Especial
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Retrospectiva

Um ano de transformações reveladas e analisadas pelas plataformas do ‘Valor’

Publicado em 23 de dezembro de 2024

Foto: Jeff Botega

Um quadro fiscal preocupante, eleições acirradas no Brasil e nos EUA, extremos climáticos, uma trama golpista revelada — 2024 foi um ano cujos acontecimentos terão implicações que requerem análise tão ampla quanto detalhada. Nas plataformas do Valor, o leitor encontrou informações relevantes e exclusivas para tomar decisões. Cobertura em tempo real, sites, vídeos, podcasts, newsletters, cadernos especiais e o jornal diário estão entre os formatos do veículo para analisar os fatos, descobrindo notícias dentro da notícia.

As eleições americanas dominaram o noticiário pelo impacto e pela peculiaridade. Em julho, o presidente Joe Biden desistiu da reeleição, em meio a preocupações sobre sua condição de saúde para concorrer com o ex-presidente Donald Trump. A desistência, anunciada dias após Trump ser alvo de atentado, abriu caminho para a vice Kamala Harris tornar a disputa mais acirrada.

O Valor teve reportagens in loco nos EUA para acompanhar parte da campanha eleitoral, discutindo os temas centrais para os americanos. O leitor também pôde acompanhar, no site do jornal, a apuração dos votos por meio de um mapa interativo em tempo real, com análises sobre o significado do resultado.

Com a vitória de Trump, o segundo mandato do republicano deverá ser marcado por protecionismo, políticas anti-imigração, oposição à agenda ambiental e ao multilateralismo. Entre muitas entrevistas, o Valor publicou uma exclusiva com Simon Johnson, um dos ganhadores do prêmio Nobel de Economia deste ano, que revelou preocupação com as promessas protecionistas de Trump. O Pipeline, site de negócios do Valor, também entrevistou Jamie Dimon, presidente do J.P. Morgan. Para ele, a economia dos EUA vive momento para uma política comercial mais equilibrada.

O Brasil teve também as suas eleições. O leitor acompanhou o dia a dia das campanhas municipais, com amplo noticiário e análises. Uma das novidades da cobertura foi a coluna “Pergunte aos Dados”, que abordou variáveis fundamentais para as disputas e suas múltiplas implicações. O resultado mostrou a vitória de forças conservadoras sobre a esquerda.

Em Brasília, o ano foi de tensão entre os Poderes, em especial no debate sobre emendas parlamentares. O Planalto também teve dificuldade para manter sua base no Congresso. Entre as votações legislativas, a Câmara concluiu a aprovação do principal projeto de lei de regulamentação da reforma tributária, discutida há décadas. O texto, que foi à sanção presidencial, foi alterado na reta final de votação por senadores e deputados. Entre as mudanças estão definições sobre itens na lista de tributados pelo Imposto Seletivo, além da ampliação dos setores beneficiados com redução na alíquota padrão do futuro IVA.

Outro momento marcante foi a operação da Polícia Federal que levou Walter Braga Netto a se tornar o primeiro general de quatro estrelas a ser preso no Brasil. Ele é acusado de participar da articulação de um golpe de Estado — que incluía matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do STF — após o resultado das eleições presidenciais de 2022. A ação aumentou a pressão sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi indiciado com outras 36 pessoas.

As chuvas no Rio Grande do Sul também mereceram cobertura especial. Foi a maior enchente na história do Estado, deixando 183 mortos e 626 mil desabrigados. Com custos humanitários incalculáveis, a tragédia foi mais um alerta sobre as mudanças climáticas. Reportagens abordaram seus impactos, mas também focaram os projetos de reconstrução. Outro episódio preocupante foram as queimadas em São Paulo. Segundo a “Globo Rural”, apenas para os produtores de cana os prejuízos ultrapassaram R$ 1,5 bilhão.

Diante da emergência climática, o Valor cobriu in loco a COP29, a Conferência do Clima das Nações Unidas no Azerbaijão — e cuja edição de 2025, a COP30, será no Brasil. O jornal também esteve presente nas sedes da COP da biodiversidade, na Colômbia, e da desertificação, na Arábia Saudita. Um dos principais pontos da COP29 foi o acordo sobre os mercados de carbono, que podem acelerar a transição para a economia verde.

O mundo corporativo foi foco de muitos furos de reportagens. Quem acompanhou a tão esperada privatização da Sabesp, por R$ 14,8 bilhões, encontrou uma série de notícias exclusivas nas páginas do jornal, desde a modelagem do processo até a precificação das ações. O Valor também deu, em primeira mão, informações sobre o documento do comitê independente contratado pela Americanas para investigar a fraude contábil na varejista. Foram relatadas suspeitas que envolvem desde vendas irregulares de produtos entre os braços físico e digital do grupo até despesas registradas fora do período em que ocorreram.

O Pipeline foi o primeiro a noticiar que o Itaú Unibanco denunciara irregularidades supostamente cometidas pelo ex-diretor financeiro Alexsandro Broedel. O banco registrou que o executivo agira em “grave conflito de interesses” na contratação de pareceres técnicos, o que Broedel nega. Em outro caso envolvendo o Itaú, o Valor PRO noticiou a saída de Eduardo Tracanella da direção de marketing por uso indevido do cartão corporativo.

