e se descontrolam ao ver o corpo de Vadinho no caixão. São as amantes que vieram dar seu último adeus. Dona Rosilda, ao ver o tumulto, diz à filha que não foi só ela que ficou viúva, enquanto um grupo de amigos de farra do morto ri, liderados por Mirandão (Chico Diaz), o melhor amigo de Vadinho.

Abertura da minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998).

Abertura da minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998).

Autoria: Dias Gomes | Colaboração: Marcílio Moraes e Ferreira Gullar | Direção: Mauro Mendonça Filho, Rogério Gomes e Carlos Araújo | Direção-geral: Mauro Mendonça Filho | Direção de núcleo: Guel Arraes | Período de exibição: 31/03/1998 – 01/05/1998 | Horário: 22h30 | Nº de capítulos: 20

Mesmo tendo jurado, diante do caixão, que jamais teria outro homem, passado certo tempo, Flor se entrega ao amor de Teodoro Madureira (Marco Nanini), o dono de uma farmácia. Os dois acabam se casando. Experimentando uma nova rotina metódica e com um marido fechado, de boas maneiras, inteligente e correto, Flor ainda sente falta do calor romântico que nutria por Vadinho na cama. Teodoro é metódico até na hora do sexo: somente duas vezes por semana, com direito a bis no sábado.

Dona Flor, então, passa a receber a visita de seu ex-marido – em visões que somente ela tem –, sempre nu e com o mesmo “fogo” de sempre. Assim, forma-se um triângulo amoroso muito especial, que proporciona situações engraçadas ao público.

Inicialmente, Flor se assusta com a visão e teme ser levada por Vadinho. Em função disso, procura terreiros de candomblé para fazer um trabalho e se livrar do ex-marido. Na véspera do trabalho ser realizado, Flor recebe a visita do fantasma e tem com ele uma noite de amor. Já no outro dia, ela se arrepende do que fizera e, enquanto conversa com Vadinho, vê o falecido sendo puxado para o teto e se jogando nas paredes até desaparecer.

Amargando a despedida, no dia do aniversário de Vadinho, Flor vai até a Igreja para se confessar de seus pecados. Lá, faz uma promessa ao santo e diz a Teodoro que, no dia da procissão de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, vai seguir a pé todo percurso para alcançar uma graça muito grande. Sem contar para o marido do que se tratava, ele diz que vai acompanhá-la durante o sacrifício.

Em meio a cantorias religiosas, no dia da procissão, Flor caminha de braços dados com Teodoro. Vadinho, nu, chega ao lado de Flor e lhe ocupa o outro braço.

Entre Teodoro e Vadinho, Dona Flor segue feliz pelas ruas do Pelourinho.

BASTIDORES

A maioria das cenas externas da minissérie foi gravada em Salvador, buscando-se o máximo de referências baianas. Pretendia-se garantir a autenticidade local e levar para a televisão o universo de Jorge Amado. O bairro da Saúde tornou-se locação para grande parte das cenas.

Os efeitos especiais em Dona Flor e Seus Dois Maridos ficaram por conta das máquinas de composição de imagens Flint e Hal Express. Elas criaram condições técnicas ideiais para dar veracidade às cenas em que, por exemplo, o fantasma de Vadinho (Edson Celulari) atravessava portas e paredes da casa de Flor (Giulia Gam) e interferia na jogatina do cassino Novo Tabaris. Um cenário giratório foi usado na cena em que Vadinho subia pelas paredes.

Quinze membros da equipe técnica da minissérie participaram das gravações da cena da morte de Vadinho, ocorrida no bloco afoxé Filhos de Gandhi. Para se camuflalarem em meio à multidão de figurantes, os profissionais vestiram túnicas brancas, como os próprios integrantes do bloco. Nas gravações, eles utilizaram uma câmera, uma grua e uma steady cam para os planos gerais e detalhes de atores inseridos na multidão. Mais de mil figurantes estiveram presentes só nessa cena: 500 integrantes da bateria, oito tocadores de clarins, dez integrantes da ala do canto e mais 500 desfilando. Ao todo, cerca de 4.500 figurantes participaram da minissérie.

Algumas outras sequências também exigiram produções igualmente cuidadosas, como por exemplo a Festa de Iemanjá, no dia 2 de fevereiro, quando Flor e Vadinho se conhecem. As cenas aconteceram em Itapoã, com figurantes, barquinhos e barracas que compunham o cenário. Outro desafio foi a cena final da minissérie, em que Flor desce a ladeira do Pelourinho de braços dados com Teodoro e Vadinho, nu, em meio a 350 figurantes.

A minissérie contou ainda com locações no Rio de Janeiro: em Campo Grande, em um trio elétrico; em Santa Cruz, na casa de Neca (Lúcio Mauro); em Bananal, na farmácia de Teodoro (Marco Nanini); e em uma mansão na Barra da Tijuca, na casa do Calabrês (Otávio Augusto). Também houve gravações de cenas nos estúdios da Cinédia – cassino e boate Nivi Tabaris – e no Projac.

