Empresas

Marco A. Teixeira/Agência O Globo

Concessão

Em 05 de janeiro de 1951, Roberto Marinho encaminhou ao presidente Eurico Gaspar Dutra o pedido de concessão de um canal televisivo para a Rádio Globo. A televisão havia estreado no Brasil em 1950 e Roberto Marinho logo se entusiasmou pela nova mídia. Em carta ao seu irmão Ricardo Marinho, demonstrou sua intenção em constituir um canal próprio, prevendo a importância que a televisão conquistaria no mercado das comunicações.

Carta de Roberto Marinho a Ricardo Marinho, 26/09/1956 — Foto: Acervo Roberto Marinho

Em março de 1951, pouco mais de um mês após a posse do presidente Getúlio Vargas, a Rádio Globo recebeu a concessão de um canal de televisão. Vargas, no entanto, reconsiderou e indeferiu a concessão em 1953. Apesar das dificuldades enfrentadas durante o governo Vargas, Roberto Marinho não renunciou ao seu projeto. Em 1957, o presidente Juscelino Kubitschek assinou a concessão do canal 4 do Rio de Janeiro para a Rádio Globo.

Juscelino Kubitschek e Roberto Marinho, Rio de Janeiro, 03/1959 — Foto: Arquivo/Agência O Globo

A construção da TV Globo

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Veja aqui as fotos da construção e implantação da emissora de TV

A Globo foi o primeiro canal no Brasil a projetar e construir um espaço especialmente para abrigar uma emissora, sem a necessidade de adaptar-se em antigos teatros ou cassinos. O prédio foi elaborado com estúdios modernos, sonorização planejada, entradas adaptadas à circulação das equipes, tráfego de cenários e equipamentos, camarins anexos aos estúdios, produção e escritórios. Roberto Marinho se inspirou no modelo da WFBM, emissora dos Estados Unidos.

Antes da estreia, o canal 4 passou por muitos testes em que eram exibidos filmes estrangeiros ao longo do dia. Em 31 de março de 1965, o golpe militar completava um ano e todas as emissoras deveriam exibir um pronunciamento oficial. No entanto, a Globo, que ainda não havia estreado, exibiu de teste um filme em que um barco descia rio abaixo. Os jornais, no dia seguinte, ironizaram que o canal 4 havia boicotado o pronunciamento militar e Roberto Marinho quase enfrentou um grave problema.

Os irmãos de Roberto Marinho, que também eram acionistas do jornal O Globo e da Rádio Globo, não quiseram investir na sociedade para criar uma emissora de TV, pois achavam o projeto muito arriscado. Mas Roberto Marinho viu a potencialidade da nova mídia e, aos 60 anos, inaugurou a TV Globo. Atores, cenógrafos, jornalistas, engenheiros, marceneiros e uma gama de profissionais ganharam um novo e sólido mercado de trabalho. A Globo se tornou a maior rede de televisão do Brasil e uma das maiores do mundo.

Funcionários no estúdio da TV Globo, 1965 — Foto: Arquivo/Acervo pessoal Wilson Rocha

A Globo estreou às 11h do dia 26 de abril de 1965. O então diretor-geral da Rádio e da TV Rubens Amaral apresentou a emissora aos telespectadores do Rio de Janeiro e do estado da Guanabara. O primeiro programa foi o infantil Uni-Duni-Tê. Na programação do dia, uma variedade de atrações, como o jornalístico Tele Globo, a novela Ilusões Perdidas, e o programa de entrevistas Show da Noite, apresentado pelo ator Gláucio Gill. Além dos jornais e programas de entretenimento, a Globo passou a investir no esporte, segmento que se fortaleceu ao longo dos anos. Em 1965, foi exibido o amistoso de futebol Brasil X URSS. No ano seguinte, foi ao ar a primeira mesa-redonda de futebol da Globo, a Grande Resenha Facit, que reunia comentaristas de renome, como Nelson Rodrigues, João Saldanha e o jornalista Armando Nogueira, que assumiu a direção do jornalismo da TV Globo em setembro de 1969, tendo permanecido até 1990.

