Falta de conhecimento sobre o TEA afeta a atuação do Atendimento Educacional Especializado

Isabela Barreiros Pinheiro Lima, Mestre pelo Programa de Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares, Universidade de Pernambuco (UPE), campus Petrolina, Petrolina, PE, Brasil

Rita di Cássia Oliveira Angelo, doutora em Neurociências, Professora Associada e Livre Docente, Universidade de Pernambuco (UPE), Recife, PE, Brasil

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O artigo Transtorno do espectro autista e aprendizagem: crenças e saberes do professor do atendimento educacional especializado, recentemente publicado pelo periódico Educação em Revista (vol. 40, 2024), revela que há lacunas de conhecimento por parte dos docentes do Atendimento Educacional Especializado (AEE) sobre as manifestações clínicas do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Evidenciou-se que esses profissionais apresentam dificuldades em avaliar o estudante de forma individualizada e em elaborar planos de desenvolvimento individual, o que culmina em estratégias e intervenções pedagógicas ineficazes.

Essa pesquisa de abordagem quantitativaé o produto da dissertação de mestrado de Isabela Lima sob orientação da professora doutora Rita di Cássia Angelo, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares da Universidade de Pernambuco (PPGFPPI-UPE), campus Petrolina. Seu objetivo foi analisar as crenças e saberes dos professores do AEE acerca das características clínicas do Transtorno do Espectro Autista, descritas no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5ª edição), e sua influência na aprendizagem.

Nesse sentido, o estudo procurou apresentar o perfil profissional e acadêmico dos professores do AEE atuantes em escolas da rede estadual de Pernambuco, na Região do Sertão do Médio São Francisco, descrever o nível de conhecimento específico sobre o TEA e sua influência na aprendizagem e verificar o efeito de um curso de atualização sobre o conhecimento desses profissionais acerca das características clínicas do TEA e, consequentemente, seu impacto no atendimento educacional. Os dados foram obtidos através de um questionário elaborado pelas autoras, destinado a esses docentes.

Ao lado esquerdo, imagem do hemisfério cerebral nas cores roxo e vermelho. Ao centro, imagem de um menino segurando um quebra-cabeça de coração e abaixo, 6 blocos pedagógicos montado em fileiras, com a base de três blocos nas cores amarela e vermelha, na fileira acima, formado por dois blocos nas cores verde e azul e acima um bloco na cor vermelha. Ao lado direito da imagem, o hemisfério cerebral nas cores verde e amarela.

Imagem: Mohamed Hassan via Pixabay.

A motivação da pesquisa surgiu da escassez de estudos que colaborem com o fortalecimento de políticas públicas de educação inclusiva e tragam dados relevantes para o processo de ensino-aprendizagem dos estudantes com TEA, que reforçou sua necessidade de realização.

Ademais, o aumento significativo de diagnósticos de TEA no mundo indica a urgência em aumentar a oferta de profissionais especializados e de materiais pedagógicos adequados à escolarização desse público (BAIXAULI et al., 2020). Desse modo, é fundamental que os professores do AEE tenham conhecimento suficiente, específico e baseado em evidências sobre o TEA para que o processo de aprendizagem desses estudantes ocorra de maneira assertiva.

Em relação ao perfil evidenciado entre os 65 professores do Atendimento Educacional Especializado, participantes da pesquisa, observou-se uma predominância do sexo feminino e do nível de formação acadêmica lato sensu. 78,5% desses docentes afirmaram não possuir formação específica para atender estudantes com TEA. Em adição, aproximadamente 65% dos participantes desconhecem o conceito formal do TEA e 57% não conseguem descrever as características clínicas do transtorno com base em evidências.

No que concerne às ações pedagógicas, cerca de 57% asseveram que conseguem realizar a avaliação dos estudantes com TEA. No entanto, apenas 52,3% conseguem elaborar o plano de desenvolvimento individual e 60% afirmam que não são capazes de planejar as intervenções pedagógicas.

Os resultados demonstram que existem importantes lacunas de conhecimento por parte dos professores do AEE a respeito do TEA, implicando na dificuldade em realizar ações pedagógicas eficazes e com fundamentação científica. Sugerimos que as formações continuadas sejam permanentes e associem a teoria com a prática, impactando significativamente nos resultados de aprendizagem desse público e garantindo, de forma equânime, a inclusão escolar.

Esperamos que esse estudo possa ser replicado em diferentes lugares do país, com uma amostragem maior, a fim de realizar uma análise ainda mais aprofundada do perfil do professor do AEE; além de investigar o nível de conhecimento e percepções sobre o TEA em outros contextos e realidades, contribuindo para o direcionamento de políticas públicas voltadas a esse público, sobretudo no campo da formação continuada.

Para ler o artigo, acesse

LIMA, I.B.P. and ANGELO, R.C.O. Transtorno do espectro autista e aprendizagem: crenças e saberes do professor do atendimento educacional especializado. Educ. rev.[online]. 2024, vol. 40, e40947 [viewed 17 December 2024]. https://doi.org/10.1590/0102-469840947. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/P74KMqPRv3yjssNMv8C89XJ

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.

BAIXAULI, I., et al. Perfiles en comprensión lectora y en composición escrita de niños con autismo de alto funcionamiento. Medicina (Buenos Aires) [online]. 2020, vol. 80, supl. II, pp. 37-40 [viewed 17 December 2020]. Available from: http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0025-76802020000200009

ROCHA, C.C., et al. O perfil da população infantil com suspeita de diagnóstico de transtorno do espectro autista atendida por um centro especializado em reabilitação de uma cidade do sul do Brasil. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. 2019, vol. 29, no. 4, pp. 1-20 [viewed 17 December 2024].https://doi.org/10.1590/S0103-73312019290412. Available from: https://www.scielo.br/j/physis/a/nfN4dx9HgDcSXCyjSjqb4SF/

SCHMIDT, C., et al. Inclusão escolar e autismo: uma análise da percepção docente e práticas pedagógicas. Revista Psicologia: teoria e prática [online]. 2016, vol. 18, no. 1, pp. 222-235 [viewed 17 December 2024]. Available from: https://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/v18n1/17.pdf

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LIMA, I.B.P. and ANGELO, R.C.O. Falta de conhecimento sobre o TEA afeta a atuação do Atendimento Educacional Especializado [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/12/17/falta-de-conhecimento-sobre-tea-afeta-aee/

 

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