Estreia
No dia 7 de abril de 1980, Marília Gabriela saudou as telespectadoras de Rio e São Paulo com um programa que pretendia discutir “o que é feminino e feminismo”, em três horas de duração. Ao som da Música Rosa Choque, composta por Rita Lee e Roberto de Carvalho, a vinheta de abertura do 'TV Mulher' mostrava uma emissora de televisão operada apenas por mulheres. Dividido em seções curtas, de cinco minutos, o 'TV Mulher' contava na estreia com os quadros: 'Bolsa de Mercadorias', sobre a variação de preços da cesta básica; 'Panela no Fogo', que dava receitas e modo de preparo de pratos diversos; Polícia, editoria com comentários do noticiário policial que dizia respeito à segurança da mulher; 'Serviço de Proteção ao Telespectador', que atendia a denúncias feitas pelo público; Flashback, que contava a história de criação de determinada canção em destaque no momento; 'Comportamento Sexual', com a sexóloga Marta Suplicy; 'Saúde da Criança', com dicas de um pediatra; 'Mulher no Mundo', que dava um giro no globo para mostrar como é a situação das mulheres em outros países; 'Claquete', sobre os bastidores da televisão; 'Estética', com Ala Szerman, falando de beleza, alimentação e exercícios físicos. Também ganharam espaço os quadros 'O Direito da Mulher', 'O Melhor da TV', 'Clodovil', 'Dicas de Hoje', 'Ponto de Encontro' e 'A Mulher com a Palavra'. O programa era aberto com um editorial lido por Marília Gabriela, que também comentava as notícias do dia, nos principais jornais. De acordo com o coordenador Durval Honório, foi também um dos primeiros programas da Globo em que houve um trabalho conjunto da área comercial e de produção, já que o departamento de jornalismo não tinha verba para sustentar tantas horas no ar, durante a manhã. “Foi o primeiro programa em que foi feito um trabalho em conjunto entre o comercial e produção. Montaram um programa segmentado.”
O programa 'TV Mulher' estreia com Elis Regina
Interação Com o Público
Desde a estreia, o 'TV Mulher' pretendia interagir com o público feminino, buscando dar apoio às mulheres brasileiras. Logo nos primeiros meses, a redação do programa em São Paulo passou a receber milhares de cartas de telespectadoras – com críticas, sugestões, dúvidas, elogios.A produção do programa registrou, no primeiro mês de exibição, uma média de 200 telefonemas por dia.Os assuntos mais solicitados pelas telespectadoras diziam respeito à violência contra a mulher, o pagamento de pensão alimentícia, partilha de bens em caso de divórcio, rotina da mulher nas grandes cidades e problemas no cuidado com a casa. O contato com os telespectadores levou a produção a criar dois novos quadros: Oferta e Procura, sobre emprego; e Depois dos 40, com dicas para a mulher madura.
Expansão Pelo Brasil
Em setembro de 1981, o 'TV Mulher' começou a ser exibido para Belo Horizonte e Recife. Por conta da expansão, o programa ampliou a cobertura de suas pautas para sair do eixo Rio-São Paulo. Pequenos ajustes foram feitos nos quadros e no cenário. O período foi marcado pela estreia da jornalista Xênia Bier, com comentários sobre a vida da mulher no trabalho e em casa, no quadro Mulher, Profissão, Esperança. A jornalista também fazia comentários, às segundas, sobre atrações do fim de semana; às quartas, comentava problemas e soluções de relacionamentos afetivos e, às quintas e sextas, ensinava a trabalhar a energia do corpo para ajudar em pequenos problemas do cotidiano. Em março de 1982, o 'TV Mulher' comemorou seu segundo aniversário em grande estilo: uma festa no Teatro Municipal de São Paulo. A partir de então, o programa passou a se estender até às 13h e estreitou sua relação com o público ao permitir a participação das 30 mulheres da plateia no espetáculo diário. Um novo cenário também foi projetado em comemoração. Na equipe, a novidade foi a astróloga Zora Yonara, que comentaria previsões para os signos do zodíaco.
Prestação de Serviço
Em 19 de setembro de 1983, 'TV Mulher' estreou uma linguagem onde os apresentadores interagiam mais com os quadros e colunistas do programa. A orientação também era intensificar a prestação de serviços e garantir a participação das emissoras afiliadas da Globo. Um espaço de 15 minutos foi reservado para que cada praça tivesse a possibilidade de apresentar um tema local no 'TV Mulher'. As vinhetas que separavam os quadros foram substituídas pela circulação dos apresentadores, que agora faziam a ligação entre as atrações. Ney Gonçalves Dias e Marília Gabriela passaram a interagir com os diversos quadros, cada vez mais voltados para o público feminino na faixa dos 40 anos de idade. O perfil do público mudou e isso motivou a criação de uma nova abordagem. É o que se pode perceber das observações feitas pelo diretor geral Nilton Travesso, que naquela época usou o quadro Comportamento Sexual, apresentado por Marta Suplicy, para comentar a evolução da mulher brasileira. De acordo com ele, Marta recebia dois tipos de correspondência na fase inicial do programa: as tímidas, que eram cheias de rodeios, e as agressivas, que incluíam xingamentos, censuras aos temas e grosserias. Dois anos depois, as cartas passaram a ser mais corajosas, menos prolixas, e sem protestos.
Mudança nos Apresentadores
Setembro de 1984 foi um mês de mudanças no 'TV Mulher'. O programa ganhou novos cenários, abertura e elenco. A apresentação ficou a cargo de Esther Góes e César Filho. Começaram a ser exibidas reportagens de moda feitas por Amália Rocha. A atriz Irene Ravache estreou no comando do quadro de entrevistas Ponto de Encontro, recebendo a visita de personalidades como o piloto de F1 Ayrton Senna e o humorista Jô Soares. Também foram incorporados à equipe do programa o psiquiatra João Baptista Breda e a advogada Florisa Verruci. Eduardo Lages fez um novo arranjo para a música de abertura, Rosa Choque, de Rita Lee e Roberto de Carvalho. Em sete de janeiro de 1985, Leiloca substituiu Zora Yonara na apresentação do quadro de astrologia. No seguinte, a repórter Amália Rocha substituiu Esther Góes e o programa teve a duração reduzida para uma hora diária, de 8h as 9h. César Filho permaneceu como colaborador eventual. Na época em que assumiu a bancada, Amália Rocha mostrou-se entusiasmada com a importância do 'TV Mulher' para o fortalecimento das mulheres na política. “O programa é uma das conquistas da mulher no Brasil e constitui um espaço que ainda hoje precisa ser preservado. As cartas e telefonemas quase sempre se referem a nós com as palavras simpatia e companhia diária, declarou ao boletim de comunicação interna da Globo, em abril de 1986. Alguns dos quadros fixos, até então diários, passaram a ter duas ou três apresentações semanais, como Sexo, apresentado por Marta Suplicy, Comportamento, de Eduardo Mascarenhas, e Direito da Mulher, com Zulaiê Cobra Ribeiro. A direção do programa foi assumida por Acyr Fonseca, e Nilton Travesso passou a responder pela supervisão geral.