João Saldanha e Nelson Rodrigues apresentam o programa Grande Resenha Facit, 07/08/1973 — Foto: Arquivo/Acervo TV Globo

TV Globo São Paulo

A primeira emissora comprada por Roberto Marinho foi a TV Paulista, canal 5, da Organização Victor Costa, em 1965. No ano seguinte, o canal passou a se chamar TV Globo São Paulo. Desde o início, Roberto Marinho idealizou a Globo em rede nacional. Traçou uma estratégia de expansão através da compra de canais que já possuíam concessão e da adesão de retransmissoras regionais atuando como afiliadas. A aquisição da emissora paulistana foi a gênese da expansão que formaria a rede.

Vera Nunes e elenco na gravação de Paixão de Cristo — Foto: Arquivo/ Acervo Pessoal Luiz Guimarães

Roberto Marinho tinha certeza do potencial da televisão e investiu na produção de qualidade. Em dezembro 1965, contratou Walter Clark para a direção da Globo. Ele foi o responsável por reestruturar o setor comercial e a programação do canal. Em carta para Walter Clark, Roberto Marinho parabenizou os profissionais da Globo: “Abrace por mim, meu caro Walter, os nossos companheiros e a quantos, direta ou indiretamente, participaram ou ajudaram o esplêndido sucesso do nosso empreendimento".

Trecho de carta de Roberto Marinho a Walter Clark, cópia do remetente, Rio de Janeiro, 04/05/1967 — Foto: Acervo Roberto Marinho

CPI do Time-Life

Em 1965, Roberto Marinho enfrentou uma CPI sobre o acordo de assistência técnica com o grupo Time-Life, dos Estados Unidos, selado três anos antes. Carlos Lacerda, então governador da Guanabara, e o deputado João Calmon, um dos proprietários dos Diários e Emissoras Associados, principal grupo de comunicação da época, do qual fazia parte a TV Tupi, contestaram a regularidade do negócio. Após longos debates públicos, o acordo foi considerado válido em 1967. Em 1971, Roberto Marinho encerrou o contrato com a Time-Life. Para ressarcir o grupo norte-americano, adquiriu empréstimos em bancos nacionais, empenhando todos os seus bens pessoais.

Trecho de página de jornal sobre o parecer de legalidade do acordo da TV Globo com o grupo Time-Life — Foto: O Globo, 18/03/1967

Cobertura jornalística e contratações

Em 1966, a TV Globo fez a cobertura ao vivo das enchentes que deixaram dezenas de mortos e feridos no Rio de Janeiro. Walter Clark inovou a linguagem jornalística ao colocar as câmeras dos repórteres na rua, mostrando os estragos e os problemas enfrentados pela população. A emissora, que desde a sua estreia apresentava baixos índices de audiência, conquistou o público carioca ao dar voz aos cidadãos e promover a recuperação da cidade com uma campanha de solidariedade aos desabrigados.

As enchentes de 1966 devastaram a cidade do Rio de Janeiro, 11/01/1966 — Foto: Arquivo/Agência O Globo

Em 1967, por sugestão de Walter Clark, Roberto Marinho contratou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, como diretor de programação e produção. Uma das ações da dupla para transformar a Globo em uma rede, foi desenvolver a grade de programação horizontal, com um programa transferindo a audiência para o outro. A base da grade criada em 1967 ainda permanece no ar, com o horário nobre formado por duas novelas, o Jornal Nacional, uma terceira novela e uma atração especial. Além da constante modernização dos equipamentos, Roberto Marinho sempre investiu em talentos. O lançamento da TV Globo aqueceu o mercado de dramaturgia no Brasil, atraindo muitos atores e artistas. O mesmo aconteceu com o jornalismo e esportes, formando centenas de profissionais no telejornalismo.