Com informações exclusivas, o jornal fez ainda ampla cobertura da sucessão do comando de duas das empresas mais valiosas do país: Petrobras e Vale. Em sinal de interferência do governo na estatal, Lula demitiu Jean Paul Prates da presidência da petroleira. Magda Chambriard o substituiu. A situação de Prates ficou insustentável após polêmica sobre o pagamento de dividendos aos acionistas da empresa. Ele foi contra a orientação do governo e se absteve na votação. Já a indicação de Gustavo Pimenta para o comando da Vale afastou a possibilidade de interferência do governo.

O Valor Investe, site de finanças pessoais, também noticiou a criação da A5X, bolsa de derivativos que concorrerá com a B3 em uma das áreas mais relevantes do mercado.

No ano em que o Plano Real, referência no controle da inflação, completou 30 anos, o Valor publicou série sobre os eixos que envolveram o programa de estabilização e os desafios que permanecem três décadas depois. Para compreender os dilemas atuais, entrevistou alguns dos principais nomes da política econômica, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

O debate fiscal se intensificou em abril, quando o governo afrouxou a trajetória de ajuste das contas públicas. Sob o novo arcabouço, reduziu a meta de superávit primário de 0,5% do PIB para zero em 2025, o que lhe permite fechar o próximo ano com déficit de até R$ 31 bilhões.

Em maio, Tebet, em entrevista ao Valor, enumerou possíveis medidas que o governo poderia usar para controlar as contas públicas. Entre as propostas para o ajuste fiscal estavam a desvinculação dos benefícios da Previdência Social, uma mudança na política de valorização do salário mínimo e a revisão dos mínimos constitucionais para saúde e educação. A ideia teve ampla repercussão e pautou a discussão de política econômica do país desde então.

Em agosto, Campos Neto disse ao Valor que críticas de Lula sobre a política de juros para controlar a inflação dificultavam a tarefa do Banco Central. Pouco depois, Lula indicou Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, para o comando da instituição.

Após longa gestação, no mês passado Haddad anunciou o pacote de medidas para contenção dos gastos públicos, com economia estimada de R$ 70 bilhões em dois anos. O Valor deu em primeira mão muitas das propostas. Um dos pontos polêmicos, e que não constava do pacote fiscal, foi a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Para compensar, seria fixada alíquota de 10% para quem tem renda total de mais de R$ 50 mil mensais. A notícia sobre o IR, que pode ter custo superior a R$ 40 bilhões, foi antecipada pelo Valor e provocou disparada do dólar, dos juros e queda na bolsa. Nesse cenário incerto, o jornal realizou uma série de reportagens sobre o ajuste fiscal.

O Valor também informou antes sobre o impacto do dólar alto no setor de consumo, que levou a cortes de pessoal no varejo. Na reunião deste mês, o Copom fez um choque de juros e elevou a Selic em um ponto percentual, para 12,25% ao ano, e praticamente assegurou que a taxa subirá para 14,25% até março.

É verdade que a economia e o mercado de trabalho surpreenderam positivamente. No terceiro trimestre, o PIB avançou 0,9% sobre o segundo trimestre. Boa parte do desempenho veio de impulso fiscal: transferência de renda, aumento do salário mínimo e despesas públicas que estimulam o consumo. As estimativas são de crescimento acima de 3% em 2024, mas incertezas fiscais e juro alto turvam o ambiente para 2025, com receio de que o câmbio desvalorizado pressione a inflação e mantenha os juros altos a perder de vista, com consequências previsíveis sobre a economia.

O cenário externo também preocupa. Além das promessas de Trump de impor tarifas a produtos importados e de a economia da China seguir com dificuldade para retomar seu ritmo de crescimento, as tensões no Oriente Médio se intensificaram, culminando com a derrubada da ditadura de Bashar al-Assad na Síria por guerrilha islâmica. A guerra entre Israel e o Hamas, por sua vez, envolveu outros atores: os extremistas do Hezbollah e o Irã. No terceiro ano da guerra da Ucrânia, os russos estão em vantagem e avançando.

Ao longo de 2024, o Valor fez, ainda, cobertura especial do G20, em parceria com “O Globo” e a Rádio CBN. No documento final da cúpula das maiores economias do mundo, o Brasil, que presidiu o bloco, conseguiu incorporar a ideia da aliança contra a fome e a pobreza, mencionar a necessidade de reforma na governança global, defender a taxação sobre grandes fortunas, reconhecer a gravidade da mudança do clima e a necessidade de elevar a participação das mulheres na economia e na vida pública. Para o Itamaraty, foi um sucesso; para especialistas, os efeitos práticos são pequenos.

O Valor também cobriu a Olimpíada de Paris. Apesar das 20 medalhas, a participação brasileira frustrou as expectativas. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) esperava bater o recorde obtido em Tóquio.

Em 2024, a diversidade seguiu no centro da cobertura. Em dezembro, por exemplo, no “Café com as CEOs”, que reuniu cem lideranças femininas, pesquisa mostrou como a presença das mulheres torna as empresas mais resilientes e inovadoras. Reportagens deram, ainda, mais visibilidade para questões raciais, para a comunidade LGBTQIA+ e ampliaram o debate sobre a inserção de pessoas com deficiência.