A direção de arte buscou extrapolar os limites da ficção e fazer com que o telespectador enxergasse, no cotidiano dos personagens, o universo descrito pelo autor da obra. Assim, as fachadas dos velhos casarões do Largo da Saúde foram reformadas e pintadas para denotar certo envelhecimento. Todos os cenários foram montados de maneira a trazer o universo baiano à tona e ser fiel à personalidade de seus habitantes.

A canção 'Caminho do Camarim', de Carlinhos Brown, foi usada como tema de abertura da minissérie.

VÍDEOS

Cena em que Vadinho (Edson Celulari) morre em pleno desfile do bloco “Filhos de Gandhi” no Carnaval.

Cena em que Vadinho (Edson Celulari) morre em pleno desfile do bloco “Filhos de Gandhi” no Carnaval.

Cena em que Flor (Giulia Gam) não consegue dormir, levanta-se no meio da noite e transa com a aparição de Vadinho (Edson Celulari). Teodoro (Marco Nanini) acorda, vê Flor nua e não entende nada.

Cena em que Flor (Giulia Gam) não consegue dormir, levanta-se no meio da noite e transa com a aparição de Vadinho (Edson Celulari). Teodoro (Marco Nanini) acorda, vê Flor nua e não entende nada.

Cena em que Vadinho (Edson Celulari) retorna após uma promessa de Flor (Giulia Gam), e o triângulo amoroso com Teodoro (Marco Nanini) fica em equilíbrio.

Cena em que Vadinho (Edson Celulari) retorna após uma promessa de Flor (Giulia Gam), e o triângulo amoroso com Teodoro (Marco Nanini) fica em equilíbrio.

TRAMAS PARALELAS

O Contraventor

Calabrês (Otávio Augusto), um contraventor a quem Vadinho (Edson Celulari) devia dinheiro, acaba sendo preso por interferência do fantasma durante o julgamento. Celeste (Dira Paes), a filha do bicheiro, assume seu lugar nos escusos negócios da família.

As filhas de bicheiros

Duas filhas de bicheiros, Celeste (Dira Paes) e Juliana (Cyria Coentro), formam um par romântico na minissérie. Elas iniciam o romance depois que Celeste se desilude com Vadinho (Edson Celulari), seu primeiro namorado.

Marilda, a cantora

O cassino clandestino Novo Tabaris é onde Marilda (Thalma de Freitas), amiga de Flor (Giulia Gam), inicia sua promissora carreira de cantora. Nas cenas na boate, Marilda interpreta canções como Toda Sexta-Feira, de Adriana Calcanhoto; Terra de Índio e Ladeira, de autoria de Nana Xará e Edurado Caribe; e Toda Menina Baiana, de Gilberto Gil.

Cena em que Calabrês (Otávio Augusto) é preso após intervenção de Vadinho (Edson Celulari) no julgamento.

Cena em que Calabrês (Otávio Augusto) é preso após intervenção de Vadinho (Edson Celulari) no julgamento.

CURIOSIDADES

No livro de Jorge Amado, a história se passa entre os anos 1930 e 1940. Na minissérie, a trama foi atualizada para os anos 1990. Entre as novidades trazidas pela adaptação, Marcílio Moraes criou um casal homossexual, inexistente na obra original, formado por duas filhas de bicheiros, Celeste (Dira Paes) e Juliana (Cyria Coentro). Além disso, a minissérie incorporou à trama o núcleo dos bicheiros, os vilões, que assumiu grande destaque.

Para compor um personagem que tocava na fictícia Orquestra de Câmara Filhos de Orfeu, Marco Nanini teve aulas de fagote com o maestro Aloísio Fagerlande, que também dublou o ator.

Antes de se tornar minissérie, a obra de Jorge Amado já havia ido às telas de cinema pelas mãos do diretor Bruno Barreto, em 1975. Tendo sido recordista de público – com mais de 12 milhões de espectadores –, o filme trazia José Wilker como Vadinho, Sônia Braga como Flor e Mauro Mendonça como Teodoro.

Reapresentada em junho de 2002, Dona Flor e Seus Dois Maridos foi vendida para diversos países, como Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Honduras, Israel, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Cao Albuquerque (24/07/2006), Giulia Gam (22/05/2006) e Marco Nanini (07/12/2001); Boletim de especial de programação da Rede Globo, de 03/1998;Boletim de programação da Rede Globo,de 06/2002;APOLINÁRIO, Sônia, “Minissérie inventa casal de lésbicas” In: O Estado de São Paulo, 18/05/1997;MEMÓRIA GLOBO. Dicionário da TV Globo, v.1: programas de dramaturgia & entretenimento. Rio de Janeiro/ Jorge Zahar Editor, 2003; www.imdb.com, acessado em 10/2006; ww.teledramaturgia.com.br, acessado em 10/2006; http://viaglobal/cedoc (intranet), acessado em 10/2006; http://retrovamoslembrar.blogspot.com/2011/06/trilha-sonora-da-minisserie-dona-flor-e.html, acessado em 02/2012.
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