Roberto Marinho e companheiros de trabalho da Globo homenageiam Boni por seus 30 anos de carreira, 28/03/1982 — Foto: Arquivo/Agência O Globo

Desde o início, Roberto Marinho investiu na contratação de grandes nomes do humor, muitos provenientes do rádio, como Dercy Gonçalves, Chacrinha, Chico Anysio, Jô Soares, Agildo Ribeiro, Lúcio Mauro, Sônia Mamede, Brandão Filho, Paulo Gracindo. Programas como Dercy Espetacular e Dercy de verdade, de 1966 e 1967, Discoteca do Chacrinha e Buzina do Chacrinha, de 1967, e Balança mas não cai, de 1968, fizeram grande sucesso nos primeiros anos da emissora.

Roberto Marinho e Chico Anysio em homenagem prestada ao humorista na TV Globo, 26/10/1984 — Foto: Luiz Pinto/Agência O Globo

Em 1967, dando continuidade à estratégia de formação da rede, Roberto Marinho comprou um canal de TV em Belo Horizonte, Minas Gerais, do grupo de comunicação de João Batista do Amaral, o Pipa do Amaral. Em 2 de fevereiro de 1968, foi inaugurada a TV Globo de Belo Horizonte.

Diversas emissoras almejavam colocar em prática suas transmissões em rede nacional, mas receavam que os públicos dos diferentes estados do Brasil não fossem gostar do mesmo conteúdo. Mas Roberto Marinho acreditou na proposta e investiu. A operação também se tornou possível porque a Embratel inaugurou, em março de 1969, o sistema de micro-ondas Tronco Sul, uma rota terrestre de sinais que integrava Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba.

Em 1º de setembro de 1969, estreou o Jornal Nacional, primeiro programa brasileiro transmitido regularmente, ao vivo, para várias regiões do país. O Jornal Nacional foi a primeira experiência em rede, semeando na empresa a certeza de que era possível transmitir simultaneamente sua programação por todo o território nacional. O jornal permanece no ar e tem a maior audiência do país.

Rede Globo e Afiliadas

Rede Globo e Afiliadas

Novelas

As novelas da Globo sempre fizeram muito sucesso. As primeiras eram herdeiras do rádio e caracterizavam-se pelo gênero capa e espada. Reginaldo Faria e Leila Diniz eram os protagonistas da primeira novela da Globo, Ilusões Perdidas, de Enia Petri, dirigida por Líbero Miguel e Sérgio Britto. As histórias de Glória Magadan fizeram sucesso na época, como O Sheik de Agadir, com Yoná Magalhães e Amilton Fernandes. No fim da década de 1960, a dramaturgia das novelas foi modernizada, aproximando-se da realidade brasileira.

Yoná Magalhães e Amilton Fernandes em O Sheik de Agadir, 1966 — Foto: Arquivo/Acervo TV Globo

No final da década de 1960, Boni e Walter Clark, com o entusiasmo e apoio de Roberto Marinho e Joe Wallach, superintendente executivo e seu braço direito, implantaram mudanças importantes na teledramaturgia da Globo. As novelas se aproximaram da realidade do público, com histórias urbanas, contemporâneas, de temáticas brasileiras, diálogos coloquiais e uma estrutura mais complexa, com uma trama principal intercalada por várias tramas paralelas.

A contratação de grandes escritores brasileiros, como o casal Janete Clair e Dias Gomes, fez parte da estratégia de investimento em profissionais de alto nível, implantada por Roberto Marinho e sua equipe. A consagrada autora Janete Clair foi contratada pela Globo, em 1967, com a missão de modernizar a dramaturgia da emissora, tornando-se uma diva das novelas. Seus melodramas cativaram o público e se tornaram fenômenos de audiência, como Véu de Noiva, Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Pecado Capital.

Janete Clair — Foto: Arquivo/Memória Globo

Dias Gomes, consagrado autor de O Pagador de Promessas, era perseguido pelo governo militar e pensava em fugir para o exílio. Mas em 1969, Roberto Marinho o contratou e propôs o uso de um pseudônimo para que pudesse trabalhar sem perseguições. Assim nasceu Stela Calderón, nome pelo qual o escritor assinou suas primeiras novelas na TV Globo. Pouco depois, Dias Gomes passou a assinar seu nome em suas obras, como as célebres novelas O Bem Amado e Saramandaia.

Roberto Marinho; Lily Marinho e Dias Gomes em recepção em comemoração à eleição de Roberto Marinho na Academia Brasileira de Letras — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

Expansão dos negócios

Em 1971, entrou no ar a TV Globo Brasília, primeira emissora da Capital Federal. A concessão havia sido outorgada em 1962 pelo presidente João Goulart. O canal 10 de Brasília foi mais um passo na ampliação da rede, dando continuidade ao projeto de expansão da Globo.

Inaugurada em 22 de abril de 1972, com estúdios em Olinda, a TV Globo de Recife levou a programação a diversas regiões do Nordeste. O canal 13, de Pernambuco, também foi comprado do empresário Victor Costa, que já havia vendido a TV Paulista a Roberto Marinho.

Novas emissoras

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Nos anos de 1970, a TV Globo Brasília e a TV Globo Recife foram inauguradas

Nesta mesma década, com a consolidação da audiência, Roberto Marinho investiu no mercado externo. O Bem-Amado, a primeira novela a ser exportada, em 1976, foi vendida para dezenas de países da América. Gabriela foi a primeira a ser exportada para outro continente, expandindo ainda mais os negócios. Escrava Isaura, de Gilberto Braga, foi exibida em mais de 80 países, um sucesso mundial que se repetiu muitas vezes nas décadas seguintes, como Malu Mulher, Da Cor do Pecado, O Clone e Terra Nostra.

Cartaz da novela Sinhá Moça em uma rua da Alemanha no ano de 1988 — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

Joe Wallach foi um dos responsáveis pela expansão dos negócios da Rede Globo no mercado internacional, com a comercialização de novelas e séries. Ele tinha vindo ao Brasil com o grupo Time Life e, a convite de Roberto Marinho, permaneceu na Globo após o término do contrato com o grupo. De 1965 a 1980, Joe Wallach cuidou da administração financeira da Globo. Também auxiliou, com Boni e Walter Clark, na implantação do sistema de micro-ondas e na adesão das afiliadas para que a Globo se formasse uma rede.

Roberto Marinho com José Ulisses Arce, Boni, Walter Clark e Joe Wallach, Rede Globo, Rio de Janeiro, década de 1970 — Foto: Acervo Globo

Roberto Marinho abriu mais uma frente de internacionalização dos negócios estabelecendo escritórios em Nova York, em 1973, e em Londres, em 1974. Devido à censura do regime militar, que tolhia o noticiário nacional, o jornalismo internacional ganhou espaço, já que dispunha de maior liberdade. A Globo passou então a investir em correspondentes internacionais e ampliar sua cobertura internacional.

Censura

A censura marcou os anos de ditadura militar e toda a programação exibida tinha que ser aprovada pela Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). A partir de 1968, com a promulgação do AI-5, a censura se acirrou nos telejornais e na área de entretenimento. Em 1975, a novela Roque Santeiro foi impedida de ser exibida, já tendo sido aprovada e com 20 capítulos gravados. Em repúdio, Roberto Marinho escreveu um pronunciamento contra a censura, lido no Jornal Nacional e publicado no jornal O Globo.

Pronunciamento de Roberto Marinho publicado em O Globo, em 28/08/1975, e lido no Jornal Nacional — Foto: O Globo, 28/08/1975

O jornalismo, as novelas e os programas de variedades e de humor sofreram cortes e proibições da censura. Buzina do Chacrinha, Chico City, TV Pirata, Viva o Gordo e OsTrapalhões, e novelas como Fogo sobre Terra, O Bem Amado e Selva de Pedra, recebiam seus roteiros, vetados ou com cortes. No jornalismo, as notícias também eram censuradas. Havia agentes da censura nas redações dos telejornais e programas jornalísticos. Era comum o censor proibir um assunto mesmo antes dos jornalistas serem informados sobre o fato.

Webdoc jornalismo - Censura

Webdoc jornalismo - Censura

Inovação

A Copa de 70 foi a primeira transmissão em cores no Brasil. Ela foi exibida como teste da Embratel através de um conjunto de emissoras que transmitiram o evento para poucos aparelhos receptores adaptados no Rio, São Paulo e Brasília. A primeira exibição oficial colorida da Globo, para toda a população, foi a Festa da Uva, em rede nacional, em 1972. O Jornal Nacional exibiu a primeira reportagem colorida em 1973, um acidente aéreo que matou 122 pessoas. Em 1977, toda a programação da Globo era em cores.

Frame de vídeo da Copa de 1970, em cores — Foto: Arquivo/Memória Globo

Em 1973, O Bem Amado, de Dias Gomes, foi a primeira novela em cores exibida na íntegra no Brasil. Foi uma nova experiência para a equipe técnica, que teve dificuldades para dominar a nova linguagem, deixando os figurinos, cenários e maquiagens muito coloridos. A história eternizou personagens interpretados por grandes atores, como Odorico Paraguaçu, por Paulo Gracindo, e Zeca Diabo, por Lima Duarte. Também foi a primeira novela da Globo a ser exportada, dando início a um novo e duradouro mercado.

Paulo Gracindo, como o personagem Odorico Paraguaçu, na novela O Bem-Amado, 1973 — Foto: Arquivo/Acervo TV Globo

Uma das principais características de Roberto Marinho era o fascínio pela novidade e a busca permanente pela inovação, características que colocava em prática nas suas empresas e estimulava em seus funcionários. Foi assim que deu o aval para a criação dos formatos jornalísticos inovadores que estrearam em 1973: Globo Repórter e Fantástico. Programas que apostaram na experimentação de novas linguagens e viraram um sucesso, fazendo parte da programação da Globo até os dias atuais.

Modernização permanente

Modernização permanente

Logomarcas

A primeira logo da Globo foi criada por Aloísio Magalhães e era um cata-vento formado por quatro algarismos 4, número do canal da emissora no Rio. Em 1966, a marca foi substituída pelo globo terrestre e seus meridianos, e, em 1967, foi acrescentado o nome Rede Globo à marca. O globo principal seguido de círculos entrelaçados era uma referência a ideia de conexão com o mundo, Em 1975, Hans Donner criou uma nova logomarca. com o conceito que perdura até hoje: um globo terrestre e uma TV ao centro. Essa logo ganhou novas cores, contrastes e texturas ao longo dos anos e tornou-se reconhecida em todo o mundo. Em 1988, ganhou cores e intensificou o conceito do 3D. Em 1993, 1995, 2000 e 2005, o símbolo da Globo sofreu alterações sutis nas cores, no contraste e na luminosidade. Em 2008, o símbolo ficou mais horizontal e as cores passaram a ser separadas por faixas. Em 2014, a logo perdeu o cinza metálico e se apresenta branca, com traços limpos, cores vivas e em movimento, para representar uma empresa em sintonia com a sociedade e com o seu tempo. Em 2015, mudanças sutis deixam as cores ainda mais claras. E, em 2021, a logomarca ficou ainda mais simples e leve, com uma paleta de seis cores quentes e vibrantes.

Evolução da logomarca da TV Globo — Foto: Arte/Grupo Globo Historia

Incêndio na emissora

Em 1976, a sede da emissora no Rio de Janeiro sofreu um grande incêndio. Outros incêndios ocorreram em 1969, nos estúdios de São Paulo, e, em 1971, no auditório da Globo no Rio de Janeiro. Em nenhuma destas situações a Globo saiu do ar, apesar de ter tido suas instalações destruídas e perdido muitos equipamentos. A cada uma destas tragédias, Roberto Marinho se recompôs e modernizou os equipamentos e estúdios.

Incêndios na TV Globo

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Nos anos de 1960 e 1970 três incêndios atingiram as instalações da TV Globo

Espectador atento

Roberto Marinho assumiu a direção geral da emissora, depois da saída de Walter Clark em 1977, acumulando-a com a função de presidente. Roberto Irineu Marinho, seu filho primogênito, assumiu a Vice-Presidência Executiva, e Boni, a Vice-Presidência de Operações. Nos anos 1980 e 1990, Roberto Marinho esteve muito presente nas decisões da Rede Globo e consolidou as bases para o que ficou conhecido como o Padrão Globo de Qualidade, que vinha sendo construído desde a inauguração.

Como presidente da Rede Globo, Roberto Marinho definia as normas e limites do que seria exibido. Além de empresário, também era um espectador atento e entusiasmado. Em certa ocasião, solicitou que a Ary Fontoura que fosse a sua sala e, para a surpresa do funcionário, pediu ao ator que adiantasse o que aconteceria nos próximos capítulos da novela. Em outra ocasião, elogiou a novela Pecado Capital, como sugere a carta de agradecimento de Lima de Duarte.

Carta de agradecimento de Lima Duarte a Roberto Marinho, 03/05/1976 — Foto: Acervo Roberto Marinho

Roberto Marinho era grande admirador da literatura e estimulou produções baseadas em obras literárias para a TV. A familiaridade com os clássicos permitiu que colaborasse em minisséries, como Primo Basílio, de 1988. O diretor Daniel Filho conta que Roberto Marinho pediu para assistir às cenas de amor antes de exibidas, porque a lembrança do jovem leitor era de uma narrativa com cenas excessivamente picantes. No destaque, Roberto Marinho pede cautela nas cenas de beijo.

Carta de Roberto Marinho a Boni onde diz: “Acho que a TV Globo está banalizando o beijo”. Memorando de Boni a Daniel Filho, com a orientação de Roberto Marinho. Ambas de 1988 — Foto: Acervo Roberto Marinho

Em 1988, elaborou a diretriz “Sensibilidade e Responsabilidade” para ser seguida por todos os funcionários da Rede Globo. No documento, escreve que a “Rede Globo conquistou um lugar de destaque nacional e internacional por dois fatores fundamentais: a) o conteúdo da sua programação, criado pelos seus autores, diretores, produtores e artistas. b) o nível de suas produções, fruto da competência técnica e de um bem planejado parque industrial”.

Reconhecimento nacional e internacional

A crescente e fiel audiência e os inúmeros prêmios recebidos por Roberto Marinho e pela Rede Globo atestaram o reconhecimento do trabalho inovador realizado nos anos de 1960 e 70. Alguns exemplos são o prêmio Iris, por Malu Mulher, em 1980, e os prêmios Emmy Internacional para Roberto Marinho na categoria Mérito como Dirigente de Destaque, em 1976, e Homem do Ano, em 1983. A Rede Globo recebeu os prêmios Emmy Internacional pelas produções Vinicius para crianças, 1981, e Morte e Vida Severina em 1982.

Na década de 1980, os programas da Globo se consagraram e conquistaram o público brasileiro, confirmando o esforço de Roberto Marinho de investir em talentos, tecnologia e conteúdos de qualidade. Muitas produções marcaram a história da televisão como a segunda versão de Roque Santeiro, 1985, de Dias Gomes, que havia sido censurada em 1975; Vale Tudo, 1988, de Gilberto Braga; Que Rei Sou Eu?, 1989, de Cassiano Gabus Mendes; TV Pirata,1988; Xou da Xuxa, 1986; e Sítio do Picapau Amarelo, 1977 a 1986.

Elenco de O Sítio do Picapau Amarelo: André Valli, Jacyra Sampaio, Zilka Salaberry, Reny de Oliveira, Daniela Rodrigues e Marcelo Patelli — Foto: Arquivo/Acervo TV Globo

O diálogo com a comunidade e a prestação de serviços eram aspectos essenciais para Roberto Marinho. Na direção do jornal O Globo e na Rádio Globo, orientava seus profissionais a investir no jornalismo comunitário. Nesta linha, foi criado, em 1982, o Globo Cidade e, em 1983, estrearam as chamadas Praças TV, como SPTV, RJTV, NETV, MGTV e DFTV. Além das notícias locais, os telejornais apresentam reportagens ao vivo e matérias de serviço, como agenda cultural e informações sobre o trânsito.

A repórter Cinthya Graber, o cinegrafista Carlos Furtado e a equipe de reportagem do Globo Cidade, 22/06/1982 — Foto: Adir Méra/Agência O Globo

O projeto Criança Esperança, de 1986, também fez parte da política de contribuição social que Roberto Marinho implementava em suas empresas de comunicação.

“A Rede Globo, ao dedicar-se à luta em defesa dos direitos da criança e dos jovens, dá uma irrefutável demonstração de estar consciente de suas responsabilidades sociais, ampliando e enobrecendo o seu dever de divulgar e de informar” (Roberto Marinho)

Diretas Já

Em 1983, foi apresentada a proposta de emenda de eleições diretas para presidente e as manifestações a favor ficaram conhecidas por Diretas Já. Roberto Marinho orientou para que os protestos fossem noticiados apenas nos jornais locais por temer que “representassem um fator de inquietação nacional” e, com isso, ameaçassem o processo de abertura política. À medida que o movimento ganhava repercussão nacional, a Globo passou a transmitir as manifestações pró-Diretas Já nos programas e telejornais de rede.

O primeiro comício das Diretas Já transmitido em rede nacional foi o da Sé, em São Paulo, em 25/01/1984, aniversário da cidade. A chamada do Jornal Nacional sobre o comício foi junto às festas, provocando acusações equivocadas de que a Globo não tinha feito reportagem sobre o comício. De um lado, a sociedade criticava e pressionava a Globo a noticiar com destaque as manifestações; de outro, os militares coagiam Roberto Marinho a não noticiar os protestos, ameaçando-o de retirar a concessão.

Depois da polêmica na cobertura do comício da Praça da Sé, Roberto Marinho avaliou que “a mobilização popular era tal que se deveria tratar o assunto em rede nacional”, orientando que as matérias dos comícios fossem exibidas em todos os telejornais e programas de rede. No comício da Candelária, no Rio de Janeiro, em 10/04/1984, que reuniu um milhão de pessoas, a Globo transmitiu a manifestação ao vivo, dando flashes ao longo da programação e exibindo matérias em todos os telejornais.

Diretas Já

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A Globo transmitiu em sua programação as manifestações pró-Diretas.

Morte de Tancredo Neves

Em 1985, a Rede Globo realizou uma grande cobertura sobre a doença e falecimento de Tancredo Neves. Em 21 de abril, sua morte foi anunciada no Fantástico e em seguida, foi exibido um Jornal Nacional Especial, de 4 horas. O cortejo fúnebre foi transmitido ao longo de todo o dia 24 e a cobertura da tragédia noticiada nos diversos veículos de informação do Grupo Globo. Roberto Marinho compareceu ao velório no Palácio do Planalto e à missa no Rio de Janeiro.

Ruth Marinho, Roberto Marinho e Rogério Marinho acompanham a missa em homenagem a Tancredo Neves na Catedral do Rio de Janeiro, 29/04/1985 — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

Eleições 1989

Em 1989, a Globo transmitiu, ao vivo, o debate entre os candidatos do 2º turno da primeira eleição presidencial pós-ditadura. No dia seguinte, foram exibidas duas edições: no Jornal Hoje, criticada por ser mais favorável a Lula, e no Jornal Nacional, que gerou críticas por ser mais favorável a Collor. A edição do JN, às vésperas do dia da eleição, provocou grande polêmica. Depois deste episódio, a emissora entendeu que não deveria editar debates, passando a exibi-los somente na íntegra e ao vivo.

Imagem de Cid Moreira apresentando o Jornal Nacional nas eleições de 1989 — Foto: Arquivo/Acervo TV Globo

Estúdios Globo

O Projeto Jacarepaguá, conhecido também como Projac, Central Globo de Produções e Estúdios Globo, começou a ser construído em 1988 e foi inaugurado em 2 de outubro de 1995. Roberto Marinho idealizou a centralização das locações da emissora, que havia se expandido desde sua inauguração em 1965. Equipado com alta tecnologia, o complexo é formado por estúdios de gravação, áreas para a construção de cidades cenográficas, fábricas de cenografia e figurino, e um moderno centro de pós-produção.

"Acreditamos no sonho e construímos a realidade" (Roberto Marinho)

Roberto Marinho, aos 90 anos, na presença do elenco da Globo, equipe de produção, diretores e executivos, bateu a claquete de gravação da primeira cena da novela Explode Coração, de Gloria Perez, iniciando os trabalhos. Muito emocionado, destacou em seu discurso a conquista de um espaço de produção artística de alta qualidade e a importância dos profissionais da Globo para a realização deste sonho.

Destaque da mensagem de Roberto Marinho na inauguração dos Estúdios Globo, publicada no jornal O Globo — Foto: O Globo, 03/10/1995

Modernização do jornalismo

Em 1995, o jornalista Alberico de Souza Cruz, que havia assumido a direção da Central Globo de Jornalismo em 1990, deixou a Globo. A convite de Roberto Marinho, Evandro Carlos de Andrade, diretor do jornal O Globo, assumiu a direção de jornalismo na TV. Ele implementou importantes mudanças para no jornalismo da Globo, como a substituição dos apresentadores dos telejornais por jornalistas.

No Jornal Nacional, Cid Moreira e Sérgio Chapelin, locutores, deixaram a bancada que ocupavam desde 1972, e foram substituídos por Lilian Witte Fibe e Willian Bonner. Em 1998, Fátima Bernardes ocupou o lugar ao lado de Bonner. O jornalista Evandro Carlos de Andrade, auxiliado por Alice Maria e com o apoio de Roberto Marinho, implantou a GloboNews, primeiro canal de notícias brasileiro 24h no ar.

Alice Maria e Evandro Carlos de Andrade na inauguração do canal GloboNews. Rio de Janeiro, 1996. — Foto: Arquivo/Agência O Globo

Boni, que ocupava a vice-presidência de operações desde 1980, deixou a emissora e foi substituído por Marluce Dias da Silva em 1997. No ano seguinte, Roberto Marinho e seus filhos, Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto, deixaram as funções executivas e passaram a formar o Conselho de Gestão do Grupo Globo.

Em janeiro de 1999, aos 94 anos, Roberto Marinho inaugurou um moderno prédio para a nova sede da Globo em São Paulo. Com a inauguração, a Globo São Paulo passou a produzir e gerar telejornais de rede, como o Jornal Hoje e o Jornal da Globo. Pela primeira vez, uma estação de TV brasileira era inteiramente em sistema digital, da captação de imagens de rua até a transmissão dos telejornais.

Em 2000, o Grupo Globo lançou o portal e provedor de internet Globo.com. Sobre essa nova frente de atuação, Roberto Marinho afirmou que: “Nosso ingresso nesse mundo do futuro está sendo garantido por uma série de providências e de iniciativas, como o recente ingresso de nossas organizações no mundo da internet, com a Globo.com, iniciativa que já nasceu assumindo posição de liderança incontestável. Sempre achei que teríamos muito futuro pela frente”.

Matéria sobre o lançamento da plataforma Globo.com, O Globo, 27/03/2000 — Foto: O Globo, 27/03/2000

O legado de Roberto Marinho

Roberto Marinho faleceu em 2003, mas seu legado continua vivo: foco na comunidade, difusão da informação, qualidade das produções e valorização da dramaturgia nacional. Visionário, Roberto Marinho já antevia, na década de 1980, as grandes mudanças que estavam por vir: “entramos na nova revolução tecnológica provocada pela fusão da telecomunicação com a informática, a qual tornará possível a cada indivíduo uma livre e profunda participação e integração no sistema social, em termos jamais sonhados.”

Um dos exemplos de seu legado foi a inauguração, em 2019, de três novos estúdios, ampliando ainda mais o maior complexo de produção de conteúdo da América Latina, os Estúdios Globo. Chamado de Módulo de Gravação 4 (MG4), o novo espaço investe em alta tecnologia e aumenta em mais de 50% a capacidade de produção da Globo. O projeto foi desenvolvido a partir de um conceito que aproxima a dramaturgia do cinema e reúne o que há de mais moderno e avançado na indústria audiovisual do mundo.

MG4, 2019 — Foto: Divulgação/Globo